Eu já estive com muitos corpos.
Seios firmes, bundas marcadas, bocas treinadas, línguas que sabiam onde tocar. Mulheres experientes, vadias assumidas, curiosas entediadas e até esposas infiéis em busca de algo que seus maridos não davam mais. E eu sempre soube como conduzir. Como provocar. Como destruir.
A mãe da Luara foi uma dessas. Marta, uma putinha safada. Do tipo que gozava só de me ver tirar o cinto. De joelhos em segundos, com a boca cheia e os olhos lacrimejando. Aquele tipo de mulher que implorava por mais, mesmo quando dizia que não aguentava.
Depois virou outra coisa. Uma filha da puta fingida de recatada, moralista, controladora. Se trancou num mundinho de regras, religião e silêncio. Me afastou com palavras frias, com culpa disfarçada de virtude. Me tirou da vida dela como quem apaga uma lembrança.
E eu deixei.
Nunca mais voltei. Até ela morrer.
E com a morte dela… Luara me procurou
Um bilhete em mãos. Dizendo que eu era o pai de uma filha que nunca soube que tinha.
E ela precisava de alguém. De um lugar. E eu era o único que ela podia contar.
Ela chegou com uma mochila pequena e os olhos carregados.
Dezenove anos.
Olhos castanhos escuros, cabelos loiros até o quadril, pele clara, lábios carnudos, um corpo que parecia feito pra ser tocado, mesmo que ela não soubesse disso. Seios grandes, firmes, que pressionavam contra o tecido largo da blusa. Quadris fartos escondidos em saias compridas.
Mas por dentro... ela era um papel em branco.
Criada dentro de casa. Sem escola. Sem amigas.
Sem internet, sem toque.
Nunca soube o que era desejo.
Nunca aprendeu o nome do que morava entre as pernas.
E agora ela estava aqui.
Morando comigo.
O apartamento era confortável: uma suíte onde eu dormia, um quarto de hóspedes recém preparado para Luara, um escritório onde trabalhava à noite, um banheiro social, sala ampla, cozinha americana e uma varanda com vista para a cidade.
Limpo. Organizado. Silencioso.
Na primeira noite, depois do jantar que ela mal tocou, fui até o quarto dela. A porta estava encostada. Bati duas vezes.
— Posso? — perguntei, da porta.
Ela assentiu.
Estava sentada na beira da cama, como se não pertencesse ali, as mãos no colo, os olhos fugindo dos meus. Entrei, fechei a porta e fui até ela com calma.
— Tá se sentindo bem?
Ela só deu de ombros.
— É tudo muito... novo — murmurou. — Eu não sei se é certo. Estar aqui.
— Luara... posso te dizer uma coisa? — esperei que ela olhasse pra mim.
— Claro.
Sentei ao lado, respeitando o espaço.
— Eu sei que sua mãe te criou num mundo fechado. Me afastou. Nos impediu de ser uma família. Te protegeu demais. Proibiu coisas que todo jovem deveria poder viver. Mas aqui... você tá livre. Livre para errar, pra sentir, pra perguntar. Você pode ser honesta comigo. Sempre.
Ela não respondeu. Mas os olhos dela começaram a brilhar. Tremiam.
— Eu não sei se devia dizer isso — ela falou baixo. — Mas eu tô um pouco aliviada. Que ela morreu.
E então desabou.
Chorou com o rosto nas mãos, o peito tremendo.
Eu a puxei com delicadeza. Abracei.
— Não se sente culpada. Você sobreviveu do jeito que deu. Agora... você pode respirar. Eu tô aqui por você.
Ela chorou mais. Deitou a cabeça no meu peito.
Ali, o toque era só abrigo. Nada além.
Mas algo dentro de mim despertou.
Como se um instinto adormecido abrisse os olhos.
Horas depois, levantei no meio da noite para pegar água.
A luz da varanda ainda acesa. Silêncio.
Passei pelo corredor e, ao olhar pro quarto dela, a porta estava entreaberta
E foi então que vi.
Eu nunca pensei em ter filhos, gostava daquela vida. Solteiro, pegava quem e quando eu quisesse. Sem cobrança, sem preocupação. Nunca imaginei que havia uma prole minha pelo mundo.
E nunca, nos meus pensamentos mais sórdidos, poderia ter imaginado aquilo.
Ela estava de pé, de frente pro armário, nua.
A luz morna do abajur marcava cada curva.
Os cabelos longos caíam soltos pelas costas nuas.
A cintura desenhada, as coxas grossas, a pele acetinada.
E quando ela virou...
Meus olhos travaram nos seios.
Cheios.
Firmes.
Redondos, grandes.
Com mamilos rosados, duros com o frio ou com algo que ela talvez nem soubesse nomear.
Ela não me viu de imediato. Mas então percebeu.
Me olhou.
E não se cobriu.
Nem recuou.
Só ficou ali, nua, me olhando. Com um ar inocente. Com uma pergunta em seus olhos. O peito subia e descia com a respiração.
Eu devia ter me virado.
Mas meu corpo ficou imóvel.
E o dela... receptivo.
Como se soubesse que algo tinha mudado.
Virei antes que meu desejo se tornasse visível.
Mas a imagem dela já tinha invadido tudo.
E eu sabia, a partir daquela noite...
Nada ia ser o mesmo.