Gustavo entrou no quarto em silêncio. O corredor estava escuro, e a única luz vinha do abajur fraco ao lado da cama. Anna estava deitada de lado, os lençóis parcialmente caídos sobre o quadril, revelando a curva das costas e a pele levemente úmida.
Ela ouviu os passos e virou o rosto devagar, com um olhar que não era o de uma esposa sonolenta. Era algo mais denso, mais carregado. Havia brilho demais nos olhos, como se ela estivesse esperando… ou precisando.
— Você dormiu lá fora — disse, a voz baixa, quase um sussurro.
— O vinho me derrubou — respondeu ele, tirando a camisa com lentidão, sem pressa.
Ela o observou em silêncio, com um leve sorriso nos lábios. Quando ele se aproximou, ela estendeu a mão e tocou o peito dele, deslizando os dedos até a cintura. Puxou-o para perto com um gesto calmo, mas firme.
Gustavo se inclinou para beijá-la. A boca dela estava quente, macia, molhada demais. O beijo começou calmo, mas logo se aprofundou. A língua dela o envolvia como se quisesse contar um segredo. Havia urgência disfarçada de doçura.
— Você tá... diferente — sussurrou ele, entre um beijo e outro.
Anna apenas o olhou. Ela mesma não saberia explicar. Sentia o corpo leve, e ao mesmo tempo inquieto. Um fogo que não vinha de Gustavo, mas que agora queimava por ele.
Ela puxou a alça do próprio robe devagar, deixando-o escorregar pelos ombros. A pele arrepiada contrastava com o calor que ela sentia por dentro. O tecido deslizou até o colchão, revelando seus seios, seus quadris, tudo com naturalidade, sem espetáculo — mas com uma beleza que cortava o ar.
Gustavo a olhou em silêncio, como se visse a esposa pela primeira vez. Ela passou as mãos pelo próprio corpo, do pescoço ao ventre, e depois levou os dedos até ele, puxando-o para si.
Deitou-se de costas e o guiou com as pernas, enrolando-as em torno da cintura dele. Ele passou a mão pela lateral do corpo dela com carinho e firmeza, explorando cada curva, cada suspiro.
Beijou o pescoço com suavidade, depois o colo, descendo devagar. Os seios estavam rijos, sensíveis. Ele os envolveu com as mãos, com a boca. Os gemidos dela eram baixos, quase contidos, como se não quisesse chamar atenção — ou talvez não quisesse que ele soubesse o quanto estava entregue.
Enquanto ele descia com beijos, Anna fechou os olhos. O toque dele era bom, mas o que a fazia vibrar por dentro era a lembrança do olhar que viera antes. O olhar que não era o dele.
Quando ele chegou entre suas pernas, ela já estava molhada. Não pela língua dele, não ainda. Mas pelo que se passara antes. Pelo vinho, pela piscina, pela tensão não resolvida.
Ele a lambeu devagar, com dedicação. Primeiro em círculos lentos, depois com mais ritmo, mais pressão. Anna se arqueou, mordeu os próprios lábios, e levou a mão até os cabelos dele, guiando-o, pedindo mais, mas com doçura.
— Não para...
Gustavo continuou até sentir o primeiro tremor dela. Anna mordeu o travesseiro, tentando conter o gemido, mas era inútil. O orgasmo veio como uma onda quente, com respiração falha e corpo trêmulo.
Ele subiu por cima dela, e ela o puxou para dentro sem dizer uma palavra. O encaixe foi lento, profundo. Fecharam os olhos juntos.
As estocadas eram longas, silenciosas. Um ritmo que dizia mais que qualquer frase. Os olhos se encontraram no meio do movimento, e naquele momento Gustavo não viu sua esposa — viu uma mulher em chamas, transbordando algo que ele não conseguia nomear.
Anna gemeu mais alto, o rosto apertado no ombro dele. E quando gozou pela segunda vez, com o corpo grudado no dele, o suspiro que escapou dos seus lábios soou mais como alívio do que prazer.
Gustavo tombou ao lado dela, ainda ofegante, a mão pousada sobre sua barriga, sentindo o calor da pele.
No quarto ao lado, João permanecia acordado.
Imóvel.
Em silêncio.
Mas com todos os sentidos em alerta, como se ainda pudesse ouvir cada respiração, cada gemido abafado, cada estalo sutil do que acabara de acontecer.
E ele escutava.
Não apenas o que acontecia no quarto ao lado — mas o que começava a acontecer dentro dele.
João estava deitado no escuro.
O ventilador girava no teto, lançando sombras circulares pelas paredes, mas ele não via nada. Estava de olhos abertos, fixos no teto. O corpo estendido sobre o colchão, imóvel. Os músculos tensos, o maxilar travado.
Ele tinha ouvido tudo.
O quarto não era tão bem isolado quanto parecia. Os sons atravessaram a parede como sussurros íntimos direto no ouvido dele — gemidos abafados, beijos molhados, estalos de corpos se encontrando com força e entrega.
Ele havia fechado os olhos no instante em que ouviu o primeiro suspiro de Anna. Tentou desligar-se. Tentou fingir que era apenas o cansaço falando alto. Mas era inútil.
A voz dela... baixa, embargada de prazer, era como uma corda sendo puxada em alguma parte adormecida dele.
Cada gemido, cada pausa na respiração, cada som molhado... tudo se tornava um quadro vivo na mente dele. A imaginação não apenas recriava a cena — ela aumentava, detalhava, ampliava. O cheiro da noite quente, o corpo dela brilhando sob a luz da piscina, o biquíni molhado marcando os mamilos. E agora, tudo isso se misturava ao som de prazer vindo da parede.
João passou a mão pelo peito nu, sentindo o coração acelerado. Seus dedos desceram lentamente pela barriga, até o elástico da calça de pijama. O toque era leve, como se hesitasse — mas não havia mais volta.
Ele estava excitado. Muito. E não era só físico. Era algo mais profundo, mais desconcertante. Era o fato de ter sentido algo naquela noite. Um sinal. Um reflexo nos olhos dela. Um leve convite que talvez nem tivesse sido intencional… mas que estava ali.
Fechou os olhos e se deixou levar pela fantasia.
Imaginou que era ele quem estava entre as pernas dela. Que era sua boca que fazia Anna gemer daquele jeito. Que eram suas mãos apertando aquela cintura, guiando o ritmo dos quadris. Imaginou a pele dela sob a sua, quente, pulsando, viva.
A respiração dele começou a acelerar. Os músculos se contraíram. Seus dedos apertavam o próprio membro com firmeza, como se tentasse controlar o desejo que transbordava. Mas não havia controle.
Ele gozou em silêncio, com os dentes cravados no lábio inferior, o corpo arqueado por um instante de explosão contida. O peito subia e descia, suado. Os lençóis estavam amassados, úmidos. A noite seguia em silêncio.
João ficou ali, deitado, olhando o teto.
O alívio físico não apagou o incômodo que veio depois. Uma pontada de culpa. Não era arrependimento — ainda não. Mas uma consciência amarga de que algo havia mudado. Dentro dele. E talvez, dentro dela também.
Ele não a havia tocado.
Mas a queria.
E agora sabia disso com toda a certeza do mundo.
O sol entrou pelas frestas da persiana com delicadeza, mas a luz parecia mais clara do que deveria. João já estava acordado fazia tempo, mas continuava deitado, observando o teto como se ele pudesse oferecer respostas. O ventilador girava lento, e o silêncio da casa era espesso.
Tomou um banho rápido e vestiu uma camisa leve, de botões, e um short de tecido macio. O corpo ainda carregava resquícios da noite anterior — não o cansaço, mas a tensão. Um resíduo morno de desejo não saciado, como uma brasa adormecida que podia reacender ao menor sopro.
Foi até a cozinha.
O cheiro de café preenchia o ar. Anna estava de costas, com os cabelos soltos, ainda úmidos do banho. Vestia uma camiseta larga, daquelas que desciam até o meio das coxas, deixando só a barra da calcinha à mostra quando se inclinava.
João parou na porta por um segundo a mais do que deveria. A visão dela ali, naquele ambiente doméstico, o corpo semioculto pela roupa, os movimentos suaves… era quase pior do que o biquíni da noite anterior. Aquilo era intimidade. Cotidiano. Realidade.
— Bom dia — ele disse, com a voz firme, mas baixa.
Ela virou-se devagar, surpresa por um instante. Depois sorriu.
— Bom dia, João. Dormiu bem?
Ele hesitou.
— Na medida do possível.
Anna riu com suavidade, e havia algo nos olhos dela — uma malícia velada, talvez não proposital. Ou talvez muito.
Ela estendeu uma caneca de café a ele. Os dedos se tocaram por um segundo. A eletricidade foi imediata. Curta. Precisa. Ambos sentiram.
— Gustavo ainda tá dormindo — disse ela, virando-se de novo para o fogão.
— Não me espanta... depois de tanto vinho — respondeu João, medindo as palavras.
Silêncio.
Anna mexia o açúcar com calma. O vapor subia da xícara, e ela o observava se dissipar, evitando os olhos dele por alguns segundos. Mas o clima... o clima falava alto.
João se aproximou da bancada e se sentou em um dos bancos altos. Não disse nada. Apenas a observava com o canto dos olhos. O jeito como ela andava pela cozinha. A maneira como ajeitava os cabelos atrás da orelha. Os detalhes, pequenos e fatais.
Ela sabia que estava sendo observada. E aquilo a fazia se mover diferente. Como se o corpo tivesse consciência da atenção. A camiseta parecia mais curta. Os movimentos, mais suaves. A respiração, mais lenta.
— Você... tá bem? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
Ela o olhou por um instante, olhos nos olhos.
— Tô ótima. Por que não estaria?
João sustentou o olhar. A tensão entre os dois se esticou como um fio prestes a arrebentar.
— Só... achei que talvez estivesse cansada. Ou dolorida.
A resposta veio como um estalo dentro dela. Uma pontada de calor entre as pernas.
Anna não respondeu de imediato. Levou a caneca aos lábios, tomou um gole, e depois sorriu — um sorriso curto, enigmático.
— É... um pouco.
Os olhos dele baixaram, mesmo que só por um segundo. Um deslize.
Gustavo apareceu no corredor, coçando os olhos e bocejando.
— Nossa... que horas são?
Anna se virou como se nada estivesse acontecendo.
— Quase dez. Quer café?
— Por favor...
A atmosfera da cozinha mudou. João afastou a caneca, recostou-se e voltou a olhar pela janela. Anna sorriu ao servir o marido — como se não estivesse escutando o desejo crescer em silêncio do outro lado da bancada.
Mas João sentia.
E agora sabia: aquele jogo havia começado. E não era só ele quem estava jogando.
PONTO DE VISTA DE ANA
Anna acordou antes de o sol entrar pelas frestas da janela. O quarto ainda estava mergulhado em sombras, mas o corpo dela parecia desperto. Não só desperto — sensível, alerta, como se algo tivesse ficado inacabado.
Sentia-se estranha. Leve por fora, quente por dentro.
Gustavo dormia ao lado, virado para o outro lado da cama, respirando fundo. Ainda havia um cheiro de sexo no ar. E suor. E vinho. E desejo saciado. Mas, ao mesmo tempo, havia nela uma insatisfação sutil, quase imperceptível — como uma fome que foi alimentada, mas não completamente.
Ela fechou os olhos e tentou fingir que era apenas um eco da noite intensa com o marido. Mas bastava lembrar da piscina... do vinho... do olhar de João. Bastava lembrar do momento em que saiu da água e sentiu os olhos dele sobre seu corpo, como uma carícia sem toque.
Era isso.
Ela havia transado com Gustavo — com o próprio marido — mas com o fogo aceso pelo olhar de outro homem.
Levantou-se devagar, foi até o banheiro. O banho morno deslizou pela pele como uma confissão silenciosa. Tocou os próprios seios com suavidade, desceu a mão até o ventre. Ainda sentia a pulsação ali. Ainda sentia o corpo como se estivesse... esperando.
Vestiu uma camiseta larga e uma calcinha simples. Nada ensaiado, nada proposital. Mas quando se olhou no espelho antes de sair do quarto, percebeu: algo nela estava diferente. O jeito como andava, o modo como respirava, a forma como o cabelo caía pelos ombros. Ela estava acesa. E sabia disso.
Na cozinha, começou a preparar o café. Movimentos automáticos, mas precisos. O cheiro do pó invadindo o ar, a chaleira esquentando, o coração acelerando.
Ela sentiu antes de ver.
João entrou no cômodo em silêncio, e ela soube que era ele antes mesmo de ouvir sua voz.
— Bom dia — ele disse.
Ela se virou, tentando parecer natural. Sorriu, mas sentiu o corpo reagir. A pele da nuca se arrepiou. As pernas ficaram mais firmes. O olhar dele era direto. Mas calmo demais para ser inocente.
— Bom dia, João. Dormiu bem?
Ela se surpreendeu com a própria voz. Tranquila demais. Quase ensaiada.
Ele respondeu algo que ela não absorveu completamente. Estava mais atenta ao modo como ele a olhava. Não como um homem olha uma mulher. Mas como um homem olha uma mulher que já deseja — mesmo sem ter tocado nela.
Estendeu a caneca de café, e seus dedos se tocaram. Rápido. Quente. Elétrico.
Anna segurou a xícara com as duas mãos depois, como se o calor da porcelana pudesse disfarçar o calor real que se espalhava por dentro.
— Gustavo ainda tá dormindo — disse ela, mais por dizer algo do que por informar.
João se aproximou. A presença dele parecia ocupar mais espaço do que o corpo. Era a forma como ficava em silêncio, como a olhava sem pressa.
— Você... tá bem? — ele perguntou.
Anna o olhou de volta.
— Tô ótima. Por que não estaria?
Mas ela sabia. E ele também. Era uma pergunta com várias camadas. Uma alusão ao que tinha ouvido. Ao que tinha imaginado. Ou... ao que tinha sentido.
Então ele disse:
— Só achei que talvez estivesse cansada. Ou... dolorida.
As palavras atravessaram o ar como um arrepio. Um convite que fingia ser preocupação.
Anna não desviou o olhar. Sentia o sangue pulsando nas têmporas, o ventre se contraindo levemente. Ela levou a caneca aos lábios e disfarçou com um sorriso.
— É... um pouco.
E naquele momento, ela soube.
João havia ouvido tudo.
Não havia mais dúvida. E, pior: ela sabia que ele sabia que ela sabia.
Gustavo entrou na cozinha logo depois, e tudo mudou. A presença dele era um lembrete de onde ela estava, de quem ela era. Mas a respiração já tinha mudado. O pulso estava acelerado. O corpo, inquieto.
Ela entregou a xícara ao marido com um beijo no rosto, mas sentiu os olhos de João ainda sobre ela.
E por mais que tentasse não reagir, o desejo crescia — discreto, sorrateiro — como uma flor que desabrocha no escuro, longe dos olhos do mundo.
— Vou até a farmácia rapidinho, amor — disse Gustavo, pegando as chaves do carro. — Tô com dor de cabeça e acabou a dipirona.
— Quer que eu vá com você? — Anna perguntou, com aquele tom leve que ela usava quando já sabia a resposta.
— Nem precisa. É coisa rápida. Dez minutinhos.
Ele se despediu com um beijo apressado no rosto e saiu. O som do portão elétrico se abrindo e depois se fechando foi como um estalo no ar. A casa, mais uma vez, mergulhou num silêncio denso.
João estava sentado à mesa da cozinha, tomando café, camisa aberta no peito. Anna voltou do corredor devagar, os passos descalços no piso frio, a camiseta dela balançando levemente com o movimento do corpo.
Mas agora havia algo diferente nela.
Ela sabia que estava sendo observada. E, de forma quase inconsciente — ou talvez muito consciente —, começou a se mover como se cada gesto fosse coreografado.
Foi até a pia. Abaixou-se para pegar uma garrafa de água no armário inferior, deixando a blusa escorregar levemente para cima, revelando a curva das coxas, a calcinha rendada à mostra, como um sussurro de pele em contraste com o algodão branco.
João engoliu seco. Desviou o olhar por reflexo, mas seus olhos voltaram em seguida, incapazes de resistir.
Anna permaneceu abaixada um segundo a mais do que precisava. Sabia. Sentia o olhar dele queimando nas costas. E isso a fazia sorrir por dentro.
Levantou-se com a garrafa na mão e virou-se casualmente. Os mamilos estavam marcados sob o tecido fino da blusa, graças ao choque do frio da água e ao calor que já borbulhava sob a pele.
— Quer um pouco? — perguntou, erguendo a garrafa na direção de João.
Ele hesitou um instante, mas respondeu com um aceno de cabeça.
Anna se aproximou, abriu a tampa com delicadeza e virou a água no copo dele, com movimentos lentos, quase sensuais. Cada pequeno gesto parecia calculado — a forma como ela se inclinava levemente, o jeito como os cabelos escorriam pelos ombros, o modo como ela o olhava enquanto a água escorria.
— Tá um calor, né? — disse ela, passando os dedos pelo pescoço, afastando os fios úmidos e revelando a pele úmida e brilhante.
— Tá sim... — respondeu João, tentando manter a voz firme.
Ela deu um gole na própria água e, sem querer — ou exatamente por querer —, deixou um pouco escorrer pelos cantos da boca. A gota deslizou pelo queixo, pelo pescoço, até desaparecer entre os seios marcados sob o pano fino. E ela não limpou. Deixou escorrer.
João acompanhou o trajeto da gota com os olhos, hipnotizado. E quando percebeu, Anna já o encarava de volta.
— Tudo bem, João? — ela perguntou, com um sorriso que não era exatamente inocente.
Ele assentiu, mas não respondeu de imediato.
Anna então se encostou à bancada, de lado. Uma perna dobrada, o quadril projetado sutilmente, os dedos brincando com a beirada da blusa.
A respiração de João já estava mais pesada. E ela percebia.
Mas ainda não era hora.
Anna sabia. Sentia o poder de estar no limite — o prazer silencioso de se exibir, de provocar sem tocar, de se despir sem tirar a roupa.
Então, como quem dá fim a um espetáculo, ela se afastou devagar.
— Vou tomar um banho — disse. — Quando o Gustavo voltar, avisa ele?
— Claro — respondeu João, rouco.
Ela se virou e saiu devagar, os quadris balançando levemente, deixando no ar o perfume leve da pele recém-suada e um rastro de silêncio que pesava mais do que qualquer palavra.
João permaneceu sentado. O copo ainda na mão. O coração disparado. A respiração instável.
E uma certeza: Anna sabia o que estava fazendo.
E estava adorando o efeito.