Depois daquela noite, meu pai passou a andar com os olhos mais atentos que cachorro em porta de açougue. Seu Antônio não me largava. Qualquer canto que eu estivesse, ele dava um jeito de aparecer. Nem precisava falar nada, seu olhar dizia tudo: “Eu te conheço, moleque”. E eu sabia que ele tinha razão em ficar de olho.
Dona Helena, talvez sentindo o cerco fechar, se mandou para a capital, uns dias depois. Disse que tinha assuntos pendentes, médico, jantares, compras ... Tudo conversa, ela só queria fugir do caos. Foi embora num sábado à tarde, deixando a casa mais leve e a cabeça do meu pai um pouco mais tranquila. Com ela fora dali, as coisas voltaram ao ritmo normal da fazenda. Trabalho cedo, gado no pasto, poeira no rosto e silêncio no peito.
Foi nessa calmaria que conheci a Luana. Ela chegou na cidade de forma discreta, sem fazer barulho, vinda do interior do Mato Grosso. Técnica de enfermagem nova no posto de saúde, concursada, morando numa casinha alugada perto da pracinha. Morena de pele cor de mel, sorriso tímido, mas olhar que não se perdia à toa. Tinha uma beleza doce, sem exagero. Aquele tipo de mulher que não precisava mostrar nada pra deixar tudo claro.
Nos esbarramos num dia qualquer, quando fui buscar um remédio para o meu pai. Ela me atendeu com educação, mas com aquele brilho curioso nos olhos. No outro dia, nós nos vimos de novo na vendinha. Aí foi conversa daqui e elogio dali e, quando vi, ela já sabia meu nome e eu, o dela. Foi rápido o interesse, como se a gente tivesse se conhecido antes, num tempo que a gente não lembrava mais.
Mas cidade pequena é bicho cruel. As linguarudas não perderam tempo. Começaram a falar mal de mim para ela, como se estivessem fazendo um favor. Diziam que eu era bonito demais para prestar. Que meu sorriso escondia coisa. Que o que eu tinha de bonito, tinha de safado. Que não dava pra confiar em homem que faz mulher suspirar só de passar. Algumas inventaram até que eu já tinha “enredado” a filha da costureira, a prima do farmacêutico, a mulher do mecânico … Tudo invenção. Mais ou menos.
Mas Luana ... ela olhava para mim diferente. Ainda. E era aí que eu começava a temer porque, o que os outros falam, uma hora pesa. E mesmo quando o coração quer acreditar, a dúvida plantada pelos outros sempre cresce mais rápido que a verdade.
Nos dias seguintes, fiz questão de aparecer no posto mais vezes do que precisava. Um curativo no braço que nem sangrava mais, uma pergunta sobre saúde que eu já sabia a resposta, até uma receita de remédio que eu jurei que meu pai estava precisando. Luana atendia sempre com aquele sorriso leve, mas eu percebia: ela estava na defensiva. Alguém já tinha colocado veneno nos ouvidos dela.
Mesmo assim, não forcei. Só fui sendo eu mesmo. Nada de cantada besta, nada de papo mole. Cumprimentava com respeito, fazia piada de vez em quando, perguntava como ela estava se adaptando à cidade … coisas simples. Quando eu a encontrava na feira, carregava suas sacolas sem pedir. Um dia, ajeitei o pneu da bicicleta que tinha murchado. Outro, consertei o trinco do portão da casa, que estava dando trabalho.
— Você faz de tudo, hein, João? — Ela disse, rindo, quando terminei o serviço com as mãos sujas de graxa.
— Tudo não, moça. Só tento ser útil … e agradar quem merece.
Ela corou. Não respondeu. Mas sorriu diferente naquele dia. Mais receptiva.
As fofoqueiras continuavam na função delas, eu sabia. Luana também. Mas ela começou a escutar mais com os olhos do que com os ouvidos. Percebeu que eu não era homem de duas caras, só tinha a cara fechada mesmo. E que por trás da minha barba malfeita e do chapéu surrado, tinha um sujeito que olhava com verdade, interesse genuíno. E respeito.
Teve um dia que ela chegou até mim, no mercadinho, com a desculpa de trazer uma pomadinha nova pro machucado do meu braço, que já tinha sarado fazia tempo.
— Achei que podia te ajudar. — Disse, e sorriu o sorriso mais doce e lindo desse mundo.
— Agradeço a preocupação, Luana.
Ela ficou vermelha. Eu também. Mas, naquele momento, foi como se um silêncio bonito tivesse nascido entre a gente. Nem beijo teve. Só respeito. Só calma.
E foi assim, sem pressa, sem mentira, que Luana começou a me enxergar de verdade. Não como o rapaz bonito e “perigoso”, nem como o filho do capataz, mas como homem. Um homem meio bruto, sim, mas que sabia cuidar. Sabia esperar. E sabia querer.
Foi num domingo de sol, daqueles bons de nadar no açude, que Luana me convidou pra tomar um sorvete na praça. Eu até estranhei. Sempre fui mais de ser chamado para resolver problemas do que para passeio. Mas fui. Com camisa limpa, barba feita no canivete e aquele nervoso de menino apaixonado no peito.
Ela chegou de vestido florido, cabelo solto no ombro, sorriso tímido. Tava linda de um jeito simples, bonito. Nos sentamos num banco debaixo de uma mangueira e falamos de tudo: da cidade, da vida na fazenda, da solidão que às vezes dava, mesmo com tanto barulho ao redor.
— O pessoal fala muito de você, João. — Ela soltou de repente. — Dizem que você é … mulherengo, irresponsável.
Olhei pra frente, mastigando o silêncio. Depois, encarei os olhos dela.
— E você? O que você acha?
Ela demorou um segundo para responder.
— Acho que quem fala muito, vive pouco. E quem te olha com atenção vê outra coisa.
Não respondi. Só sorri. E naquele banco, naquele instante, sem nenhuma promessa, eu soube: ela começava a me escolher com o coração.
Na semana seguinte, a língua do povo tentou estragar tudo. Dona Néia, aquela que vive mais na janela do que dentro de casa, soltou um "aviso" para Luana no mercado:
— Cuidado com o João, viu, minha filha. Bonito ele é, mas não é homem de se prender. Já pegou até mulher casada … dizem.
Luana, que podia ter abaixado a cabeça ou saído em silêncio, fez diferente. Olhou firme para a velha e respondeu com calma:
— Pois é, dona Néia. Mas até onde eu sei, quem faz promessa de fidelidade é homem casado, não solteiro. E se João fez algo errado, não foi sozinho.
A notícia da resposta dela correu mais rápido que gripe. Quando chegou aos meus ouvidos, eu não sabia se ria ou se agradecia ajoelhado. Mas no fundo, entendi que tinha algo novo crescendo, forte e bonito. Algo diferente de tudo que eu já tinha vivido com outras.
Luana não era bicho solto como a Silvinha, nem miragem perigosa como dona Helena. Ela era uma mulher de verdade. De presença. De postura.
E eu estava começando a entender que não era só o corpo dela que me atraía. Era a coragem. Era a forma como ela olhava pra mim, como quem via mais do que só um rosto bonito ou um nome sujo de boato. Tava nascendo um sentimento. E daquela vez, eu queria fazer direito.
O convite veio, para minha felicidade. Jantar na casa da Luana. Só nós dois. Mesa posta, toalha de renda, até flor no centro da mesa, que eu colhi do jardim da dona Lurdes. Sem ela ver, claro.
Luana cozinhou. Arroz com carne de panela. Eu trouxe uma garrafinha de vinho tinto da capital, que um dos peões me deu de presente uma vez.
Luana estava linda, sorrindo, simples como sempre, com gentileza e brilho no olhar.
— Achei que bolo combina mais contigo do que sobremesa chique. Você me parece que gosta do de morango com doce de leite. — Ela disse, serena.
— Combina direitinho. Igual eu e você. — Eu disse, atrevido, arrancando um suspiro e uma risadinha leve dela.
A gente comeu devagar, conversando com calma. Eu falei da infância, das travessuras na fazenda, do meu pai, das noites que passava olhando pro céu imaginando um futuro que nunca parecia chegar. Ela me contou do irmão que morreu novo, da mãe doente, que se foi logo depois, do curso técnico de enfermagem feito na raça e do medo que teve de não passar no concurso. E depois, o medo de vir morar numa cidade longe de tudo o que ela conhecia.
Depois do jantar, a gente foi se sentar na varanda. O céu tava limpo, pontilhado de estrela e a noite soprava um vento que pedia aproximação. Fiquei calado um tempo, só ouvindo os grilos, até que olhei pra ela.
— Luana … sabe que eu não sou bom com essas coisas de falar bonito, né?
Ela sorriu, inclinando um pouco o rosto.
— Pode falar do seu jeito mesmo.
— Eu já tive minhas aventuras, nada perto do que esse povo maldoso adora falar. Mas ... é a primeira vez que eu realmente me sinto tão feliz e sortudo por estar com alguém. E esse alguém é você. Quando cê me olha, parece que vê o que nem eu sei explicar. E isso me dá medo. Medo de errar. Medo de não ser um homem a sua altura.
Ela segurou minha mão, apertando de leve.
— Eu também tenho medo, João. Mas quando te escuto falar assim, meu medo diminui.
A gente ficou ali, se olhando no escuro, até que ela encostou a testa na minha. Foi um beijo calmo. Sem pressa, sem invasão. Só verdade. Um beijo que começou na alma antes de tocar a pele.
Depois, ela afastou o rosto, ainda com os olhos nos meus.
— Eu sou virgem, João. E escolhi que só vou me entregar de verdade para o homem que eu me casar. Não por religião, nem por medo. É uma escolha. E quero que a primeira vez seja com quem me queira por inteiro. Não só pelo meu corpo. E quero ser honesta desde o início, para você não se sentir enganado.
Fiquei um tempo em silêncio, digerindo aquilo. Não era comum ouvir algo assim. Mas era bonito. Era forte.
— Eu te respeito, Luana. Respeito a sua escolha. Não precisa ter pressa, nem medo comigo.
Ela sorriu. E eu senti que estava vivendo um tipo de vida diferente. Uma que não pedia pressa, nem fazia jogo.
Naquela noite simples de comida caseira, olhar sincero e beijo terno, eu soube que o “João” bronco da fazenda, estava virando homem de verdade. O homem de alguém.
O namoro com a Luana foi crescendo como cresce milho bom na terra fértil: firme, no tempo certo. Não tinha pressa, nem cobrança. Tinha conversa de fim de tarde, abraço comprido na porta do posto de saúde, beijo leve e carinhoso na boca, quando ninguém estava olhando. E aquilo parecia bastar pra mim.
Mas para a cidade, não. Para aquele povinho, era como se eu tivesse cometido um crime. As fofoqueiras, que antes viviam se abanando quando eu passava, agora torciam o nariz, inventavam história, falavam que Luana era metida, que queria se mostrar demais. Diziam que eu era besta, que tava perdendo tempo com “moça de fora que vai me deixar com o coração na mão”. E o pior: falavam que o que eu tinha de bonito, eu tinha de burro por me deixar prender por uma só.
Luana ouvia tudo calada, apostando no que estávamos construindo. Eu ficava com o sangue quente. Mas ela sempre me segurava com aquele jeitinho calmo.
— Deixa falarem, João. Quem fala muito é porque queria estar no nosso lugar.
Mas a paz que a gente vinha plantando logo deu sinal de seca: dona Helena voltou da capital.
Desceu do carro como se tivesse voltado de Paris, salto fino batendo na pedra, cabelo escovado, perfume caro anunciando sua chegada a metros de distância. Quando me viu, apertou os olhos como quem tá calculando um movimento.
No começo, não falou nada. Só me olhava demais. No segundo dia, já começou com os pedidos.
— João, me leva até a cidade? Preciso comprar umas coisas.
— João, troca a lâmpada da varanda pra mim?
— João, vou precisar que me ajude com as malas, com o jardim, com os papéis do banco …
E assim foi. Todo dia tinha alguma coisa. Quando eu pensava que ia poder ver Luana depois do serviço, vinha algum recado da sede. Sempre algo urgente. Sempre com a dona Helena me esperando com um sorriso de canto de boca e um vestido curto demais para a hora do dia.
Fiquei esperto. Meu pai já tinha me dado o alerta, e eu sabia que ali, bastava um passo em falso pra perder tudo.
— Tá difícil, João? — Luana perguntou numa tarde, depois de três dias sem nos vermos.
— Um pouco. Parece que o universo resolveu botar tudo no meu caminho ao mesmo tempo.
Ela me olhou firme, sem drama.
— Se for muito difícil, você me fala. Não quero ser peso na sua vida.
Fiquei com um nó na garganta. Aquela mulher me fazia querer ser melhor.
— Você não pesa em nada, Luana. Só me dá leveza. Só me dá vontade de sair voando. O que pesa é o que tão tentando jogar nas minhas costas.
Naquele dia, fui dormir com o peito apertado. Porque eu sabia o que dona Helena queria. E sabia também que eu não podia dar.
Mas ela não era mulher de desistir fácil. E eu ia ter que aprender a dizer “não” de forma mais contundente, mesmo que os hormônios dissessem “sim”.
Os dias iam passando e eu já tava ficando no osso. O corpo doía menos que a cabeça, que vivia em guerra entre a razão e o desejo. Porque dona Helena, ah … ela sabia jogar. Cada dia mais provocante, mais direta, mais descarada.
Teve uma manhã que ela apareceu no curral, alegando que precisava “ver de perto” como andava o gado. Veio com um vestido leve, branco, que deixava tudo que devia ficar escondido, meio à mostra contra a luz do sol. E enquanto eu tentava explicar o trato das vacas prenhas, ela sorria com aqueles olhos de bicho caçador.
O pau latejava de tão duro, apertado na calça jeans. As curvas perfeitas que os raios de sol revelavam eram uma tortura.
— Você anda muito calado, João … — Ela disse, encostando no mourão da cerca. — É saudade da minha companhia ou excesso daquela menina do postinho?
Respirei fundo, puxei o chapéu pra frente dos olhos.
— Só ando cansado, dona Helena. Trabalhando demais. Só isso.
Ela sorriu torto, quase ofendida.
— Então vou cuidar pra te deixar ainda mais ocupado.
E cumpriu. Me botou pra fazer de tudo: levar compras, arrumar armário, resolver pendência no banco, buscar pacote nos correios. Um moço pra tudo, como se fosse castigo.
— Adoro homem que resiste. Dá ainda mais vontade. — Dizia dona Helena, baixinho só para eu ouvir.
Eu me acabava na punheta e se não bastasse a provação da dona Helena, Silvinha também adorava vir me atentar. Levantava o vestido, siriricava a bucetinha na minha frente quando estávamos a sós no curral, alisava os seios, empinava a raba e abria as bandas da bunda, rebolando na direção dos meus olhos.
Mas, mesmo assim, eu não cedia aos encantos das duas. Pensava na Luana e lembrava de como ela me olhava, com verdade, com respeito, com calma. E isso me segurava quando a dona da casa vinha com perfume forte demais, roupa justa demais, e aquela voz sussurrada que deixava meu juízo no fio da navalha. Ou quando Silvinha me atentava descaradamente, com aquele corpo pecaminoso e vadio.
Até que numa tarde abafada, eu voltava da cidade com um pacote de sementes. Nem bem desci do caminhão, um dos peões, o velho Nestor, me chamou de canto:
— Dona Helena mandou te chamar na casa grande. Disse que era coisa importante.
Assenti, mas estranhei. O recado tinha vindo com pressa demais, jeito de armadilha.
Subi a varanda devagar, o coração batendo meio estranho. A porta da sala estava só encostada. Antes de bater, ouvi vozes lá dentro. E o que escutei me travou no batente.
— … Eu sei muito bem o que você quer com meu filho, Helena. — Era a voz do meu pai. Firme. Baixa. Mas cheia de veneno.
— Seu filho é um homem, Antônio. Não é mais um menino. E eu sou uma mulher fogosa, solitária … Que mal tem nisso?
— O mal tá em usar o poder que você tem sobre ele. O mal tá em fazer ele pensar que isso é escolha, quando você não dá nem espaço pra ele respirar.
— Ah, por favor. Não me venha com essa sua moral de peão velho. Você tem inveja, é isso. Sabe que seu filho é homem demais pra ficar preso com uma mocinha sem graça como aquela enfermeirinha … e quando era você, eu não lembro de ouvir reclamação.
Meu sangue gelou. “E quando era você …”.
— Você passa dos limites, Helena. — Meu pai rosnou, e pude ouvir o ranger da cadeira. — Se você continuar com isso, eu vou embora dessa fazenda. E levo o João comigo.
— Você não teria coragem.
— Tenta mais uma vez pra ver se não tenho.
Fiquei ali parado. As mãos cerradas, o coração aos pulos. Era isso. A verdade nua, escancarada. Dona Helena não queria só brincar … ela queria destruir. E meu pai … meu pai tinha visto tudo muito antes de mim. Começou com ele.
Voltei devagar, sem fazer barulho, cabeça cheia. Era hora de escolher. E dessa vez, não entre desejo e razão. Era entre passado e futuro. Entre ser homem ou ser marionete.
Mas a conversa entre os dois escalou rapidamente e eu fiquei travado, incapaz de sair dali.
— Você tá só tentando adiar o inevitável, Antônio. João vai ser meu. Assim como você também é. — Dona Helena disse, num tom baixo, carregado de raiva e mágoa.
— Tô tentando fazer o certo pela primeira vez em muito tempo … — Respondeu meu pai. Só que não parecia o homem duro que eu conhecia. Tinha dor na voz dele. Cansaço também.
— O certo? Agora você quer bancar o santo? Depois de todos esses anos?
— Eu tô cansado, Helena … — Ele disse. — Cansado de carregar esse pecado nas costas. João não merece o mesmo destino que o meu.
— Pecado? — Ela riu, amarga. — Pecado é ter que engolir aquele desgraçado do meu marido a vida toda com outras mulheres. Me fazendo de troféu, a mulher que ele exibe para justificar uma vida falsa e chama de esposa, enquanto me deixa trancada aqui, mofando feito mobília velha.
Ela suspirou dolorosamente.
— Pecado foi aceitar esse casamento de fachada, com um homem que já tinha até outra família escondida. Você sabe disso. Sempre soube.
Silêncio.
— Eu me calei, aceitei, era isso que esperavam de mim. Calei porque achei que ia ter paz. — Ela continuou. — E sabe o que eu ganhei? Filhos mimados, mal-educados, promessas quebradas, uma vida de luxo e futilidade, vazia …
Ela se aproximou do meu pai, o abraçando.
— Nem você … me olha mais com a mesma admiração e desejo que olhava antes …
— Não é isso … — Disse meu pai, num sussurro que parecia mais um lamento. — Eu nunca deixei de te querer, Helena. E você sabe disso. Acontece que agora o João …
Meu corpo gelou.
— O João é um homem, Antônio. Um homem feito. E é lindo, é forte … e ele me olha como você já não olha mais.
— Helena, pelo amor de Deus … — Meu pai rosnou. — Ele é … ele é meu filho.
— Não. — Ela respondeu, seca. — Não é.
O tempo parou.
— Para com isso, Helena. Retira o que disse. — Meu pai exigiu.
— Retiro nada, Antônio. O João … é seu filho só no nome. — A voz dela ficou baixa, mas firme. — Nós sabemos muito bem quem é o verdadeiro pai dele. Judite, que Deus a tenha, sua esposa, foi a primeira que aquele desgraçado esfregou na minha cara, na nossa cara, na verdade. Bem debaixo dos nossos narizes ...
Meu pai já não tinha forças para reagir. Eu muito menos. Ouvia tudo calado, incapaz de acreditar. Helena continuou.
— Você lembra, não lembra? Você era só um peão novo … e ele, dono de tudo …
— Eu sei disso … — Meu pai disse, a voz quase sem ar. — Eu sei, desde o dia que ela voltou do médico e desabou no meu colo. E sabe o que eu fiz? Eu calei a boca. Porque ele me pagou. Porque ele disse que se eu abrisse o bico, não arrumava mais trabalho nem para catar bosta de cavalo.
Helena continuou, a voz mais amarga agora:
— E eu também calei. Engoli tudo. Porque nos seus braços, Antônio, eu tinha o mínimo de carinho. Só você me olhava como mulher.
Meu pai bufou. Quase chorei ao ouvir aquele som.
— Eu criei o João como meu. Dei comida, dei cama, dei nome. Eu amei aquele menino como se fosse meu sangue. E agora … agora você o quer?
— Eu quero ser feliz! — Ela gritou. — E ele é homem. Não tem culpa de nada. Se ele me quiser, eu largo tudo. E vou embora com ele. Você não me quer mais, mas ele sim, me olha com fome, como quem quer me devorar inteira.
— Você quer destruir o pouco que eu ainda tenho, Helena. — Meu pai sussurrou. — E sabe qual é a parte mais cruel disso tudo? É que mesmo depois de tudo, mesmo sabendo que ele não é meu … eu amo aquele moleque. Amo como se fosse meu sangue, minha carne.
Meus olhos estavam quentes. A boca seca. As pernas bambas. O mundo tinha virado do avesso, e eu ainda nem tinha aberto a porta.
— Eu vou te dar o que você quer, Helena.
A voz do meu pai ecoou pelo corredor, rouca, carregada de uma urgência que fez meu coração acelerar. Eu estava ali, parado atrás da porta entreaberta, sem saber se deveria sair ou simplesmente observar. A tensão no ar era palpável, como se o tempo tivesse parado só para aqueles dois.
Helena recuou, seus olhos arregalados, mas algo na expressão dela me fez perceber que aquilo não era medo. Era expectativa. Seus lábios se abriram, mas nenhuma palavra saiu. Meu pai avançou, cobrindo a distância entre eles em dois passos largos.
Meu corpo ficou tenso, minhas mãos suando.
— Você sempre soube, não é? — Ele segurou o rosto dela com firmeza, os dedos pressionando suavemente sua mandíbula. — Nunca parei de te desejar. Nem por um segundo.
Helena engoliu em seco, mas não respondeu. Seus olhos brilhavam com uma mistura de desejo e algo mais profundo, algo que eu não conseguia nomear.
Meu pai não esperou por uma resposta. Suas mãos desceram rapidamente até a cintura dela, e num movimento brusco, ele puxou o vestido que ela vestia. O tecido rasgou com um som seco, expondo parte do corpo dela. Helena soltou um suspiro, mas não tentou se esquivar.
Eu me senti como um intruso, mas não conseguia me afastar. Havia algo naquela cena que me paralisava, algo que me prendia ali, obrigando-me a testemunhar aquilo.
Meu pai a empurrou contra a parede, o corpo colado no dela, e eu pude ver os músculos das costas dele enrijecendo. Ele sussurrou algo no ouvido dela, algo que eu não consegui escutar, mas que fez Helena fechar os olhos e inclinar a cabeça para trás.
— Vou te foder do jeito que você gosta, como a puta que você é. Eu te amo, sua desgraçada.
Helena apenas gemia, entregue.
Meu pai trançou uma mão no cabelo dela, com força, e a outra arrancou sua calcinha, a rasgando, com um movimento visceral. Ele tirou o pau para fora da calça, e enterrou de uma vez, num gesto brusco e potente, arrancando um gemido gutural.
— É disso que eu estava falando … Ahhhh … que saudade, Antônio … Ahhhhh … só você me fode assim, me dominando por inteira.
— Ahhhh, Antônio … mais! — O gemido de Helena ecoou pelo quarto, rouco, cheio de uma necessidade que parecia arder dentro dela.
Meu pai não hesitou. Seus quadris batiam com força contra os dela, cada movimento um testemunho da fúria e do desejo que ele carregava. Eu estava ali, escondido atrás da porta, incapaz de me mover, incapaz de respirar.
O som de pele contra pele preenchia o ar, úmido e pesado. O odor do suor e da luxúria quase me sufocava, mas eu não conseguia fechar os olhos. Ele a colocou de quatro sobre a cama, as mãos dela agarrando os lençóis com tanta força que os nós dos dedos branquearam. O corpo dela tremia a cada embate, e eu podia ver os seios balançando livremente, os mamilos eretos, roçando contra o tecido da cama a cada estocada.
— Você é minha, Helena. — Meu pai rosnou, suas mãos firmes nas ancas dela.
Ele a puxou para trás, encontrando o seu ritmo, profundo, incansável.
— Sua puta. Sua vadiazinha. Deixa o João em paz. Seu macho sou eu.
Helena gemeu, um som gutural, animal, que saía do fundo da garganta. Ela arqueou as costas, empurrando o quadril para trás, encontrando cada movimento dele.
— Antônio … sim! Assim … assim! — Suas palavras eram fragmentadas, entrecortadas por gemidos que pareciam vir de um lugar profundo, primitivo.
Meu pai curvou-se sobre ela, suas mãos agarrando os seios, apertando-os com força, os dedos marcando a pele.
— Você gosta, não é? Gosta de ser fodida assim, como uma cadela no cio.
— Sim! — Ela gritou, a voz quebrando, cheia de prazer e submissão. — Eu sou sua, Antônio! Sua cadela! Sua puta!
Ele riu, um som baixo e rouco, e então levantou-se novamente, aumentando o ritmo. As nádegas dela tremiam com cada impacto, a pele ficando vermelha onde as mãos dele apertavam. Eu podia ver o pau dele entrando e saindo dela, molhado, brilhando. Era uma visão obscena, e ainda assim eu não conseguia desviar o olhar.
Meu pai mudou a posição, levando uma das coxas dela para o lado, abrindo-a ainda mais. Ela gritou, o som ecoando pelo quarto, enquanto ele entrava mais fundo, batendo em um ângulo que a fez tremer por inteira.
— Assim, assim! — Ela choramingou, os dedos enterrando-se no lençol. — Não para, Antônio, por favor, não para!
Ele não parou. Seus quadris eram implacáveis, cada movimento uma afirmação do controle que ele tinha sobre ela. Ele a pegou pelos cabelos, puxando a cabeça dela para trás, expondo o pescoço.
— Você é minha, Helena. Para sempre minha.
— Sua! — Ela gemeu, quase um pranto, enquanto ele a fodia com uma intensidade que parecia consumir os dois.
Eu sentia o meu próprio corpo reagir, o meu pau duro, pulsando, preso nas minhas calças. Eu sabia que não devia estar ali, que não devia ver aquilo, mas algo em mim não conseguia se afastar. A intensidade, a paixão, o desejo … tudo isso era demais para ignorar.
Meu pai a empurrou de volta para a posição de quatro, agarrando suas nádegas com ambas as mãos. Ele abriu as duas metades, a expondo completamente, e eu podia ver o quanto ela estava molhada, o quanto ela estava aberta para ele.
Ele passou o polegar no cuzinho e o atolou. Ela gemeu alto, empurrando o corpo para trás, implorando por mais.
— Você quer, não é? Quer que eu te foda até você não conseguir andar.
— Sim! Por favor, Antônio, eu preciso! — A voz dela estava quebrada, cheia de necessidade, e ele não fez cerimônia.
Ele alinhou o pau no cuzinho, entrando com uma estocada lenta, mas insistente, poderosa, forçando um grito dela.
— Fode esse cu … mete tudo … mata o meu desejo … Ahhhh … que saudade do meu Antônio.
Ele começou a mover-se novamente, mas mais devagar, mais carinhoso. Cada movimento calculado.
Ele curvou-se sobre ela novamente, sussurrando algo no ouvido dela que a fez tremer. Ela gemeu, um som longo e contínuo, enquanto ele continuava a foder.
— Eu te amo, Helena — Ele sussurrou, a voz rouca e cheia de emoção. — Você é tudo para mim.
— Antônio … — Ela gemeu, o nome dele saindo como uma prece.
Ela estava perto, eu podia ver.
Ele aumentou o ritmo, suas coxas batendo contra as dela, o som da pele contra pele enchendo o quarto. Ele agarrou os cabelos dela novamente, puxando-a para trás, forçando-a a arquear as costas ainda mais.
— Goza, Helena. Goza para mim. Goza pro seu macho.
— Ahhhh! — O grito dela ecoou, cheio de prazer, enquanto o corpo tremia.
Ele continuou a esticar, prolongando o prazer dela, até que ela quase caiu sobre a cama, exausta.
Meu pai tirou o pau de dentro, e eu podia ver o líquido escorrendo entre as pernas dela. Ele rapidamente virou-a, deitando-a de costas, e então pegou suas pernas, abrindo-as. Ele apontou o pau novamente, e entrou em um movimento fluido, arrancando um gemido de êxtase.
— Caralho, Antônio! Ahhhhh … Acaba comigo de uma vez …
Ele curvou-se sobre ela, beijando-a com uma paixão que era quase violenta. Suas mãos agarravam os seios dela, os dedos apertando os mamilos, enquanto ele se movia dentro dela. Implacável, insaciável.
— Você é minha, Helena. Para sempre minha. — Ele brandou, a voz cheia de paixão e posse.
Helena apenas gemeu, o corpo respondendo a cada movimento, enquanto ele continuava a fodê-la, agora mais devagar, mais profundamente. Faziam amor.
Eu podia ver o orgasmo dela se aproximando novamente, o corpo tremendo inteiro.
— Goza, Antônio … goza dentro de mim — Ela implorou, a voz fraca, mas cheia de desejo.
Ele não resistiu. Enterrou-se profundamente nela, e eu podia ver o corpo dele enrijecer, enquanto ele gozava, seu líquido quente a enchendo.
Helena gemeu, os orgasmos se misturando, enquanto o mundo parecia parar ao redor dos dois.
E eu estava ali, parado, observando, meu corpo tremendo, o pau latejando, meu coração batendo forte no peito. Eu sabia que não devia estar ali, mas …
Continua …