Capítulo 49 completo
Cena de Júlio e Tamara
_ Me dê mais uma semana.
_ Não, Júlio! Você tá adiando demais.
_ Daqui a uma semana, eu vou conseguir essa grana e uma passagem para você voltar para Maceió. Espero que nunca mais volte para Rio.
_ Tudo bem. Só mais uma semana e nada mais.
_ Agora saia da minha casa._ Júlio disse abrindo a porta.
Tamara levantou-se e foi até a porta, o olhou de cima e embaixo e disse.
_ Espero que cumpra com as suas promessas.
Assim que Tamara saiu. Júlio fechou a porta com brutalidade. Pegou o celular no bolso e fez uma ligação.
_ Xavier, eu preciso que você venha aqui agora mesmo... Sim, Xavier, o que tenho para dizer deve ser dito pessoalmente. Estou com uma dor de cabeça, que só você pode resolver.
Xavier chegou meia hora depois. O encontro aconteceu de portas trancadas no escritório de Júlio.
Luciano chegou duas horas depois, chamando por Júlio pelo apartamento. Mas não obteve resposta. Poderia concluir que Júlio não estivesse em casa. Contudo, havia visto o seu carro no estacionamento. Cogitou a possibilidade de que Júlio estivesse dormindo. Mas, sua resposta veio quando Júlio saiu do escritório acompanhado de um homem alto, moreno, cabelos lisos e presos num rabo de cavalo. O homem tinha a expressão fechada, o que provocou um certo incômodo em Luciano.
_ Já chegou, meu amor!_ Júlio exclamou, dando um selinho em Luciano.
Em seguida, acompanhou Xavier até a porta e o dispensou.
_ Por que não me apresentou o seu "amigo"?
_ O Xavier? Ele não é meu amigo.
_ E o que é seu então?
_ Um funcionário.
_ E você recebe na sua casa um funcionário no fim de semana?
_ Como é que é, Luciano? Interrogatório a uma hora dessas? Já quer transformar nada em briga?
_ Não. Eu não quero brigar.
_ Beleza. Já jantou?
_ Não. Só assisti ao filme mesmo. Pensei em jantar com você.
_ Ótimo! Vamos pedir sushi e temaki?
_ Tá...pode ser.
Júlio sorriu aliviado, por Luciano não exigir saber mais detalhes sobre a sua conversa com Xavier.
...
Sentado na cama, Leandro olhava com admiração para Vanessa terminando de retocar a maquiagem. Ela estava tão linda, num vestido justo vermelho e os cabelos soltos como cascatas. Pensou que a sua menina estava crescendo. A cada dia se tornando uma mulher e isso, ao mesmo tempo que o fascinava, também o assustava.
_O que houve, pai? Vanessa perguntou ao perceber que Leandro a olhava.
_ Nada não. Só estou pensando como é possível eu ter a filha mais linda do mundo.
Vanessa sorriu e o abraçou.
_ Puxei a você. Nós somos lindos.
O celular de Leandro tocou. Era uma ligação de Abner, dizendo que já estava no estacionamento dos prédios aguardando por eles.
Valéria havia caprichado na decoração da festa, o buffet estava maravilhoso e havia a presença de todas as pessoas que Leandro gostava. Vanessa e Abner estavam ao seu lado. Contudo, ele não se sentia feliz. Sabia que a qualquer momento Vanessa retornaria para a casa de Júlio e isso o deixaria aflito.
Leandro queria protege-la de Luciano. Temia o desequilíbrio do jovem.
Convenceu a si mesmo que precisava fazer algo para afastar Luciano de Vanessa, nem que para isso custasse o fim do relacionamento de Júlio com Luciano. Leandro sentia crescer dentro dele uma revolta muito grande pelo ex-marido. Como pode ficar tanto tempo com aquele homem maldito? Por que Júlio era tão cruel com ele? A raiva só crescia. Sentia que não poderia mais ficar com os braços cruzados.
Valéria e Abner perceberam que Leandro estava diferente. Calado e com o olhar perdido.
Tentaram anima-lo, mas não tiveram muito sucesso.
_ Me desculpe, amiga. A festa está maravilhosa. Obrigado por tudo. Mas, eu ainda estou abalado com o que aconteceu.
_ Eu soube. Olha se aquele desgraçado tivesse encostado um dedo em ti, eu o matava. E ainda matava o Júlio de brinde._ disse Valéria, revoltada.
_ Confesso que a morte do Júlio seria de um grande alívio para mim.
Valéria olhou para Leandro com espanto. Mas não um espanto de julgamentos e sim de surpresa. Não esperava que Leandro pudesse desejar a morte de alguém, mesmo que fosse de alguém tão asqueroso como o Júlio.
No entanto, percebeu que o seu amigo chegou ao limite e sentiu dó por isso.
Vanessa se aproximou, sentado à mesa com a cara amarrada e os braços cruzados. Preocupado, Leandro perguntou o que a aborreceu.
_ Acredita que o vovô acabou de chegar com a cretina da Lorena? Ele é muito cara de pau de exibir aquela mulherzinha. Não sei o que deu na sua cabeça, Valéria, em ter convidado aqueles dois.
_ Genaro é o pai de Leandro, Independente de tudo, goste você ou não do novo relacionamento deles. Agora, pare de palhaçada e se comporte. Não vá fazer barraco e estragar a festa do seu pai, garota.
Revoltada, Vanessa levantou e foi se sentar com os seus amigos.
...
O sorriso de Vanessa se desfez ao ver Pedro vindo em sua direção. O seu semblante mudou de alegre para raivoso, enquanto o namorado se aproximando da mesa em ela estava sentada com os seus amigos Guilherme e Marcinha.
Pedro sentou sem precisar de convite, já que todos ali eram seus amigos e a sua namorada.
_ O que você pensa que está fazendo aqui, seu idiota?
Marcinha e Guilherme se olharam constrangidos. Prevendo uma briga entre o casal. Pedro expressou indignação, se sentindo injustiçado pela recepção hostil de Vanessa.
_ Boa noite. Eu não estou entendendo essa agressividade toda, sendo que foi você quem errou.
_ Eu errei?! Eu errei, Pedro?! Ah não fode! Quem errou foi você que foi viajar sem mim.
_ A culpa não foi minha se os seus pais te puseram de castigo.
_ Claro que foi sua! Você me levou para aquela balada. No mínimo que você deveria ter feito era ter sido leal e não viajado sem mim.
_ Oh, garota mimada, o mundo não gira em torno do seu ego não.
_ Você é um babaca!
_ E você é uma insuportável mimada!
_ Gente, vamos nos acalmar! Tentar conversar como gente educada. Estamos numa festa. Disse Guilherme com a intenção de apaziguar o clima pesado entre os namorados.
_ Foda-se! É o aniversário do meu pai. E eu não quero olhar para sua cara. Vá embora, Pedro!
_ Vanessa, também não precisa disso. Disse Marcinha.
_ Deixa Marcinha, vou embora mesmo. Não sou obrigado a aturar humilhação de uma garota mimada, que se veste feito uma puta no carnaval e ainda posta na internet. Vai ver que deu para todo mundo no carnaval e agora tá enjoada de mim.
Com muita raiva e perdendo o controle da situação, Vanessa deu um tapa no rosto de Pedro.
A atitude da menina chamou a atenção de todos da festa. Principalmente a de Leandro, que rapidamente, foi até a mesa dos jovens.
_ O que está acontecendo aqui? Que violência é essa, Vanessa? perguntou Leandro.
As discussões só aumentaram, fazendo a festa parar. Leandro envergonhado pediu que a filha se controlasse, mas foi em vão.
Por fim, Pedro decidiu ir embora, prometendo nunca mais trocar uma palavra com Vanessa.
Leandro tentou conter o nervosismo de Vanessa, que só chorava e reclamava.
Genaro pediu licença a mulher e foi até onde Vanessa e Leandro estava, com a finalidade de saber o que estava acontecendo.
Lorena aproveitou a brecha para se aproximar de Abner. Ela estava com uma taça de suco na mão e barriga ainda maior da última vez que o vira.
_ Pelo visto você grudou mesmo na songa monga do Leandro. Só te digo que o Júlio não vai deixar barato. Ele é obcecado pela "mulherzinha" dele. Acho melhor você tomar cuidado, para não amanhecer com a boca cheia de formigas, ou sem a sua melhor parte._ Lorena disse olhando em direção ao pênis de Abner.
_ Muito obrigado pelo conselho, Lorena. O que mais prezo na minha vida é conselhos de vagabunda mau caráter.
Lorena o olhou indignada.
_ Como se atreve a falar assim comigo, sua putinha de quinta?! Quem vendia o corpo era você e não eu. Aliás, ainda está à venda? Sinto falta da sua pegada. Agora posso pagar pelos seus serviços.
_ Não estou a venda. Agora o meu corpo pertence ao Leandro. Só ele pode desfrutar.
_ Cuidado. Não cuspa no prato que comeu e se lambuzou. Uma hora a crise virá e você pode vir a precisar voltar ao Job.
_ Se isso acontecer, você nunca será a minha cliente. Prefiro morrer de fome.
Abner se afastou, deixando Lorena furiosa.
Ela passou a festa inteira perturbada. Por dentro de corroía de ciúmes vendo Leandro e Abner juntos. Nunca sentiu tanta raiva na vida.
O que mais a irritava era o velho decadente que estava ao seu lado, o qual ela tinha que fingir tolerar. Enquanto preferia estar com Abner, porque ele sim era o único homem que ela estimava.
Lamentou muito que Júlio não tivesse matado Leandro, ou até mesmo conseguido recuperar o casamento. Para ela, aquela situação estava insuportável.
Era verdade que conquistou tudo sempre sonhou. Tinha uma bela casa, carro zero quilômetros, empregados ao seu dispor e um cartão de crédito disponível para usar quando bem desejava.
Porém, era infeliz. Sentia nojo do marido. Desejava ter tudo o que conseguiu materialmente, mas desejava desfrutar com Abner. Nunca odiou tanto alguém quanto odiava Leandro. Sentia que esse roubava Abner dela.
...
No final da festa, Leandro Sentia-se exausto. Não só fisicamente, mas emocionalmente. O que mais queria era estar em casa ao lado de Abner e Vanessa. Tomar um bom banho, relaxar e dormir nos braços do amado.
Ao lado de Vanessa não pode estar.
Lúcia decidiu que seria melhor levá-la para o sítio da sua família e que passassem o domingo juntas, para não levantar suspeitas em Júlio.
Mesmo a contra gosto, Leandro aceitou.
Abner ofereceu a Ângela que passasse a noite em sua casa. Estava tarde demais para a mulher ir embora sozinha.
De início, ela não aceitou, mas Leandro insistiu e ela acabou cedendo.
Mesmo a mulher o tratando com frieza, Abner fez de tudo para que ser um bom anfitrião. Sendo mais gentil possível. Ângela ficou acomodada num quarto extra. Não era nada luxuoso. Continha apenas um armário que Abner usava para guardar cacarecos e um sofá-cama confortável.
Quando entrou no próprio quarto, sorriu ao encontrar Leandro lendo um livro ou pelo menos tentando, já que o cansaço dominava o seu corpo e o sono já estava batendo.
Abner deitou ao seu lado e beijou a sua testa, depositando naquele caloroso beijo todo o amor que aquecia o seu coração.
_ Obrigado por hoje, meu amor. Foi muito importante para mim você ter levado a Vanessa na minha festa.
_ Não precisa me agradecer. Eu faria qualquer coisa por você. Não acho justo aquele crápula usar a Vanessa para te ferir.
_ Júlio é um peso na minha vida. Eu só queria me livrar dele. Outra coisa que lamento é o fato de os seus pais não terem comparecidos na festa. Sei que a sua mãe não gosta de mim. Mas, eu gostaria de ter uma boa relação com a sua família.
Abner pôs as mãos no rosto de Leandro e o beijou na boca.
_ Amor, esqueça tudo que te aflige. Você já sofreu demais nos últimos dias. Precisa relaxar. Não se preocupe com aminha mãe. Uma hora as coisas vão se acertar.
Leandro sorriu mesmo com a expressão de cansaço. Aconchegou-se nos braços de Abner, onde se sentiu protegido.
_ É tão bom te ter ao meu lado. Disse Leandro antes de beijar o amado.
_ Eu digo o mesmo.
Leandro adormeceu tranquilamente, enquanto Abner o observava com carinho.
...
Abner despertou no meio da madrugada, sentindo muita sede. Para a sua decepção, a garrafa com água que sempre deixava na mesa de cabeceira estava vazia.
Levantou-se e foi até a cozinha, onde saciou a sua sede. Ao retornar para o quarto, deparou-se com Ângela em pé em frente a janela da sala, observando a noite.
_ Deu formigas na cama? Abner perguntou bem humorado, mas recebeu um olhar frio como resposta.
_ você não gosta muito de mim, né Ângela?
_ E teria motivos para gostar? Você foi amante do Júlio. Foi cumplice em fazer o meu filho sofrer.
_Sim. Eu reconheço o meu erro. Mas, você fez muito pior. Ficou anos induzindo o Leandro a permanecer num relacionamento destrutivo, só para obter a boa vida que Júlio a proporcionava. Vendeu o seu filho ao diabo, pensando no próprio umbigo. Logo, você não tem moral alguma para me julgar.
_ Você tem toda razão. Eu fui uma péssima mãe. Fui egoísta e gananciosa e isso custou o sofrimento do meu filho. Mas, não foi só pelo dinheiro que fiz isso. Tenho uma dívida com Júlio e infelizmente nunca vou poder pagar.
_ Do que você está falando?
_ Deixa pra lá. A única coisa que importa é daqui para frente. Eu errei muito na vida. Errei com o Leandro, errei em ter confiado na Lorena, em ter ficado tanto tempo casada com aquele traste, errei em não ter construído a minha independência financeira... e até errei com a Vanessa. Ela é só uma criança inocente. Nunca teve culpa de nada.
_ Ângela, você tá querendo me dizer alguma coisa? Parece que precisa desabafar.
_ Estou querendo recomeçar. Consertar todos os meus erros na medida do possível. Quero ser a mãe que o Leandro merece e uma boa avó para a Vanessa. Quero ter condições de me sustentar para não ser um peso na vida do meu filho.
_ Isso é bom.
_ Leandro sempre foi um bom filho, um bom pai, um bom amigo e até um bom marido, mesmo o demônio do Júlio não merecendo. Eu percebi que você o ama. E que faz muito bem a ele. Quero te agradecer por isso.
_ Uau! Por essa eu não esperava.
_ Por favor, nunca faça o meu filho sofrer?
_ Não precisa me pedir isso. Eu amo o Leandro. E o que eu mais prezo é a felicidade dele.
_ Obrigada por isso. Eu vou dormir. Tenha bons sonhos, Abner. _ Ângela desejou com um sorriso sincero.
Cada um foi para os seus quartos, sentindo-se mais leves.
Uma semana depois...
_Bora, Luciano! Vamos nos atrasarmos.
Júlio gritou da sala. Aguardava por Luciano para ir a uma festa de aniversário de um desembargador, que também era o seu amigo pessoal. No convite, o aniversariante fez questão da presença de Luciano, o que não agradou a Júlio, pois queria ir sozinho.
Luciano e Alves não se conheciam pessoalmente. Alves viu a fotografia de Luciano pelo perfil do Instagram de Júlio e, de primeira, já elogiou a beleza do rapaz.
Apesar de Júlio não gostar de redes sociais, se rendeu a essa prática moderna, para melhorar a sua relação com pessoas que poderiam lhe trazer vantagens financeiras. Como Luciano era um belo homem, o exibia em suas postagens como se fosse um troféu. Ele preferia que Leandro fosse o exibido, mas não era possível no momento.
Luciano desceu bem vestido num terno preto, usando um perfume delicioso. Júlio gostou do que viu. O namorado estava impecável.
_ Você está lindo! Garanto que aquelas bichas velhas vão morrer de inveja de mim, por ter um namorado tão lindo.
Luciano sorriu orgulhoso. Em seguida, beijou Júlio.
Alves era um homem calvo, de meia idade e um sorriso gentil. Recebeu o casal com alegria na sua mansão.
Luciano ficou deslumbrado com luxo do local. Não disfarçava a sua admiração e não poupou elogios ao anfitrião, o que o deixou extremamente satisfeito.
A princípio, Júlio ficou envergonhado. Temendo que o deslumbre do rapaz pudesse causar má impressão.
No entanto, percebeu que estava engando. Ao observar os olhares de cobiças que Alves destinava a Luciano, e o tanto de elogio a sua beleza, Júlio se sentiu incomodado, pois estava sendo deixado de lado na conversa entre os dois. Sentia raiva por Luciano está ocupando o seu espaço.
Júlio sempre foi cobiçado por Alves, e mesmo não sentindo nenhum interesse pelo desembargador, usava isso a seu favor.
No entanto, a presença de Luciano ofuscava a sua, já que esse é mais jovem e mais bonito.
Luciano percebeu o incomodo de Júlio e julgou ser por conta de o amado estar sentindo ciúmes dele. Sentiu-se envaidecido com isso. Gostou de pensar que Júlio o amava ao ponto de sentir ciúmes. Então, correspondia aos galanteios de Alves.
Educadamente, pediu licença aos convidados e que Luciano o acompanhasse ao banheiro.
Ao entrar no cômodo, sua expressão mudou para ódio, agarrando com força o braço de Luciano.
_ Que porra é essa de você ficar dando mole para aquele velho asqueroso? Tá parecendo uma puta de quinta.
_ Uh, é! O surtado ciumento não sou eu? Está surtando por quê? Luciano perguntou em tom de ironia, cruzando os braços.
_ Porque onde eu meto o meu pau, outro não pode meter.
Luciano gargalhou, despertando mais fúria em Júlio.
_ Não sei disso, não. O "santo" do ex-marido não recebia só seu pau, mas também o do seu ex-amante. E talvez, da torcida do Flamengo inteira. Você não passa de um corno.
Desta vez, Júlio não controlou o ódio e depositou um soco no rosto de Luciano, que o fez perder o equilíbrio e cair no chão.
Segurando a boca, que sangrava, Luciano o olhou com fúria.
_ Seu desgraçadooooo!
Levantou-se indo em direção a Júlio decidido revidar a agressão.
Rubens já havia percebido que o clima entre Luciano e Júlio não estava bom. E quando os dois foram ao banheiro juntos, suspeitou que poderia ser um presságio para uma confusão e resolveu seguir o casal.
Suas suspeitas se confirmaram ao ver Luciano caído no chão com a boca sangrando.
Com sua agilidade, conseguiu impedir que Luciano atacasse Júlio, imobilizando o rapaz.
_ Vocês estão loucos? Olha o escândalo!
_ Eu não estou mais aguentando esta situação. Tá impossível! _ Júlio dizia desesperado, andando de um lado para o outro, penetrando o dedo entre os cabelos.
Sentindo-se sufocado, desatou o nó da gravata e saiu do banheiro, ignorando os chamados de Rubens.
_ Júlio, aonde você vai? Júlio!
Rubens olhou para Luciano com dó, ao perceber as lágrimas se formando em seus olhos.
_ Oh, meu querido, eu sito muito. Deixa-me cuidar do seu ferimento.
_ Não precisa. Só te peço que me leve pra casa, por favor. Eu vim com o Júlio, mas ele, pelo visto me deixou a pé. Estou desprevenido. Nem cartão de crédito eu trouxe para pagar um carro de aplicativo.
_ Tudo bem. Eu te levo pra casa.
_ Rubens, por que ele é assim?_ perguntou Luciano chorando. Eu faço tudo por ele. Até com a minha mãe eu briguei por causa dele e é assim que sou tratado. Como um lixo.
_ Oh, meu amorzinho, não chore.
Compadecido, Rubens abraçou Luciano, deixando o jovem desabar no choro em seus braços.
Júlio dirigiu em direção a um bar que costumava frequentar. Era um bar noturno gay e tinha a opção de ficar isolado numa cabine, com um vidro enquanto observava um gogo boy dançando seminu por trás de um vidro. Caso o cliente quisesse serviços sexuais com os dançarinos, o bar também fornecia, pois haviam quartos disponíveis para isso.
A princípio, Júlio tinha a intenção de afogar as mágoas com o sexo. Mas, à medida em que a sua garrafa de uísque foi esvaziando, não tinha animo para nada. Somente amargurava a situação em que a sua vida estava. Vivia ao lado de um homem que não amava, sentia que estava perdendo o amor da filha, tinha que lidar com as ameaças de Tamara e o pior de tudo, perdera Leandro, a quem desejava mais que tudo.
Sentia o mundo desabar sobre as suas costas.
_ O que me adianta tanto dinheiro se perdi a porra do que mais importa, a minha família? Que merda! Eu sou mesmo um desgraçado!
Afogou-se tanto na bebida, que saiu do bar tropeçando entre as pernas.
Mesmo embriagado, dirigiu rumo ao apartamento de Leandro.
O relógio marcava duas da manhã quando o interfone do apartamento de Leandro tocou. Ele acordou assustado. A àquela hora boa coisa não poderia ser.
No entanto, ficou muito irritado quando o porteiro revelou que se tratava de Júlio. Segundo o porteiro, Júlio se encontrava num estado deplorável de embriaguez e exigia falar com Leandro.
De início, Leandro se recusou. Pediu ao porteiro que mandasse Júlio embora, mas o funcionário disse que Júlio estava agressivo e irredutível.
Mesmo a contra gosto, Leandro desceu até a portaria com a intenção de evitar que o ex-marido fizesse um escândalo.
Ao encontrá-lo, tropeçando entre as pernas, com as roupas assadas e os cabelos desgrenhados, fedendo a álcool Leandro sentiu nojo. Perguntou-se em pensamento como um dia amou aquela criatura abjeta.
_ O que você quer, Júlio?
_ Você. Eu quero você...meu amor...eu te amo, porra.
A voz de Júlio saia enrolada e totalmente irritante. Leandro revirou os olhos para cima.
_ Vá pra casa! O seu marido está te esperando. Não quero aquele louco aqui no prédio onde moro.
_ Ele não é o meu marido! Meu marido é você. Me deixe subir e vamos conversar.
_ Clara que não! Ficou maluco? No meu apartamento você não pisa.
Júlio soltou uma gargalhada de deboche.
_ Apartamento esse que você só tem graças a mim. Você vendeu o carro que eu te dei para comprar essa joça. Você não é nada sem mim.
_ É mesmo? Ah que coisa né? Leandro respondeu com ironia.
Retirou do bolso o celular e mandou uma mensagem para Rubens, contando o estado de Júlio e pedindo a esse que viesse buscá-lo.
Júlio ficou furioso ao ver Leandro digitando no celular. Tentou apanhar o objeto, mas Leandro se desviou e Júlio caiu no chão.
_ Você tá falando com aquela putinha do Abner não é? Eu vou matar aquele desgraçado.
_ Com quem eu falo, ou deixo de falar não é da sua conta. E eu não estava conversando com o meu namorado, e sim com o seu amigo. Por mim, você entraria nesse carro bêbado desse jeito, sofreria um acidente e morreria. Isso me deixaria muito feliz. Mas isso faria a minha filha sofrer. Então, pedi ao Rubens que viesse te buscar para que você volte para a casa em segurança._ Leandro dizia em tom de desprezo.
Júlio se arrastou a ele e abraçou as suas pernas, se ajoelhando.
_ Eu sei que eu errei contigo. Mas, por favor me perdoa? Eu te amo muito, Leandro! Você é o único homem que eu amei em todo minha vida!
_ Para com isso, Júlio! Que cena ridícula!
_ Eu errei, mas prometo melhorar. Ser o marido que você merece. Nós temos uma filha juntos. Temos uma família. Não podemos jogar tudo isso fora! Por favor, Leandro, volta pra mim! Eu te amo.
A cada palavra de Júlio provocava em Leandro o aumento da sua iria. Retirou os braços do Júlio de suas pernas e o empurrou.
_ O Rubens já está chegando.
Leandro virou as costas e foi andando. Júlio tentou se levantar, mas não conseguiu. No chão, começou a gritar:
_ Leandro, eu te amo...me perdoa, cara! Volta pra mim? Eu faço o que você quiseeeeeer!
Ao perceber que Leandro se afastava cada vez mais retornando para a casa, Júlio sentiu raiva e gritou mais uma vez:
_ Se você não voltar pra mim, eu vou tirar a Vanessa de você! Você nunca mais verá a nossa filha.
Leandro parou por um instante e fechou o punho, sentindo o ódio invadir o seu corpo.
Mas, prosseguiu caminhando até voltar para o apartamento, deixando Júlio ao chão gritando feito um louco.
A noite não estava nada fácil para Rubens. Depois de deixar Luciano em casa, ele recebeu a mensagem de Leandro avisando sobre Júlio. Chegou o mais rápido possível ao local, temendo que Júlio pegasse no volante naquele estado deplorável e corresse o risco de sofrer um acidente.
Rubens decidiu deixar o próprio carro na garagem de Júlio, e seguir viagem em um carro de aplicativo, para que pudesse retornar dirigindo o carro do amigo.
A princípio, a sua intenção era deixar Júlio na própria casa. Mas, ao encontrar o amigo sentado na sarjeta, completamente embriagado e gritando por Leandro, achou melhor leva-lo para o seu apartamento, com finalidade de evitar uma briga entre Júlio e Luciano.
Teve dificuldade em retirar Júlio do local, já que esse resistia, deixando Rubens irritado. Teve que usar muita força para pôr Júlio no banco de carona e ir para casa.
Em seu apartamento, Rubens retirou as roupas de Júlio e o colocou sob uma ducha fria, em seguida, o deixou deitado na cama do quarto de hospedes, vestindo somente um dos seus shorts.
No dia seguinte, Júlio despertou com uma dor de cabeça latejante e uma ressaca insuportável. No início, custou a reconhecer onde estava. Até perceber que não estava em casa, o que deixou aliviado, já que não queria encarar Luciano.
Rubens o obrigou a sentar à mesa com ele e tomar um café amargo.
_ Você só pode estar maluco, veado! Como você consegue fazer tanta merda numa noite só? Primeiro, agrediu o Luciano, segundo encheu o cu de álcool e foi dá PT na porta do seu ex. O eu você tem na porra da cabeça?
_ Eu estou vivendo um inferno! Luciano me provocou! Ele me fez perder a cabeça. Tava dando mole pro Alves na minha frente e ainda me chamou de corno, jogando a história do Abner na minha cara! Eu não sou de ferro.
_ Ah, agora a bonita tá com ciúmes do Luciano? Mas, você não quer se livrar dele? Se decida, bicha.
_ Não importa. Por enquanto ele é meu! Enquanto eu tiver comendo e bancando, outro não toca.
_ Só você pode colocar chifres ne? Levar nunca.
_ Não me venha com moralismo barato, Rubens. Estou sem paciência para isso.
_ A coisa vai ficar feia pra você se o Leandro resolver contar para o Luciano que você esteve lá no apartamento dele.
_ Pouco me importa. Eu só quero o Leandro de volta.
_ Júlio, pelo amor de deus esqueça essa sua obsessão pelo Leandro. Ele não te quer, veado!
_ Nunca! Leandro é meu! Sempre foi e sempre será! Eu vou ter o Leandro de volta. Ele querendo ou não!
Rubens revirou os olhos e bufou. Percebeu que era inútil argumentar com Júlio.
_ Rubens, você não sabe da pior.
_ E ainda pode piorar?! Vixe!
_ A piranha da Tamara tá de volta.
_ O quê?!_ Rubens gritou incrédulo.
_ Sim. E me chantageando, pedindo mais dinheiro. Que vontade de matar aquela desgraçada. Mas, desta vez ela não me escapa.
_ Você tem noção se ela abrir a boca aí mesmo que Leandro não volta pra você? Vanessa vai te odiar.
_ Eu sei disso.
_ Eles nunca vão perdoar o fato de você ter escondido que a Vanessa é filha do Genaro com uma ex-amante vulgar. E o pior, a Ângela pensa que a Tamara tá morta. Você ficou anos chantageando a sua sogra com essa história. Veaaadooo o caldo vai entornar feio para o seu lado. Eu te avisei na época. Júlio, eu te avisei, mas você não quis me ouvir.
_ Eu precisava salvar o meu casamento. Leandro ia me deixar. A adoção da Vanessa foi a solução.
_ Então, contasse a porra da verdade pra ele. Que vocês estavam adotando a irmã bastarda dele. Mas, você queria chantagear os seus sogros.
_ Eu precisava me vingar daqueles vermes. Você sabe o quanto eles me humilharam quando eu era pobre.
_ Tá bom. E agora? O que você pretende fazer?
Júlio o olhou sério e não respondeu, tomando um gole do seu café amargo.
Vanessa estava preste a sair para ir ao colégio quando encontrou Luciano deitado do sofá da sala, enrolado num edredom. Ela não sabia que Júlio não estava em casa. Imaginou que o pai adormecia no quarto. Como Luciano estava com a expressão de tristeza e a boca inchada, cogitou que houve uma briga feia entre os dois, o que a deixou muito feliz e saiu sorridente.
Somente essa alegria de Vanessa pela sua desgraça fez com que Luciano se sentisse ainda mais humilhado. Aproveitando que estava só, deixou as lagrimas caírem.
Ele havia recebido uma ligação de Rubens avisando que Júlio estava em sua casa, o que o deixou mis aliviado, temia que o namorado estivesse com outro homem.
Júlio chegou em casa alguns minutos depois da saída de Vanessa.
Entrou em silêncio e foi para o quarto ignorando a presença de Luciano, o que o deixou ainda mais revoltado.
Luciano foi atras, entrando no quarto.
_ Nem venha encher o meu saco! Não estou bem.
_Claro... você me agride e é você quem não está bem.
_ Tá vendo o que você me fez fazer? Você me fez perder o equilíbrio. Eu faço tudo por você, te dou tudo o que eu posso, sempre pensando no melhor. Trabalhando feito um filho da puta, só pra que você tenha conforto e segurança. E como você me paga? Com ingratidão.
_ Você não pode tá falando sério...
_ Luciano, você tá se ouvindo? Você ficou dando mole pra aquela bicha velha, que faltou pouco te comer com os olhos! Como você acha que eu me senti? Eu já fui traído pelo Leandro e isso doeu muito. Mas, eu sei que ele não presta, não passa de uma puta cretina. Mas, você...pra mim você era diferente! Era leal!
_ Mas, eu sou, Júlio! Eu nunca te traio e nunca te trairia.
_ Não era o que estava parecendo. Eu acho melhor a gente acabar isso por aqui. Eu não vou suportar ser traído por você.
_ Júlio, pelo amor de deus! Não faça isso comigo! Eu juro pra você que eu não tinha intenção nenhuma de te trair, nunca passou isso pela minha cabeça. Meu amor, eu te amo. Você precisa entender isso.
_ Não...eu não vou suportar outro Leandro na minha vida.
Luciano se atirou aos pés de Júlio chorando.
_ Júlio, por favor! Você precisa acreditar em mim! Eu te amo! Eu não vou conseguir viver sem você.
_ Já chega! Saia! Eu preciso ficar sozinho. Colocar a minha cabeça no lugar.
_ Por favor, não me deixe! Eu juro que nunca mais falo o que eu te disse. Por favor?
_ Luciano, eu vou deixar passar desta vez. Mas, da próxima eu...
_ Não terá uma próxima. Eu juro que vou me comportar.
_ Agora saia, eu preciso ficar sozinho.
Luciano se retirou cabisbaixo.
Assim que o namorado saiu do quarto, Júlio sorriu presunçoso.
_ Que otário._ Disse se atirando na cama sorrindo.
No dia seguinte...
Rubens entrou aflito no escritório de Júlio. Encontrou o patrão falando ao telefone aos berros, o que o causou um estranhamento, já que raramente Júlio perde o equilíbrio quando está no escritório.
Júlio estava vermelho, com uma expressão de puro ódio. E as veias do pescoço estavam alteradas.
Encerrou a ligação com a força do ódio.
_ O que aconteceu, Júlio? Rubens perguntou preocupado.
_ Você acredita que a Vanessa aprontou mais uma? Aliás ela aprontou a pior de todas. Fez uma merda tão grande que foi expulsa da escola. Ela foi longe demais! Essa garota ainda vai me fazer infartar. Ah, vai ...que porra!_ Júlio gritou atirando uma garrafa de uísque na parede. Tudo culpa do Leandro, que fica pondo aquela putinha do Abner perto dela. Aquele merda é uma péssima influência para a minha filha. Mas, isso vai acabar. Vanessa agora será só minha. Já que Leandro é um incompetente, eu vou tomar as rédeas da situação
Notas do autor:
Queridos e queridas, espero que tenham gostado d capítulo. O próximo será postado semana que vem. E aí? O que vocês acham que a Vanessa aprontou desta vez? Deixem suas teorias nos comentários ou na DM do meu instagram @arthurmiguel5203. Tbm tenho um e-mail para contato: letrando@yahoo.com