Era um domingo cinzento quando entrei na livraria do centro, fugindo da monotonia e da chuva fina que escorria preguiçosa pelas vitrines. Caminhava sem direção, quando um som me parou.
Notas suaves, tocadas ao piano, ecoavam do canto da loja. Tristes. Quentes. Reconhecíveis.
Olhei.
Era ela.
Ana.
Sentada em frente ao teclado, vestida de preto, com os cabelos soltos. Havia uma elegância descuidada em sua postura — como quem sabe o poder que tem, mas não precisa exibi-lo.
Me aproximei devagar, o coração batendo no compasso da melodia.
— “Você aqui?” — perguntei, quase sem voz.
Ela parou de tocar, virou-se lentamente e sorriu com os olhos.
— “Achei que você fosse só uma lembrança...” — disse, e deixou o silêncio fazer o resto.
Saímos juntos. Sem planos. Apenas seguimos.
Fomos jantar em um bistrô discreto, escondido entre as ruas do centro. A conversa deslizou entre risos, lembranças, pausas carregadas de segundas intenções. Havia uma tensão densa entre nós, como eletricidade no ar antes de uma tempestade.
Ana bebia vinho tinto devagar, com os lábios marcando a borda da taça.
— “Você me olha como se quisesse despir minha alma...” — provocou.
— “Mas acho que hoje... é a sua que vai ficar nua.”
Ela tinha controle. Da voz. Da noite. De mim.
No hotel, o mundo se fechou atrás da porta. Ela não hesitou. Me empurrou contra a parede, os olhos em brasa.
— “Fica quieto. Deixa eu te usar um pouco.”
Beijou meu pescoço com pressa, tirou minha camisa com urgência, me fez sentar na poltrona e montou com domínio.
Seus movimentos eram hipnóticos — ora lentos, ora intensos.
O vestido subiu até a cintura, a calcinha foi empurrada de lado.
— “Sente isso? É tudo seu… hoje.”
— “Mas amanhã... quem sabe?”
Mordeu meu queixo, segurou meu rosto entre as mãos.
— “Você lembra do cheiro da minha pele?”
— “Vai lembrar de novo. E de novo. Mesmo quando tentar esquecer.”
Gemia em meu ouvido, gemia meu nome como quem reza — com fé e desespero.
Suas unhas deixaram marcas nas minhas costas, e seu corpo deslizava em mim com um encaixe que parecia inventado só para aquele momento.
Quando chegou ao clímax, cravou os olhos nos meus, crua e selvagem.
— “Dessa vez... é você quem vai se lembrar de mim.”
— “Nos cheiros. Nos lençóis. Em qualquer mulher que tente ocupar meu lugar.”
Na madrugada, ficamos em silêncio. Ela adormeceu com a cabeça no meu peito. A respiração suave, o corpo ainda quente.
E eu não dormi.
Passei horas memorizando cada detalhe:
o cheiro do cabelo, o som que ela fazia quando estremecia, a curva exata da cintura, o gosto da pele entre os seios.
Pela manhã, quando acordei, a cama estava vazia.
Um bilhete sobre o travesseiro:
> “Não tente entender.
Algumas melodias não foram feitas pra durar — só pra ser sentidas até o fim.”