Capítulo 1 – A Tempestade e o Estranho

Um conto erótico de O Escritor
Categoria: Heterossexual
Contém 1480 palavras
Data: 15/06/2025 19:59:59
Assuntos: Heterossexual

A noite desabava sobre a floresta como um manto de ferro. O céu, carregado de nuvens pesadas, rasgava-se em relâmpagos que iluminavam por instantes as copas das árvores, revelando sombras que pareciam dançar ao som dos trovões. A chuva vinha grossa, gelada, encharcando a terra e transformando o solo num lamaçal traiçoeiro.

Ela caminhava com passos pesados, o arco pendendo no ombro e o capuz encharcado colado à cabeça. O cheiro de terra molhada, folhas apodrecidas e madeira úmida misturava-se ao suor da caçada frustrada. Três coelhos tinham escapado de suas armadilhas naquela manhã, e a fome começava a apertar o estômago. Mas a fome já era velha conhecida.

A vida nunca fora fácil. Não para ela.

Respirou fundo, sentindo os pulmões arderem com o ar frio da noite. O vento cortava a pele como navalhas, mas ela já estava acostumada. O peso do próprio corpo, que sempre fora motivo de riso e humilhação no vilarejo, agora era uma espécie de armadura. As coxas grossas sustentavam passos firmes. Os braços fortes puxavam o arco com precisão quando preciso. Cada cicatriz nas mãos era uma memória de sobrevivência.

Ela apertou os dentes, ignorando o cansaço. Havia lenha a recolher antes que a tempestade piorasse. O breu da noite deixava tudo ainda mais difícil, tateando no escuro, tropeçando em galhos enquanto se forçava a ficar focada em chegar em casa. Seu corpo começava a tremer devido ao frio, a chuva aumentava dificultando a visão que já estava bastante preocupada, quando ela tropeçou em algo mole, fazendo a cair no chão.

Foi então que ouviu. Um som. Um gemido. Baixo, abafado… como o de um animal ferido.

Franziu o cenho, tentando se recuperar da queda. Os trovões abafavam tudo, mas o som se repetiu, mais fraco desta vez. Ela começou a tatear o chão para ver no que havia tropeçado, os olhos treinados varrendo o escuro. Foi então que o encontrou, um homem, estava caído de lado, meio enterrado na lama. As roupas — ou o que restava delas — rasgadas, sujas de sangue e terra. O cabelo, longo e desgrenhado, colava-se ao rosto pálido e sujo. O peito subia e descia com dificuldade, como se respirar fosse um esforço monumental.

Por um instante, ela congelou, sacudiu a cabeça, xingando em voz baixa.

— Merda… — murmurou, ajoelhando-se ao lado dele. — Justo agora… justo hoje…

Passou os dedos pelos ombros dele, apertando com força para testar a reação. Nada. Os olhos dele continuaram fechados, a testa franzida de dor. Ela avaliou rapidamente os ferimentos. Um corte profundo na lateral da cabeça, escoriações nos braços e um possível deslocamento na perna esquerda. O mais sensato seria deixá-lo ali. Não era problema dela. Já tinha problemas demais pra resolver. Além do mais… homens desconhecidos geralmente traziam encrenca. E ela sabia bem disso.

Ela começou a seguir em frente, mas havia algo… algo que a fez hesitar. Talvez fosse a lembrança amarga de quando ela própria foi deixada para morrer naquela mesma floresta, anos atrás. O gosto do abandono ainda era vivo na boca.

— Inferno… — resmungou outra vez, lançando um olhar para o céu. — Que os deuses me abençoem por isso. - Mesmo que os deuses a tivesse abandonado a muito tempo.

Com esforço, passou os braços por debaixo dos ombros dele e começou a arrastá-lo pela lama, sentindo os músculos gritarem em protesto. Cada passo era um desafio, mas ela não parou. O abrigo não ficava longe dali, apenas alguns minutos de caminhada… em condições normais. Mas carregando um homem inconsciente no meio de uma tempestade, parecia mau se moviam.

Ao chegar à cabana, jogou a porta com o ombro, derrubando o homem sobre as peles próximas à lareira apagada.

— Não vai morrer agora. — Disse, mais para si mesma do que para ele.

Acendeu o fogo com mãos trêmulas, os dedos frios e úmidos lutando para segurar a pederneira. Quando as chamas finalmente lamberam as lenhas, ela se ajoelhou ao lado dele com uma tigela de água e um pano limpo.

Enquanto limpava o sangue do rosto dele, os olhos dela se demoraram nas feições adormecidas. Mesmo naquele estado deplorável, havia algo quase etéreo na estrutura dos ossos, na pele clara que contrastava com o sangue seco no rosto, na linha delicada dos lábios entreabertos. Os cílios longos estavam pesados de água, e os músculos do corpo, mesmo machucados, eram bem definidos. Um homem feito, mas com um toque de fragilidade que parecia gritar por socorro.

— Quem diabos é você? — perguntou em voz baixa. — E o que aconteceu para você ficar assim?

Ele não respondeu, obviamente.

Suspirando, ela apoiou o queixo sobre o joelho dobrado, observando-o.

— Amanhã de manhã… se estiver vivo… vai me dever respostas.

Por enquanto, ela apenas continuou a limpeza, sem perceber que, mesmo desacordado, o estranho começava a reagir ao toque dela com leves contrações nos músculos… um sinal frágil de vida.

--

Os dias seguintes foram de vigília.

A tempestade passou, mas o frio ficou. A floresta ainda parecia pesada, úmida, como se o próprio solo guardasse a memória da água que caíra com tanta fúria. Dentro da cabana, o cheiro de fumaça, madeira seca e pele humana se misturava ao aroma metálico de sangue velho. Ela mantinha o fogo aceso dia e noite, revezando entre caçadas rápidas e o cuidado com aquele corpo imóvel que agora ocupava o canto mais quente da casa.

Ele não acordava.

Respirava, sim… com dificuldade nas primeiras horas, depois com um pouco mais de regularidade. Mas os olhos… os olhos continuavam fechados. Ela trocava as compressas com frequência, limpando o ferimento na cabeça com água fervida e ervas que conhecia bem demais. Um misto de camomila e raiz de bardana, para evitar infecções. O corte estava profundo, e uma parte dela temia que, mesmo que ele sobrevivesse… talvez jamais acordasse de verdade.

Os pensamentos vinham como assombrações nas horas mais silenciosas. Enquanto cozia um pouco de caldo ralo, ou quando afiava as pontas das flechas, ela se pegava olhando para ele. O formato angular do maxilar… a leve curva dos lábios… os cílios tão absurdamente longos que pareciam traço de alguma deusa maliciosa, zombando dela. Haviam momentos em que ela o observava respirar… apenas isso. O peito dele subindo e descendo com lentidão, como se o próprio corpo lutasse contra algo invisível.

“Ele é bonito demais pra ser real…” pensou certa noite, enquanto costurava um rasgo no manto dele, sem saber ao certo por que se dava ao trabalho.

E com esse pensamento… veio outro, ainda mais incômodo.

Por que estava cuidando dele com tanto afinco?

Sacudiu a cabeça, enfiando a agulha com força demais no tecido.

— Não seja estúpida… — sussurrou para si mesma, bufando.

Mas a verdade era que… fazia tempo que ela não falava com alguém. Tempo demais.

As palavras, quando vinham, eram todas para ele… e só ela as ouvia.

— Você tem sorte de ter me encontrado… — disse uma manhã, enquanto trocava os panos úmidos da testa dele. — Qualquer outro animal dessa floresta teria te devorado. Inclusive… eu mesma pensei em te largar lá… sabia?

Sorriu, amargo.

— Mas olha só… aqui estou eu… alimentando um homem que nem sei quem é… enquanto mal tenho o suficiente pra mim.

Às vezes, ela ficava irritada só de olhar para ele. A beleza dele parecia deslocada ali, no meio daquele espaço pequeno, tosco, feito de madeira velha e pedra bruta. Como se um pedaço de escultura tivesse caído no chão por engano.

Em outros momentos… o sentimento era outro.

Quando, à noite, ele se agitava no sono… gemendo baixo… os músculos do pescoço tensionados como se lutasse contra pesadelos invisíveis… ela se aproximava e, com dedos trêmulos, alisava a testa dele, numa tentativa de acalmar.

— Shhh… está tudo bem… ninguém vai te machucar aqui… — dizia, com uma voz que ela mal reconhecia como sua.

No quarto dia, o cheiro da infecção começou a mudar. Menos ferro… mais pele cicatrizando. A febre, que até então parecia que ia consumi-lo por inteiro, começou a baixar. O suor frio que antes escorria pelas têmporas dele agora era só um brilho discreto na pele. Semanas passaram, e o inverno começou a se aproximar com uma ferocidade implacável. Ela começou a se preparar para o que estava por vir, estocando lenha seca, comida e reforçando o precário abrigo.

Se estivesse sozinha seria mais fácil, mas agora ela tinha alguém completamente dependente dela, então tudo teria que ser dobrado. Ela não tinha tempo a perder. Pela manhã manha saia para caçar e coletar suprimentos. Fazia isso a exaustão, e quando chegava em casa, contava seu dia para sua nova companhia, que embora parecesse estável, ainda seguia inconsciente.

Sua nova e urgente rotina avançava a medida que o inverno se aproximava. Mesmo cansada, estava satisfeita com as provisões que havia coletado. Um estranho sentimento a motivava, ela precisava fazer de tudo para mantê-lo vivo, embora não soubesse de onde vinha, ela estava feliz de não estar sozinha.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive O Escritor a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil de brazzya

💦 🍒 💕 Agora você pode ver tudo, sem roupa, de qualquer uma ➤ Afpo.eu/ekuza

0 0