Sempre fui ousada, e desde muito nova, uma verdadeira pentelha em relação a sexo. Me dividia entre dois amantes, às vezes manhã, tarde e noite, com meu noivo em algum intervalo, digamos por ali, só na hora do café. Trabalhei em fábrica de costura, escritório de contabilidade, e até apelei pra garçonete, tudo em função de minha desenvoltura como moça faceira.
Hoje vejo que os anos chegaram, e até uma escapadinha de pulada de cerca é sempre mais difícil agora. Olho para minha filha Clara, e percebo os cochichos que ela recebe. Os olhares atravessados à ela, e com o seu desdém, me vem à mente aquelas épocas. Eu sei que os pensamentos dos homens são, em sua maioria, “Tal mãe, tal filha”, e isso me deixa louca, digamos, por eles.
Mas o tempo mostrou que Clara não é como eu, assim, na maneira vulgar de ser. Não raro, sempre dou um jeito de arrastar algum paquera dela para um motel. Não sou de muito rodeio, mas chego logo dizendo: “Eu sei que tu tá querendo ver algo de mais ali. E saiba que fui eu que fiz”. E com o jogo duro de Clara, eu acabo fazendo às vezes de puta despudorada.
Até hoje, nunca fiz questão de escolher os meus casinhos, mas agora com minha filha moça, estou nessa onda de me interessar pelos admiradores dela. Daí, foi um tempo assim, Clara atraindo os interesses, e eu aproveitando as sobras, até veio uma invertida pro meu lado.
Foi naquela tarde de sábado que tudo recomeçou. A casa cheirava a café, e o som dos chinelos no piso frio denunciava que alguém havia acordado tarde. Clara, enrolada apenas num lençol, desceu para a cozinha como quem desce de um palco, ainda com o corpo aquecido de outra noite. Eu estava à mesa com um velho conhecido meu, vestida como sempre — sensual, porém discreta —, tomando café com um homem que Clara conhecia muito bem.
Eduardo: quarenta e poucos anos, advogado, corpo bem mantido, barba cerrada. Ele tinha estado ali na noite anterior, sabidamente para me comer enquanto meu marido (pai de Clara estava viajando). Mas quando Clara passou pelo corredor vestindo apenas uma camiseta que mal cobria a cintura, os olhos dele hesitaram. E Clara percebeu, como sempre percebia.
Ela aprendeu, desde cedo, que desejo tem cheiro, tom de voz, humidade no olhar. E sabia brincar com isso.
— Dormiu bem, Clara? — perguntou Eduardo, tentando soar casual.
Ela passou por ele devagar, o lençol escorregando quase até o quadril. Nem respondeu, e só sorriu.
Naquela noite, Clara saiu de novo. Vestido curto, salto alto, olhar que cortava. Não se importava se conheciam sua mãe ou se achavam que estavam “batendo na mesma tecla”. Ela não era sombra de ninguém. Ela era fogo novo.
Voltaria tarde, como sempre. Mas naquela noite voltou diferente. Voltou mais cedo, e não sozinha. O rapaz devia ter uns trinta anos. Moreno, camisa entreaberta, sorriso insolente. Entraram rindo baixo. Clara não acendeu as luzes. Guiou-o pelos degraus até o quarto, beijando-lhe o pescoço, arranhando-lhe a nuca.
Mas ao passar pela sala, me viu no sofá, sozinha, taça de vinho na mão, apenas observando. E me perguntou:
— Ué, cadê o Eduardo?
— Saiu lá pelas dez — respondi.
— Ufa! Esse é Danilo, mãe. — e subiram para o quarto.
Aquele “Ufa” me dizia coisas a respeito do “meu Eduardo”.
Na manhã seguinte, tudo parecia se repetir: o café, a cozinha, o som dos chinelos. Mas agora, era Clara quem estava à mesa, de camisola, pernas cruzadas, já servida. E quem descia, de cabelos bagunçados e olhos recém-acordados, era o mesmo rapaz da noite anterior. Com a camisa aberta, tentando lembrar onde estava.
Apareci logo após, silenciosa e observadora.
— Ele não era teu? — perguntou Clara, de forma cruelmente calma.
Apenas sorri.
— E isso importa, filha?
Os dias se passaram, e a história se repetindo — mas em cada volta, Clara empurrava mais os limites. Passou a seduzir os meus colegas de trabalho, indo para a cama com alguns deles, que eu fiquei sabendo. Flertava com maridos de amigas minhas, trocava olhares com entregadores, mecânicos, instrutores da academia. Passei a ficar confusa, em vez de orgulhosa sobre a minha influência. E veio a cereja do bolo:
Voltei do trabalho, e desci a um quarteirão de minha residência. Notei que o carro de Eduardo estava parado lá em frente. Liguei para meu marido, e o mesmo estava em casa. — tava estranho. Olhei de novo para o veículo, e percebi vultos dentro dela, com uma agitação considerável. O ciúme me deu tesão, e subi a saia naquele verão, para delírio dos transeuntes, e corredores da noite. E minha bunda, com o fio-dental enterrado, ainda é uma preciosidade — dizem —, apesar dos meus 43 anos.
Encostei na porta, e Clara estava entre os dois. Eduardo atrás, lhe aconchegava as ancas, e pelo jeito, lhe penetrava pelo ânus. O banco da frente tinha sido afastado até o limite do painel, e o moço da frente era Danilo, que espremia Clara numa DP, que parecia fenomenal.
Ninguém ali se deu conta da minha presença, ou não quiseram se manifestar. Ela tirou o casaco depressa, revelando o calor que devia estar “aquele fenômeno”.
Me chamo Débora Cerqueira, e meu marido é o Luciano, experiente representante comercial. Entrei em casa, logo após aquele flagrante, ainda suando frio, e Luciano estava com uma cueca boxe. Me ajoelhei perante ele, como a pedir perdão, e os flashes da cena me avivaram o tesão. Tirei a sua cueca fazendo rolinho, e já me preparava para a chupada, quando comentou:
— Louca! E se Clara, nossa filha, entrar por aquela porta?
Estalei um beijão na glande dele, e respondi:
— Ai, Luciano! Será que isso importa mesmo?