A partir desse inesquecível dia e durante a semana toda, eu e a Diana transamos todos os dias. Meus pais saiam para o trabalho e eu corria para ajudá-la nas suas tarefas para podermos ter mais tempo juntos. Não tenho nenhum medo de dizer que a Diana foi quem me iniciou nos prazeres das relações sexuais.
Além do sexo, conversamos muito e descobri que a Diana era uma mulher incrível e agradável. Muito sábia, inteligente, divertida e uma ótima mãe. Até hoje sigo muitos dos seus conselhos.
Ela me convenceu a fazer musculação e dança, usando os seguintes argumentos:
“— Você é grandão e tem um corpo legal, mas a musculação vai te deixar mais gostoso. Eu gosto de homem com o braço mais grosso e o peito mais estufado. Vai por mim e depois vem me agradecer.”
Já com relação à dança, os argumentos foram que as meninas adoram homem que dança. Ela falou que fica mais fácil se aproximar das meninas. Fora que a prefeitura tinha umas escolas de dança, que eram gratuitas. Ela ainda sugeriu que eu deveria fazer dança de salão, forró, samba e hits dos anos 70 e 80.
Eu aceitei de bom grado os conselhos e, realmente agradeço muito essas dicas que recebi.
Eu queria mesmo era tocar guitarra. Quando participava de uma bandinha musical junto com meus amigos, chegamos até a tocar algumas vezes na paróquia. Engraçado, parece até que foi ontem. Quando eu tinha 12 anos o Marcelo veio estudar na mesma escola que eu. E logo se aproximou do meu trio de amigos, fazendo amizade comigo, com o Bidu e o Fabrício. O Marcelo estudava música desde criança e acabou nos convencendo a formarmos uma banda. Ele tinha as caixas de som, teclado, bateria, guitarra e um estúdio em sua casa para os nossos ensaios. O Fabrício, empolgado, ganhou um baixo de seu pai e fechamos o quarteto. Fora o Marcelo, eu e o Fabrício já tínhamos um pequeno conhecimento de música, pois estudamos violão dos nove aos 11 anos.
Assim passamos a ensaiar muito, comigo na guitarra, o Fabrício no baixo, o Bidu na bateria e o Marcelo no teclado. O Marcelo fazia o vocal na metade das músicas, o Fabrício cantava umas duas e eu acabava cantando as outras. Aprendemos a tocar na marra, com o Marcelo de professor, vendo vídeos, ouvindo muita música, através de revistas e, principalmente, pela internet (os grupos do falecido Orkut foram essenciais para o nosso aprendizado). Ou seja, éramos praticamente autodidatas.
Depois de uns dois anos só ensaiando, acabamos fazendo umas apresentações na igreja, em algumas escolas, em algumas festinhas e fizemos até dois aniversários. Só me recuso a contar para vocês o nome da banda, para não sofre bullying.
Quanto a pegar mulher, sem contar a Amália, que se aproximou de mim nessa época, a banda só serviu para que eu beijasse uma menina. Eu não era aquele garoto lindo que as meninas corriam atrás, nem era daqueles conversadores e bons de lábia e muito menos era uns dos riquinhos, que viviam ostentando seus brinquedinhos caros. Assim, só o fato de estar saindo com uma menina linda como a Amália para mim já era uma vitória.
Até hoje eu brinco com os rapazes, dizendo que montamos essa banda em uma época muito errada. Devíamos ter montado a banda quando estivéssemos com 17 ou 18 anos, pois iríamos pegar as meninas todas cheias tesão, com os hormônios a flor da pele e nos daríamos muito bem.
Só que, em setembro de 2006, o pai do Marcelo faleceu em um acidente e a mãe dele, que era Maranhense, só esperou o ano letivo terminar e foi embora com a família para São Luis - MA. Como quase todos os instrumentos pertenciam ao Marcelo a nossa bandinha acabou.
Eu estava viciado na Diana. Transávamos direto. Nosso sexo estava cada vez melhor e eu aprendia muito com ela. Fora que eu adorava nosso teatrinho e o jogo de sedução que rolava quando meus pais ou alguma visita estava em casa e, principalmente amava nossas conversas pós-coito.
Até hoje me lembro da Diana me ensinando a chupar uma xoxota. Falou para sempre usar muita saliva e deixar a boceta bem meladinha. Que era sempre para começar lambendo o grelinho, de como passar a língua na entradinha da boceta, de baixo para cima, sempre terminando no grelinho. E também como enfiar a língua o mais fundo que puder. Ela ensinou como usar os dedos, para massagear o grelho ou enfiando na boceta, enquanto eu chupava o grelinho. Ensinou como foder a boceta usando os dedos e como reconhecer quando a mulher estiver gostando da brincadeira. A fazê-la gozar e como tratá-la entre cada gozada, sempre fazendo carinho e a estimulando. E, principalmente, ela me ensinou a não ser afoito.
No final de semana o meu tio Zezinho me pediu para ajudá-lo a fazer uma instalação elétrica e, por incrível que pareça, era na rua em que a minha ex... (não sei como explicar, acho que era ficante, pois oficialmente nunca namoramos)... em que a Amália morava.
Aquela menina me fez sofrer muito. Não chegamos a namorar oficialmente, pois na região que eu morava existe um meio que tabu de deixarem os filhos namorarem a partir dos 15 anos. Na época, eu já havia feito aniversário no inicio do ano e a Amália faria quase no meio do ano, então estávamos esperando o aniversário dela para oficializar o namoro.
Nossos pais frequentavam a Paróquia de Santa Barbara. Inclusive, foi participando o grupo de jovens que nos aproximamos. Apesar de estudarmos na mesma série da mesma escola, nunca fomos da mesma sala e não tínhamos muito amigos em comum. Ela era do grupinho das patricinhas mais abastadas e eu achava as atitudes delas muito fúteis e nunca me aproximei. Fora que eu tinha meus amigos do vôlei, das aulas de violão e do clube de leitura, que nenhuma delas participava.
Mesmo assim, acabamos nos aproximando e começamos a namorar escondidos. Além do colégio, nos encontrávamos depois da missa. Ela era linda, pois tinha um jeito meigo, 1,65m de altura, cabelos escuros lisos e longos e olhos ligeiramente puxados e castanhos claros.
Todo mundo fala que existem tipos físicos que te atraem e que a aparência não é tudo. E eu concordo. Já testei e descobri que gosto muito de mulher, mais realmente tem um tipo físico que de cara me atrai. Tenho certeza que se alinharem umas 50 mulheres, de vários tipos físicos diferentes, a que vai me atrair primeiro será uma parecida com a Amália. Sempre fiquei vidrado nas meninas branquinhas, com corpo em forma, cabelos escuros, lisos e longos e olhos claros. Claro que cada um tem seu gosto (minha avó vive falando “o que seria do amarelo se todos gostassem do azul”) e que aparência não é tudo pois, no dia a dia valem muito mais os gestos e as atitudes das pessoas do que a aparência.
Enfim, acredito que eu e a Amália estávamos vivendo a primeira paixonite inocente da adolescência. E estava muito gostoso esse nosso namorico escondido, nossas confidências, o andar de mãos dadas e os beijinhos.
Tecnicamente eu e a Amália estávamos ficando. Era algo mais puro, só com muito carinho, beijos e abraços E pior, estávamos ficando de forma escondida. Só que o aniversário dela estava chegando e, como já disse, planejávamos oficializar nosso namoro.
Estávamos apaixonados e transamos faltando poucos dias para o aniversário dela. Infelizmente não posso contar os detalhes aqui. Foi por iniciativa dela, que me atraiu para a sua casa, sob o pretexto de fazermos um trabalho em grupo e ali rolou a nossa primeira e única vez. Isso foi em um sábado.
No dia seguinte conversamos por horas por telefone e ainda demos uma namoradinha antes da missa. Nos encontramos na praça e ela estava acompanhada da Lia, sua melhor amiga, e que também era do grupinho das patricinhas. Elas inclusive haviam passado todo o período de férias juntas: foram para Disney e depois passaram um mês curtindo as praias de Florianópolis, na casa que os pais da Lia tinham lá.
Depois disso, me recordo claramente que na segunda-feira a Amália ligou umas três vezes para a farmácia em que eu trabalhava, só para conversar comigo. À noite nos encontramos na aula e foi muito legal os nossos olhares de cumplicidade. Ficamos juntos, testando os limites aceitáveis pelos professores e pelos inspetores na hora do recreio.
Foi aí que, ao acaso, eu conheci aquela casa nova dos pais da Amália, que eles estavam terminando de construir e lá fariam o aniversário da filha. E foi assim: no dia seguinte, na terça-feira, meu tio Zezinho me ligou:
— Betão, hoje a tarde tem como me dar uma ajuda?
— Claro tio! O que tá pegando?
— Rapaz, ontem passei o dia todo numa casa, fazendo serviço elétrico. O eletricista fez uma merda e sumiu. Daí na semana que vem eles vão fazer uma festa lá e estão desesperados.
— Pode ser tio. A que hora vamos?
— Eu já fiz quase tudo. É só uma parte que vai precisar de duas pessoas para finalizar. Eu tô adiantando meu trabalho aqui, em um serviço na prefeitura e depois do almoço nós vamos. Vou falar para a Joana (esposa do tio Zézinho) e você almoça com a gente.
— Tá bom eu tava querendo mesmo pegar umas fitas com o senhor.
Acho que ainda não havia comentado, mais o meu tio Zezinho, que era o irmão mais novo do meu pai, foi a “netflix” a “amazon prime vídeo” e o “star+” de grande parte da minha infância e juventude. Ele tinha umas 1000 fitas de VHS, com gravações de jogos da NBA e NFL dos anos 80, 90 e 2000, além de alguns outros jogos de basquete de seleções. Além disso, ele tinha mais umas 1500 fitas com séries e filmes americanos. Tudo em inglês e muitos deles inéditos no Brasil. Ele também tinha uns 12 tubos, cada um com 100 DVDs, com filmes, séries e jogos gravados. Tudo isso armazenado em um quartinho com a temperatura e umidade controladas.
Nunca soube ao certo de onde veio tudo isso. Sempre que eu perguntava, ele contava uma história diferente. Nem seus filhos sabiam ao certo. Seus filhos, o Lucas e a Laura (meus primos) me falaram que ele sempre recebia esse material pelos correios. O que tenho certeza é que muito da minha fluência no inglês e minha paixão por esses esportes americanos veio dessas fitas que eu sempre pegava com meu tio e assistia maravilhado. Desde os meus 11 anos eu pegava com ele semanalmente umas três ou quatro fitas. Todas elas cuidadosamente pirateadas de canais americanos. Outra coisa que eu amava da casa desse meu tio eram os livros da minha tia. A tia Joana tinha uns 200 livros antigos, de sua juventude, quase todos de ficção: eram livros de romance e aventura e ela sempre me emprestava. Através da biblioteca dela li vários livros do Júlio Verne, do Isaac Asimov, do Michael Crichton, da Agatha Christie, do Irving Wallace e do Sidney Sheldon. Também lia os livros de enfermagem da minha mãe e os de contabilidade do meu pai. Nunca gostei de livro de auto ajuda. Da forma como eu me conheço, seria mais fácil eu escrever um livro desse tipo do que seguir o que alguém, que não está no meu lugar, me manda fazer, mesmo porque eu sempre fui questionador. Gosto de livros que também questionam o mundo e pesquisam soluções (recentemente terminei de lei o livro “Princípios para a ordem mundial em transformação: Porque as nações prosperam e fracassa”, que achei excelente para entender como a ordem econômica mundial está evoluindo e a reação das nações tradicionais frente à evolução política e econômica dos países em desenvolvimento).
Almocei com meus tios e escolhi algumas fitas para ver depois. Minha prima só chegou quando estávamos saindo. Sempre achei a Laura muito linda. Ela é muito simpática, sorridente e ficamos muito mais próximos depois que o Lucas foi estudar fora. Ela é um ano mais velha que eu, branquinha, de olhos castanhos claros e tem umas poucas sardinhas sensuais no rosto e nariz. Eu sou muito suspeito para falar da Laura, pois apesar de ser minha prima, foi a primeira menina por quem me interessei. Ela é aquela gostosa natural e nisso puxou a minha tia, que é aquela falsa magra, com o corpo em formato de pêra, cheio de curvas, cinturinha fina e um par de seios durinhos e médios. O formato do rosto ela puxou para o lado da família do meu pai, tanto que muitas pessoas perguntam se eu e ela somos irmãos, de tão parecidos que somos. Porém o que mais me atrai nela é a sua alegria de viver e seus gestos e atitudes no nosso dia a dia. Só de olhar em seus olhos e ver a quantidade de vida que eles emitem já me renova para a semana toda. Também adoro seu jeito meigo e seu sorriso tímido quando é elogiada ou quando perguntam se somos namorados. Sempre senti uma atração por ela, só que ela era minha prima e eu era tímido para tentar alguma coisa.
Realmente aquela menina independente e decidida mexia comigo. A única coisa que sempre impediu que eu desse encima dela foi o fato de ela ser minha prima e nos darmos tão bem do jeito que estávamos.
Lembro-me que aos sábados eu sempre ajudava o meu tio na manutenção da caminhonete e a Laura ficava do lado nos observando. Eu adorava essas “aulas de mecânica” do tio Zezinho, eu era muito interessado, ouvia tudo, perguntava e pesquisava sobre todas as dúvidas que surgiam.
A Laura entrou na casa, demos um abraço gostoso e combinamos de tentar conversar mais tarde. Ela havia terminado o primeiro ano do curso de fisioterapia, na Federal, e eu queria muito também estudar lá.
Voltando a quando fui para aquela rua pela primeira vez e como conheci a casa da Amália, nesse dia fui com meu tio e chegamos em um casarão lindo, no bairro de Pio Corrêa, próximo ao SESC e, para minha surpresa, fomos recebidos pela mãe da Amália. Levei um baita susto. Adorava a Amália, mais aquela mãe dela tinha uma cara de nojo, que aparenta ser uma mal amada de primeira.
Entrando na casa já ouvi a voz da Amália e, logo que me viu ela veio correndo e meu um abraço.
— Que surpresa! Você é a última pessoa que eu esperava ver aqui!
Vocês nem imaginam a cara feia que velha fez quando viu isso.
Sim, só fazendo um parêntese, eu estou chamando a mãe da Amália de velha porque não estou me lembrando do nome dela. Juro que já tentei e não consegui me lembrar. O pai dela se chamava Otávio, só que o nome da mãe eu não me recordo. Então continuarei a chamá-la de velha nojenta ou velha bruxa.
— Mãe, deixa eu aproveitar a oportunidade e te apresentar o Beto... É dele que eu tinha falado para a senhora, que estuda comigo e a gente tá se gostando.
A velha me olhou dos pés à cabeça com cara mais de ódio ainda, como alguém arrogante que está subestimando outra pessoa. Estendi a mão para cumprimentá-la e ela me ignorou. Pegou no braço da Amália e saiu puxando a menina para dentro de casa.
— Vamos filha, temos que conversar.
Olhei assustando para meu tio, que falou para irmos logo começar o trabalho. Ainda consegui ouvir elas discutindo e logo em seguida as duas foram embora, ambas com cara de poucos amigos e sem se despedir de ninguém.
O que era para ser um trabalho rápido acabou evoluindo e acabamos quando já eram quase cinco horas da tarde. Cheguei em casa e mal deu tempo de tomar um banho, trocar de roupa e ir para a escola. Na época eu estava no primeiro ano do ensino médio.
Acho que eu já nasci velho. Eu sempre fui responsável e “meio adulto”, cresci e amadureci rápido demais. Lá em casa nós nunca passamos dificuldades, mas tudo era contadinho. Então, de tanto ouvir que meus pais não tinham dinheiro, quando eu pedia alguma coisa para eles, eu acabei decidindo ir trabalhar muito cedo. Com 11 anos o meu primeiro trabalho foi de entregar marmitas na delegacia. Quem fazia essas entregas era o Henrique, filho da Josefa, só que ele caiu da bicicleta e se machucou, então eu fiquei uns três meses fazendo essas entregas. O bom era que eu já conhecia quase todo mundo lá, pois o marido da minha tia era investigador, trabalhava lá e havia se aposentado há pouco tempo. Aos 12 anos eu já ia para a porta do estádio, nos finais de semana, para vender bebidas. Só não me julguem, pois eu não estava fazendo nada ilegal. O dinheiro que eu ganhava servia para que eu comprasse um sorvete ou um lanche para comer na praça, aos domingos, depois da missa, ou para pagar a passagem de ônibus, quando ia para a natação. Eu dava o dinheiro que sobrava para os meus pais. Meu tio Zezinho achava que esse meu trabalho era perigoso e me convidou para trabalhar com ele e, quando fiz 14 anos, o meu tio Ângelo assinou a minha carteira para que eu trabalhasse de atendente na farmácia dele. Mesmo assim às vezes eu ainda ajudava o meu tio Zezinho em vários de seus trabalhos e, sempre na época de declaração de imposto de renda eu também ajudava o meu pai em seu modesto escritório de contabilidade.
Eu nunca tive medo ou vergonha de trabalhar e sabia que, vindo de uma família pobre, era através do trabalho e do estudo que eu poderia no futuro tentar ser alguém na vida.
Naquele dia do incidente com a mãe da Amália, cheguei na sala de aula, dei um abraço no Bidu e logo encontrei a Amália conversando com a Lia. E ela veio conversar comigo:
— Você desculpa a minha mãe! Ela não é chata assim sempre. É que ela me protege muito. Chega a ser insuportável.
— Ela foi mal educada!
A Amália deu uma gargalhada.
— Pois é, você definiu bem o negócio de agora a pouco. Poxa, nós discutimos muito... Eu sou filha única e ela já tem a minha vida toda planejada, inclusive com o perfil de quem eu devo me relacionar... Bem, ela não entende que sou eu que vou namorar e que gosto de você.
— Poxa querida, que chato.
— Ela ficou furiosa mesmo depois que contei tudo sobre a gente. Contei que não sou mais o bebezinho dela, que ela escolhia até as minhas roupas. Tive que contar até que já fizemos amor... e ela ficou mais furiosa ainda.
A Amália me olhou com a cara triste e continuou.
— Não vamos mais pensar nisso. Juntos nós podemos enfrentar isso tudo.
Nessa hora tocou a campainha e fomos assistir a nossa aula.
No dia seguinte, foi minha quinta-feira negra. Cheguei cedo à escola e a Amália já me esperava no portão de entrada, com a cara bem fechada. Fui sorrindo para lhe dar um beijo, mas ela me empurrou e começou a me xingar.
— Puta que o pariu Beto, você é um filho da puta.... nunca mais quero te ver!
Ela começou a chorar e eu fiquei sem entender nada.
— Nossa, o que foi que eu fiz? Porque você tá assim?
— Você é um cínico, e sabe muito bem o que fez. Poxa, não esperava isso de você...
Vendo ela chorar, me aproximei para abraçá-la, mais ela me empurrou novamente.
— Sai daqui, já disse que você não presta!
— Tá bom Amália. Não chora meu amor! Eu, eu... eu juro que não sei o que fiz de errado!
— Agora tá com amnésia. Cara, você foi tentar isso justo com uma amiga minha.
— Tentar o que? Eu nunca fiz isso... eu sempre respeitei...
— Cala a boca, eu te odeio...
Falando isso ela saiu em disparada. Tentei segui-la, mais ela se virou e gritou:
— Sai daqui! Não me segue!
Eu fiquei sem entender nada. Entrei na escola preocupado e tentando imaginar se poderia ter acontecido algum mal entendido que pudesse a levar a isso.
A fofoca chegou antes de mim na sala de aula e todo mundo já estava sabendo. Conversei com todas as amigas dela e ninguém sabia de nada. A Lia, sua melhor amiga, me disse que tentaria conversar com ela ainda naquele dia. Eu tentei várias vezes ligar para a Amália, mas não tive sucesso.
Dormi muito mal naquela noite e no outro dia, logo de manhã, tentei ligar várias vezes para a Amália e ela não atendeu. Quando saí para o almoço liguei para a Lia.
— Oi Lia, você conseguiu falar com a Amália?
— Falei, mas ela tá irredutível e não quer mais nada contigo...
— Só que eu não sei o que fiz de errado. Ela falou algo sobre uma amiga, só que eu não fiz nada. Eu te juro que não sei do que ela tá falando.
— Ela tá muito abalada... e me disse que uma amiga falou que foi assediada por você e tem testemunha disso...
— Nossa Lia, eu juro para você que nunca fiz isso.
— Eu tô chegando agora na casa dela. Vamos ver se ela te ouve, tá bom?
— Eu agradeço Lia. Eu quero muito desmentir isso!
— Tá bom Beto. Depois a gente se fala. Tchau.
Mais tarde a Lia me ligou, dizendo que a noite a Amália conversaria comigo.
Cheguei na sala de aula antes da Amália e fui me sentar na minha carteira. Ela chegou logo em seguida e, ao invés de sentar ao meu lado, foi sentar na frente, perto da mesa do professor.
Fui até ela antes que o professor chegasse. Ela me olhou e falou secamente:
— Depois da aula a gente conversa. Até lá finge que não estou aqui.
Voltei muito triste para a minha carteira. Nesse dia fiquei totalmente introspectivo, perdido em meus pensamentos. Não saí nem nos intervalos das aulas.
Quando terminou a aula fui esperar a Amália na saída.
Ela veio acompanhada da Lia e de outra amiga, a Bernadete.
Ao me ver ela pediu para as meninas esperarem e nos afastamos para conversar.
Ela cruzou os braços e foi falando:
— Não sei o que você quer conversar? Acabou tudo! Eu não quero ficar com um moleque...
— Poxa, parece que você tá me pregando uma peça. Sério, eu não fiz nada do que você tá me acusando. Me coloca na frente dessa menina que eu desminto tudo...
— Não adianta! Tem testemunha...
— É tudo mentira. Eu não fiz nada disso. Quem é que me acusou? Quem é essa testemunha?
— Não vem ao caso! Eu acredito nelas. Não quero mais nada com você!
— Não fala assim...
— Não quero nem mais te ver na minha frente...
Daí eu falei mais alto, quase gritando:
— Não é justo! Isso tudo é uma mentira!
Ela começou a chorar, mais completou:
— Eu devia ter escutado a minha mãe e achado alguém do meu nível e não um moleque... – e continuou falando. Nessa hora acho que meu cérebro desligou e eu só me lembro de algumas partes, como quando ela disse algo da minha família, que eu era lascado e que não teria futuro.
Juro que eu não estava acreditando no que ela estava falando. Eu via os lábios dela se mexendo, mais imaginava aquelas palavras como vindo da mãe dela. Para mim era aquela bruxa velha destilando seu veneno. Eu tinha certeza que tinha o dedo dela ali.
No final eu, já cabisbaixo, só falei:
— Vou respeitar sua vontade. Pode deixar que nunca mais falo contigo. Só queria dizer duas coisas: que se você não quisesse mais nada comigo era só falar e não precisava inventar essa mentira toda...
Ela me olhou com uma cara mais feita do que estava e fez menção de dizer algo, mas eu continuei:
— Pois eu te juro, por tudo quanto é mais sagrado, que eu sou inocente nessa história. E também queria dizer que vou torcer para você encontrar essa pessoa que você idealizou e que seja feliz...
Nessa hora eu não consegui mais segurar as lágrimas, me virei e fui embora sem nem me despedir.
O Bidu estava me esperando na esquina e foi logo perguntado:
— Pela sua cara vocês não se acertaram.
— Pois é, meu amigo. Acabou tudo! Jogaram muita mentira na cabeça dela e ela acreditou em tudo.
— Não fica assim, cara. Eu vou apurar certinho tudo o que aconteceu...
— Não, Fábio, não faz isso não! Ela me falou tanta besteira que agora eu é que não quero mais nada com ela!
— Pois eu vou ver isso, quer você queira ou não!
Eu apenas fiquei calado. Não estava a fim de conversar. E fui para casa em silencio, sem dizer mais nenhuma palavra.