— A gente vai reutilizar o material que usamos pra fazer a barraca do Edward.
— Podemos ficar lá se preferir — falei.
— Não, lá não. Vamos escolher um lugar bacana. E.. e...
— Jack? Jack?
Ele parecia apreensivo, enquanto olhava por cima do meu ombro direito. Olhei para trás e não havia nada além de alguns arbustos, pedras e areia.
— Jack, o que foi?
— Nada. Não foi nada. Pensei ter visto alguma coisa. Então, vamos pegar o material.
/ Jack de LOST /
Desmanchamos a antiga barraca do Edward Marsl e, há uns 50 metros dali, começamos a construir a nossa cabana.
— Tudo bem, Donnie? Estou te achando meio quieto hoje.
— Eu estou bem, Jack — Sorri.
— Então, a gente ainda não terminou aquela conversa daquele dia. Você não me contou da sua viagem para Los Angeles — Jack investiu.
— Adivinha. O que um jovem iria fazer em Los Angeles?
Jack pensou por um minuto, então, ergueu as sobrancelhas.
— Um filme?
Eu sorri.
— Então você é ator? Nossa, que bacana.
— Eu participei de alguns filmes independentes. Nada muito... espetacular — eu dei uma risadinha. — Mas foi bom, bom mesmo. Foi então que um produtor se interessou pelo meu trabalho e me indicou para um teste de elenco. Só que tinha um pequeno problema.
— Los Angeles.
— Isso mesmo. Um teste em Los Angeles. Os meus pais não aceitaram muito bem — Especialmente o meu pai. — Eu sempre gostei de Sydney, mas, bom.... era Hollywood. Eu não podia perder uma oportunidade dessas e agora, bom, agora eu estou aqui.
Um véu de melancolia caiu sobre mim. Jack tentou afastá-lo, pôs a mão no meu ombro e falou:
— Você está bem e vivo. É isso o que importa. E você não está sozinho.
— Eu sei, Jack. Ora, você está aqui comigo.
— É isso aí.
Então, terminamos a nossa barraca. E desejei que a noite logo chegasse, para eu dormir junto com o Jack. E, enfim, deu a hora.
— A nossa água está quase no fim. A gente tem que encontrar uma fonte viável. Deve ter algum rio por aí.
— Mas não é perigoso entrar na mata? — indaguei.
— Sim, mas precisamos de água. Está um pouco quente hoje, não? Vai se importar se eu dormir sem camisa?
— Por que me importaria, Jack?
Jack ficou meio sem jeito, sem saber o que dizer. Sorriu e, em seguida, tirou a camisa branca. Se deitou ao meu lado.
— Isso é chinês? — Eu quis saber a respeito de uma tatuagem acima do braço esquerdo de Jack.
— Sim. Eu a fiz quando passei um tempo em Phuket, na Tailândia.
Cinco caracteres de cor preta.
— O que significa?
Jack riu.
— O que foi? — indaguei.
— Nada. É que hoje a Kate também quis saber. Ela disse que não elas não combinam comigo.
— Claro que não. Fica bacana em você.
— Obrigado.
— Mas, então, você contou a história dela pra Kate?
— Não, eu não contei a ela.
Jack ficou quieto.
— Então, vai me contar ou não? — insisti. — Também não vai me contar. Hahaha. Se arrependeu de ter feito, ou, não gostou de morar em Phuket?
— Gostei. Foi muito bom. Eu morava perto do mar, acredita? — Jack riu.
— Ah, então aqui está sendo umas férias pra você. Hehehe.
Jack me encarou por um momento.
— O que foi? — indaguei.
— A pessoa que me tatuou. Você me lembra ela. Desde que eu cheguei aqui, eu sinto isso. Essa... conexão com você.
Engoli em seco. A forma como ele falou da pessoa insinuava algum tipo de sentimento, uma apreciação talvez.
— Por acaso, era uma mulher? — perguntei.
— Sim — O olhar dele ficou triste.
— E foi bom? Digo, você teve uma boa conexão com ela?
— Sim. Foi muito bom. Mas não acabou muito bem.
Jack suspirou e virou para o outro lado.
— Então, você acha que a gente não vai acabar bem?
— O quê?
— Você acha que a gente não vai acabar bem, como a sua... Namorada?
Jack se virou de novo, rindo.
— Não, claro que não — disse. — A gente não tem nada a ver com ela. Foi mal, eu não deveria ter comparado vocês.
Fiquei quieto um momento, então, me virei de costas para ele.
— Donnie, eu…
— Vamos dormir, Jack. Boa noite.
Senti o Jack me olhar um minuto inteiro antes de ouvi-lo, cuidadoso com as palavras:
— Boa noite, Donnie.
Engoli em seco e tentei dormir.
" — Donnie, não vá. Como eu vou conseguir ficar aqui sem você?
— Você não percebe que um dos motivos para eu querer ir é justamente para ficar longe de você. Pra ficar longe de tudo isso.
— Já conversamos tanto. E estamos há tanto tempo fazendo isso.
— Mas até quando?
— E você não gosta? Você se parece tanto com a sua mãe — Ele pôs a mão em meu rosto. — Não vá eu preciso de você, Donnie. Eu preciso de você.
— Eu preciso respirar um pouco, pai. Eu preciso ir. Pai, me solta!"
E então, acordei com o Jack me tocando.
— Você está bem? — disse. — Você estava inquieto. Teve um pesadelo?
— Não. Quero dizer, sim. Só foi um sonho. Eu estou bem, Jack.
— Está com frio?
— Um pouquinho — respondi.
Então, ele me abraçou por trás. De conchinha com o Jack, eu logo voltei a dormir. E quando acordei novamente, ele ainda estava lá. Jack. Ele me apertou forte e foi quando senti algo em minha bunda, o pau duro dele. Eu sorri.
Depois do café da manhã, eu não o vi mais. À tarde, procurei por ele.
Nada. Bom, só tinha uma pessoa que poderia saber dele.
— Kate, viu o Jack?
— Vi, mas faz algum tempo. A gente estava conversando e de repente ele entrou na mata.
— Mas ele estava bem? Ele disse alguma coisa?
— Ele parecia meio estranho, só disse que precisava procurar algo. Então, sumiu na floresta.
— Será que ele foi procurar água?
— Com certeza não.
E foram as únicas notícias que tive dele. E, no fim da tarde, eu já estava muito preocupado com ele.
Em frente à nossa barraca fiz uma fogueira e assei dois peixes que um coreano, chamado Jin, me ajudou a pescar. E tive esperança que o Jack viesse jantar comigo. No entanto, eu já tinha comido o meu peixe quando ele finalmente apareceu.
— Jack, por onde você andou? Eu fiquei preocupado. Jack? Você está bem? — indaguei, segurando o rosto dele.
Ele estava com as roupas molhadas, e parecia perturbado.
— Sim, estou bem.
— Jack?
Ele deu alguns passos e sentou perto da fogueira. Eu me juntei a ele.
— Jack, por favor, me diga o que aconteceu. O que foi procurar na floresta? E não parece que foi água.
Por um minuto ele respirou fundo, então disse:
— Eu estava vendo o — engoliu em seco e completou: — Eu estava vendo o meu pai.
— Como assim?
Então, ele me contou sobre o pai dele.
— Eu fui para Sidney para encontrá-lo. E, sabe, eu o encontrei. Só que o encontrei... morto.
— Jack, eu sinto muito. Como era o nome dele?
— Christian. Ele bebia demais e nós já não estávamos nos dando bem. Mesmo assim eu fui buscá-lo para levá-lo para casa.
Primeiro Jack procurou no hotel onde o pai estava hospedado. Desaparecido há alguns dias, o hotel não soube informar onde Christian poderia estar. Jack já o tinha procurado em hospitais, então, numa delegacia informaram-lhe sobre um corpo encontrado num beco, um homem com as características físicas do Christian.
Numa sala fria, Jack teve que reconhecer um corpo. Realmente era Christian Shephard.
— Eu tive que implorar para conseguir embarcar com o caixão dele — Jack continuou. — Foi tudo de última hora e... Eu não podia perder aquele vôo. Eu tinha que embarcar porque eu tinha que acabar logo com aquilo. Eu só queria que aquilo acabasse.
Houve uma ligeira pausa.
— Mas como assim você estava vendo o seu pai? — perguntei.
— Eu não sei. Talvez tenha sido por causa da desidratação. Como tivemos que racionar a água, eu devo ter ficado desidratado e imaginado coisas. Mas não temos que nos preocupar mais com isso porque eu encontrei uma fonte.
— Sério? Jack, isso é ótimo!
— É. É sim — Ele sorriu.
Como era bom vê-lo sorrir, porém, não durou muito.
— E eu o encontrei mais coisa, Donnie.
— Que coisa?
— O caixão. Eu encontrei o caixão do meu pai, mas ele estava vazio. Eu não sei o que aconteceu e... Eu o perdi, Donnie. Eu perdi o meu pai outra vez — Foi então que Jack caiu em lágrimas.
E mais uma vez eu estava lá consolando-o. E, depois de um tempo, ele secou as lágrimas e me encarou.
— Donnie — Jack tocou em meu rosto. — Eu... Eu queria...
Então, me beijou.
— Me desculpe, Donnie. Eu...
— Jack, não. Está tudo bem — Eu sorri e acariciei o rosto dele, sentindo a barba rala em minha mão.
E logo, Jack me beijou novamente.
Naquela noite dormimos abraçadinhos. Senti o coração de Jack Shephard pulsando em minha face direita, como também, na minha minha coxa, o pau duro dele.