A tarde chegou arrastada, com um calor que parecia sussurrar pelas paredes da casa, cúmplice dos segredos guardados ali dentro.
Antonio estava sentado à mesa, observando Lucas dobrar cuidadosamente as roupas recém-passadas. O silêncio entre eles não era desconfortável. Era sagrado. Uma liturgia muda de olhares e gestos — como se os dois se entendesse por dentro, sem precisar da boca.
— Vem aqui — disse Antonio, por fim, com voz baixa, mas firme.
Lucas deixou as roupas de lado e se aproximou. Parou de pé, esperando a próxima ordem.
Antonio tirou uma pequena caixa de uma das gavetas. Colocou-a sobre a mesa com calma e abriu a tampa. Dentro, uma coleira de couro preto, simples, mas bem feita, com um pequeno anel metálico na frente.
Lucas prendeu a respiração.
— A partir de hoje, isso é parte de você — disse Antonio, erguendo a coleira com uma reverência discreta. — Quando a usar, saberá quem é. E quando eu olhar pra você usando isso… eu saberei que você não me pertence apenas por escolha. Mas por natureza.
Lucas baixou a cabeça, os olhos começando a arder.
— Vire-se — ordenou.
Ele obedeceu.
Antonio colocou a coleira com calma, ajustando-a na medida certa. Não apertada. Não frouxa. Perfeita. Como se tivesse sido feita para ele.
— Pronto. Agora você parece o que já é por dentro.
Mais tarde, no quarto, Antonio pediu que Lucas tirasse a camiseta. O couro da coleira fazia contraste com a pele quente e limpa do primo, e havia no olhar de Antonio uma mistura de orgulho e desejo contido. Não desejo apenas de carne — mas de domínio.
— Vou te marcar — disse, simples, como quem anuncia o tempo.
Lucas nem perguntou como.
Antonio retirou um anel que costumava usar — um círculo grosso de aço escuro — e aqueceu-o com cuidado com a chama de um isqueiro de cozinha.
— Vai doer. Mas a dor vai passar. A marca, não.
Lucas engoliu seco. Apenas assentiu.
Antonio encostou o metal quente logo abaixo da clavícula, à esquerda. Um segundo. Dois. O cheiro de pele queimada. Um gemido preso na garganta. A lágrima que escorreu sem aviso.
E então a marca. Um círculo pequeno, imperfeito, mas visível. Um símbolo.
Antonio soprou a pele.
— Agora não tem volta, escravo.
Lucas apenas caiu de joelhos, como se o corpo soubesse o que fazer antes da mente, beijando com tesão e prazer os pés de seu dono.
E Antonio sorriu. De novo aquele sorriso calmo, de quem sabe que venceu.
De quem não precisa mais de promessas ou palavras.
Porque agora estava marcado. Com couro. Com pele. Com silêncio.
Naquela noite, após um sexo ardente, Lucas novamente dormiu aos pés da cama. A coleira ainda em seu pescoço. A marca ardendo como um segredo tatuado.
Ele dormiu em paz.
Pertencer nunca pareceu tão certo.