OI, GALERA!
FINALIZO MAIS UMA HISTÓRIA COM MUITO AMOR NO CORAÇÃO. QUERO DIZER QUE ESTOU EDITANDO ALGUMAS HISTÓRIAS MINHAS E PUBLICANDO NA: A-M-A-Z-O-N. ALGUMAS VÃO GANHAR CAPÍTULO EXTRAS E ATUALIZAÇÃO NA HISTÓRIA. BASTA BUSCAR POR DHIEGO HENRIQUE. OS LIVROS SÃO BARATINHOS, ENTÃO QUEM PUDER ME AJUDAR COMPRANDO FICARIA MUITO FELIZ. SEGUE O ÚLTIMO CAPÍTULO:
— Posso pilotar? — Perguntou César, os olhos brilhando de empolgação enquanto o vento bagunçava seus cabelos.
Otaviano, que observava a cena do banco de trás, soltou uma gargalhada discreta. Jonas tirou os óculos escuros, encarando o cunhado com uma expressão meio séria, meio divertida.
— Tem a carta de piloto? — Indagou, arqueando a sobrancelha com exagero.
— Um dia eu vou ter... — Murmurou César, fazendo bico por um instante, mas logo sorriu ao ver Jonas acelerar a lancha, fazendo a água se abrir em ondas ao redor da embarcação.
O Festival já havia passado. Depois de semanas intensas de preparação, apresentações e emoções, a rotina voltava aos poucos ao normal. Jonas e Cauê também haviam encontrado um novo ritmo em sua relação — mais calmo, mais doce. Dias antes, tinham até conseguido ver um filme juntos em uma plataforma de streaming. Bem, ver era modo de dizer: passaram mais tempo trocando beijos do que acompanhando o enredo.
Em uma sexta-feira de céu limpo e sol forte, eles se juntaram a César, Kelly, Vlavlau, Jean, Joaquim, Alexandra e Maurinho para um passeio pelas águas do Rio Amazonas, nos arredores de Parintins. O grupo ocupava a lancha com risos, música e muita conversa.
E, claro, com Repolho — o mascote da turma — usando uma boia inflável no formato de tubarão. O cachorro andava de um lado para o outro do convés, se exibindo como se fosse o dono do barco. Todos queriam tirar fotos com ele, e o feed de cada um se enchia de registros do cão "nadando" com cara de galã.
Jonas reduziu a velocidade e ancorou a embarcação próximo ao balneário. Ligou o sistema de som e logo os primeiros acordes de uma toada do Caprichoso ecoaram pelas margens. Houve um breve rebuliço: os bois de Parintins dividiam corações ali.
— Trinta minutos pra cada um, viu! — Decretou Alexandra, levantando o dedo em riste e arrancando risadas. Assim, selaram o acordo de paz: Caprichoso e Garantido em tempo igual.
Com a tensão do Festival deixada para trás, os jovens encontraram um raro momento de harmonia. As vozes se uniram em coro, misturando toadas e risadas. As latinhas de cerveja tilintavam, os celulares registravam cada instante, e o clima era de pura celebração.
— E você, príncipe? — Perguntou Cauê, chegando mais perto de Jonas, a mão pousando de leve na cintura dele. — Não vai beber?
— Hoje, eu passo. Quero que vocês se divirtam. Afinal, hoje eu sou o capitão. — Respondeu Jonas, sorrindo e puxando o namorado para um abraço, seguido de um beijo breve e caloroso. — Mas eu posso te namorar sem restrições, viu.
— Esse teu fogo... não bastou ontem? — Provocou Cauê, o olhando com malícia.
— Te quero hoje, amanhã e depois. Eu não me canso de ti, garoto gostoso. — Sussurrou Jonas, mordiscando a orelha de Cauê, que soltou uma gargalhada e o empurrou levemente.
— Se controle, garoto tarado.
— Difícil te ver só com essa sunga, sr. Alencar.
— Inclusive, vá vestir a sua sunga. Quero tomar banho de rio com meu namorado.
E foi o que ele fez. Em poucos minutos, Jonas voltou já com o traje apropriado. Os dois pularam na água, seguidos por César e Kelly, que levaram Repolho para um mergulho supervisionado. Maurinho filmava tudo com seu celular, narrando como se fosse um documentário.
Alexandra, então, assumiu o controle do som e colocou para tocar "Ao Pôr do Sol", de Teddy Max. A melodia suave preencheu o ar enquanto o céu começava a se tingir de tons dourados e alaranjados.
Os jovens silenciaram por alguns instantes, todos olhando para o horizonte como se tentassem guardar aquele instante num lugar especial da memória. Os reflexos do sol dançavam sobre a água, e o som das risadas, da música e da brisa compunham o cenário perfeito de uma juventude que, naquele momento, apenas existia — livre, leve, em paz.
Na proa do barco, Jonas segurou a mão de Cauê e encostou a cabeça em seu ombro.
— Se eu pudesse congelar o tempo, faria isso agora. — Disse baixinho.
Cauê sorriu.
— Esse é o tipo de momento que a gente não esquece. A gente sente.
E ali estavam todos eles: jovens, vivos, apaixonados — por alguém, pela amizade, ou apenas pela beleza daquele fim de tarde amazônico.
***
Pouco a pouco, Parintins retomava seu compasso cotidiano. As alegorias haviam sido recolhidas, os tambores silenciados, mas o espírito festivo ainda ecoava nas veias da ilha. Mal o Festival havia terminado e a cidade já se preparava para outro momento grandioso: a Romaria das Águas, uma das mais belas e tocantes homenagens à padroeira do município, Nossa Senhora do Carmo.
Naquela noite, o rio Amazonas parecia ter sido coberto por um manto estrelado. As luzes dos barcos, refletidas na superfície escura da água, formavam constelações líquidas que dançavam ao ritmo da fé. À beira do porto, a multidão se espremia entre bandeirolas coloridas, aromas de comidas típicas e uma alegria mansa, embalada pelo som dos cânticos e orações.
No centro do cortejo, a embarcação principal deslizava como um santuário flutuante, toda iluminada e ornamentada com flores, fitas e imagens reluzentes. Era ali que seguia a imagem da santa, conduzida com respeito e reverência. No convés, Milena, cantora oficial do Garantido, entoava hinos com a mesma força com que antes cantara toadas no Bumbódromo. Sua voz, doce e firme, ecoava pelas águas, tocando corações.
Crianças se maravilhavam nos ombros dos pais, artistas dançavam em trajes festivos, e os tambores misturavam-se aos maracás numa harmonia que só Parintins sabia compor — uma fusão entre o sagrado e o popular. Barcos menores acompanhavam a embarcação da padroeira como um séquito de estrelas em torno da lua. Lasers riscavam o céu, anunciando ao mundo que a Amazônia resistia com beleza, fé e cultura.
No meio da procissão, na lancha de Otaviano, Cauê observava tudo com os olhos brilhando de emoção. Estava ali com a família de Jonas, se sentindo acolhido, quase parte da própria ilha. Escorado no corrimão do deck, deixou o vento da noite tocar seu rosto, enquanto admirava a cena ao longe.
— Que coisa mais linda, Jonas. Tô todo arrepiado. — Comentou, sem disfarçar a comoção.
Jonas sorriu e se posicionou atrás do namorado, o abraçando pelas costas.
— Sim. Depois do Festival, é a celebração mais importante da cidade. — Explicou, com ternura na voz. — Inclusive, tenho uma novidade.
Cauê se virou, curioso.
— Sério? Qual?
— Em breve, vou fazer 25 anos. Acho que tá na hora de entrar pra faculdade. — Contou Jonas, com um brilho tímido nos olhos.
— Que notícia ótima, amor! — Exclamou Cauê, abraçando-o com entusiasmo. — Já sabe qual curso?
— Administração. O papai tem vários negócios e quero continuar o legado dele.
— Já disse que tenho muito orgulho de você?
— Já... mas é sempre bom reforçar. Diz aqui no meu ouvido? — Pediu, inclinando a cabeça.
Cauê sorriu e se aproximou, mas antes que pudesse sussurrar qualquer coisa, Jonas levou um leve tapa na cabeça.
— Seus moleques enxeridos! Não respeitam nem a santa? Eu não te ensinei isso, Jonas! — Ralhou Otaviano, gargalhando enquanto dava o sermão.
— Puxa, pai! — Jonas esfregou a cabeça, fazendo cara de dor teatral.
Rosa, sentada mais à frente, riu ao ouvir a confusão.
— Vai se acostumando, Cauê. Esses dois brigam mais que mucura em cima de carniça — comentou, balançando a cabeça com carinho.
Mas Cauê já sabia. Naquela família, amor e provocação andavam de mãos dadas — e naquela noite abençoada, com o rio bordado de luz e fé, ele sentiu que pertencia ali.
***
Depois do furor do Festival, a vida da família Alencar finalmente retomava um ritmo mais tranquilo — ou, ao menos, o mais próximo disso que a rotina daquela casa poderia oferecer. Eron se envolvera de corpo e alma em novos projetos na universidade, sempre ocupado entre artigos, reuniões e orientações. César, com seus trabalhos escolares que pareciam não ter fim, transformara o quarto num laboratório de ideias. Milena conciliava a agenda com eventos do Garantido, conseguindo algum dinheiro extra e mantendo sua presença artística viva. Já Cauê encontrava novo fôlego ao lecionar música para crianças e adolescentes e, paralelamente, mergulhava nas composições do próximo festival — os ensaios do boi vermelho e branco já estavam no horizonte.
Entre todos, o único ser que vivia num eterno estado de lazer era Repolho. O pinscher que ganhara fama nas redes sociais após um vídeo viral — nadando com um salva-vidas de tubarão, para o deleite da internet — agora era um verdadeiro influenciador canino.
Numa noite de sábado marcada pela chuva que tamborilava suave nos telhados, a família se reuniu na sala para ouvir as novas composições de Cauê. O violão descansava no colo dele, e as primeiras notas preenchiam o ar com aquela mistura mágica de ancestralidade e poesia amazônica. E havia um novo integrante nesse momento especial: Jonas.
Mesmo sendo do contrário, Jonas se envolvia com gosto, opinando sobre as músicas como se fosse jurado no bumbódromo.
— Eu amei 'O meu pôr do sol'. — Disse Jonas sorrindo e erguendo, de brincadeira, um cartaz improvisado com a nota 10.
— Não sei... — Ponderou Eron, com os braços cruzados. — Prefiro 'Guerreiros da Lua', mas posso passar a gostar de 'Ao som dos ventos'.
— Sim, filho. São quatro composições lindas. O Ribeiro comentou que logo vão divulgar os temas pro próximo ano. — Comentou Milena, antes de tomar um gole de vinho tinto.
— Obrigado, pessoal. Vocês são uma plateia maravilhosa. — Agradeceu Cauê, feliz, deixando o violão de lado e pegando uma lata de cerveja.
Entre brindes, risos e versos improvisados, a noite foi se tornando uma verdadeira celebração da união. Ali estavam todos: o professor, o universitário, a cantora, o adolescente hiperativo e o compositor. Cada um com suas diferenças, suas rotinas distintas e paixões, mas ligados por uma coisa em comum — afeto. Jonas, mesmo sendo azul de coração, parecia cada vez mais encaixado na família Alencar. E Cauê, por mais que não falasse em voz alta, transbordava de felicidade por ver seu mundo se entrelaçando ao de quem ele amava.
Mas, é claro, todo esse clima de harmonia não impediu Eron, já um pouco alegre pelas cervejas, de dar uma escapadinha até os arquivos da vergonha.
— Jonas, já viu Cauê criança? — Perguntou com um sorriso travesso antes de exibir, no telão da TV, um vídeo do filho pequeno, fantasiado de tambaqui e dançando desengonçado numa apresentação escolar.
— Pai! Apaga isso agora! — Protestou Cauê, rindo de nervoso, enquanto Jonas gargalhava.
A chuva engrossou com o passar da noite. Quando chegou a hora de ir embora, Jonas descobriu que seria impossível — a rua estava alagada, e relâmpagos riscavam o céu como se disputassem atenção com as toadas.
— Você vai ter que dormir aqui. — Falou Cauê, tentando parecer natural.
— Vai ser um sacrifício enorme, mas... tudo bem. — Respondeu Jonas, com um sorriso malicioso.
No quarto de Cauê, a cama de casal parecia um pouco menor com os dois deitados lado a lado. Lá fora, a tempestade seguia seu curso. Lá dentro, o clima era de riso abafado e carinho.
— Preciso te avisar uma coisa... — começou Cauê, com o olhar fixo no teto. — Você ronca. Mas não é alto, é quase musical.
— Ofensa! — Jonas virou de lado, teatralmente indignado. — E tu fala dormindo! Já disse meu nome várias vezes... Inclusive, uma vez parecia um chamado místico. Tipo: "Jonasss... vem cá, Jonasss..."
— Mentira!
— Verdade! Agora, se eram sonhos eróticos... isso eu não posso garantir.
Os dois riram, cúmplices, até que um trovão ensurdecedor cortou o céu, fazendo a janela tremer.
— Telezo! — Exclamou Jonas, pulando involuntariamente.
— O boi Caprichoso rugiu do céu agora. — Brincou Cauê.
Ambos caíram na gargalhada. A chuva do lado de fora era só trilha sonora para a intimidade tranquila dos dois. E naquela noite, mesmo com trovões e piadas, tudo parecia estar no lugar certo — inclusive o coração de Cauê.
***
Setembro havia chegado com um brilho diferente naquele ano. Para Jonas, não era apenas mais um mês — era o mês em que ele voltava a comemorar o próprio aniversário com alegria no peito. No ano anterior, não houvera festa, sorrisos nem abraços calorosos. A dor de uma perda ainda recente havia silenciado qualquer desejo de celebração. Mas o tempo, com suas voltas misteriosas, trouxe encontros e transformações. Conhecer Cauê foi um divisor de águas. Amar e ser amado, assumir responsabilidades no boi Caprichoso e reencontrar sua essência fizeram renascer nele a vontade de festejar — e em grande estilo.
Decidido a tornar aquela data inesquecível, Jonas não economizou nos detalhes. Fechou o balneário Cantagalo, um dos lugares mais bonitos de Parintins, cercado por águas tranquilas do Rio Amazonas e árvores que dançavam ao vento. Montou uma estrutura digna de festival: bandas regionais, cerveja gelada, um palco improvisado à beira da areia e, claro, o tradicional churrasco comandado por ninguém menos que Otaviano, seu pai — mestre da grelha e anfitrião nato.
Como cereja do bolo, Jonas organizou uma apresentação especial do Caprichoso. Alguns dos itens oficiais aceitaram o convite: Kelly, a sinhazinha graciosa, e Luciano, o novo pajé, que assumira o lugar deixado por Rafael com coragem e talento. Seria uma performance para emocionar até os rivais do lado vermelho.
E falando em rivalidade, Jonas fez questão de deixar isso de lado. A festa era dele, mas o convite era para todos os que marcavam sua vida — fossem Garantido ou Caprichoso. Entre os convidados, claro, estava a família de Cauê. Milena, Eron, César e o fiel mascote Repolho saíram cedo de casa em direção ao balneário. Cauê, por sua vez, se atrasou um pouco, pois parara na gráfica para pegar um presente especial. Não era algo comum, mas uma daquelas surpresas engraçadas que prometiam boas gargalhadas entre os amigos.
Enquanto isso, Jonas parecia mais um produtor de evento do que o aniversariante. Conferiu a lista de bebidas, testou o som da banda, verificou os espetos girando no calor da brasa e deu instruções rápidas aos garçons improvisados. Tudo precisava estar perfeito. Ou quase tudo — afinal, seu namorado ainda não havia chegado, e isso deixava uma pontinha de ansiedade em seu coração.
De longe, avistou a família de Cauê se aproximando. Correu ao encontro deles, o sorriso largo já antecipando os abraços que viriam.
— Feliz aniversário, Jonas! — Desejou Milena, com um brilho nos olhos, entregando-lhe uma caixa cuidadosamente embrulhada. Jonas a recebeu com carinho e a envolveu num abraço caloroso.
— Obrigado! — Agradeceu.
— O Cauê está vindo, viu? — Ela completou, adivinhando a pergunta que já estava nos olhos dele.
— Que lugar lindo! — Comentou Eron, tirando os óculos escuros para admirar a paisagem ao redor.
— Sim, eu amo o Balneário. — Respondeu Jonas, apertando a mão do sogro e de César, e se agachando para brincar com Repolho, que cheirava tudo com a curiosidade de sempre.
— Pessoal, fiquem à vontade. Podem se sentar nessa mesa aqui. — Indicou uma mesa bem próxima da do seu pai. — Inclusive, sogrinha, se possível... eu queria uma palhinha sua mais tarde.
— Tudo para o meu genro. — Afirmou Milena, rindo e colocando a bolsa sobre a mesa. — Algum pedido especial?
Jonas respondeu com um sorriso maroto, daqueles que antecipam travessuras ou surpresas:
— Sim. — disse apenas, deixando no ar a promessa de que aquela festa ainda teria muitos momentos especiais pela frente.
O local ainda estava sendo preparado quando os primeiros convidados começaram a chegar. Aos poucos, a festa ganhava cor, vida e energia. O som contagiante de um pé de serra invadiu o ambiente quando a primeira banda subiu ao palco. Era impossível não se deixar levar pelo ritmo dançante — a festa estava apenas começando, mas já prometia momentos inesquecíveis.
Em um camarim improvisado, Kelly finalizava sua maquiagem com precisão enquanto Luciano vestia com cuidado parte de sua indumentária de Pajé. Em silêncio, ele parecia concentrado, mas havia um brilho nos olhos, um entusiasmo contido. Por conta de conflitos de agenda, o tripa oficial do boi não pôde comparecer. Coube, então, a Vlavlau a missão de manipular a estrutura do Caprichoso e dar vida ao boi naquela apresentação especial.
— Obrigado por topar essa apresentação, Vlavlau. — Falou Jonas, ajudando o amigo a vestir um colete especial com mecanismos internos.
— Tu é meu amigo. Não precisa pedir duas vezes. — Respondeu Vlavlau, com um sorriso largo. — Só lamento não poder mostrar esse rostinho lindo. As gatinhas vão perder.
— Querem parar com o sentimentalismo? — Pediu Kelly, com um meio sorriso, sem desviar do espelho.
— A gente também te ama, Kelly. — Brincou Jonas, abraçando-a com carinho.
— O Sérgio que vai cantar? — Perguntou Luciano, ajustando um bracelete decorativo.
— Sim.
Era impossível para Jonas não se lembrar de Rafael ao ver Luciano se preparando. Rafael tinha sido um dos pajés mais respeitados a pisar na Arena do Bumbódromo. Invicto em suas disputas contra o Garantido, ele carregava uma aura mágica. Mas tudo mudou com o acidente. A dor ainda era presente, mas agora, ali, com Cauê em sua vida e tantas pessoas queridas por perto, Jonas escolhia olhar para frente.
Estava absorto em pensamentos quando mãos cobriram seus olhos. O perfume denunciava quem era, mas a risada dos amigos aguçou sua curiosidade.
— O que tá acontecendo? — Perguntou, sorrindo.
— Jonas do céu! — Pritou Kelly, gargalhando.
— Você sabe que eu te amo, não é? — Perguntou Cauê, com a voz carregada de uma diversão mal disfarçada.
— Eu também te amo, curumim... mas o que tá aprontando?
— Primeiro, promete que vai usar o presente que eu trouxe. Comprei com carinho e amor, viu?
— Tu tá me matando de curiosidade. Mostra logo.
Quando se virou, Jonas caiu na risada. Cauê vestia uma camisa com dezenas de rostos do namorado espalhados pelo tecido — uma declaração ousada, irreverente e apaixonada. Eram imagens de Jonas em várias idades, inclusive, da época em que descoloriu os cabelos. Mas o presente verdadeiro ainda estava por vir. De dentro de uma sacola, Cauê tirou outra camisa — agora com várias fotos dele estampado.
— Vai usar? — Desafiou com uma expressão zombeteira.
— Tu duvida de mim? — Jonas tirou a camiseta branca e vestiu a peça com orgulho.
— Eu vou me mijar. — Vlavlau teve uma crise de riso.
— Preciso registrar isso. — Kelly largou tudo para fotografar o casal.
— É muita presepada. — Comentou Rafael, rindo tanto que precisou refazer o delineado.
Saindo do camarim, Jonas e Cauê viraram a sensação da festa. Eron e Milena riam, incrédulos, enquanto Otaviano tirava uma selfie com os rostos de Jonas na camiseta para postar no grupo da família.
— Olha só... apaixonado mesmo, hein. — Comentou uma voz feminina.
Era Dorotheia, a mãe de Jonas. Surgira sem aviso, como costumava fazer. Chegava com seu perfume forte, os cabelos negros presos numa longa trança e a maquiagem carregada. Abraçou o filho com emoção e, mesmo sem mais se envolver com o Boi, lamentou a derrota recente do Caprichoso.
— Esse deve ser o famoso Cauê. — Disse, analisando o rapaz da cabeça aos pés. Cauê ficou visivelmente envergonhado, mas foi pego de surpresa por um abraço apertado. — Obrigada por tudo o que tem feito pelo meu menino.
— Obrigado, dona Dorotheia. — Respondeu ele, querendo enfiar a cabeça na areia por causa da camiseta. — Esses são meus pais, Eron e Milena.
A partir dali, Dorotheia e Otaviano começaram um daqueles embates antigos, cheios de faíscas e provocações. Os dois já haviam sido um casal, mas o amor mudara de forma. O que restava era o laço pelos quatorze filhos e a convivência inevitável.
O céu começou a se tingir de laranja e púrpura quando o show começou. Sérgio Queiroz, o levantador de toadas, subiu ao palco e sua voz poderosa preencheu o espaço. Acompanhado por Kelly, deslumbrante como sinhazinha; Luciano, incorporando com vigor o espírito do pajé; e Vlavlau, invisível sob a estrutura do boi, mas brilhante em sua execução, o Caprichoso fez sua mágica acontecer.
Ninguém sabia que era Vlavlau quem animava o boi, mas o encanto estava ali. A energia contagiava, o som das toadas embalava corações e memórias.
— Até que a Kelly é bonita. — Comentou Juan, de braços cruzados. — Mas o Garantido é melhor.
— Cala boca, bestão. Tamo bebendo de graça. — Respondeu Maurinho, dando um tapinha na cabeça do amigo.
— Jonas, adorei o presente. Por favor, diz onde o Cauê fez... quero passar longe. — Brincou Alexandra, já meio alta.
— Ano que vem faço uma pra você. — Ameaçou Cauê, rindo e abraçado a Jonas.
— O que não faz um homem apaixonado... — Murmurou Juan, de olhos fixos em Kelly.
— Xii... acho que vamos ter outro casal contrário aí. — Provocou Cauê, com humor.
Quando a apresentação terminou, Jonas subiu ao palco, ainda usando a camisa com o rosto do namorado. Pegou o microfone com firmeza e falou com o coração.
— Sabe... depois do acidente e da morte do Rafael, eu quase desisti de tudo. Mas com a ajuda dos verdadeiros amigos e da minha família, eu consegui me reerguer. Hoje, estou amando de novo — mesmo que seja alguém do Garantido. — Olhou para Cauê e sorriu. — Te amo, Cauê. Tanto que tô usando essa camiseta ridícula.
O público caiu na risada. Jonas sorriu com ternura.
— Obrigado a todos os convidados... Agora, quero convidar minha sogra — Milena — para uma apresentação especial.
Milena subiu ao palco com um vestido branco esvoaçante. A música “O amor está no ar”, de Chico Mendes, começou a tocar. Ela cantou devagar, como se cada verso fosse uma carícia, uma lembrança, uma promessa. O pôr do sol tocava as águas do Amazonas com tons dourados. Era como se o universo também tivesse sido convidado para aquele momento.
Jonas desceu do palco e tomou as mãos de Cauê. Dançaram coladinhos, sorrindo, enquanto outros casais faziam o mesmo. Até Dorotheia e Otaviano se renderam à dança. Eron convidou Rosa, e César registrava tudo em vídeos com Repolho correndo pela areia.
Era o dia perfeito. Jonas observou à sua volta — Kelly dançava com Luciano, Alexandra ria das poses de Vlavlau, que claramente queria impressioná-la. O mundo fazia sentido ali.
— Já falei que eu te amo? — Perguntou Jonas, os olhos fixos nos de Cauê.
— Já... mas eu nunca me canso de ouvir.
— Te amo, garoto vermelho. — Brincou Jonas, antes de beijá-lo.
— Te amo, garoto azul. — Respondeu Cauê, retribuindo com a mesma paixão.
E o Caprichoso e o Garantido, por um instante, dançaram juntos sob o mesmo céu.