Clara me esperava no apartamento, deitada no sofá com uma camisola leve, e translúcida. Havia algo melancólico no seu olhar, mesmo enquanto sorria. Uma aceitação silenciosa daquilo que estava por vir.
— Eu precisava de você uma última vez, Luiz — sussurrou.
Não houve urgência, nem fúria. O sexo com Clara naquela noite foi diferente de tudo que tivemos. Era um adeus. Uma forma de marcar o corpo do outro antes de deixá-lo ir. Cada toque parecia querer guardar memória na pele. Ela me beijava como se quisesse selar um capítulo, e seus olhos estavam úmidos mesmo enquanto se entregava completamente. Entre uma estocada e outra pensava em Thiago, que tipo de homem seria. Por um momento tive pena dele enquanto Clara gemia em meus braços. Um pensamento sujo me ocorreu. "Vai ficar com as sobras" Me senti imaturo, e ao mesmo tempo viril. Será que é assim que Gabriel se sentia quando estava metendo em Priscila pelas minhas costas? Gozei assim. Depois fiquei pensando se Thiago ligava pra isso. Eu ligaria? Talvez sim, talvez não.
Depois, deitada em meu peito, Clara me disse baixinho:
— Gabriel também pode ser o pai. Eu não sabia se devia te contar antes ou depois de hoje. Ele... não atendeu minhas ligações. Nem respondeu mensagens. Acho que desapareceu de vez.
Fiquei em silêncio. Aquilo não mudava muita coisa. Mas doía. Mais do que eu esperava.
— Você não precisa me escolher, Luiz. Eu só queria que você soubesse que, por um tempo, você foi o meu mundo. E que, se o filho for seu, ele vai saber quem você é.
Lhe dei um último beijo. Fiquei ali, acordado, observando ela dormir. Um anjo ferido. Meu coração apertava, mas ele já não era dela.
Três dias depois, soube que Priscila tinha ido sozinha pra praia. Uma amiga em comum comentou num grupo que ela estava “dando um tempo do mundo”. Peguei o carro e fui atrás. Talvez por impulso. Ou talvez por necessidade.
Cheguei no fim da tarde. O céu começava a dourar, e a brisa salgada me trazia um gosto agridoce. Vi Priscila de longe, sentada na areia, com uma garrafa de vinho pela metade e um rapaz deitado ao lado, encostado nela. Jovem, sorridente. Ela ria. Mas havia algo naquele riso… uma tentativa de esquecer.
Me escondi entre as pedras, observando. Vi os dois se beijarem. Vi a mão dele escorregar pra dentro do bikini dela. Vi quando ela fechou os olhos, mas não de prazer — de fuga. Vi quando foram em direção a pousada juntos pra terminar o que tinham começado ali.
Meu coração se retorceu. E mesmo assim, eu soube.
Soube que ela era meu vício. Minha droga favorita. E que eu preferia viver queimando do que me apagar devagar.
Voltei para o carro. Dormi ali mesmo, sem coragem de bater à porta da pousada. Quando amanheceu, ela apareceu no caminho de volta da praia, sozinha, descalça. Me viu e parou.
— Você veio — disse, surpresa.
Assenti. Me aproximei. Ela não perguntou nada, não explicou nada. Apenas me abraçou, e o sal do mar se misturou com o suor da nossa pele enquanto nos beijávamos ali mesmo, diante do nascer do sol.
Escolhi o fogo.
Mesmo sabendo que ele poderia me consumir.