Capitulo 33 - Surpresa!
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Gabriel:
– O que aconteceu? – perguntei ao Nick, que estava caído no chão, com um fio de sangue escorrendo no canto da boca.
– Até parece que você não ouviu – ele respondeu, tentando se levantar. Seus movimentos estavam trôpegos e sua expressão misturava raiva e exaustão. Meus olhos tentavam acompanhar duas silhuetas que se afastavam em direção ao alojamento, mas a visão turva e a ressaca me impediam de reconhecê-las.
– Eu ouvi gritaria, mas não entendi o que estava acontecendo – falei, ainda enxugando as lágrimas que não consegui conter. – A porta abafou o som, e… eu acho que bebi demais também.
Nick me olhou por alguns segundos, como se tentasse decifrar se eu estava sendo sincero. Mas antes que dissesse qualquer coisa, ele se curvou e vomitou na grama, bem em frente à cabana.
– Você precisa descansar – comentei. – Está acabado.
Ele assentiu, e eu o ajudei a se apoiar nos meus ombros. Fomos juntos, com passos lentos, até o dormitório. No caminho, ele me contou em qual quarto estava. Quando chegamos, insisti para que ele tomasse um banho frio. Nick não argumentou; começou a tirar a roupa ali mesmo. O corpo dele era bonito, definido e bem cuidado. Mesmo debilitado, havia algo nele que chamava atenção – talvez o contraste entre sua fragilidade momentânea e a segurança que geralmente exalava.
Entrou no banheiro sem fechar a porta. Ouvi a água caindo e, entre ela, dois novos sons de vômito. Quando saiu, estava enrolado em uma toalha azul, com o rosto ainda pálido e o lábio machucado começando a inchar.
– Estou me sentindo bem melhor agora – ele disse, esboçando um sorriso fraco.
– Que bom – respondi, tentando não encarar demais o corpo dele. Aquele abdômen bem desenhado era como um ímã. – Vou deixar você descansar.
Tentei passar, mas ele ficou na frente da porta.
– Fica – pediu, com uma voz doce e cansada. – Não quero ficar sozinho.
Eu quase cedi ao pedido, mas aquela expressão machucada me trouxe de volta à realidade.
– Vai me contar o que aconteceu? – perguntei, tentando manter a firmeza.
Nick respirou fundo e sentou-se na beirada da cama.
– Você lembra do meu ex, o Théo? – começou. – Eu traí ele com o melhor amigo dele.
– Com o Bernardo? – questionei, surpreso.
– Sim – ele confirmou. – E não foi só com ele. Teve outros. Garotos, garotas... Eu sou bissexual. Inclusive, tive uma namorada que morava no mesmo condomínio da minha família.
– Vocês ainda estão juntos?
– Não mais – respondeu com pesar. – Depois que Bernardo contou a Daniel, Daniel contou tudo para o Théo. Eles vieram atrás de mim e... bom, você viu o resultado. A garota também ficou sabendo. Acabei sozinho.
– Bem feito – falei, sem esconder o julgamento na minha voz. – Não se brinca com os sentimentos dos outros.
– Agora eu entendo isso – murmurou, olhando fixamente para o chão. – Ontem, depois que você me mandou embora, encontrei o Bernardo lá fora. Estava bêbado, confuso, e tentei forçar a barra. Ele resistiu e… Daniel viu. Me bateu de novo.
– Então eram eles que eu vi saindo da cabana…
Nick assentiu, ainda sem encarar meus olhos.
– Deve me achar um canalha – disse.
– Para ser honesto? Sim – confessei.
A imagem que eu tinha dele – o garoto doce que me emprestou um moletom vermelho, que me ouviu quando eu estava mal – desmoronava. Começava a enxergar alguém diferente ali: um manipulador, acostumado a conseguir tudo o que quer, a qualquer custo.
– Sei o que está pensando – murmurou.
– É mesmo? Então me diz.
– Que eu só queria te levar pra cama. Que você seria só mais um.
– E não é isso?
Ele me olhou como se quisesse provar que não.
– Eu juro que não seria. Com você é diferente. Tem algo em você que me faz querer ser melhor. É como se você iluminasse tudo à sua volta, mesmo sem perceber.
– Você deve dizer isso pra todos – rebati, tentando ignorar a pontada no peito.
– Nunca disse pra ninguém. Nunca senti isso antes.
Nick se aproximou e me beijou. Foi intenso, inesperado… me pegou desprevenido. Talvez eu devesse ter me afastado. Mas não consegui. Havia sinceridade no toque, nos lábios, na forma como ele me segurava — como se estivesse com medo de que eu escapasse.
Com os dedos trêmulos, tirei o moletom e puxei a camisa do Evanescence por cima da cabeça, revelando meu corpo magro e branco. Nick me olhou com um desejo tão cru que quase me fez derreter. Se aproximou e começou a distribuir beijos no meu pescoço, mordidas leves e cupões molhados que me faziam arrepiar da nuca até os pés. Gemidos escapavam da minha garganta — sons que eu nem sabia que era capaz de emitir. O prazer era real. Diferente de tudo o que eu já tinha sentido.
Beijei seu peito, deslizei a boca pelo abdômen firme até chegar onde ele mais pulsava. Seu pau latejava de excitação, quente, duro, com a glande rosada à mostra. Envolvi com os lábios e comecei a chupar com vontade — não por obrigação, mas por desejo. Queria ver Nick perder o controle. Queria sentir sua reação. A cada vez que minha língua girava em volta da cabeça do pau dele, ouvia um gemido rouco, sentia sua mão apertar meus cabelos. E isso fazia meu corpo inteiro vibrar. Meu cu piscava de tanto tesão.
Quando percebi que ele estava perto de gozar, parei. Queria mais. Voltei a beijá-lo, a língua dele invadindo minha boca enquanto suas mãos apertavam minha bunda com fome. Em poucos segundos, Nick me virou contra a parede e começou a descer minha calça jeans e a cueca, tudo ao mesmo tempo, com os lábios ainda passeando pelo meu pescoço. Eu gemia baixo, sem vergonha, entregue. Me sentia exposto, desejado, feito pra ele.
Logo senti a cabeça do pau dele roçando na minha entrada, pressionando, provocando. O toque era molhado, quente, provocador. Virava o rosto pra trás e nos beijávamos entre gemidos. Então, ele me penetrou. Aos poucos. Com firmeza, mas respeitando o meu corpo. Foi como se ele soubesse exatamente o que eu precisava. As estocadas começaram lentas, profundas, e aos poucos foram ganhando ritmo. Quando ele puxou meu cabelo e bateu na minha bunda com força, algo dentro de mim explodiu. Eu gemia alto, suado, arfando, me sentindo uma vadia querendo mais. E era exatamente isso.
Mudamos de posição. Nick deitou na cama e eu sentei sobre ele, rebolando com intensidade, sentindo cada centímetro invadir meu corpo. Meu quadril se movia por instinto. Nunca tinha sentido prazer daquele jeito. Nunca tinha me sentido… feliz. Sim, feliz. Pela primeira vez, o sexo não era dor, não era obrigação. Era entrega. Era vida. Era tudo o que eu não sabia que merecia.
Nick me pegou no colo com força, me deitando de costas, erguendo minhas pernas com firmeza. Agora ele me comia na posição de frango assado, o rosto colado ao meu, gemendo palavrões, me xingando com tesão:
— Gosta de ser minha putinha, né?
— Porra, olha como você me aperta...
E cada palavra suja me fazia gozar por dentro. Meus dedos fecharam em torno do meu pau, e comecei a me masturbar enquanto ele me metia com força. Não demorou até que meu corpo inteiro estremecesse — gozei com intensidade na barriga, o jato quente espalhado sobre minha pele, gemendo o nome dele como se fosse oração.
— Vou gozar — ele avisou, ofegante.
— Goza na minha boca — pedi, rendido, faminto por ele.
Nick sorriu. Saiu de dentro de mim e ficou em pé diante da cama. Eu me ajoelhei aos seus pés, boca aberta, olhos vidrados. Ele se tocou por alguns segundos e então gozou com força, esguichando dentro da minha boca e um pouco no meu rosto. Senti o gosto quente e salgado invadir minha língua. Engoli tudo. Sem hesitar. Lambi o que ainda restava dele, olhando nos olhos, como se dissesse: “você é meu agora”.
Nick me ajudou a levantar. Nos beijamos. Longo. Suado. Com gosto de gozo e desejo saciado.
E ali, nos braços dele, soube que aquela noite ficaria marcada pra sempre.
– Vou tomar um banho – avisei, dando um selinho nele.
– Vai lá, lindo – ele respondeu, dando um tapa de leve na minha bunda.
Sorri. Entrei no banheiro com o coração leve. A água quente caía sobre mim como se lavasse o que restava da culpa que eu carregava. Aquele banho foi mais do que limpeza física – foi um recomeço. Nunca imaginei que um momento de intimidade pudesse me fazer tão bem. Pela primeira vez, eu me sentia desejado... e feliz por iss
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Bernardo:
– Que horror! – Daniel exclamou assim que terminei de contar tudo sobre o que aconteceu com Gabriel e o homem que o arrastou para dentro do carro. – Esses canalhas deviam estar presos!
– Eu concordo – respondi, esfregando o cotovelo ralado onde Gustavo me empurrou. – Mas o Gabriel tem medo. Ele acha que, se denunciar, pode acabar colocando o irmão mais novo em perigo... ou a própria mãe.
– Mas e ele? Vai se deixar ser destruído só pra proteger todo mundo? – Daniel estava indignado. – Isso é como se estivesse se sacrificando aos poucos... e um dia isso vai cobrar um preço alto demais.
– Eu acho que ele sabe disso, Dani... mas ainda assim tem medo.
– Eu entendo que ele tenha medo... – ele falou, passando a mão pelos cabelos. – Mas não dá pra ajudar alguém que não está pronto pra ser ajudado.
Antes que eu pudesse responder, o portão de grade do colégio se abriu e o Land Rover preto do meu pai entrou no pátio, indo direto para o estacionamento onde estávamos com nossas mochilas prontas. Ele buzinou e nos levantamos.
Como sempre, ele me envolveu num abraço apertado, cheio de saudade. Cumprimentou Daniel com um sorriso sincero e um aperto de mão firme.
– Prontos, meninos? – ele perguntou, animado.
– Sim... embora eu ainda ache loucura essa viagem pra Bahia decidida assim de repente – comentei, jogando minha mala no porta-malas junto à de Daniel.
– Às vezes a gente precisa fazer loucuras – disse Daniel, sorrindo, relembrando seu show improvisado na festa junina.
– Daniel tem razão, Bernardo – meu pai reforçou. – Além do mais, faz tempo que a gente não viaja juntos.
– Desde a Itália – recordei, saudoso.
– E isso já tem anos – ele concordou, rindo.
– Tem certeza de que não tem problema eu ir com vocês? – Daniel perguntou, tímido como sempre ficava diante do meu pai. Isso me lembrou da primeira vez em que o levei em casa, todo inseguro e gaguejando.
– Claro que não tem problema, Daniel – meu pai respondeu com gentileza. – Você é bem-vindo com a gente.
E assim deixamos o colégio imperial para trás – e junto dele, por ora, os fantasmas que rondavam Gabriel. Durante o trajeto até nosso apartamento no Flamengo, conversamos sobre os lugares que queríamos visitar na Bahia. Eu sonhava em conhecer as praias de Salvador, enquanto Daniel e meu pai falavam animados das comidas típicas.
Quando chegamos, subimos direto, sem nem tirar as malas do carro. E, ao abrir a porta, dei de cara com algo que jamais imaginei ver.
Sentada no sofá da sala, com um sorriso calmo no rosto, estava minha mãe. Assistia a um programa qualquer na TV, como se os últimos meses nunca tivessem acontecido.
– Mãe? – minha voz saiu fraca, embargada. Um nó se formou na minha garganta.
Ela parecia bem. Não apenas bem, mas em paz. Como se aquela mulher quebrada da última vez tivesse sido substituída por outra — ou talvez, por quem ela sempre foi antes da bebida tomar conta.
Ela se levantou devagar, os olhos marejados, e abriu os braços para mim.
Foi ali que eu soube.
A mulher diante de mim era, sim, a mesma que me amava incondicionalmente. Que me fazia cafuné nas noites de febre. Que me chamava de “meu bebê” mesmo depois de eu crescer. Corri até ela e a abracei com força. Caímos os dois no sofá, eu no colo dela, do mesmo jeito que fazíamos quando eu era pequeno.
– Me perdoa, filho... – ela disse entre lágrimas, acariciando meus cabelos. – Me perdoa por tudo o que eu disse, por tudo o que eu fiz. Eu te amo. Te amo de qualquer jeito.
E eu desabei.
Porque eu achei que nunca mais ouviria isso.
– Eu senti tanto a sua falta... – sussurrei.
– Eu também senti a sua, meu amor – ela respondeu me beijando no rosto, como se não quisesse me soltar nunca mais. – Nunca mais vou te deixar.
– Espero que não – falei entre soluços – Eu te amo, mãe.
– E eu te amo, meu bebê – ela respondeu, apertando ainda mais o abraço.
Ficamos ali por um bom tempo, apenas sentindo o conforto um do outro. Depois ela conheceu Daniel. Foi sincera ao dizer que ainda precisava de um tempo para se acostumar, mas garantiu que nada do que aconteceu naquela noite de crise voltaria a se repetir. E isso já era tudo pra mim.
Ela havia recebido alta da clínica na sexta-feira. Meus pais organizaram a viagem para celebrar essa nova fase, mas decidiram me surpreender. Meu pai, tão empolgado com a recuperação dela, havia esquecido completamente da festa junina, e por isso me ligou de manhã, pedindo para eu voltar o quanto antes. Viajamos no domingo, por volta das onze da manhã. Seriam duas semanas inteiras na Bahia para renovar as energias, longe de qualquer peso.
Mais tarde, enquanto eu e Daniel dobrávamos algumas roupas para a viagem, ele comentou:
– Sua mãe é um amor. Mal consigo acreditar que finalmente a conheci.
– Nem eu acredito que ela está aqui... – respondi, colocando uma bermuda na mala. – E que está tão bem.
– Então o problema mesmo era o álcool?
Daniel havia ligado o som e deixado tocando Happy Little Pill, do Troye Sivan. A voz suave e melancólica preencheu o quarto, criando uma atmosfera quase etérea.
Enquanto a música tocava, deixei meus pensamentos me levarem de volta àquela noite. O vinho no tapete. Os gritos. As palavras duras que vieram de um lugar escuro dentro dela. Palavras que doeram. Que deixaram marcas.
Mas agora, talvez, ela estivesse tentando reparar. Não apagar – porque certas coisas não se apagam – mas construir algo novo a partir das ruínas.
Ela ainda não via o filho que idealizou. Mas estava disposta a conhecer e amar o filho real. O filho que tinha.
E isso, por mais difícil que fosse, já era um recomeço.
– Não acho que tenha sido só o álcool – falei. – Mas pelo menos agora ela está tentando. E isso já é mais do que eu esperava.
Daniel sorriu e continuamos ali, dobrando roupas, ouvindo música e sonhando com os próximos dias – como se, pela primeira vez em muito tempo, o futuro fosse um lugar leve.
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Gabriel:
– Para onde você está me levando? – perguntei, enquanto a escola desaparecia na estrada atrás de nós.
Silêncio. Gustavo mantinha os olhos fixos na pista e o corpo tenso. Pela sua expressão fechada e postura rígida, eu sabia exatamente qual lado dele estava no volante naquele momento. Porque estar com Gustavo era como conviver com duas pessoas diferentes: uma era atenciosa, protetora, quase doce. A outra, agressiva, controladora e imprevisível. E quando esse lado mais sombrio tomava conta, eu não sabia até onde ele podia ir.
– Gustavo, estou falando com você... para onde estamos indo?
Ele finalmente respondeu, mas não o que eu esperava.
– Quem era aquele garoto? – sua voz saiu áspera, carregada de raiva.
Por um segundo, pensei em retrucar. Mandar ele se controlar. Mas algo me impediu — talvez o fato de estarmos descendo uma estrada sinuosa, com paredões de um lado e um abismo do outro. Não era hora de provocá-lo.
– Um colega – murmurei, olhando para o assoalho do carro.
– Um colega? – ele quase gritou. Então puxou com brutalidade o capuz do meu moletom e abriu o zíper do casaco, revelando as marcas em meu pescoço – Esse tipo de colega costuma deixar chupões em você?!
– Não é o que você está pensando – tentei justificar, puxando o casaco de volta para cobrir os hematomas – Isso não foi nada!
– Você é meu, Gabriel! – ele vociferou, com uma raiva quase descontrolada – Meu, entendeu? Não quero outro homem encostando em você nunca mais!
A voz que vinha agora não era mais só raiva. Era desequilíbrio. Ele estava perdendo o controle e, por um instante, senti um frio na espinha ao pensar no que ele seria capaz de fazer se se deixasse levar por isso.
– Eu sou seu – tentei acalmá-lo, mesmo com a garganta travada pelo medo – Ninguém mais vai encostar em mim, eu prometo...
E, então, como se uma chave tivesse virado dentro dele, Gustavo começou a chorar.
– Me desculpa, Gabriel – soluçou, enquanto suas mãos tremiam no volante – Eu... eu te machuquei, né?
Ele estava claramente instável. Desde o momento em que me empurrou para dentro do carro até agora, tudo parecia à beira do colapso. Mas, naquele instante, o que mais me assustava era a estrada estreita e a forma como ele conduzia o carro, ziguezagueando perigosamente nas curvas.
– Não, não me machucou – menti, tentando soar calmo – Tá tudo bem, tá bom? A gente vai chegar em casa e a mamãe vai fazer o almoço... quem sabe frango assado, né? Você adora...
O carro derrapou em uma curva mais fechada e eu gritei, o coração quase saindo pela boca.
– Lembra? Frango assado! – insisti, quase implorando para que ele se concentrasse.
Mas a resposta dele gelou meu sangue.
– Ela não vai cozinhar mais nada... – Gustavo sussurrou com a voz vazia, sombria – A mamãe morreu hoje de manhã.
Depois disso, tudo virou um borrão. Lembro do corpo dele desabando sobre o volante. Do som agudo dos pneus queimando no asfalto. Do estalo do metal se retorcendo. De um impacto violento.
E, por fim, de uma dor insuportável no meu braço esquerdo.
Depois, só escuridãoContinua...