Os dias em Brasília passaram depressa, mas deixaram marcas profundas em Ricardo. A convivência com Thiago e Mateus, as conversas sem filtros, as cenas que presenciou — tudo o obrigou a encarar de frente o que há muito tempo tentava ignorar. A liberdade com que os filhos viviam suas verdades era um espelho cruel e libertador. Pela primeira vez em décadas, ele se viu perguntando: e se eu também pudesse ser assim?
Com a volta para São Paulo se aproximando, uma urgência crescia dentro dele. Precisava colocar os pensamentos em ordem, precisava falar — nem que fosse para tentar se entender.
Na véspera da viagem, chamou Thiago e Mateus para a varanda. O céu de Brasília estava limpo, o Eixo Monumental iluminado ao fundo. Ricardo segurava uma cerveja, mais para se ocupar do que por sede.
— Filhos… quero conversar com vocês — começou, a voz grave, mas serena. — Esses dias aqui… me fizeram pensar muito. Vocês vivem de um jeito tão leve, tão verdadeiro. Eu nunca vivi assim. Mas, caramba… me senti bem aqui. Quero isso pra mim também.
Thiago ergueu uma sobrancelha, com um sorriso provocador.
— Tá querendo virar galinha agora, pai?
Mateus riu alto, cúmplice da brincadeira.
Ricardo sorriu, balançando a cabeça.
— Não exatamente. Mas tem uma coisa… — Ele hesitou por um instante, como se buscasse coragem. — Lá em São Paulo… tem um jovem. O nome dele é Lucas. Trabalha comigo. E eu… não sei explicar. Mas ele mexe comigo. De um jeito que ninguém mexia desde que a mãe de vocês se foi.
Mateus soltou um assobio, impressionado.
— Olha só o coroa saindo da jaula! Pai, isso é sinal de que tá vivo, porra. Se o tal do Lucas mexe contigo, vai atrás!
Thiago, sempre mais direto, caiu na risada.
— Ah, pai… com esse teu dote de 25 cm, tu vai deixar o novinho apaixonado no primeiro round. Não economiza, não. Arregaça o cu dele sem piedade — disse, num tom entre piada e incentivo puro.
Ricardo gargalhou, entre a vergonha e a surpresa, sentindo o rosto arder.
— Vocês são um caso sério. Mas… falando de verdade, abrir isso pra vocês me deixou mais leve. Acho que estou voltando pra São Paulo com a cabeça mais aberta. Obrigado por me mostrarem que dá pra viver com menos medo.
Mateus ergueu a cerveja.
— Brinda com a gente então: à liberdade, ao tesão e à vida! Vive, pai. A vida é curta demais pra viver no armário da culpa.
No dia seguinte, no aeroporto, os abraços foram apertados. Thiago deu um tapa carinhoso no ombro do pai e disse:
— Vai lá e vive, coroa. Depois quero saber os detalhes, hein!
Mateus apenas piscou, com aquele sorriso de quem já sabia o que vinha pela frente.
Ricardo embarcou com uma sensação nova no peito. Não era só saudade de Clara — era desejo, curiosidade, uma centelha acesa depois de muito tempo no escuro. Ele não sabia o que o esperava, nem o que faria com tudo o que sentia por Lucas. Mas, pela primeira vez em anos, ele queria descobrir.
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Em São Paulo, Lucas seguia com sua rotina em home office, alheio às mudanças que borbulhavam na mente de Ricardo. Trabalhava concentrado, mas uma parte de si aguardava o retorno do chefe — sem imaginar que essa volta carregaria mais do que apenas tensão: traria o início de algo que poderia mudar tudo.
