O despertar foi gradual, mas a lucidez chegou como um choque elétrico, revisitando a dualidade intrínseca de minha existência com uma clareza que beirava a dor. De um lado, a doçura quase palpável da inocência e o conforto inabalável do lar de minha avó. Cada canto daquela casa era um santuário de memórias tranquilas, impregnado pelo aroma de baunilha e afeto, um porto seguro onde o amor incondicional e o cheiro tentador de biscoitos quentinhos assados com carinho eram os pilares de uma segurança que eu jamais questionara. Do outro, a adrenalina da liberdade arrebatadora, os sussurros cúmplices e os segredos inconfessáveis partilhados com James e Johnny.
Um universo vertiginoso de possibilidades, de desejos há muito reprimidos que agora emergiam à superfície, um convite irrecusável ao desconhecido e à transgressão. A promessa doce e quase ingênua da vovó de um filme de romance ao fim da tarde parecia não somente um contraste irônico, mas quase cômico, em face das aventuras sexuais e da intensidade emocional que eu mal havia terminado de processar. No entanto, em vez de me sentir estilhaçada por essa dicotomia, uma estranha e poderosa sensação de completude começou a florescer em meu peito. Era como se, pela primeira vez, eu não estivesse mais me escondendo, nem mesmo de mim mesmo.
Eu estava, enfim, explorando e abraçando, com uma voracidade surpreendente, todas as cores e sombras de quem eu era, ou estava me tornando, em toda a sua gloriosa e confusa complexidade. E, ao sentir o cheiro inconfundível e caloroso de café fresco vindo da cozinha, um sorriso suave, quase secreto, despontou em meus lábios. Não era somente a antecipação do filme aconchegante com a vovó que me fazia sorrir, mas a expectativa vibrante das imprevisíveis e excitantes reviravoltas que o amanhã, com o predador no bosque, certamente me traria. O futuro, antes um caminho reto, agora se abria em infinitas e sedutoras possibilidades.
No dia seguinte, o sol mal havia começado seu espreguiçar dourado sobre as copas das árvores, pintando o céu com tons de promessa e mistério, quando uma excitação incontrolável, quase palpável, me despertou. Não era um despertar comum; parecia que cada fibra do meu ser vibrava em antecipação a um evento há muito aguardado. Sem hesitar, saltei da cama com a energia acumulada de mil amanheceres e uma urgência que mal conseguia conter. Meus pés descalços mal tocaram o chão antes de eu correr em direção ao banheiro, o coração já em um ritmo acelerado de pura antecipação pela aventura inebriante que o dia prometia.
Ali, sob o chuveiro, o vapor aromático da água morna começou a envolver-me, e eu me entreguei à sensação purificadora, um ritual de preparação que ia muito além da simples higiene. Deixei a água escorrer livremente pelo meu corpo, sentindo-a lavar cada resquício de sonolência, cada pequena dúvida, substituindo-os por uma clareza e um propósito. Mas foi ao meu cuzinho que dediquei a maioria do meu capricho; eu o lavava com uma atenção que beirava a adoração, com toques gentis e cuidadosos, massageando a pele com o sabonete perfumado, preparando-o com um esmero quase reverente para o encontro que viria, para as sensações que esperava receber. Era uma limpeza não somente física, mas uma purificação para o prazer iminente, uma promessa silenciosa entre mim e meu corpo.
Com a pele renovada e o espírito vibrante, segui para o armário, onde cada peça de roupa havia sido escolhida com um cuidado meticuloso, quase como um uniforme para a minha própria lenda. Deslizei a camisa listrada em preto e vermelho, cores de paixão e perigo, sentindo o tecido macio contra minha pele. Em seguida, a bermuda de algodão preta, leve e confortável, que me permitiria liberdade de movimento. Os tênis vermelhos vibrantes adornaram meus pés, prontos para a jornada, e, por fim, meu boné vermelho, um toque final de ousadia e desafio que não somente completava o visual, mas também inflamava minha confiança, transformando-me na versão mais audaciosa de mim mesmo.
Portando a cesta de doces cuidadosamente arrumada, pendurada no antebraço, e o coração batendo um ritmo frenético de tambores tribais, saí de casa, deixando para trás a quietude do lar. A cada passo, sentia meus músculos tensos e prontos. Não demorou para que me embrenhasse na floresta densa, onde a luz do sol lutava para penetrar a teia de galhos e folhas, criando sombras dançantes no chão. O ar fresco da manhã, carregado com o cheiro úmido de terra e pinho, beijava minha pele com uma sensação revigorante, e o canto dos pássaros parecia sussurrar segredos ancestrais.
A antecipação, um turbilhão de desejo e ousadia, crescia a cada metro percorrido, até que não a pude mais conter. Levantei o rosto para o dossel verde, e as palavras, carregadas de uma intenção crua e destemida, romperam meus lábios em um grito que ecoou entre as árvores silenciosas: “Venha me foder, Lobo Mau!”. Era mais do que uma provocação; era um convite, uma súplica ardente, uma declaração de entrega e desejo.
Mal as palavras, ainda vibrando no ar, haviam deixado meus lábios, quando, como se invocado por minha própria audácia, um vulto imponente e sombrio emergiu com uma rapidez surpreendente por trás do carvalho secular, que parecia ter testemunhado eras. E ali estava ele: Johnny. Seus olhos, tão profundos quanto a própria floresta, me fitaram com uma intensidade que incendiava o ar entre nós, e nos lábios, um sorriso enigmático, matreiro, que parecia prometer exatamente a aventura que eu tanto desejava, ou talvez, um pouco mais.
A presença do vilão era, por si só, uma declaração irrefutável, uma força silenciosa que preenchia o ar e magnetizava a atenção. Ele trajava uma camisa social vinho, um tom profundo e rico que realçava a pele clara, e os três primeiros botões estrategicamente abertos revelavam uma porção generosa e irresistivelmente tentadora do seu peitoral forte, onde os músculos se delineavam sob a pele, prometendo uma força oculta. O tecido leve da camisa fluía suavemente, contrastando de forma intrigante com a bermuda jeans preta, que abraçava suas coxas musculosas com perfeição, moldando-as sem restringir, e os sapatênis marrons, de couro macio e bem cuidados, que completavam um ar despojado, mas inegavelmente impecável e calculado.
Sua voz grave, um timbre profundo e ressonante, preencheu o silêncio quase palpável da floresta, que até então só era quebrado pelo sussurro do vento entre as folhas ou o canto distante de alguma ave. As palavras de Johnny, carregadas de uma intensidade que quase podia ser sentida fisicamente, atingiram-me como um raio, chacoalhando minha alma. Com elas, veio a promessa de que esta quinta-feira seria diferente de tudo que eu já havia experimentado, e que minha entrega não se limitaria somente a ele, mas transcenderia os limites da própria compreensão. Uma pontada gelada de ansiedade, imediatamente misturada a uma curiosidade selvagem e vibrante, perfurou-me o peito, fazendo meu coração acelerar em um ritmo frenético e quase doloroso.
Antes que eu pudesse sequer processar completamente a magnitude daquela informação perturbadora e excitante, outro vulto surgiu, com a mesma desenvoltura quase felina e um ar de total naturalidade, de trás do mesmo carvalho colossal, cujo tronco robusto e milenar parecia abraçar os segredos da mata. Era James, e a mera visão dele fez meu coração, já em disparada, acelerar ainda mais, um misto inebriante de surpresa total e excitação avassaladora me dominando por completo, roubando-me o fôlego.
Ele estava vestido com uma camisa preta justa, que desenhava com precisão cada contorno de seus braços musculosos e ombros largos, exibindo uma força brutal e elegante. A calça jeans preta, estrategicamente rasgada nos joelhos e nas coxas, adicionava um toque de rebeldia autêntica e um charme despreocupado ao seu visual. Para finalizar o arranjo com um toque de personalidade, uma blusa xadrez vermelha e branca, com um padrão clássico e vibrante, estava casualmente amarrada na cintura. Nos pés, botas marrons rústicas, de couro robusto e ligeiramente desgastado, pareciam feitas não somente para caminhar, mas para desbravar a natureza indomável, para a aventura que ele claramente encarnava.