1x10: Amor Exposto

Da série Desajustados
Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 2716 palavras
Data: 10/06/2025 21:38:01
Última revisão: 10/06/2025 21:49:52

Ricardo sentiu o ar tenso. — Então não vai me dizer o que são essas cicatrizes? — Sua voz, antes cheia de carinho, agora carregava um tom de preocupação e uma ponta de desconfiança. Ele observava Tony, que parecia desconfortável.

Tony desviou o olhar, fixando-o em um ponto qualquer do banheiro, a voz soando forçada e evasiva. — Não é nada, não. Foi uma vez quando criança, caí em uma banca de vidro, e me cortei as costas todas. — A explicação parecia ensaiada, sem a espontaneidade que Ricardo esperava. Ele notou a falta de contato visual de Tony, um detalhe que o deixou ainda mais apreensivo.

Ricardo permaneceu sério, os olhos fixos nas marcas nas costas do namorado, sentindo um nó se formar no estômago. Aquela história não lhe convenceu nem um pouco. Tony parecia querer encerrar o assunto rapidamente, a pressa em seus movimentos evidentes.

— É melhor eu ir embora — Tony disse, a voz subitamente apressada, tentando se desvencilhar do momento íntimo.

— Mas já? — Ricardo perguntou, a decepção clara em seu tom. Aquele momento de conexão profunda estava sendo abruptamente interrompido.

— É — Tony respondeu, a hesitação em sua voz revelando uma tensão interna.

— Está bem — Ricardo concordou, mas o desapontamento era visível em seu rosto.

Eles se beijaram mais uma vez, um beijo de despedida que parecia ter um quê de incompletude. Tony se secou rapidamente e vestiu a roupa, seguido por Ricardo. Continuaram se beijando em pequenos toques e sussurros até a porta da casa. Tony abriu-a para sair, mas Ricardo, num impulso, puxou-o de volta para um último beijo. Era um beijo desesperado, cheio de carinho, mas também de uma ansiedade crescente.

— Te amo — Ricardo sussurrou, a voz carregada de sinceridade e uma ponta de súplica.

— Também te amo, até amanhã na escola — Tony respondeu, um sorriso forçado nos lábios, mas um brilho de algo indecifrável em seus olhos.

— Tchau. Sonhe comigo — Ricardo pediu, com um leve sorriso melancólico.

— Pode deixar — Tony riu baixinho, antes de finalmente sair.

Ricardo fechou a porta lentamente, o som ecoando no silêncio da casa, e desabou no sofá. A euforia do encontro se misturava com uma sensação de inquietação. — Que dia maravilhoso — ele pensou, mas a voz em sua mente completou com uma certeza: — mas essa história da cicatriz está mal contada. Vou investigar.

Residência da Família Amparo

O asfalto quente da rua vibrava sob os pés enquanto o carro deixava Zélia e seus filhos em frente à casa de Marli. Antes mesmo de descerem, um alvoroço chamou a atenção: um pequeno grupo de pessoas aglomerava-se em volta de uma jovem loira de cabelos longos, que caíam em ondas perfeitas sobre seus ombros. Seu corpo, esguio e bem definido, assemelhava-se ao de uma modelo, apesar de sua estatura baixa. De uma das janelas do andar superior da casa de dois andares, a cena se desenrolava de forma ainda mais dramática: um homem corpulento, de pele escura, arremessava roupas pela janela, que caíam no chão em uma cascata de tecidos.

— Ladra! Não quero mais você nesta casa! Até sua mãe me apoia! Saia daqui, sua ladrona! — a voz do homem ecoava pela rua, carregada de fúria e ressentimento.

Dona Zélia, num ímpeto de preocupação e indignação, correu em direção a Sâmara, que chorava convulsivamente, o rosto banhado em lágrimas e os ombros tremendo. Zélia a abraçou com força, a voz rompendo o burburinho da rua. — Mas o que está acontecendo aqui?!

Marli, a tia, saiu da casa, o rosto contorcido em uma mistura de vergonha e irritação. Ela puxou Zélia e Sâmara para um canto mais afastado da curiosidade alheia. Na rua, vizinhos, alguns com expressões de fofoca, outros com genuína preocupação, recolhiam as roupas de Sâmara, que parecia ter cerca de dezenove anos, e as amontoavam em um canto.

— Leve-a para a casa da mãe, Zélia. Depois eu passo lá para esclarecer tudo — Marli pediu, a voz baixa, mas firme, indicando a gravidade da situação.

— Ok. Amanda, André, ajudem a catar as roupas — Zélia instruiu, enquanto já guiava Sâmara, ainda chorosa, para dentro do carro.

As crianças, obedientes, pegaram as roupas do chão, que jaziam espalhadas, e as guardaram apressadamente em uma sacola grande emprestada por uma das vizinhas. Em pouco tempo, tudo estava guardado, e eles seguiram para a casa da mãe de Zélia, a avó de Amanda e André, em busca de um refúgio e, talvez, de respostas.

Hospital

Fernando empurrou Pedro com força, o rosto transfigurado pela aversão. Pedro, no entanto, apenas esboçou um sorriso sínico, um brilho de malícia em seus olhos.

— Nando, eu queria dizer que... cada vez mais você está gostoso. Não vejo a hora de te pegar de jeito de novo, e de novo... — Pedro provocou, a voz insinuante, quase um sussurro repugnante.

— Você está me enojando, Pedro! Sai daqui, sai daqui! — Fernando gritou, sua voz falhando, as mãos tremendo enquanto ele tentava se afastar do toque indesejado.

— Tá bom, mas ainda vamos ficar juntos, e muito — Pedro disse, com uma calma assustadora, antes de se afastar do quarto.

Fernando desabou na cama, o choro vindo em ondas incontroláveis, as lágrimas escorrendo em abundância por seu rosto marcado pela dor e pela repulsa. — Droga, por que você é assim, Pedro? Se você mudasse, meu amor, quem sabe um dia poderíamos ficar juntos? Nem ao menos sei o que você é, do que gosta. Ai, Pedro, por que fui me apaixonar por você? — As palavras eram um lamento doloroso, uma mistura de amor e ódio que o consumia.

Recepção do Hospital

Na recepção do mesmo hospital, um casal exibia a dor em seus rostos. A mulher chorava copiosamente, o corpo tremendo em soluços, enquanto o marido tentava consolá-la, mas suas próprias lágrimas também escorriam sem controle. Ele, Daniel, era um homem alto, por volta dos quarenta anos, com o rosto marcado pela preocupação. A mulher, Martha, tinha aproximadamente trinta e oito anos, e sua angústia era palpável.

— Meu amor, calma, ele vai ficar bem — Daniel disse, a voz embargada pela emoção, enquanto abraçava a esposa.

— Não me conformo, por que logo o meu filho, por quê? Ele nunca fez mal a ninguém, nunca! — Martha lamentou, a voz se quebrando.

— Nós vamos descobrir quem fez isso. Ele vai acordar e se lembrar. Tenha fé, nosso filho é forte e vai acordar logo, logo — Daniel tentou confortá-la, a esperança se misturando à dor em seu olhar.

— Mas quem fez isso com ele vai pagar — Martha prometeu, a voz carregada de uma determinação fria.

— Vai sim, eu te juro. Não vou perdoar quem quer que seja. Deixou nosso filho Rafael em coma, e tem que pagar — Daniel afirmou, seus olhos fixos na porta do hospital, como se buscasse a resposta.

Apesar das lágrimas e do sofrimento, o casal transbordava uma raiva contida. Seu filho estava em coma, vítima de uma violência desconhecida, e a única esperança de justiça repousava na memória do garoto, quando ele finalmente acordasse.

Residência da Família Alves

No aconchego do quarto de Marília, ela e Carol conversavam, a voz de Marília carregada de um entusiasmo contagiante.

— Amiga, essa notícia é ótima! — Carol exclamou, os olhos brilhando em antecipação.

— E muito! Imagina sair da Bahia para o Rio de Janeiro, meu sonho! — Marília disse, um sorriso largo no rosto, gesticulando com as mãos.

— Mas vou ficar com saudades — Carol lamentou, a alegria um pouco ofuscada pela perspectiva da separação.

— E você acha que te deixaria aqui? Sempre sonhei em ir com o... — Marília começou, um brilho nos olhos que Carol reconheceu.

— Com o Ricardo — Carol completou, e o clima no quarto mudou abruptamente. O entusiasmo de Marília se desfez, e a tristeza bateu em seu rosto, uma nuvem escura sobre o sorriso.

— Pelo menos lá você vai esquecê-lo. E claro que eu vou, mas e meus pais? — Carol perguntou, a preocupação familiar retornando.

— Você fala com eles, vão entender — Marília incentivou, tentando trazer o ânimo de volta.

— Vou sim — Carol concordou, a ideia de uma nova vida começando a se solidificar em sua mente.

Residência Dona Fátima

O carro, já conhecido na vizinhança, parou suavemente na porta da pequena e acolhedora casa de Dona Fátima. Zélia e as crianças desceram, sendo recebidos pela matriarca, que os esperava na porta.

— Já sei de tudo, Sâmara. Vamos conversar mais tarde, quero saber a verdade. Preciso falar com sua tia agora — Fátima disse, a voz grave, mas com um carinho subjacente.

— Mas vó, eu não fiz nada — Sâmara tentou argumentar, a voz embargada, os olhos marejados.

— Depois falamos, André querido, Amanda também, vão para o meu quarto — Fátima instruiu, com um olhar de autoridade e afeto.

Eles obedeceram, deixando a avó e a mãe a sós na sala, o ambiente preenchido por uma tensão velada.

— Então, mãe, o que houve? — Zélia perguntou, a preocupação evidente em seu rosto, procurando entender a dimensão do problema.

Residência Família Matarazzo

Ricardo continuava deitado no sofá da sala, imerso em seus pensamentos. A imagem de Tony debruçado sobre ele na cama, seus lábios se encontrando, o corpo quente contra o seu, fazia seu coração acelerar só de lembrar. Nunca na vida tivera tanto prazer como naquele momento íntimo a dois. Estava tão absorto em sua mente, revivendo cada toque e cada gemido, que demorou a perceber o som insistente de alguém batendo à sua porta. Levantou-se, um pouco a contragosto, e atendeu.

— Cara, fiz uma besteira — Léo disse, a voz cheia de desespero, antes mesmo de Ricardo abrir a porta completamente.

Léo entrou na casa de Ricardo sem ser convidado, a expressão de angústia em seu rosto era visível. Ele se jogou no sofá, procurando conforto e desabafar com o amigo.

— Conta, o que foi que você fez? — Ricardo perguntou, o tom de voz sério, percebendo a gravidade da situação.

— Minha mãe e meu pai não gostaram da festa que eu dei, e começaram a me comparar com meu irmão de novo. Não aguentei e bati no meu pai — Léo confessou, a voz falhando, os olhos fixos em um ponto distante.

— Você não fez isso? — Ricardo exclamou, chocado, a surpresa em sua voz nítida. Léo nunca fora de explosões violentas.

— Eu não queria, mas a raiva tomou conta de mim, cara. Foi inesperado até para mim — Léo explicou, com um suspiro pesado, demonstrando um arrependimento genuíno.

— Minha nossa! E seu pai fez o quê? — Ricardo quis saber, a preocupação se aprofundando.

— Ele saiu sem me falar nada, não sei o que fazer — Léo respondeu, a voz quase um lamento.

— Caraca, cara. Mas aproveitando que você está aqui, o que foi aquilo na festa, aqueles caras te machucando? — Ricardo indagou, mudando de assunto para algo que ainda o perturbava.

— Não foi nada, não, cara — Léo desconversou, a voz fechada, tentando encerrar o tema.

— Léo, você é meu melhor amigo, pode me contar o que está acontecendo — Ricardo insistiu, sua voz carregada de carinho e apoio.

— Já disse que não foi nada! — Léo retrucou, impaciente, seu tom mais alto do que o necessário.

— Teve algo sim, pode me contar — Ricardo persistiu, a determinação em sua voz inabalável.

— Cara, me deixa, que saco! A vida é minha, até você quer me controlar! — Léo explodiu, a atitude chocando Ricardo. O amigo, que sempre fora tão calmo, agora batia no pai e era rude com ele.

— Desculpa, cara. Esses dias estou muito estressado, não queria ser ignorante com você, e não precisa se preocupar comigo, amigo, sei me cuidar — Léo se desculpou, percebendo a reação de Ricardo, o tom de voz mais suave, mas ainda com uma ponta de irritação.

— Será mesmo? — Ricardo questionou, duvidoso, a preocupação em seu olhar fixo no amigo.

Residência Dona Fátima

No aconchego da sala, Zélia e a mãe estavam sentadas no sofá, envolvidas em uma conversa séria.

— Deixa eu ver se entendi. Sâmara estava roubando dinheiro de Emílio para comprar presentes para o namorado? — Zélia perguntou, a voz carregada de incredulidade.

— Sim, minha filha. Marli vem me dizendo dessa desconfiança de hoje. A menina aparecia em casa com roupas, maquiagem, e ela não trabalhava em lugar nenhum, comprava coisas para o namorado e sem trabalhar. Até que ontem sumiu cem reais dele, e ela tinha aparecido com um vestido — Fátima explicou, o rosto expressando uma mistura de tristeza e desapontamento.

— Minha Nossa Senhora! Sâmara era tão educada, confiável, ainda não acredito nisso — Zélia lamentou, a notícia a atingindo com força.

— Pois é. A mãe dela acha que é por causa do namorado — Fátima disse, com um suspiro pesado.

— E quem é ele? — Zélia perguntou, a curiosidade misturada à preocupação.

— Diz ser um dos membros da família Frois — Fátima revelou, a voz baixando um pouco.

— Da família Frois? Uma das mais conhecidas da cidade? — Zélia exclamou, a surpresa em sua voz evidente.

— Isso mesmo — Fátima confirmou.

Enquanto isso, no quarto da avó, André, Amanda e Sâmara conversavam animadamente sobre o mesmo assunto, alheios à seriedade da conversa na sala.

— Não acredito! Você está namorando com Marcelo Frois? — Amanda perguntou, os olhos arregalados de espanto e fascínio.

— Ele mesmo, o mais lindo da família! — Sâmara confirmou, um sorriso maroto nos lábios.

— Aff... garanto que dessa aí é interesse puro — André resmungou, revirando os olhos.

— Psiu! Conversa de meninas aqui. Você é menina? — Amanda retrucou, com um tapa leve no braço do irmão.

— Tá amarrado! — André exclamou, deitando-se na cama e ficando quieto, fingindo ignorar a conversa.

— Prima, ele é tudo — Sâmara suspirou, sonhadora.

— Quero conhecê-lo — Amanda disse, a curiosidade aguçada.

— Hahah. Mas e o Breno? — Sâmara perguntou, mudando de assunto.

— Nem me fale desse idiota, brigamos feio — Amanda respondeu, um bico se formando em seus lábios.

— Mas por quê? O amor de vocês é tão lindo — Sâmara insistiu, um pouco surpresa.

— Ele não presta. Só isso — Amanda disse, deitando-se na cama ao lado de Sâmara, encerrando o assunto.

— Mas então vai morar aqui, é? — André perguntou, a voz abafada pelo travesseiro.

— Parece que vou ter que aguentar essa véia doente — Sâmara brincou, e todos riram, o clima leve no quarto contrastando com a preocupação dos adultos na sala.

Demorou um tempo, e Zélia veio chamá-los para ir embora. Já estava ficando tarde, e ela tinha que preparar o almoço de domingo. Todos se despediram de Dona Fátima e foram para casa, levando consigo as novas revelações e preocupações.

Residência Matarazzo

Ricardo estava na cozinha, abrindo a geladeira. — Vou beber um pouco de água, quer? — ele ofereceu a Léo, que já estava de pé, impaciente.

— Não, muito obrigado. Vou ao seu quarto, ver como está — Léo respondeu, a voz ainda um pouco carregada de seu próprio drama.

— Tá, só não pode mexer no PC para ver baixaria — Ricardo brincou, um leve sorriso nos lábios, tentando aliviar a tensão.

Léo riu, e subiu as escadas, enquanto Ricardo pegava um copo, enchendo-o de água gelada. No momento em que levava o copo à boca, seu telefone tocou. Era Tony.

— Oi, amor? — Ricardo atendeu, a voz se suavizando instantaneamente ao ouvir a de Tony.

— Hehe. Estava aqui e acabei vendo sua roupa que me emprestou para a festa naquele dia e me lembrei de você — Tony disse, a voz suave e carinhosa, enchendo o coração de Ricardo de doçura.

— Ai, que lindo! Não posso falar muito agora, não. O Léo está aqui, precisando de ajuda — Ricardo explicou, a voz um pouco mais baixa para não ser ouvido.

— O que foi? — Tony perguntou, a curiosidade perceptível.

— Nada, problemas com a família dele — Ricardo respondeu, dando um suspiro discreto.

— Ah, família sempre dando problemas — Tony comentou, com um tom de quem entendia bem o assunto.

— Aham. Te amo, tchau — Ricardo disse, a despedida curta, mas cheia de afeto, antes de encerrar a ligação.

Tony se despediu, e Ricardo, sentindo-se um pouco mais leve após a breve conversa, se dirigiu para o quarto. A porta estava fechada. Ao abri-la e entrar, um choque o atingiu em cheio: Léo estava de pé, no meio do quarto, com seu diário na mão. A capa de couro estava aberta, revelando as páginas secretas.

— Por favor, diga que isso aqui não é verdade — Léo disse, a voz embargada, os olhos cheios de lágrimas, mas também de uma raiva contida que fazia seu rosto tremer. Ricardo estava assustado, o corpo paralisado pelo choque e pelo medo.

— Fala, o que está escrito aqui é verdade?! — Léo gritou, a voz ecoando no quarto, e com um movimento brusco, jogou o diário em cima da cama.

Continua...

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