11- Regresso - FINAL

Um conto erótico de Juliana
Categoria: Crossdresser
Contém 1055 palavras
Data: 31/07/2025 03:08:30

O regresso soube a fim de verão.

O táxi atravessava ruas familiares. Os prédios, os cheiros, os tons acinzentados do céu. Mas Juliana… não era mais a mesma.

O vestido preto ondulava-lhe nas coxas, e os brincos compridos balançavam ao ritmo do coração inquieto. O espelho retrovisor mostrava-lhe o rosto: mais maduro, mais definido, mais… sereno.

Desceu frente ao prédio de Sofia. As pernas tremiam.

Subiu. O elevador parecia lento demais. E quando bateu à porta, teve a súbita vontade de fugir.

Mas não fugiu.

Sofia abriu. Sem maquilhagem. Cabelo natural. Uma camisola larga. E o olhar que Juliana sempre reconheceria, mesmo no meio da multidão: firme, direto, capaz de atravessar.

— Olá — disse ela, com um sorriso tenso.

— Olá.

Ficaram ali. Longos segundos.

— Posso entrar?

— Sempre pudeste.

O apartamento estava igual. Mas cheirava diferente. Incenso de jasmim. Havia plantas novas. Um quadro onde antes havia uma parede vazia. Juliana olhou tudo com cuidado — como quem percorre as memórias à procura de si mesma.

Sofia trouxe chá.

— Como foi?

— Transformador.

— Dormiste com alguém?

Juliana não hesitou.

— Sim.

Sofia assentiu. Não havia ciúme no olhar dela. Havia… uma espécie de luto aceitado.

— E amaste alguém?

Juliana pensou. Lembrou-se de Carmen. Do prazer. Do respeito. Mas também da ausência.

— Não. Não como a ti.

Sofia sorriu. Fraco. Mas verdadeiro.

— E ainda me amas?

— Sempre. Mas talvez… de outra maneira.

Sofia aproximou-se. Tocou-lhe o rosto. Passou os dedos pelas orelhas, pelo pescoço.

— Posso… ver-te?

Juliana abriu o casaco. A camisola justa por baixo deixava entrever a silhueta. O peito ainda era plano, o corpo uma dança entre o masculino e o feminino. O volume entre as pernas marcava-se suavemente.

Sofia ajoelhou-se à frente dela. Beijou-lhe a barriga. Depois a virilha, por cima do tecido.

— Continuas linda. Continua tudo em ti a ser feminino. Mesmo o que ainda assusta quem não entende.

Juliana soltou um suspiro trêmulo.

— És a única que me vê inteira.

Sofia ergueu-se e beijou-a. Longo. Sem urgência. Sem posse. Só reconhecimento.

Nessa noite, dormiram juntas.

Sem sexo. Mas com os corpos colados. As mãos entrelaçadas. As pernas entrelaçadas. E no meio do silêncio, um espaço novo nascia.

Não era o mesmo amor.

Mas era amor, ainda assim.

Juliana adormeceu com a cabeça no peito de Sofia.

E antes de fechar os olhos, murmurou:

— Agora sei que o que temos… não precisa ser como antes.

Só precisa ser verdadeiro.

Sofia sorriu, com os olhos fechados.

— E é.

No dia seguinte, era uma daquelas noites em que a cidade dorme inquieta e o mundo parece mais fundo.

Juliana estava deitada no sofá de Sofia, os pés sobre o colo dela, as mãos cruzadas atrás da cabeça. Estavam a ver um filme antigo, mas nenhuma delas o seguia. A tensão era suave, quase impercetível — o tipo de tensão que só existe entre duas pessoas que já se tocaram em todos os lugares… mas agora fazem de conta que não sabem se devem.

— Estás a pensar muito. — disse Sofia, passando a mão pela perna de Juliana.

— Estou a tentar não sentir demais.

Sofia sorriu. Mas havia algo diferente no sorriso. Não era provocador. Era cúmplice. Como um segredo partilhado em silêncio.

— Hoje… deixa-te ir. Sem planos. Sem perguntas. Só corpo. Só presença.

Juliana olhou para ela. As pupilas dilataram-se. O coração acelerou. Algo a puxava para um centro antigo… conhecido… necessário.

Levantou-se e foi até ao quarto.

Quando voltou, trazia apenas um robe preto, solto. Por baixo, pele nua. O cabelo solto nos ombros. A boca ligeiramente pintada.

Sofia já a esperava sentada na cama, completamente despida, com o corpo exposto, sem medo. Como uma oferenda. Como uma mulher em paz com o desejo.

Juliana aproximou-se. Sentou-se sobre os joelhos, de frente para ela. Pegou-lhe no rosto com ambas as mãos.

— Hoje, quero fazer amor contigo com tudo o que sou.

Com o meu peito sem curvas.

Com o meu sexo que não é o que esperam.

Com a minha alma, que és tu.

Sofia mordeu o lábio, os olhos já húmidos.

— E eu quero tudo isso. Sempre quis.

Beijaram-se. Devagar. Molhado. Quente. Sem pressa.

Juliana pousou Sofia sobre a cama, ajoelhou-se entre as pernas dela e beijou-lhe a barriga, os seios, os quadris. Sofia arqueava o corpo, já ofegante.

— Hoje, vou usar o meu corpo para te fazer esquecer o mundo — sussurrou Juliana, antes de mergulhar entre as pernas da amante.

O sexo era diferente dessa vez. Não havia domínio. Nem submissão. Só comunhão.

Juliana chupava e lambia com paixão e precisão, com fome e ternura. Sofia contorcia-se, gemia, dizia o nome dela como quem reza.

Depois, trocaram de posição. Sofia montou-a, sentindo o sexo de Juliana duro e quente entre os dedos. Beijou-lhe o pescoço, o peito, a alma. E então sentou-se sobre ela, encaixando-se devagar, com um gemido longo que fez Juliana tremer.

— Estás dentro de mim… como sempre estiveste. — murmurou.

Moveram-se juntas. Suadas. Entre beijos e lágrimas. Entre prazer e gratidão. Entre o que foram e o que ainda são.

Quando o orgasmo chegou — e chegou como uma maré —, ambas choraram.

Não de tristeza.

Mas de reconhecimento.

O corpo de Juliana inteiro se dissolveu dentro do de Sofia.

E ali, naquela noite, fizeram amor com tudo o que eram. Sem máscaras. Sem jogos. Apenas duas mulheres. Apenas verdade.

Meses passaram.

Juliana vive agora entre cidades. Continua artista. Continua mulher. Já não precisa explicar-se tanto. E, às vezes, já nem se justifica para si mesma. É. E basta.

Sofia seguiu com a vida. Tem um novo amor. Mas nunca esqueceu o primeiro.

Encontram-se de vez em quando. Para cafés. Para silêncios partilhados.

E às vezes… para toques breves que dizem tudo sem dizer nada.

Miguel vive noutro país. Ainda escreve. Juliana ainda sorri ao ler.

No armário dela, em Barcelona, há uma caixa.

Nela, uma cinta-liga, uma carta escrita à mão…

E uma fotografia a preto e branco: as mãos de Sofia sobre o rosto de Juliana, ambas a sorrir, olhos fechados.

Juliana pendurou-a sobre a cama.

Para nunca esquecer quem a ensinou a ver-se.

Nem tudo o que termina morre.

E nem tudo o que fica precisa de prender.

Às vezes, basta saber que fomos amados...

e que deixámos marca no corpo de alguém.

- FIM -

Caros leitores espero que tenham gostado da história, ritmo e desenvolvimento de "Entre Espelhos e Desejos".

Beijos e obrigada pelo feedback

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