O CÓDIGO DO PRAZER XIX

Um conto erótico de Ryu
Categoria: Heterossexual
Contém 2586 palavras
Data: 25/07/2025 20:40:52

19 – Conexão Letal

Naquela manhã, tentei agir como se tudo estivesse normal. Coloquei uma camisa limpa, tomei café com Simone. Fui trabalhar como quem tenta manter o mundo em pé por força de hábito.

Assim que entrei, Madalena me chamou na sala dela. Não pediu licença, não enrolou. Foi direta como sempre.

— Preciso que você esteja aqui às 17h. Quero marcar uma reunião com você e o Rui. Tem gente interessada em comprar a empresa.

Arregalei os olhos, e ela completou antes que eu dissesse qualquer coisa:

— É sério. Não é conversa fiada. Proposta robusta. Quero apresentar com calma.

Pedi a Madalena que adiantasse algo. Ela disse que estava com pressa, pois estava saindo para atender um cliente e que era para eu aguardar a reunião.

Após o almoço tive uma reunião importante e voltei para a empresa 16h:50min.

A sala de reuniões estava silenciosa, mas não de um jeito desconfortável — era mais aquela pausa tensa, expectante, o tipo de silêncio que precede grandes mudanças. Eu e Rui trocamos um olhar rápido. A tal investidora que a Madalena tinha mencionado ainda não havia chegado, e confesso que minha curiosidade já começava a se misturar com impaciência.

Exatamente as 17h Madalena recebeu uma mensagem. Era o investidor, ou melhor, a investidora.

Foi então que a porta se abriu.

E quem entrou me tirou completamente do eixo.

Linda como sempre!

— Suzy?

Ela sorriu, como se tudo fosse perfeitamente normal.

Ela estava diferente. Não tanto pela aparência, ela parecia mais segura de si. Entrou como se já fosse dona do lugar. Madalena sorriu como quem sabia de tudo.

— Boa tarde, pessoal — disse Suzy, com aquela voz que ainda lembrava os tempos de equipe, de viradas de noite resolvendo bug crítico e rindo no Slack.

Sentou-se à mesa, abriu uma pasta de couro e tirou dois envelopes. Entregou um para mim, outro para Rui.

— Eu sei que vocês querem vender suas partes na empresa. Eu vim aqui pra fazer uma proposta. Na verdade, duas.

Eu olhei o papel. Li uma vez, depois mais uma, mais devagar. Os valores eram bons. Muito bons.

— Estou de casamento marcado com o Marcos — ela disse, quase casualmente. — Ele acredita em mim. E eu acredito nessa empresa. Aqui foi onde comecei. Onde fui feliz. Eu quero continuar essa história.

Ela olhou direto pra mim. Era sincera. A Suzy de antes estava ali, mas agora mais forte, mais decidida.

— Quero comprar toda a parte do Rui. E metade da sua, Anderson. A outra metade, a Madalena vai ficar.

Demorei uns segundos pra processar. Rui me olhou, surpreso, mas não chocado. Estávamos pensando a mesma coisa. A proposta fazia sentido. Não era só o dinheiro. Era a chance de deixar a empresa em boas mãos.

— A proposta é válida por dez dias — ela completou, como quem sabe exatamente o que está oferecendo.

Eu fechei o envelope devagar, encostando o papel na mesa. Olhei pro Rui, ele me olhou de volta. Nenhum de nós falou por alguns segundos. A sala ficou quieta de novo, mas dessa vez com outra energia.

— A gente vai pensar e te dá uma resposta antes do prazo — eu disse, por fim.

Rui assentiu.

Nos levantamos. Eu estendi a mão pra ela, e ela apertou com firmeza.

— Fico feliz por você, Suzy. De verdade. Pelo casamento. Por estar bem. E por ainda se importar com a empresa. Você foi uma ótima funcionária.

Ela sorriu, dessa vez mais suave, com um toque de emoção.

Rui a cumprimentou também.

Ela nos agradeceu por comparecermos à reunião, e disse que estava confiante em uma resposta positiva de nossa parte.

Depois se virou para Madalena, que já se movia em direção à porta lateral.

— Madá, podemos conversar lá na sua sala?

As duas saíram juntas para a sala particular da Madalena.

Parecia que as coisas estavam andando, finalmente. Rui virou pra mim e disse:

— Vamos ali na lanchonete? Que tal uma cervejinha pra encerrar o dia?

Eu topei na hora. Aquela lanchonete era simples, mas era nosso ponto nos tempos mais corridos. Sentamo-nos na mesa do canto, a mesma de sempre. A cerveja veio gelada, e com o primeiro gole, senti o peso do dia começar a aliviar dos ombros.

Rui olhou pro copo um tempo, sem dizer nada. Depois, soltou devagar:

— Tô decidido a vender minha parte.

Eu o encarei, sem saber se ele tava brincando. Mas ele não tava.

— Anderson, eu tô cansado. De verdade. Sinto que não vi meu filho crescer, sabe? Passei tanto tempo ali dentro, lutando por essa empresa com você, que esqueci de estar lá com ele. E com a minha esposa também. Acho que chegou a hora de virar a chave.

Fiquei em silêncio. A cabeça rodando.

— É engraçado – Falei - Eu tava pensando a mesma coisa esses dias. A Beatriz nasceu faz dois meses. Eu olho pra minha esposa, recém-mãe, e me sinto ausente. Tô perdendo isso também.

Ele assentiu, os olhos um pouco vermelhos. Eu senti os meus arderem também.

— A gente lutou tanto, né? - Ele disse - Lembra do começo? A gente trabalhando no fundo daquela sala alugada, depois num Coworking apertado.

— Lembro. Lembro das madrugadas, dos clientes que sumiam sem pagar, da primeira venda grande… da gente comemorando com pão, mortadela e refrigerante.

A gente riu, com uma pontada de dor. A cerveja esquentava na mesa, esquecida por uns minutos enquanto a memória fazia a gente voltar no tempo.

— Foi uma bela jornada - Eu disse, sentindo um nó na garganta - Mas acho que chegou ao fim. E tudo bem. A gente fez dar certo.

Ele levantou o copo, e eu levantei o meu.

— Pelo que construímos - Ele disse.

— E pelo que ainda vamos viver com nossas famílias - Completei.

Batemos os copos. O barulho foi discreto, mas pra mim soou como um encerramento digno. Não era só uma cerveja. Era o brinde de um ciclo que se encerrava — e o começo de outro.

Nos levantamos ao mesmo tempo e nos abraçamos com força, sem vergonha da emoção. Era um abraço pesado de história, de noites viradas, de brigas, de vitórias que ninguém viu, de riscos que quase nos afundaram.

— Obrigado, irmão — ele disse, com a voz embargada.

— Eu que agradeço, Rui. A gente fez isso acontecer. Do nada. Só com um monte de ideia e coragem burra.

Rimos. Os olhos úmidos não atrapalharam.

Nos soltamos devagar. Era o fim de um ciclo, sim. Mas também o reconhecimento de que tudo aquilo valeu. E que agora, era hora de outro capítulo — pra mim, pra ele, pra empresa.

Naquela noite, cheguei em casa mais tarde do que o normal. Abri a porta devagar, tentando não fazer barulho. A luz suave da luminária da sala caía sobre Simone, que estava no sofá com nossa filha recém-nascida dormindo nos braços.

Ela me olhou e sorriu, cansada, mas com aquele brilho que só ela tem. Me aproximei e beijei sua testa, depois encostei os lábios bem de leve na testa da nossa pequena.

— E aí? Como foi? — ela perguntou, já sabendo que eu vinha carregado de pensamentos.

Me sentei ao lado dela, deixando o envelope com a proposta sobre a mesa de centro. Ficamos em silêncio por um tempo, só ouvindo a respiração lenta da bebê. Por fim, eu falei:

— A Suzy apareceu. Lembra dela?

— Claro. A sua ex. O que ela queria?

— Comprar minha parte da empresa. Quer dizer… metade da minha parte. A outra metade ficaria com a Madalena. O Rui venderia tudo pra ela.

Simone franziu um pouco a testa, pensativa. Depois olhou pra mim com aquele olhar direto dela, que sempre foi mais certeiro que qualquer conselho.

— E você quer vender?

Demorei a responder. Respirei fundo.

— Parte de mim, sim. Mas também tem uma parte que sente que tá largando um filho.

Ela riu baixinho, balançando a cabeça.

— Amor… você acabou de ter uma filha de verdade. Em carne e osso. Que vai precisar de você inteiro. E se essa venda te der mais tempo, mais paz… talvez seja a escolha certa agora.

Fiquei olhando pra elas — minha esposa e minha filha — e naquele instante, tudo pareceu mais claro. O ciclo tinha que se fechar. Pra outro começar.

No dia seguinte cheguei cedo à empresa. Antes de aceitar formalmente a proposta, resolvi olhar o que Suzy e Mada tinham conversado depois da reunião.

Com o tempo, a câmera ficou esquecida. Mas continuava lá. Discreta, silenciosa, gravando tudo.

Encontrei o arquivo do dia anterior. Avancei a gravação até o ponto em que Madalena e Suzy entram na sala. Dei play.

Quando eu olhei para a tela e vi aquela cena se desenrolando, meu coração disparou. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Madalena, a mulher com quem eu compartilhava tantos momentos, estava ali, conversando tranquilamente com Suzy, e as palavras que saíam de suas bocas eram como facadas.

“Então foram elas que mataram o Eduardo.”

Essas palavras ecoavam na minha mente, repetindo-se como um mantra aterrorizante. Uma onda de desespero tomou conta de mim. Como isso era possível? A expressão no rosto de Madalena era tão tranquila, tão despreocupada, em alguns momentos ela chegou a rir. Eu queria gritar, queria sacudi-la e perguntar como ela poderia estar tão calma ao admitir algo tão horrendo.

A cada segundo que passava assistindo à gravação, a realidade do que eu estava vendo se tornava mais insuportável. Meu cérebro tentava processar a informação, mas era como se estivesse em um furacão. Eu sentia raiva, traição e uma profunda tristeza ao mesmo tempo. Como eu poderia confiar em alguém que tinha esse tipo de segredo? A imagem de Madalena rindo e conversando se misturava com a ideia de um crime hediondo.

O desespero tomou conta de mim. A verdade era pesada demais para carregar. Eu precisava tomar uma decisão. E assim, sentei-me ali, paralisado diante da tela, completamente devastado pela revelação do que eu acabara de descobrir.

Era um crime grave

E eu tinha a prova.

Peguei o celular e liguei para quem eu sabia que podia confiar: Sônia.

Ela atendeu no segundo toque, a voz ainda com aquele tom matinal, mas sempre firme.

— Anderson? Tá tudo bem?

— Não. Preciso falar com você. É sério. Grave.

— O que houve?

Respirei fundo.

— Eu tenho uma gravação. De uma sócia minha. Com uma cúmplice. Elas... confessam que cometeram um assassinato. Um cara que morreu recentemente. Rico. Ninguém suspeitou de nada. Mas agora eu tenho isso. A prova. E eu não sei o que fazer.

Houve um silêncio do outro lado. Sônia não era do tipo que se assustava fácil — mesmo assim, levou uns segundos pra responder.

— Meu Deus, Anderson. Você tem certeza do que ouviu?

— Absoluta. Tenho o arquivo. Já fiz backup. Vários. Mas... não posso falar com qualquer um. Confio em você, Sônia. Só em você. É um assunto delicado demais. Não pode vazar, não pode cair na mão errada. Eu precisava ligar pra você antes de tomar qualquer decisão.

Ela respirou fundo. A voz veio mais focada, mais prática.

— Olha... minha especialidade é direito empresarial e contratual. Você sabe disso. Mas no escritório temos um criminalista excelente. Posso te colocar com ele, discretamente.

— Eu entendo, mas não. Pelo menos por enquanto, não quero envolver mais ninguém. Só você. Preciso entender onde estou pisando antes de expor tudo. Confio em você.

Ela ficou em silêncio por mais um instante. Depois falou, com firmeza:

— Tá bom. Vem aqui. Em uma hora e meia. Eu vou te esperar. Traz tudo. A gente conversa com calma.

— Valeu, Sônia. De verdade.

Inventei uma desculpa qualquer no escritório — uma reunião de última hora com fornecedor, café com um cliente antigo, qualquer coisa que não levantasse suspeitas. A cabeça estava a mil. O vídeo rodava em looping na minha mente.

Dirigir até o escritório da Sônia foi como atravessar uma névoa. Não era longe, mas era a primeira vez que eu ia até lá. O lugar era moderno, discreto, numa rua arborizada.

O escritório ocupava um andar inteiro. O logotipo dourado na entrada — “ Vasconcelos & Coelho – Advocacia Estratégica” — dava o tom: gente grande. Fui recebido por uma recepcionista simpática, eficiente e silenciosa. O ambiente era sereno, profissional.

Segui com ela até a sala de espera. As salas de atendimento eram separadas por divisórias de cerca de um metro e meio de altura e vidro transparente até o teto. Nada era escondido ali — apenas abafado. Transparência com sofisticação.

Dali, sentado num sofá de couro escuro, eu podia ver a sala da Sonia.

Ela estava conversando com uma mulher que eu não conhecia. Por volta dos 40 e poucos anos, elegante sem esforço. Cabelos claros presos num coque limpo, vestido bege claro, discreto, mas de corte perfeito. Um anel grande e caro na mão direita. O tipo de mulher que parece saber exatamente — quem está mandando.

A recepcionista se aproximou com discrição.

— A doutora Sonia logo irá atendê-lo. Ela está finalizando uma reunião com a doutora Vera Coelho, uma das sócias do escritório.

Assenti com um breve “obrigado”, mas continuei observando, tentando não parecer óbvio.

Vera. Uma das donas.

Sonia falava com ela com naturalidade, mas com um certo respeito contido. Vera, por outro lado, mantinha uma postura altiva, mas cordial.

Pensei por um momento no que eu trazia comigo. No arquivo, no vídeo, no peso das palavras de Suzy. Eu estava mexendo num vespeiro do tamanho de uma holding empresarial.

O tempo parecia andar mais devagar ali dentro.

O vídeo gravado, as palavras ditas por Suzy, o rosto de Madalena... tudo ainda circulava como uma sombra em volta da cabeça.

Vera ainda estava com Sonia, conversando. Ela estava de pé, atrás da cadeira de Sonia, e deslizou lentamente as mãos pelos ombros dela, num gesto que me pareceu bastante íntimo.

Sonia manteve a compostura, mas não se afastou. Apenas sorriu, aquele sorriso discreto e contido que eu já conhecia — o sorriso que ela usava quando estava mantendo as aparências.

As duas trocaram um olhar silencioso, intenso. Um segundo a mais do que o normal. Elas se entendiam mesmo sem palavras.

Vera se inclinou um pouco em direção à Sonia.

Na mesma hora, Sonia desviou apenas o olhar — direto para mim, como quem avisa "tem gente olhando". Ela nem moveu a cabeça, só os olhos, mas foi suficiente.

Vera entendeu. Parou. Recompôs-se em segundos. Aquela mulher tinha controle absoluto da própria imagem.

Ela se afastou, ajeitou a roupa e seguiu até a porta com a elegância de quem desfila em silêncio. Quando passou por mim na sala de espera, olhou-me nos olhos e disse com uma voz suave e formal:

— Boa tarde.

— Boa tarde — respondi, com a melhor neutralidade que consegui reunir.

Um minuto depois, a porta de vidro se abriu novamente, e Sonia apareceu.

— Anderson... entra. Podemos conversar agora.

Me levantei, ainda sentindo o peso do que acabara de testemunhar. Não era da minha conta... ou era?

Entrei na sala da Sonia com a cabeça fervendo, o coração batendo como se estivesse tentando escapar pela garganta. Esqueci até de cumprimentá-la — minha mente estava presa no vídeo, nas falas, na risada fria da Suzy.

— Oi, Anderson — disse ela, com aquele tom calmo, mas atento.

— Ah... desculpa, Sonia. — Dei um passo pra trás e a cumprimentei com um beijo na bochecha. — Minha cabeça... Desculpa mesmo. Tô meio fora do eixo.

— Eu imagino — respondeu ela com um leve sorriso. — E se for tudo o que você me disse ao telefone... você tem todo o direito de estar assim. Me mostra o vídeo.

Sentei de frente pra ela, tirei o celular do bolso e abri a galeria. Meus dedos tremiam só de procurar o arquivo. Dei play.

Continua ...

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Comentários

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Boa surpresa!

Nos guiou a história toda olhando para um lado para aqui nos entregar uma revelação dessas.

Parabéns !

Ansioso pelo final.

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Intrigante e interessante essa revelação!

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Agora vamos para a parte final da história, que na minha opinião é a melhor parte.

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