1x07: Perigo

Da série Desajustados
Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 718 palavras
Data: 10/06/2025 20:12:46

Sem esperar, Ricardo surpreendeu Tony com um beijo caloroso. Era um beijo ardente, carregado de paixão reprimida. Tony se entregou completamente àquele momento. Beijaram-se com intensidade, num gesto molhado e profundo, esperado por tempo demais. Ricardo nunca havia beijado outro garoto antes. Sentiu-se no céu — entre as estrelas e a lua —, envolvido por uma sensação inédita e arrebatadora.

Ficaram ali, abraçados, por alguns minutos, saboreando aquele instante de descoberta e verdade.

Tony, com a respiração ofegante, perguntou, ainda surpreso:

— O que foi isso?

Ricardo, um pouco sem graça, respondeu:

— Esse foi o meu primeiro beijo em um homem. Eu também sou gay, cara... Só que eu não queria ser. Ainda estou tentando me aceitar, entende?

Tony assentiu com o olhar.

— Entendo sim. Eu e o Fernando já passamos por isso também.

— Como você sabe que o Fernando passou por isso?

— Porque todos nós passamos, Ricardo. Gays, bissexuais, lésbicas... Qualquer um que foge da "norma" sofre esse conflito interno em algum momento.

Ricardo sorriu, aliviado por não estar sozinho naquele sentimento.

— Foi muito bom você ter vindo pra cá, Tony. De verdade.

Ele hesitou um pouco, corou e disse com sinceridade:

— Desde o primeiro momento em que te vi hoje na escola... me conectei com o seu olhar. Me apaixonei por você ali mesmo.

Tony ficou em silêncio. Aquilo o pegou de surpresa. Sem saber como reagir, voltou para o quarto de Fernando sem dizer uma palavra, deixando Ricardo apreensivo. Ainda assim, Ricardo o seguiu.

Fernando, ao vê-los retornando, comentou:

— Pensei que tivessem saído.

— Não, cara. Não íamos te deixar aqui — respondeu Tony com um meio sorriso.

Ricardo então tentou resolver uma pendência.

— Precisamos entrar em contato com seus pais. Eles devem estar preocupados. Qual é o número deles?

Fernando passou os dados e, rapidamente, Ricardo fez a ligação, explicou o ocorrido e pediu que viessem ao hospital o quanto antes.

— Obrigado por me ajudarem — disse Fernando, com os olhos marejados.

— Não fomos só nós — corrigiu Tony. — Se não fosse o Jonathan e a Indiara, ainda estaríamos na rua.

— Jonathan e Indiara? — Fernando franziu a testa, confuso. — Não conheço eles.

— Tudo bem. Um dia talvez conheça — disse Ricardo, tentando não se estender no assunto.

Tony consultou o relógio.

— Mano, temos que ir. Seus pais devem estar chegando. E amanhã temos aula cedo.

— Tranquilo. Obrigado mais uma vez. E, se possível, quero manter contato com vocês.

Ele hesitou por um segundo, depois encarou Ricardo.

— Ah, e desculpa... Eu ouvi a conversa de vocês dois. Sem querer.

Ricardo ficou paralisado. Aquilo o deixou desconfortável.

— Fica tranquilo — completou Fernando rapidamente. — Não vou contar a ninguém. Prometo.

Ricardo respirou fundo e assentiu.

— Tudo bem. Vou confiar em você.

Fernando então comentou, com um ar sério:

— Uma hora ou outra... você vai ter que contar aos seus pais.

Ricardo não respondeu. Apenas o olhou, pensativo. Os três trocaram olhares e, por fim, Ricardo e Tony se despediram, saindo do hospital e tomando caminhos diferentes.

Foi uma caminhada longa até em casa. Quando Ricardo finalmente chegou, encontrou o irmão André dormindo no sofá, com a cabeça no colo da mãe.

— Já cheguei, dona Zélia — anunciou ele, tirando os tênis.

— Demorou, meu filho. A festa estava tão boa assim?

— Na verdade, saí cedo... mas encontrei um garoto machucado na rua. Levei ele ao hospital. Apanhou muito.

— Meu Deus, e ele está bem?

— Sim. Levou alguns pontos na cabeça, mas vai ficar bem.

— Que bom. E sua irmã, Amanda? Onde está?

— Estava na festa chorando. Acho que brigou com o namorado.

Zélia suspirou, preocupada.

— O que será que aconteceu?

— Não sei. Mas parece sério. Bem, vou subir pra dormir.

— Tá certo. Boa noite, filho.

Ricardo subiu, tomou banho e ficou revivendo mentalmente tudo o que acontecera naquele dia: a volta às aulas, a declaração de Marília, o beijo em Tony, a dor de Fernando... Em certo momento, deixou as lágrimas caírem livremente.

Quando saiu do banheiro, ainda com a toalha nos ombros, ouviu o celular vibrar.

— Diga — atendeu.

Uma voz desconhecida respondeu, fria e ameaçadora:

— Fique longe do Fernando. Está ouvindo? Longe dele, ou eu pego você.

— Alô? Quem tá falando? — Ricardo perguntou, já com o coração acelerado.

— Você entendeu bem. Esqueça que conheceu ele... ou vai se machucar feio.

Ricardo ficou parado, com o telefone ainda encostado na orelha, sentindo o pavor crescer no peito.

Continua...

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