Helena entrou na loja decidida, como quem carrega uma missão. Com traços delicados e elegantes que lembravam Nicole Kidman — pele clara e quase translúcida, cabelos ruivos esvoaçantes e olhos verdes penetrantes — ela parecia uma figura saída de um filme clássico, mas hoje sua expressão carregava uma mistura de raiva e determinação.
A seção de lingerie parecia luxuosa demais para seu humor no momento. Ela não queria seduzir — queria transformar. Ou melhor: corrigir.
Os olhos dela seguiram direto para a discreta porta de vidro fosco com a inscrição em dourado: Área especial – Aprofunde sua fantasia.
Lá dentro, o ambiente era mais reservado, com iluminação suave e prateleiras cheias de possibilidades. A vendedora, Fabiana Carla, era baixinha e gordinha, com um rosto redondo e sorriso aberto, mas seus olhos negros brilhavam com uma intensidade ardente — exalavam pura luxúria, como se cada cliente que entrasse fosse uma nova promessa de prazer.
— Posso ajudar com algo mais... específico? — Fabiana perguntou, sua voz carregada de uma sensualidade sutil e os olhos fixos em Helena, carregando um fogo quase palpável.
Helena respirou fundo. Não tinha mais paciência para meias palavras.
— Quero dar uma lição no meu namorado.
— Ah, problemas de comportamento? — Fabiana sorriu, pegando o tom da conversa, os olhos brilhando ainda mais intensamente. — Me diz uma coisa, como ele é na cama? Consegue fazer umas posições? Você sente a penetração? Ou é só promessa e nada?
Helena franziu a testa, o rosto contornando uma mistura de ironia e frustração.
— Sinceramente? Eu só sinto uma cosquinha — disse, com um meio sorriso amargo. — E tem uma coisa pior... ele nunca deixa ninguém chegar perto do "botãozinho" dele. Mas o meu ele usa — constantemente.
Fabiana arqueou uma sobrancelha, o brilho de seus olhos se intensificando como uma chama.
— Entendi... ele é egoísta, então, gosta de receber, mas não de dar?
— Exatamente. E ainda acha que está arrasando — Helena bufou.
Fabiana assentiu com uma expressão quase maternal, embora seus olhos jamais perdessem aquele brilho lascivo, como se o desejo estivesse sempre à espreita por trás do seu sorriso.
— Você não quer apenas puni-lo. Quer... reprograma-lo.
Ela se aproximou, baixando o tom da voz, quase como se dividissem um segredo antigo.
— Quero mais que isso — Helena sussurrou, encarando-a. — Quero que ele sinta o que é ser do outro lado. Quero que ele mude, que perca aquele ego arrogante. Que aprenda a ser mais... submisso. E por que não, mais feminino? Não como punição, mas como um novo papel. Quero ver ele se moldando ao que eu decidir. Quero que ele me deseje... e que me obedeça.
Fabiana sorriu com prazer profissional, os olhos negros brilhando como brasas intensas. Caminhou até uma gaveta fechada e tirou uma pequena caixa acetinada, com um frasco fosco e um manual minimalista.
— Essa fórmula aqui age em duas fases. A primeira aumenta a virilidade dele. Desejo, excitação, sensibilidade. Ele vai ficar mais receptivo a toques, elogios… e ordens. A segunda, com sua ajuda, começa a redirecionar essa energia. O corpo suaviza, os traços se ajustam, os comportamentos se tornam mais delicados. Mais atentos. A mente começa a se adaptar ao prazer de agradar, de ser conduzido, de se entregar. E o mais interessante: ele não vai resistir. Vai achar que tudo está florescendo de dentro dele.
— Isso é exatamente o que eu quero. — Helena segurou o frasco com firmeza. — Não vou gritar. Não vou chorar. Vou transformar. Com calma, com inteligência. Ele vai se tornar aquilo que mais desprezava — e vai me agradecer por isso.
Fabiana colocou um pequeno folheto junto ao frasco.
— Aqui tem algumas orientações: palavras de ativação, sugestões de roupas para as fases mais avançadas, e uma sessão sobre controle sensorial. Tudo para que você guie o processo com prazer — para ambos.
Helena saiu da loja com um sorriso nos lábios. Pela primeira vez em semanas, sentia-se no controle. A decepção virou desejo de mudança. A traição se tornaria submissão. E o namorado? Bom… logo ele não seria mais apenas um namorado. Seria dela — em todos os sentidos.