O mês passou em silêncio.
Nenhuma nova mensagem. Nenhum chamado. Nenhum convite.
Carlos, vez ou outra, fechava os olhos e revivia as cenas. O gosto daquelas noites. O cheiro. O som das vozes de Angélica e Luna se cruzando em gemidos. Mas a vida retomou o ritmo. O trabalho, o cotidiano, os corpos voltaram a ser apenas dois.
Até que, numa tarde qualquer, Angélica recebeu uma mensagem de Luna.
> “Precisamos conversar. A sós.”
O tom era diferente. Não havia o habitual duplo sentido, nem emojis sugestivos. Era simples. Direto.
E carregado de alguma coisa pesada.
Angélica respondeu com um horário. Escolheu um café discreto, afastado. Não contou a Carlos imediatamente.
Quando Luna chegou, parecia ainda mais bela. O vestido simples não escondia sua elegância. Mas havia algo nos olhos dela — menos brilho, mais verdade.
Sentaram-se em silêncio por alguns segundos. A garçonete trouxe dois cafés. Luna mexeu o dela sem beber.
— Eu não costumo me envolver assim — começou. — Mas dessa vez, não é uma escolha.
Angélica não disse nada. Apenas a olhava. Firme. Aberta.
— Estou grávida. — A frase veio como uma pedra, colocada no centro da mesa. — De oito semanas. E Carlos… foi o único com quem transei sem proteção nos últimos meses.
O mundo pareceu parar por um segundo.
Angélica piscou devagar. Sentiu a pulsação no pescoço. Depois olhou nos olhos dela.
— Você tem certeza?
— Absoluta. — Luna respondeu sem hesitar. — Eu conheço meu corpo. Meus ciclos. Meus encontros. Eu sou cuidadosa. Sempre fui. Mas com vocês… foi diferente.
Angélica cruzou as pernas e apoiou os cotovelos sobre a mesa.
— Você quer alguma coisa?
— Quero conversar. Só isso. — Luna finalmente bebeu um gole de café. — Não quero dinheiro, não quero invadir a vida de vocês, não quero “garantir” nada. Só… não posso fingir que isso não está acontecendo.
O silêncio entre elas era denso, mas respeitoso. Não havia pânico. Havia susto, sim. Mas também maturidade.
— Você pretende ter o bebê? — Angélica perguntou.
Luna olhou pela janela por alguns segundos antes de responder.
— Ainda estou decidindo. Mas se tiver… quero que vocês saibam. E que possam escolher como se envolver. Sem pressão. Sem ameaça. Com clareza.
Angélica assentiu. Por dentro, o coração era uma tempestade. Mas por fora, ela era pura rocha.
— E Carlos? — Luna perguntou. — Como lidar com ele?
— Não sei ainda. Mas vou contar hoje.
As duas ficaram em silêncio novamente. O ruído do café preenchia o fundo. Talheres, conversas baixas, a máquina de expresso.
Então Luna falou, mais suave:
— Eu não me arrependo. De nada. Do que vivi com vocês. Do que sentimos. Mas isso… foi além do jogo. E eu precisava ser honesta.
Angélica a encarou com firmeza, mas também com uma pontada de carinho.
— Obrigada por vir. Por não fugir. Por não armar nenhuma cena.
— Eu não sou assim — Luna disse. — Sexo é poder, mas também é responsabilidade. E... isso tudo foi real, de um jeito que nem eu esperava.
As duas se levantaram. Luna segurou a mão de Angélica por um segundo antes de sair.
— Me avise quando conversar com ele. E… se quiserem conversar juntos depois, estou aqui.
Ela foi embora. E Angélica ficou ali sentada, por mais cinco minutos, olhando para a xícara de café quase vazia.
O jogo tinha mudado.
Agora, era vida real.