O Sabor De Uma Doce Vingança! Cap.13 Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2137 palavras
Data: 06/07/2025 18:06:38
Assuntos: Gay

A chuva fina começava a cair quando o táxi virou a esquina da praça central. Meus olhos varriam cada canto daquele lugar com o coração apertado no peito. Já fazia um tempinho desde que Clara havia sumido. Meu estômago estava embrulhado, e o silêncio dentro do carro só amplificava o medo. Foi então que eu a vi.

Sentada num banco de concreto sob uma árvore, encolhida, a cabeça baixa, os cabelos grudados pelo sereno, Clara chorava sozinha. Meu peito explodiu num alívio tão forte que quase me tirou o fôlego. Pedi pro motorista parar, nem esperei o carro encostar direito — abri a porta e corri até ela.

— Clara! Meu Deus, Clara!— gritei, e ela levantou os olhos, assustada.

Corri e me ajoelhei na frente dela. Peguei seu rosto com as mãos trêmulas. Estava gelada. Ela soluçava baixinho.

— Pedro…— disse entre lágrimas, quase num sussurro.

— Você me deixou louco, menina! Eu tava tão preocupado!— falei, já com os olhos marejados, e a abracei forte. Ela se desmanchou nos meus braços, chorando como uma criança perdida.

— Desculpa… eu só… eu me perdi…— disse entre soluços, escondendo o rosto no meu peito.

— Shh… tá tudo bem agora. Eu te achei, minha flor. Tá tudo bem…— sussurrei, tentando controlar o tremor da minha voz.

Peguei ela no colo. Clara se encolheu contra mim como se o mundo inteiro tivesse sido cruel demais naquele dia. Caminhei rápido de volta pro táxi com ela nos braços, o motorista me olhando com pena e pressa.

O carro arrancou. No banco de trás, segurei a mão de Clara o tempo todo. Ela ainda chorava baixinho, com a cabeça encostada no meu ombro.

Quando o carro parou em frente à casa, mal deu tempo de chamar no portão. Jaci já estava na varanda, como se soubesse que algo ia acontecer. Quando nos viu, os olhos dela se arregalaram e ela desceu os três degraus correndo, descalça, com o avental manchado de farinha voando atrás dela.

— Clara?! — ela gritou, desesperada.

Desci com Clara ainda nos braços, e ela correu pra pegar a menina. As duas se abraçaram com força, como se o tempo tivesse parado ali. Jaci chorava alto, com a testa colada na de Clara, beijando o rosto dela sem parar.

— Nunca mais faz isso comigo, minha filha… nunca mais!— ela dizia entre lágrimas. — Eu fiquei doida, Clara! Doida!

— Desculpa… eu me perdi…

Eu fiquei ali parado, com o peito apertado e os olhos molhados, observando as duas se reencontrando. Era um momento que não pertencia a mais ninguém além delas. Eu só agradecia, em silêncio, por ter chegado a tempo. Por Clara estar viva. Por ter dado certo.

Jaci me olhou, os olhos cheios d’água.

— Obrigada, Pedro… você achou minha menina.

— Ela é nossa, dona Jaci. A gente cuida dela junto.

Depois de ver Clara e dona Jaci abraçadas ali na frente da casa, com aquele choro de alívio que parecia lavar tudo de ruim, respirei fundo e fui até o táxi. O motorista já me esperava com o porta-malas aberto, minhas duas mochilas e a mala de rodinhas encostadas na calçada.

— Quanto deu? — perguntei, puxando a carteira.

Ele me disse o valor. Paguei com uma nota a mais e fiz um gesto com a mão, dispensando o troco. — Obrigado por ter esperado, de verdade.

— Que bom que deu tudo certo com a menina. Vai com Deus, amigo — disse ele, antes de entrar no carro e partir.

Fiquei ali parado por um segundo, olhando a fachada simples da casa. Não era uma casa tão grande, mas era bem bonita e confortável.

Entrei com as malas e vi as duas na cozinha. Clara já tinha lavado o rosto e, apesar dos olhos inchados, estava mais tranquila. Jaci me olhou com ternura e me apontou uma cadeira.

— Vem comer alguma coisa, Pedro. Já tá tarde e você não deve ter colocado nada no estômago hoje.

— É verdade — confessei, sentando. — Só comi um pão seco no café.

Em poucos minutos, a mesa estava posta com pão caseiro, queijo fresco, café preto e um pedaço de bolo de fubá que parecia recém-saído do forno. Comemos em silêncio, só quebrado pelos sons da colher batendo na xícara, dos suspiros aliviados e do riso leve de Clara, que finalmente voltava a surgir.

— Obrigado, de verdade — disse, encarando Jaci com sinceridade. — Pela comida… e por tudo.

Ela sorriu e me tocou o braço.

— Obrigada eu, meu filho. Você é luz na nossa vida. Pode contar com a gente sempre que precisar.

Depois do lanche simples, mas cheio de afeto na casa de Jaci, olhei no relógio e vi que já passava das 13h. Clara estava mais tranquila, brincando com um caderno de desenhos no canto da sala, e Jaci lavava a louça cantando uma música antiga em voz baixa. Me despedi das duas com um abraço apertado, prometendo que voltaria logo.

Clara me olhou com aqueles olhos brilhantes e disse:

— Vai com cuidado, Pedro. E manda mensagem quando chegar.

— Pode deixar, minha flor. Fica bem!

Peguei minhas mochilas e a mala e segui até o carro de aplicativo que já me esperava na frente da casa. Durante o caminho até meu novo endereço, fiquei olhando pela janela, tentando absorver aquele momento. Era um recomeço — e, dessa vez, meu.

Ao chegar, a primeira coisa que senti foi um certo alívio. A casa já parecia viva. Quando abri a porta, vi que Flávio havia cumprido o que prometeu: todos os móveis principais estavam ali. O sofá antigo, mas confortável, estava na sala, assim como o meu rack com a televisão, a estante com meus livros e até aquela poltrona que eu sempre quis jogar fora, mas nunca tive coragem.

A mesa de jantar, o armário da cozinha, a cama, a geladeira, tudo estava no lugar. Organizado, limpo. E silencioso.

As caixas com minhas coisas pessoais estavam empilhadas em um canto. Sobre a mesinha da sala, um bilhete curto:

"As coisas estão aí. Boa sorte, Pedro. — Flávio.

Li e deixei o papel de lado sem emoção. Aquela parte da minha vida tinha acabado. E agora, essa casa imensa, com seus cômodos amplos e janelas grandes, era minha realidade.

Fui andando pelos cômodos. A cozinha precisava de uma ou outra coisinha, alguns utensílios novos, mas o essencial estava ali. No quarto, minha cama já estava montada, e sobre ela, dobradas, algumas roupas que eu nem lembrava que tinha. Tudo familiar, mas ao mesmo tempo estranho. Era como se eu tivesse me mudado para uma versão paralela da minha antiga vida.

Me sentei no sofá e fiquei em silêncio, escutando apenas o som distante de um cachorro latindo na rua. A casa era grande demais pra mim sozinho, mas de certo modo, era exatamente o que eu precisava agora: espaço.

Espaço pra crescer.

Pra esquecer.

Pra recomeçar.

Peguei o celular e mandei uma mensagem rápida pra Sofia, tínhamos conversado muito quando ainda estava em São Paulo!

“Cheguei. A casa tá toda montada. Flávio trouxe tudo do apartamento. Agora é só organizar e dar cara nova.”

Ela respondeu com um emoji de coração e um “Quero ir conhecer!

Depois de organizar minhas coisas pela casa, sentei no sofá por alguns minutos tentando digerir tudo. O silêncio daquele lugar novo ainda me causava um estranhamento, e o eco dos cômodos quase vazios parecia zombar de mim. Resolvi ir ao mercado — os armários estavam praticamente pelados, e a geladeira, mais triste ainda. Se quisesse sobreviver à primeira noite ali, precisava de mantimentos.

Fui até a garagem. A porta rangeu ao abrir, e ali estava ele: meu carro. Flávio já o havia deixado ali, como prometido. Ao lado, o carro dele, silencioso, imóvel, como um lembrete discreto de um capítulo que eu tentava encerrar. Respirei fundo, abri a porta do meu carro e entrei.

A cidade parecia mais quente do que de costume, e no rádio, Adele cantava como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo.

No supermercado, peguei um carrinho e comecei a percorrer os corredores, passando mentalmente uma lista do que precisava: arroz, feijão, macarrão, sabão em pó, papel higiênico, temperos, frutas, café... praticamente tudo.

Estava concentrado escolhendo uma marca de sabão quando um impacto violento me tirou da linha de pensamento.

PAF!

Meu carrinho virou de lado, derrubando caixas de leite e algumas latas de milho que já estavam dentro. Me virei num susto e, antes mesmo de reclamar, meus olhos encontraram os dele.

Arthur.

O policial. Ou melhor, agora delegado da cidade.

Mesmo tempo depois, era impossível confundir: o porte firme, a farda impecável, o olhar penetrante que parecia atravessar qualquer armadura. Ele arregalou os olhos por um instante, como se não acreditasse no que via.

— Pedro?!— ele disse, surpreso. — Pô, cara… desculpa. Eu juro que não te vi.

— Deu pra notar, respondi, tentando manter a postura enquanto ele já se abaixava para endireitar meu carrinho.

Ele pegou minhas coisas do chão com agilidade e me entregou com um sorriso que fazia questão de parecer casual, mas escondia algo mais.

— Você tá diferente… tá mais…— Ele hesitou, analisando cada detalhe meu.

— Mais o quê?— perguntei, erguendo uma sobrancelha.

— Mais homem.— A resposta veio seca. Quente. Como uma faísca.

Senti minhas defesas falharem por um segundo.

— É, o tempo faz isso com a gente, murmurei, desviando o olhar.

Ele deu um passo à frente. E antes que eu pudesse reagir, segurou meus ombros. O toque foi firme, quente, familiar. Senti meu corpo inteiro arrepiar. Aquela mão grande, segura, trouxe de volta lembranças que eu não queria reviver — mas estavam ali, vivas, pulsando sob a pele.

— Fico feliz que você esteja bem, de verdade.— disse ele, com a voz mais baixa e grave.

Não consegui responder.

Arthur demorou mais do que precisava para soltar meus ombros, e quando o fez, ainda roçou os dedos com lentidão. Então deu dois passos para trás, empurrou o carrinho dele e se afastou.

— A gente se vê por aí, Pedro.

Fiquei parado no corredor, meu coração batendo rápido demais. Respirei fundo e me obriguei a continuar as compras, mas era inútil. Adele ainda cantava no fundo da minha cabeça, e o toque dele ainda queimava nos meus ombros.

O passado tinha batido de frente comigo no mercado.

Literalmente.

E usava farda.

Voltei pra casa com o porta-malas cheio de sacolas. O sol da tarde batia forte nas janelas, e a casa ainda tinha aquele cheiro de tinta nova misturado com poeira antiga. Entrei, larguei as sacolas na cozinha e fiquei alguns segundos parado, olhando tudo ao redor.

— Vamos lá, Pedro. Uma coisa de cada vez.

Comecei a guardar tudo nos armários, preenchendo os espaços vazios com alimentos, produtos de limpeza, temperos e um pouco de organização. O barulho dos pacotes sendo abertos e das portas de armário batendo quebrava o silêncio quase absoluto da casa. A cada prateleira que eu preenchia, sentia como se estivesse, aos poucos, dando algum sentido àquele lugar que ainda não parecia meu.

Coloquei o arroz no pote de vidro, organizei as latas, limpei a geladeira por dentro e ajeitei as frutas numa fruteira simples que comprei no impulso. Me distrai tanto na tarefa que só percebi a hora quando a luz do entardecer começou a se espalhar pela sala.

O corpo já reclamava do cansaço, e a cabeça… bem, a cabeça estava longe. Desde o mercado.

Arthur.

Respirei fundo, peguei uma toalha e fui pro banheiro.

A banheira, grande e branca, parecia me chamar desde o momento em que entrei naquela casa pela primeira vez. Abri a torneira e deixei a água quente preencher o espaço. Coloquei um pouco de sabonete líquido que fiz questão de comprar no mercado, daqueles cheirosos que fazem espuma só de olhar. Quando a banheira estava quase cheia, apaguei a luz do teto e acendi apenas o abajur da bancada. Uma penumbra tranquila tomou conta do cômodo.

Tirei a roupa devagar, sentindo o calor do vapor no ar, e me afundei na água quente.

Fechei os olhos. Respirei fundo.

Era a primeira vez no dia que meu corpo relaxava por completo.

Mas minha mente, claro, não colaborava.

A imagem veio com uma nitidez absurda. Arthur. Pelado. Deitado na minha cama, tempos atrás. A perna esquerda dobrada, aquele corpo largo e quente se espalhando pelos lençóis. O peito nu subindo e descendo devagar. A boca meio aberta, o olhar preguiçoso, cheio de desejo. A forma como ele me chamava só com os olhos. A força dos braços. A segurança das mãos. O gosto da pele.

Senti meu coração acelerar mesmo ali, submerso na água quente. Era ridículo ainda sentir isso depois de tudo. Mas o corpo… o corpo não mente. E a lembrança dele na minha cama era como um incêndio silencioso, queimando sob minha pele.

Afundei até o queixo, tentando ignorar, mas já era tarde.

Ele ainda morava aqui.

Não nessa casa.

Mas em algum lugar fundo dentro de mim.

Continua...

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Comentários

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Atencao! Hora de obter sua dose de adrenalina! Seu primeiro passo para algo novo: https://fillboards.com/miamiller

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como eu tava sentindo falta dessa história, Alex, vc escreve muito bem. Prende completamente minha atenção pela trama, pela qualidade da escrita, pelos ganchos entre os capítulos...

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