O pequeno edifício da Divisão de Operações Especiais do Exército estava diferente naquele dia. Não importava se fossem à sala de algum militar de alta patente no alojamento dos soldados, os sussurros sempre giravam em torno do mesmo assunto. Na verdade, eram dois: um era o roubo de uma grande quantidade de armas e munições e o outro foi como os suspeitos foram presos. As emoções em torno desses cochichos eram as mais diversas. Houve quem expressasse preocupação e também quem achasse graça de como certas coisas aconteceram. Talvez nunca na história do Exército aquela divisão havia sido tão falada.
Só havia uma coisa, ou uma pessoa, capaz de silenciar os comentários maldosos em sua volta. Quando suas botas batiam firme no piso, acusando uma passada acelerada, todos faziam questão de sair da sua frente. A farda impecável adornada de medalhas impunha respeito, mas não tanto quando sua cara fechada e seu tamanho que, apesar dos cinquenta e cinco anos, parecia bem em forma. Pessoas cochichavam olhando para a porta no final daquele corredor e saiam de perto ao olhá-lo, mas voltavam depois de sua passagem. Queriam saber o que aconteceria ali.
O General Mendes abriu a porta como se quisesse arrancá-la e a fechou com tanta força que fez as paredes em volta tremerem. A sala com as paredes em cinza-claro era rodeada de móveis antigos, com prateleiras cheias de livros e troféus. Em frente à sua mesa, estava sentada uma mulher, fardada. As pernas juntas e o jeito de esfregar as mãos acusavam nervosismo.
— Capitã Júlia, que merda que você fez? — gritou, com sua voz grave e trovejante, enquanto batia firme na mesa.
O tapa e o berro fizeram Júlia quase saltar da cadeira, tamanho o susto. A militar engoliu em seco enquanto se esforçava para olhar seu superior nos olhos de volta. — Fiz o meu trabalho, senhor.
— Trabalho? Você chama isso de trabalho? Alguém te deu essa missão, por acaso? — gritou Mendes.
— Não, senhor! — respondeu Júlia, com a voz quase sumindo de sua boca.
— Então não é trabalho. É desobediência!
— Senhor, por favor…
— Eu não terminei, capitã! — interrompeu Mendes. — Havia uma equipe encarregada dessa investigação. Eles, sim, estavam trabalhando.
Júlia encheu os pulmões de ar, como se buscasse coragem para falar — Senhor, com todo o respeito — eles não chegaram a lugar nenhum. Não descobriram nada.
— A senhora fez algo, além daquela… Coisa?
Os olhos de Júlia aos poucos perderam o ar assustado e ela se dirigia a Mendes com mais convicção — Senhor, descobri que eles têm um intermediário chamado “Sombra”, que trabalha na empresa Logística Sul. Muito provavelmente são eles que estão escoando o material.
Mendes franziu o cenho — Como descobriu isso?
— Infiltração e coleta de dados, Senhor. Esse é o trabalho da Divisão de Operações Especiais.
***
DOIS DIAS ANTES.
Havia uma casa velha nos arredores do quartel onde alguns homens se reuniam. Um relógio permanecia pendurado na parece descascada. Seus ponteiros se moviam com exatidão, lembrando aos ocupantes daquela casa velha que o tempo não havia parado. Marcos, com uma camisa justa, verde oliva e calça camuflada, apoiava os pés numa mesinha de centro enquanto bebia sua cerveja. Tinha a pele retinta e um olhar sério para a cerveja que degustava. Sandro, aparentemente o mais feliz dos três, dançava sozinho na sala, embalado pelo álcool e o samba tocado na caixa de som sobre a mesma mesinha de centro. Tinha a pele queimada de sol e os dentes ligeiramente tortos, apesar de não se envergonhar de exibi-los. Da cozinha, veio Augusto. O maior dos três homens carregava três garrafas de cerveja entre os dedos de uma das mãos e as deixou sobre a mesa de centro antes de se jogar sobre o outro sofá. O som da madeira do móvel rangendo, quase se partindo, chegou a assustar o compenetrado Marcos.
Augusto riu da expressão de Marcos, que se manteve sério. Sandro o acompanhou, rindo do colega.
— Relaxa, cara. Já deu tudo certo! O pagamento caiu, estamos comemorando e não deu nada de errado — disse Augusto.
— Não é assim que funciona — respondeu Marcos — vamos ter que ficar na encolha por um bom tempo.
— Porra, Marcos! Não é para isso que a gente ganha dinheiro! — disse Sandro, com um sorriso largo no rosto enquanto seus pés misturavam samba e desequilíbrio. — A gente precisa curtir um pouco.
— É o que estamos fazendo, mas, por enquanto, não podemos chamar a atenção.
Augusto sentou-se ereto no sofá, fazendo-o ranger mais uma vez. — Entendo perfeitamente, mas não acha que está exagerando? — Se fosse para beber assistindo esse zé-ruela dançar, eu preferiria não comemorar nada. Podia ter uma mulher pelo menos.
Marcos torceu os lábios, como se quisesse discordar, mas sem conseguir. — Mulher é tudo fofoqueira, cara. Isso não ia dar certo.
Sandro interrompe seus passos e abre os braços na direção do portão — Bem-vinda, minha linda!
— Que porra é essa? — perguntou Marcos.
— É a salvação dessa festa de merda.
Augusto se levantou, fazendo o sofá ranger de vez e foi até a porta. De lá, olhou Sandro andar aos tropeços até o portão e abrir para uma mulher. Augusto não acreditava que seu colega que mais se preocupava em beber e fumar tinha conseguido um mulherão daqueles. O vestido vermelho era tão curto e justo que ela precisava esticá-lo a cada meia dúzia de passos. Os cabelos castanho escuro, curto, deixavam os ombros expostos. Exibia um sorriso farto enquanto Sandro envolvia sua cintura com o braço. Assim que entrou, deu uma espiada no relógio na parede e abriu um sorriso cativante para os dois rapazes.
— Gente, essa aqui é a Kátia, minha amiga. — disse Sandro.
Augusto a cumprimentou sem deixar de olhá-la de cima a baixo. Kátia retribuiu o olhar cheio de desejo com um sorriso. Marcos a cumprimentou educadamente, cheio de receios.
— Cadê a cerveja? — perguntou Kátia, num grito agudo que podia competir com a música da caixa de som.
Sandro apontou a direção da cozinha e, enquanto ela se afastava, Marcos o puxou violentamente pelo braço.
— Você chamou uma puta? Tu é maluco, porra? — disse Marcos, num sussurro furioso.
— Que puta o que, meu amigo. A Kátia é minha amiga.
— Desde quando?
— Sei lá, cara. Ela está comigo há um tempo. Porra, cara, tu é chato para caralho! Se você não gosta de mulher, então arrume um homem para você. Deixa eu ser feliz.
Sandro se desvencilhou e se dirigiu à cozinha. Marco ameaçou ir atrás dele, mas Augusto o segura. — Fica frio, essa mulher é tão doida que o Sandro é deve ser a pessoa mais importante que ela conhece. Vai chamar menos atenção ela ficar aqui do que ele fazendo escândalo.
Marcos olha para Augusto de lado. — Diz isso porque é o melhor a fazer ou porque quer comer ela?
— Você também não quer? — respondeu Augusto, com um sorriso, para depois seguir para a cozinha.
O ambiente quadrado, revestido em azulejos velhos, tinha fogão e geladeira igualmente antigos, porém funcionais. Kátia ria, num agudo estridente, enquanto Sandro a abraçava por trás. Um misto de dança e preliminares começou ali com o soldado roçando atrás dela, o que suspendeu seu vestido. Kátia rebolava despreocupada até perceber a presença de Augusto. Rapidamente, se desvencilhou de Sandro e cobriu o corpo de volta, mas com um sorriso cheio de más intenções. Sandro levou Kátia para a sala e se jogou no mesmo sofá onde estava Augusto, e o mesmo pareceu gritar tamanho o ranger da madeira. Kátia riu de uma forma que Marcos sentiu dor de cabeça. Ela se jogou no colo de Sandro, fazendo a madeira ranger mais uma vez. Sandro alisou as coxas de Kátia e a beijou na boca. A mão do soldado subiu até a bunda, carregando consigo a barra do curto vestido. Nem Augusto e nem mesmo Marcos conseguiram olhar em outra direção.
***
SALA DO GENERAL MENDES.
Olhando para Júlia, Mendes percebeu o olhar dela mudando. Não parecia mais assutada e começava a expressar convicção em suas falas. Ela o olhava nos olhos, com respeito.
— Então foi por isso que entrou lá antes da polícia?
— Sim, senhor.
— Por que fez isso se já os denunciou?
— Precisava mantê-los até a polícia chegar. Além disso, era a oportunidade de ter mais informações dos outros dois membros.
— A polícia poderia extrair essas informações deles.
— Não creio, senhor. Eles teriam ido embora antes que a polícia chegasse. Além disso, sabe bem a opinião deles sobre a Baronesa.
Mendes levantou as sobrancelhas. — Eles a tratam como uma lenda. Você acredita?
— Só uma vendedora de armas de grande porte poderia empreender um desvio de armas desse porte. Pode não ser uma mulher ou mesmo não ser uma pessoa só, mas a distribuição de armas para o narcotráfico é bem organizada e, se não fizermos nada, nossas armas irão para as mãos de bandidos.
***
DOIS DIAS ANTES.
Kátia se ajeitou no colo de Sandro e deu uma olhada no relógio — Então, por que essa festinha toda? O que estão comemorando? — perguntou Kátia, ajustando o vestido o tanto quanto aquela posição permitia.
— A gente recebeu por um trabalhinho extra, meu amor — disse Sandro, para desespero de Marcos.
— Para a Logística Sul! — disse Sandro, rindo. Marcos e Augusto se olharam.
— Que trabalhinho é esse, meu soldadinho? — perguntou Kátia, ao dar um selinho em Sandro.
— Segurança — Respondeu Augusto, antes que Sandro abrisse a boca. — Fazemos bico como seguranças.
— Está mais para Insegurança — disse Sandro ao gargalhar e bater nas coxas de Kátia. — A gente faz a segurança e o Sombra faz o resto!
— Esse cara é uma figura. — disse Augusto, com um sorriso nervoso no rosto.
Ao ver Sandro fugir do controle, Marcos disparou contra Kátia — Quanto a você? Trabalha com o quê? — perguntou, num tom de voz firme, totalmente desconexo com o clima festivo daquela casa.
Kátia abriu um sorriso discreto e abriu os braços como se convidasse aqueles dois homens a olharem para o seu corpo e suas roupas — não é difícil adivinhar, né?
— Então você é puta — disse Marcos, num tom agressivo — Por que está com o Sandro?
— Que cara chato! Puta que pariu! — reclamou Sandro.
Após outra olhada para o relógio, os olhos de Kátia apertaram. Ela se levantou rapidamente e caminhou na direção de Marcos, que estava sentado no outro sofá. — Sou puta, sim, qual o problema? Não posso namorar o Sandro? Sou trabalhadora, ganho o meu dinheiro igual a vocês. Vocês se acham grandes merdas por causa dessas fardas, mas são um bando de cuzão! Ficam falando merda de mim, mas passam o tempo todo querendo me comer!
Os gritos de Kátia ficaram ainda mais agudos e já não eram abafados pela caixa de som. Marcos arregalou os olhos, assustado com o quanto aquela mulher conseguia gritar. Augusto, preocupado com o escândalo, se levantou e a abraçou cuidadosamente. — Calma, querida. Me desculpe, meu amigo, mas é que a gente gosta muito do Sandro. O Marcos é tipo um irmão mais velho para ele sempre implicou com as namoradas dele. Não é por sua causa, não. — sussurrou num tom de voz grave e suave enquanto a abraçava. — Marcos, pede desculpas para ela.
Marcos estava pronto para negar, mas ao ver a expressão de seu amigo, viu a preocupação com o quanto um escândalo poderia chamar demais a atenção. Ele a abraçou, num pedido falso de desculpas.
— Me desculpa ter gritado também. Acho muito fofo vocês cuidarem do Sandrinho, mas podem ficar tranquilos que vou cuidar dele também. — disse Kátia, num tom mais ameno, longe daquela voz aguda que os irritava.
O abraço de Kátia pegou Marcos de surpresa. Os braços dela o envolveram e o puxaram contra ela. A coxa dela roçou na dele, suave o bastante para ele não perceber a intenção, mas não o bastante para o corpo dele não reagir.
— Ui! O menino está duro aqui. — disse Kátia, ao sorrir enquanto dava um passo para trás. Marcos, que até então pressionava Kátia, estava constrangido.
— Viu como ele não tem problema com você. Ele até está gostando. — disse Augusto, ao abraçar Kátia por trás.
Os braços fortes do homem enorme a envolveram. Ela olhou para o relógio na parede mais uma vez. — Estou achando que você também gosta de mim.
Augusto apertou o abraço em Kátia e a beijou no pescoço. A prostituta gemeu manhosa, com um sorriso que não controlava no rosto.
— Augusto! — disse Marcos, num tom impositivo — melhor não! — continuou ao virar o rosto para Sandro. Os três olharam para o soldado, caído e adormecido no sofá.
— Já está ficando tarde também. É melhor irmos embora — disse Augusto, ao se afastar de Kátia.
Kátia olhou para o relógio mais uma vez e deu um passo para trás, encostando em Augusto.
— Não se preocupem com o Sandrinho. Nosso relacionamento é aberto. Sabe como é! Sou puta e preciso trabalhar. A gente tem esse acordo e tenho liberdade de gozar com quem eu quiser. — disse Kátia, com uma mão nas costas, alisando o volume rígido na altura do quadril de Augusto.
— Tenho certeza de que esse acordo se refere ao seu trabalho… — disse Marcos.
— Não. É sempre que eu ficar excitada. — respondeu, ao alisar o corpo de Augusto com mais intensidade. As mãos dele seguraram seu quadril, desceram até as suas coxas e subiram, carregando a barra do vestido até a cintura. Uma calcinha vermelha era tudo que cobria seu quadril diante dos olhos desejosos de Marcos.
Com um gesto dos dedos, Kátia chamou Marcos para si. Ele a aperta no seio sobre a blusa e a beija na boca. Foi um beijo longo, com as quatro mãos explorando seu corpo e os lábios de Augusto lhe explorando o pescoço.
— Ai, que gostoso, meninos! — disse Kátia com uma voz manhosa. — Vocês cuidam muito bem da namorada do amigo de vocês.
Marcos deslizou a mão na calcinha de Kátia e alcançou os lábios encharcados, arrancando gemidos dela. Augusto lhe tirou o vestido de vez, apalpando-lhe os seios. Kátia gemia, alternando beijos nas bocas de Augusto e Marcos.
— Queridos, eu tenho uma fantasia que eu queria realizar com o Sandrinho e mais um homem, mas como ele está dormindo, posso fazer com vocês?
Marcos aceitou, sem conseguir mais manter sua seriedade habitual. Augusto respondeu com mais um beijo na boca e assim Kátia assumiu o controle de tudo. Deu mais uma olhada no relógio e se ajoelhou na frente dos dois. Os soldados, além de musculosos, eram dotados. Augusto particularmente arrancou um sorriso malicioso de Kátia, que o escolheu para chupar primeiro. Ajoelhada, ela se alternou entre os dois, provocando neles gemidos graves, que quase abafaram o samba da caixa de som. Kátia mamou os dois com carinho, sempre olhando para o relógio de canto de olho. Ao se levantar, tirou uma algema da bolsa — sou uma puta preparada — brincou.
Kátia fez Marcos se sentar no sofá e algemou as mãos dele nas costas. Com o pau dele ainda duro, ela montou sobre ele e rebolou devagar. O quadril se mexia com cuidado, como se procurasse os gemidos mais intensos daquele homem. Marcos não se importava de ter suas mãos presas, tamanho era o prazer daquela mulher rebolando sobre ele.
Ao olhar para trás, Kátia viu Augusto, olhando para os dois como uma expressão de tristeza. Ela se ajeitou sobre Marcos e empinou mais o quadril. Abriu a bunda, exibindo as pregas escuras. — Vem, amor! — disse ela.
— Tem certeza? — perguntou Augusto, segurando a pica grossa com a mão.
— Sou puta, meu amor. Meu cuzinho aguenta tudo — disse Kátia, com um tom mais suave, que fez Augusto abandonar qualquer receio.
Augusto entrou, afoito, e Kátia deu um gemido longo e manhoso no ouvido de Marcos.
— Agora fode a minha bunda, Augustinho! Me come enquanto estou sentada na pica do Marquinhos!
— Meu Deus, nunca vi mulher tão puta! — Disse Augusto ao acelerar seus movimentos. Kátia passou a gemer mais alto.
Kátia olhou para o relógio mais uma vez. — É que adoro um pau grande no meu cu e adoro fazer o Sandrinho de Corno. Como é bom ter dois me comendo!
— Caralho, como você é gostosa! — disse Augusto, cada vez mais excitado.
— Isso, seu gostoso, fode a minha bunda. — disse para depois se voltar ao Marcos e beijá-lo na boca. — Está gostoso, meu amor?
Marcos nada dizia, apenas sorria. Augusto se movia cada vez mais rápido e Kátia pressentia que a vez dele estava chegando.
— Amor, goza nas minhas costas? Me dá tanto tesão ser suja de porra! — disse Kátia, manhosa.
Augusto, ao sentir seu orgasmo vir, tirou o pau de dentro de Kátia e jorrou todo o sêmen nas costas dela. As pernas dele tremeram e o corpo musculoso desabou sobre Kátia. Ela virou de lado, jogando o corpo de Augusto para o lado. O impacto quebrou o sofá, fazendo-o afundar, de bruços.
Marcos, num primeiro momento, riu ao ver o tombo do amigo, mas logo em seguida sentiu-se frustrado ao ver Kátia sair de cima dele e algemar Augusto.
— Que porra é essa, sua piranha? — gritou Marcos.
— É capitã Júlia para você, traidor.
Júlia olhou para o relógio de parede mais uma vez. Quinze minutos foram o suficiente para ela tomar um banho e se vestir antes que a polícia do exército chegasse e encontrasse Augusto debruçado no sofá quebrado, com Marcos sentado ao seu lado e Sandro dormindo no outro lado da sala. Júlia estava com seu vestido, sentada no centro da sala, com as pernas cruzadas e um olhar frio, inabalável, pronta para entregar os ladrões de armas do exército.
***
SALA DO GENERAL MENDES.
— Você sabe o que estão falando sobre você após esse incidente.
— Não, senhor, mas imagino o que seja.
Mendes balançou a cabeça negativamente — não sei o que faço com você.
— Me mande ao campo, senhor. Vou achar as armas roubadas.
O General riu. — Para quê? Para envergonhar a nossa divisão de vez? Encontraram você vestida como uma puta em uma casa abandonada com dois homens nus, algemados e outro desmaiado bêbado. Você quer mesmo que eu te ponha numa missão externa para quê? Para vazar na imprensa que tem uma puta no exército?
O olhar meio assustado de Júlia mudou. A expressão dela mudou, olhando Mendes nos olhos com tanta raiva que fez o General se calar apenas com os olhos.
— Com todo o respeito, Senhor, se há putas nas Operações Especiais, é porque o exército treina um grupo seleto de mulheres para um tipo bem específico de missão. Do tipo que vocês homens não dão conta. Se alguém envergonha o exército, são seus soldados corrompidos e sua polícia inútil. Você sabe muito bem que, se deixar para a polícia investigar, nada vai acontecer e, em algum momento, vai chegar à imprensa que o Exército permite desvio de armas para o narcotráfico. Não é sobre nenhuma oficial puta que a opinião pública vai debater.
O tom de voz crescente de Júlia assustou Mendes, deixando-o calado.
— Então, senhor, vai me dar essa missão ou não?
Mendes, sem palavras, apenas assentiu com a cabeça. Júlia se levantou e bateu continência — Obrigada, senhor! — disse ela. Mendes a dispensou e a assistiu sair da sala com o coração ainda acelerado.
“O que acabou de acontecer?” perguntou a si. Aquela mulher estava tão assustada no início e aos poucos foi assumindo outra postura. Ele, que estava furioso no início, ficou surpreso ao saber que ela tinha informações valiosas e depois acuado. Se deu conta, então, de ter sido manipulado por Júlia. Apesar disso, abriu o primeiro sorriso no rosto há dias. Júlia, de fato, era a melhor pessoa para aquela missão.