Uma Realidade Complexa

Da série Putinho Vermelho
Um conto erótico de Tiago Campos
Categoria: Homossexual
Contém 1468 palavras
Data: 07/07/2025 13:01:09

James se inclinou, diminuindo a distância entre nós, e eu senti seu hálito quente em meu pescoço, uma mistura de hálito e vapor. Sua voz, agora um sussurro rouco, flertava entre a surpresa genuína e uma fascinação evidente, quase perigosa. “Eu sempre pensei que você fosse um jovem ingênuo, Tiago”, ele confessou, e pude sentir a vibração de suas palavras contra minha pele. “Esse seu lado promíscuo me enche de uma curiosidade inexplicável. É… instigante.”

As palavras do lenhador eram um convite, uma declaração, e seu calor permeava a atmosfera entre nós. Minhas mãos encontraram o caminho até seu peitoral musculoso. A sensação da pele quente e firme sob meus dedos, o ritmo forte de seu coração batendo por baixo, era uma âncora na turbulência de emoções. Puxei-o para mim com uma urgência que surpreendeu a ambos, e nossos lábios se uniram num beijo que era muito mais do que um simples ato físico. Era um cadinho onde a paixão desenfreada da nossa aventura se fundia com a gravidade da confissão que eu acabava de ouvir, dissolvendo qualquer vestígio de dúvida ou hesitação.

À medida que o beijo se aprofundava, tornando-se mais faminto e desinibido, ele, com a voz rouca e a respiração irregular entre nossos lábios, sussurrou o pedido: “Me ensaboa, por favor”. A simplicidade da sua súplica, em contraste com a intensidade do momento, era incrivelmente erótica. Assenti, rompendo o beijo somente para pegar o sabonete. Comecei a tarefa com uma devoção quase ritualística, transformando o ato de lavar seu corpo em uma forma de exploração e adoração.

A espuma, rica e cremosa, deslizava suavemente sob minhas mãos, revelando a topografia de seu corpo atlético: a linha definida dos ombros, a força do bíceps, a curvatura sutil das costelas, a rigidez do abdome. Cada movimento era deliberado, uma dança de toques e sensações, enquanto o vapor do chuveiro nos envolvia, criando um santuário particular.

Em troca, com uma dedicação espelhada, ele assumiu a tarefa de cuidar de mim. Suas mãos, antes firmes e viris, agora massageavam meu couro cabeludo com uma ternura quase inesperada, seus dedos longos enredando-se nos meus cabelos, desembaraçando os nós com uma paciência que falava volumes. Eu me inclinei para a sensação, sentindo a água quente escorrer pelo meu rosto enquanto o aroma do xampu de James — uma mistura amadeirada e fresca — se misturava com o vapor denso do chuveiro, criando um cheiro que eu sabia que associaria a ele para sempre.

Aqueles minutos no chuveiro se estenderam, parecendo suspensos no tempo. Não era somente um banho relaxante, era uma imersão completa em nós mesmos. O calor quase escaldante da água caía sobre nossas peles, confundindo-se com o calor de nossos corpos colados, ombro a ombro, coxa a coxa. Era uma bolha impenetrável de intimidade, onde as palavras se tornavam desnecessárias e a comunicação passava a ser feita por meio de toques, olhares e respirações compartilhadas, cada som amplificado pelo eco do vapor.

Já fora do chuveiro, enquanto me secava com a toalha macia e felpuda, o calor ainda radiante em minha pele, a imagem do Lobo Mau, inesperadamente, flutuou em minha mente. Não foi uma lembrança perturbadora, mas uma constatação nua e crua da realidade. E, com uma espontaneidade que me pegou de surpresa, uma necessidade urgente de transparência me impeliu a falar. Olhei para James, que estava secando o próprio cabelo, e as palavras simplesmente escaparam, cruas e sem filtro: “Transei com o Johnny três vezes, queridinho. E amanhã de manhã, vou transar com ele mais uma vez”. Não houve rodeios, nem suavizações; somente a verdade em sua forma mais direta.

A revelação pairou no ar entre nós, densa e palpável, por um instante que pareceu uma eternidade, aguardando uma reação que poderia ser de qualquer coisa — choque, raiva, desapontamento. Mas o loiro delicioso, em vez disso, baixou a toalha, e seus olhos me encontraram. Havia um brilho inconfundível de diversão neles, uma faísca de malícia que suavizou a tensão. Um sorriso lento se formou em seus lábios antes que ele me desafiasse, a voz carregada de confiança mas também de uma curiosidade genuína: “Quem fode melhor, Chapeuzinho? Eu ou o Johnny?”.

Olhei para ele, um sorriso igualmente malicioso, talvez um pouco ousado, brincando em meus próprios lábios. A pergunta era direta, quase um teste, e a honestidade era a única resposta possível, a única que nosso relacionamento, tão recém-desdobrado e complexo, poderia suportar. “Ambos foram excelentes!”, respondi, a voz carregada de sensualidade, o olhar fixo no dele, desafiando-o a duvidar.

Vestimo-nos e o garanhão, com um olhar que misturava carinho e um certo pesar pela despedida, me deu uma carona de volta para casa. O breve trajeto na caminhonete, com a janela aberta, permitindo que o vento fresco da tarde levasse um pouco do calor do meu rosto e bagunçasse meus cabelos, serviu como uma ponte etérea e necessária. Era um portal entre a intensidade visceral e avassaladora do nosso sexo e o retorno inevitável à minha rotina habitual, à familiaridade do lar. O barulho do motor e o ar gélido eram um lembrete gradual de onde eu estava voltando.

Quando os pneus do veículo finalmente pararam, e entrei em casa, uma onda de conforto me envolveu. O aroma doce e familiar de biscoitos recém-assados, possivelmente de canela e baunilha, inundou cada canto da cozinha, aquecendo o ambiente e acalmando minha alma. Ali, debruçada sobre a bancada de mármore, vi minha avó, uma figura serena e acolhedora, com seu avental florido de chita, organizando com destreza fornadas quentinhas de biscoitos dourados em travessas de cerâmica. O vapor levemente adocicado subia das guloseimas recém-saídas do forno.

Dona Adelaide se virou lentamente ao me ouvir, e um sorriso surpreso e carinhoso iluminou seu rosto gentil, marcado pelas rugas bem vividas que contavam histórias. Seus olhos, sempre cheios de ternura, se arregalaram um pouco ao me ver chegar tão cedo, antes do previsto. “Meu querido neto chegou mais cedo hoje!”, exclamou ela, a voz ligeiramente embargada de contentamento, um som que sempre me trazia paz.

Eu me aproximei, sentindo o calor aconchegante da cozinha e a genuína alegria que vovó irradiava. Com um gesto de orgulho, entreguei a ela a quantia em dinheiro que havia conseguido na feira. As notas, um pouco amassadas, eram o fruto de um dia de trabalho intenso. “As vendas foram um sucesso, vozinha! O pessoal gostou muito dos seus biscoitos e pães de mel”, disse, sentindo um calor no peito, uma mistura de satisfação e a peculiaridade de transitar entre dois mundos tão distintos em tão poucas horas.

Em seguida, sentindo um cansaço genuíno e profundo, que ia além do físico e se estendia ao emocional, comentei que precisava descansar um pouco, pois o dia havia sido excepcionalmente puxado em todos os sentidos. Minha doce avó, sempre atenciosa e compreensiva, acenou com a cabeça suavemente, seus olhos transmitindo carinho. “Às seis horas eu te acordo, meu anjo”, prometeu ela, com a voz tão suave quanto o toque de suas mãos, “para tomarmos um café juntos e assistirmos àquele filme de romance que você tanto gosta, com o espetacular Richard Gere!”

Enquanto me afastava, passo a passo, em direção ao meu quarto, o cheiro doce dos biscoitos e a voz reconfortante de vovó se misturavam à imagem persistente de James em minha mente, uma memória vívida do calor da sua pele e da intensidade do nosso encontro. Adormeci quase instantaneamente ao tocar a cama, flutuando em um estado de leveza e sonhando com ele, com a promessa de um novo amanhecer e talvez, somente talvez, a continuação de uma história que acabara de começar.

O sono, quando finalmente veio, foi mais uma evasão necessária do que um verdadeiro repouso. A exaustão física cedeu lugar a um estado de semiconsciência, onde os limites entre a realidade e o sonho se esvaíam. Apesar da escuridão, minha mente se recusava a silenciar, transformando o repouso em um palco para a intensidade do dia. Meus sonhos não eram lineares, mas sim uma colagem vívida e vertiginosa, um caleidoscópio frenético de sensações que se justapunham sem lógica aparente, mas com uma coerência emocional inegável. O vapor quente do chuveiro ainda grudava em minha pele onírica, misturando-se à memória tátil do toque firme e confiante de James e à ressonância grave e sedutora da voz de Johnny que ecoava no silêncio da floresta.

Por fim, vinha o alívio reconfortante do abraço apertado de minha vó, um lembrete de terra firme em meio à tormenta. Era como se cada um desses fragmentos, tão díspares e, paradoxalmente, tão interligados, estivesse sendo incessantemente costurado por uma agulha invisível em minha mente subconsciente, em uma tentativa desesperada de dar sentido ao caos. Uma vida que, até então, seguira caminhos previsíveis e bem delineados, havia se transformado abruptamente em um labirinto de sensações novas, emoções avassaladoras e descobertas excitantes.

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