A semana seguinte passou com mensagens, chamadas, excitação constante e aquele tipo de tensão que parece crescer mesmo à distância. Sofia e Juliana mantinham o contacto constante. Miguel, discreto mas presente, deixava mensagens sugestivas, fotografias dos seus treinos, pequenos elogios ousados.
Num sábado à noite, reencontraram-se — desta vez em casa de Miguel. Era moderna, minimalista, cheia de vidros e… espelhos.
Sofia sorriu ao entrar, os saltos a ecoar no chão de madeira.
— Escolheste bem.
Juliana, já vestida com um body de rede preta e batom escuro, sentia-se observada e exaltada. Cada parede devolvia a sua imagem: múltiplas Julianas, todas vulneráveis e sensuais.
A noite começou com vinho. Depois música. E, aos poucos, as roupas caíram.
Sofia orientava cada movimento:
— Miguel, despede-a como se ela fosse tua… mas lembra-te: és só um convidado no corpo dela.
A nova cena foi mais ousada: Miguel por trás, Sofia à frente, com Juliana entre eles, presa por palavras e corpos.
O prazer aumentava com os espelhos — cada ângulo revelava mais do que estavam preparados para ver.
Quando os orgasmos chegaram, os três estavam unidos, suados, rindo e sem palavras.
Mas o que ninguém dizia em voz alta: a ligação estava a crescer para além do prazer.
Na noite seguinte, Sofia recebeu um convite: um evento noturno de arte alternativa, queer e inclusivo, onde “personas” e fetiches eram mais do que bem-vindos.
Era a oportunidade perfeita para Juliana sair completamente como ela.
— Vai ser uma noite nossa. Não escondida — disse Sofia, apertando-lhe a mão.
Juliana hesitou. O medo estava lá. O espelho ajudava, mas o mundo real era outro.
Mas no fim, saiu.
Usava um vestido justo de veludo vermelho, botas acima do joelho e peruca castanha ondulada.
Sofia ao lado, toda de preto. Miguel, já à espera.
A noite foi um êxito. Olhares? Sim. Comentários? Alguns. Mas Juliana manteve-se de cabeça erguida. Dançaram. Beberam. Trocaram beijos.
Até... Sofia beijou Miguel em público, puxando Juliana para o meio.
A multidão aplaudiu.
Mas por dentro... algo balançou.
Na manhã seguinte, Juliana acordou inquieta. A imagem de Sofia a beijar Miguel no meio da multidão estava presa na mente. Não era ciúme... ou talvez fosse. Era insegurança. Medo de ser apenas uma fantasia, uma fase. E se Miguel gostasse mais de Sofia? E se Sofia quisesse mais dele… do que de Juliana?
— Tu também te sentiste… trocada? — perguntou ela a Sofia, mais tarde.
— Não. Senti-me orgulhosa. Senti que tu te mantiveste forte no meio de tudo.
— Mas se um dia eu não quiser partilhar mais?
Sofia foi sincera. Demorou a responder.
— Então paramos. Mas temos que descobrir o que isso significa primeiro. E o que tu queres de verdade.
Juliana passou a tarde sozinha, olhando o armário. Olhando o espelho. Sentia-se mulher. Sentia-se desejada. Mas… seria suficiente ser “só” Juliana? Ou havia mais para explorar?