Capítulo 3: O Peso da Verdade
Nos dias que se seguiram ao encontro no barzinho, Vitor estava irreconhecível. O homem normalmente focado, com um olhar penetrante e decisões rápidas, agora parecia flutuar, com um sorriso bobo estampado no rosto e a cabeça nas nuvens. Durante uma reunião importante com investidores, ele se pegou rabiscando o nome “Juliana” em um canto do caderno, completamente alheio à discussão sobre novos galpões na Ásia. Sua melhor amiga e braço direito, Alícia, percebeu na hora. Alícia, uma oriental de 30 anos, com cabelos pretos brilhantes que caíam como seda e um corpo escultural que chamava atenção sem esforço, era a CEO da empresa de logística de Vitor. Com uma presença imponente, ela misturava frieza calculada com um carisma magnético, sendo a cara pública da empresa enquanto Vitor trabalhava nos bastidores, discreto como sempre.
Alícia e Vitor tinham uma história profunda. Após a morte dos pais dela em um trágico acidente de carro quando eram adolescentes, Vitor prometeu nunca abandoná-la. Juntos, transformaram a pequena empresa de logística herdada por ele em uma potência internacional, com operações até na China. Ela era a força que equilibrava a humildade de Vitor, cuidando dos holofotes enquanto ele preferia a sombra. Mas, naquela tarde, após a reunião, Alícia puxou Vitor para um canto no escritório, cruzando os braços e arqueando uma sobrancelha.
— Fala logo, Vitor. Tá acontecendo o quê? — disse ela, com um tom que misturava curiosidade e cobrança. — Tá com cara de bobo, distraído nas reuniões... Até parece que tá apaixonado!
Vitor deu uma risadinha tímida, coçando a nuca, e acabou se entregando. — Tá bom, Alícia, você me pegou. É... acho que tô apaixonado, sim.
Alícia arregalou os olhos, a boca entreaberta em choque. — Não acredito! Quem é essa mulher que conseguiu derreter esse coração de gelo? Meu Deus, Vitor, conta tudo, tintim por tintim!
Sentados na sala dela, com vista para a cidade, Vitor abriu o coração. Contou sobre o encontro com Juliana, a entrega que mudou sua vida, a conexão imediata, o sexo intenso e a tarde que parecia um sonho. Falou do jeito simples dela, dos olhos azuis que o hipnotizavam, da risada que o fazia esquecer o mundo. Alícia ouvia, boquiaberta, fascinada com a intensidade da história, mas uma ruga de preocupação se formou em sua testa.
— Vitor, isso tudo é lindo, mas... foi rápido demais. Você mal conhece essa garota. — Ela fez uma pausa, escolhendo as palavras. — Me passa o nome completo dela. Vou pedir pro departamento jurídico fazer uma pesquisa completa. Não quero ver você sofrer como sofreu com a Sophia.
Sophia. O nome ainda doía. Uma ex-namorada que, anos atrás, encantou Vitor com promessas de amor, só para manipulá-lo e fugir com uma fortuna. A traição deixou cicatrizes, e Alícia, como sempre, estava lá para ajudá-lo a se reerguer. Mas Vitor balançou a cabeça, firme.
— Nem a pau, Alícia. Juliana é diferente. Ela é humilde, trabalha dia e noite numa lanchonete pra pagar o aluguel e o cursinho. Quer ser médica! Como eu vou desconfiar de uma menina tão pura assim? — Ele suspirou, os olhos brilhando. — Ela não sabe quem eu sou, e eu quero que continue assim por enquanto. Quero que ela goste de mim pelo que eu sou, não pelo dinheiro.
Alícia suspirou, ainda desconfiada, mas cedeu. — Tá bom, Vitor. Só toma cuidado, não quero te ver destruído de novo. — Ela o puxou para um abraço apertado, o carinho de anos falando mais alto que suas preocupações.
Enquanto isso, Juliana enfrentava seus próprios desafios. Seu trabalho no bar do Senhor João era um inferno diário. Durante o dia, ela servia lanches para famílias, correndo de um lado para o outro com um sorriso forçado. À noite, o lugar se transformava em um antro de bêbados que gritavam, faziam piadas grosseiras e, às vezes, tentavam passar a mão nela. O pior, porém, era o Senhor João. O dono do bar a tratava com desprezo, xingando-a por qualquer erro, humilhando-a na frente dos clientes e ameaçando demiti-la constantemente. Juliana engolia as lágrimas, precisando do emprego para pagar o aluguel de sua casinha e o cursinho, onde estudava incansavelmente para realizar seu sonho de passar na faculdade de medicina.
Quando Vitor a convidou para um fim de semana especial, dizendo que seria inesquecível, Juliana sentiu um misto de excitação e medo. Conseguir uma folga com Senhor João era quase impossível, mas ela estava disposta a arriscar. Na sexta-feira de manhã, com o coração na mão, ligou para o chefe, inventando que estava muito doente. Disse que fora ao médico de madrugada e que ele deu uma licença de três dias. Senhor João explodiu do outro lado da linha.
— Sua vagabunda, acha que pode me enganar assim? — gritou ele, cuspindo insultos. — Se não voltar na segunda, tá na rua, sua ingrata!
Juliana desligou o telefone tremendo, com medo de perder o emprego, mas algo dentro dela dizia que aquele fim de semana com Vitor seria um divisor de águas. Ela sentia que ele era diferente, que aquela conexão podia ser o começo de algo novo, algo que valia o risco. Confirmou o passeio com Vitor, sem contar a ele sobre as humilhações do trabalho ou a ameaça de demissão. Não queria se fazer de vítima; queria que ele a visse como a mulher forte e sonhadora que ela lutava para ser.
Vitor, por sua vez, planejava cada detalhe do fim de semana com cuidado. Ele queria revelar sua verdadeira identidade, mas com tato, temendo que Juliana se afastasse ao descobrir que ele era um bilionário. Sentia-se mal por esconder a verdade, mas o medo de perdê-la era maior. Decidiu que aquele seria o momento de abrir o jogo, em um fim de semana que prometia ser mágico, onde mostraria a ela que seu amor era maior que qualquer segredo.