O internato - Capítulo 13

Um conto erótico de Bernardo, Daniel e Theo
Categoria: Gay
Contém 2425 palavras
Data: 11/06/2025 19:52:20
Assuntos: Gay, Amor

Capítulo 13 – Hospital

Théo

— Nanda! — corri até ela, que estava na sala de casa assistindo televisão ao lado do namorado, Guilherme. — Tava morrendo de saudade, bah! — disse, abraçando-a.

Minha irmã mais velha retribuiu o abraço com afeto.

— Também tava morrendo de saudade de você, peste! — ela desfez meu cabelo loiro com mechas azuis, rindo.

Cumprimentei o namorado dela com um aperto de mão e me sentei ao lado de minha irmã. Ficamos ali, matando a saudade e conversando sobre coisas banais, quando meu celular tocou. Vi que era o Bernardo. Confesso que não estava com muita vontade de atender e por isso rejeitei a ligação, mas ele logo retornou. Ignorei mais uma vez, porém ele insistiu.

— Atende logo esse telefone, tchê — Fernanda falou. — Fica esse troço tocando o tempo inteiro, bah.

Levantei-me e fui até a sacada para atender Bernardo.

— Alô?

— Eu tirei o capacete... — ele chorava desesperado — Era ele! Eu sabia que era ele! Ele não acorda!

— Se acalma, Bernardo! — disse, sentindo um aperto no peito — O que tá acontecendo?

“Me passa o telefone, Bernardo.” Ouvi uma voz firme ao fundo.

— Aqui é Miguel Andrade, pai do Bernardo — disse o dono da voz que escutei antes. — É irmão do Daniel Vilella?

— Sim — respondi, sentindo o aperto no peito apertar mais conforme as palavras confusas de Bernardo vinham à minha mente. — Ele está bem?

Miguel pareceu respirar fundo antes de continuar.

— Seu irmão sofreu um acidente de moto — disse com voz dura.

Aquilo veio como um soco no estômago. “Ele não está acordando”, Bernardo havia me dito. Será que meu irmão estava... Não gostava nem de pensar nisso. Era doloroso demais.

— O que aconteceu? — perguntei, fungando e tentando controlar a vontade de chorar.

— Ele ultrapassou um sinal vermelho e eu acabei atropelando ele com meu carro — contou.

Eu sabia que ele não devia ter ido. Sabia que ele deveria ter desistido do Bernardo. Aquilo só traria mais dor e sofrimento. Ele devia ter me escutado. Todos deviam ter me escutado, em vez de incentivar isso. Eu devia ter sido firme nos meus pensamentos, em vez de deixar o Nick me manipular com os dele. Deveria ter continuado contra aquilo e não ter incentivado quando ele disse que iria encontrar o Bernardo. Não devia tê-lo deixado sair naquela manhã. E se aquela fosse a última vez que meu irmão falou comigo? E se agora o Daniel estivesse morto, estirado no chão de qualquer rua? E se eu tivesse perdido meu irmão e melhor amigo para sempre?

— Onde ele está? — perguntei.

— A ambulância acabou de levar ele para o hospital da PUC — respondeu — Estamos indo pra lá também.

— Obrigado — disse, desligando o telefone.

Voltei para a sala, onde minha irmã se levantou do sofá, assustada ao perceber minha expressão preocupada.

— O que foi, Théo? — ela perguntou, vindo até mim.

Olhei para Guilherme, que pareceu entender que devia se levantar e ficar do lado da minha irmã.

— É o Daniel — falei, tentando soar o mais calmo possível, embora fosse difícil — Ele sofreu um acidente de moto e está indo para o hospital.

— Meu Deus! — Fernanda cobriu o rosto com as mãos, e Guilherme a abraçou para confortá-la. — E como ele está?

— Eu não sei — respondi, sem querer contar exatamente o que Bernardo me disse para não assustá-la ainda mais — Mas parece que ele atravessou um sinal vermelho e foi atingido por um carro. Quem ligou foi o cara que o atropelou.

— Pra qual hospital ele foi? — Guilherme perguntou, tentando controlar a preocupação na voz.

— Hospital São Lucas da PUC — respondi.

— Temos que avisar a minha mãe — Fernanda disse, começando a chorar. — Pra onde ela foi?

— Ela disse que ia comprar uma roupa pra ir a um casamento — respondi — Ligamos pra ela no caminho.

— Eu levo vocês — Guilherme ofereceu.

Fernanda pegou a bolsa e fomos para o hospital no carro de Guilherme. No caminho, minha irmã ligou para a nossa mãe, que praticamente surtou do outro lado da linha e disse que nos encontraria lá. Ela também ligou para o nosso pai, que também estava a caminho.

— Acho que não foi uma boa ideia ter ligado pro pai — falei, fitando a estrada.

— Sei que você não gosta dele, mas ele tem o direito de saber o que aconteceu com o Daniel — Fernanda falou séria.

— Não é por isso — respirei fundo antes de contar — Quem atropelou o Daniel foi o pai do namorado dele...

— Daniel também é gay! — Fernanda gritou dentro do carro.

Assenti.

— O namorado dele está lá no hospital, e quando o pai souber vai dar ruim — falei.

— Puta que pariu — xingou Fernanda, que quase nunca usava esses termos — Ele ao menos é discreto?

— Não — respondi enfaticamente — Ele dá pinta o tempo todo.

— Então finge que ele é seu namorado ou que vai ser — Guilherme sugeriu.

Não era uma má ideia, o problema era fazer aquela bixa largar o histerismo que tinha ao telefone comigo. Seria difícil demais mantê-lo sob controle.

— Pode dar certo, se ele conseguir se controlar — falei, mesmo que outra ideia já tivesse me surgido

Bernardo

– Estou procurando Daniel Vilella – disse na recepção da emergência do hospital. – Ele foi trazido de ambulância para cá.

– O senhor é o quê dele? – a recepcionista loira, com um coque impecável e blazer preto, perguntou com a voz monótona.

– Namorado – falei sem pensar duas vezes.

Ela levantou os olhos do computador e me olhou de soslaio. Em seguida, pediu minha identidade e a do meu pai. Disse que Daniel fora levado para a sala de trauma e nos indicou o caminho.

Cheguei lá e encontrei o garoto que eu amava acordado, deitado na cama do hospital, tomando soro enquanto um enfermeiro limpava um ferimento em suas costelas. Senti como se uma tonelada e meia tivesse sido retirada do meu peito. Comecei a chorar.

– Daniel! – corri até ele para abraçá-lo, mas fui impedido pelo enfermeiro.

– Aguarde só um instante, por favor – disse ele, estendendo a mão para me conter. – Deixe-me terminar esse curativo.

– Como soube que eu estava aqui? – Daniel perguntou, sorrindo.

– Foi meu pai quem te atropelou – respondi, lutando contra a vontade de empurrar o enfermeiro e beijar aquele garoto. – Como você está?

– Com dor de cabeça – respondeu. – Mas acho que não foi nada demais.

– Só vamos saber com o resultado da tomografia – o enfermeiro se intrometeu. – Mas, aparentemente, está tudo bem. Nenhuma fratura. Apenas escoriações nas costelas. Eu diria que você teve muita sorte.

– Acho que sim – ele respondeu, ainda sorrindo. – Tirando o susto de acordar numa ambulância.

– Imagino – murmurei. – Você se lembra do acidente?

– Só me lembro de sair da garagem de casa com a moto e... depois, já estava na ambulância – respondeu, fazendo cara de dor quando o enfermeiro esfregou a gaze sobre o machucado.

– Me desculpe – disse o enfermeiro. – Mas já terminei. Agora pode se aproximar.

Fui até Daniel. Ele parecia frágil com aquele curativo e o soro no braço, mas vê-lo assim, vivo, era mil vezes melhor do que inconsciente na rua. Achei que ele pudesse estar morto, mas agora tudo parecia estar no passado.

– Achei que iria te perder – disse, me sentando na beira da cama.

Daniel sorriu e passou a mão pelo meu cabelo castanho, afastando-o dos meus olhos.

– Acha mesmo que, depois de tudo o que a gente passou para ficar junto, eu iria embora assim? – ele disse com aquela voz de veludo que fazia meu coração disparar e os pelos do corpo se arrepiarem. – Não seria justo.

– Nem um pouco – respondi, me aproximando perigosamente, enquanto ele fazia o mesmo. Mas nosso beijo foi interrompido por um pigarro.

– Estarei ali fora, caso precise de mim – disse meu pai, completamente sem jeito.

– Tudo bem, pai – respondi, vendo-o sair prontamente.

– Aquele é o seu pai? – Daniel perguntou, só então parecendo notá-lo. – Ele sabe que você é gay?

– Sabe – respondi, corando.

– E ele não se importa?

– Não – sorri. – Agora cala a boca e me beija.

Puxei Daniel para mim, roubando-lhe um beijo carinhoso e feroz ao mesmo tempo. Seus lábios, ávidos pelos meus, exploravam cada centímetro da minha boca enquanto nossas línguas se encontravam e dançavam em perfeita harmonia. Senti felicidade, carinho, desejo e paixão inflamarem nossos corpos e se misturarem no beijo. Mas havia algo mais. Algo novo. Daniel me beijava intensamente, sem medo. Sem se importar com quem nos visse. E isso tornava tudo ainda mais especial.

Seus dedos se enterraram nos meus cabelos, agarrando-os com força, me fazendo suspirar apaixonado. Minhas mãos deslizavam por suas costas nuas e, à medida que sentia seu corpo quente, meu pau pressionava a bermuda, endurecendo com o desejo crescente.

Como eu pude me negar a isso? Como pude me negar a esse homem que me fazia tão bem? Como resisti a esse tesão avassalador que incendiava meu corpo e consumia minha alma? Como me neguei a essa paixão?

Antes, eu tinha um milhão de razões. Agora, nos braços dele, não conseguia pensar em nenhuma.

Tudo o que eu conseguia pensar era o quanto me privei dessa sensação maravilhosa de ser desejado, de ser amado por quem se ama.

– Daniel?! – uma voz feminina nos tirou do transe.

Viramo-nos e vimos uma mulher loira, de olhos azuis intensos e assustadoramente familiares, nos olhando estupefata. Olhei para Daniel, que compartilhava do mesmo olhar aterrorizado. Entendi na hora.

Aquela era a mãe dele.

– Eu posso explicar... – Daniel balbuciou.

– Você, não – ela disse, com os olhos marejados, e saiu correndo, sumindo de vista.

– Mãe! – Daniel a chamou, tentando se levantar, mas pressionei sua mão contra o peito, obrigando-o a ficar na cama.

– Você não pode levantar, Daniel – disse, tentando acalmá-lo.

– Eu preciso ir atrás dela – ele insistiu, tentando se desvencilhar. Em circunstâncias normais, ele teria conseguido, mas seu corpo dolorido mal lhe obedecia.

– Calma, Daniel – falei, ainda segurando-o. – Ela vai aceitar... só está em choque.

Mas então me lembrei das histórias sobre aquela mulher. De como ela se calava enquanto o marido espancava o filho. De como tratava Théo de forma diferente dos outros. Aquela mulher estava longe de ser a mãe do ano.

Também me lembrei da minha. E de como me enganei, achando que ela me aceitaria bem. O tapa no rosto, as palavras cheias de espinhos... tudo ainda gravado em minha memória como pinturas rupestres que o tempo não apaga.

– Você vai precisar ser forte – sussurrei. – E eu estou com você. Aconteça o que acontecer.

Théo

Chegamos ao hospital e pegamos nossa identificação com a recepcionista, que nos informou que meu irmão estava em uma das salas. Foi então que a vimos passar correndo e chorando. Meu coração subiu até a garganta, pois a imagem de Daniel deitado em um caixão de mogno tomou conta da minha mente. Eu tinha certeza absoluta de que ele estava morto.

Olhei para Fernanda, que começou a chorar e se afundou no peito de Guilherme, que a envolveu em seus braços. Ele acariciava seus cabelos loiros e ondulados enquanto sussurrava ao seu ouvido:

— Vai ficar tudo bem.

Senti as lágrimas escaparem dos meus olhos e correrem pelo meu rosto a cada passo que eu dava em direção à minha mãe, que estava na rua, chorando. Meu coração se despedaçava pouco a pouco, e eu podia sentir cada pedaço se soltando e caindo dentro de mim. Era tudo culpa dele. Culpa do Bernardo! Se ele nunca tivesse conhecido meu irmão, ele ainda estaria vivo e feliz, como antes. Se não o tivesse conhecido, eu ainda teria o meu irmão.

— Mãe? — murmurei, me aproximando.

Ela se virou e me surpreendeu com um tapa forte no rosto.

— Você é o culpado! — acusou-me, e de certo modo, ela tinha razão. Fui eu quem os apresentou. — Você o transformou nisso! O influenciou a ser como você!

Outro tapa, agora no lado direito do rosto. Não a impedi, nem tentei me esquivar. Sentia que merecia.

— Pare, mãe! — Fernanda veio em meu auxílio. — Pelo amor de Deus, pare! — ela chorava convulsivamente.

— Ele precisa ser punido pelo que fez! — disse com raiva. — Precisa ser punido por tê-lo influenciado!

— O Théo não tem culpa de nada! — Fernanda rebateu. — Ele não fez nada!

— Então entra lá e vê com os próprios olhos: teu irmão se agarrando com um viadinho. Depois vem me dizer que esse aqui não influenciou em nada! — minha mãe disparou.

— O Daniel está vivo? — perguntei, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

— Mais vivo... e, pelo que vi, melhor do que eu — ela disse, contrariada.

Corri de volta para dentro do hospital, seguido por Fernanda e Guilherme. Eu precisava ver com meus próprios olhos. Precisava ter certeza. Meu irmão bem. Vivo. Era tudo o que eu queria naquele momento. E, graças a Deus, era verdade.

O encontrei sem camisa, com um curativo na costela. Seu rosto parecia triste, mas se animou ao nos ver. Daniel sorriu, e eu sorri de volta. Até mesmo ignorei Bernardo, sentado à beira do leito, segurando sua mão com o acesso intravenoso.

Fui até ele e o abracei apertado — e logo me arrependi, pois ele gemeu de dor. Fernanda fez o mesmo, e Guilherme apenas apertou sua mão com delicadeza.

— Precisava me assustar assim, garoto? — Fernanda disse, ainda chorando. — Você tem noção de como está meu coração?

— E você tem noção de como está borrada sua maquiagem? — Daniel brincou, tentando aliviar o clima.

— Imagino... — ela resmungou, pegando o papel que Guilherme estendeu ao lado da pia. — Você me fez chorar feito uma louca!

— Você supera — disse ele, acariciando a mão de Bernardo. — E já que você já deve estar sabendo, deixa eu te apresentar meu namorado: Bernardo.

— Namorado?! — Bernardo e eu dissemos ao mesmo tempo. O tom dele era de encanto; o meu, de raiva.

— Sim — Daniel confirmou, olhando para Bernardo. — Aceita?

— Sim — respondeu Bernardo, corando.

— Prazer, Bernardo — disse Fernanda com simpatia. — Seja bem-vindo à família. Já pode ir se acostumando, porque ela é bem doida.

— Obrigado — respondeu ele, visivelmente lisonjeado. Aquilo me fez revirar os olhos, enojado.

— A mamãe também já está sabendo, pelo visto — falei, irritado. — Ela até me deu dois tapas no rosto por causa disso.

— Ela fez o quê?! — Daniel perguntou, chocado.

— Isso mesmo — confirmei, com desdém. — Aparentemente, eu te influenciei. Na boa, Daniel... acho que não era o melhor momento pra contar pra ela.

— Mas eu não contei! — disse ele, quase gritando, em tom desesperado.

— Quer saber? — Fernanda se intrometeu. — Não importa agora. Precisamos pensar no que vamos fazer. O papai está vindo.

— O papai já chegou — disse uma voz grave e séria que retumbou no leito, gelando meu sangue.

Era uma voz que ainda me causava terror. Uma voz que eu jamais esqueceria enquanto vivesse.

Olhei para trás e me deparei com meu pai, ainda fardado....

Continua...

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Comentários

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Caralho que tensão, cara o Theo tá um chato! Eu sei que ele não quer que o irmão sofra e tals, mas ele fala do Bernardo com desprezo e isso me irrita. Coitado do Theo e do Daniel com esses pais malucos e homofóbicos, forças queridos, pq o rojão vai ser grande! Imagine se essas mães se conhecem?! O bicho ia pegar.

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O Theozinho é um garoto complicado

Sofreu a vida inteira, mendigou o amor dos pais e nunca teve

Mas para frente você vai entender o porque ele é assim

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Eu acho que seria pior pra Theo se o pai deles não rejeitasse Daniel como rejeitou ele, mas acho muito improvável isto acontecer, se mãe reagiu assim imagina o pai. Pior foi ver Theo apanhando dela e nem ligando conosco se isso fosse normal! Enfim, todos nós cometemos erros. Estou torcendo pra esses irmãos serem felizes.

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