Ao ver Tonny correndo em direção ao caminhão, Ricardo não pensou duas vezes. Partiu em disparada atrás dele, com o coração acelerado e um nó na garganta. No último segundo, conseguiu alcançá-lo e o empurrou com força para o outro lado da rua. Ambos caíram juntos no chão, enquanto o caminhão seguia com um ronco alto e um grito do motorista:
— Bando de doidos! Querem morrer, é?!
Ricardo, ainda ofegante, levantou-se rapidamente e puxou Tonny pelos braços.
— Cara, você tá doido?! Tá querendo se matar, é?!
Tonny não respondeu. Apenas o abraçou com força, desabando em lágrimas. Ricardo retribuiu o abraço, apertando-o contra o peito.
— Calma, calma... — disse baixinho. — Vamos lá pra casa, você me conta o que aconteceu.
André, que observava tudo de longe, se aproximou, confuso.
— Mano... tá tudo bem com ele?
Ricardo assentiu com a cabeça e respondeu com calma:
— Tá sim. Vai jogar seu videogame um pouco, beleza?
— Tá bom... — murmurou o irmão, ainda desconfiado.
Ricardo colocou a mão no bolso, entregou algum dinheiro a André, e apoiou Tonny nas costas, ajudando-o a caminhar. Enquanto seguiam pelas ruas, vários olhares curiosos os acompanhavam.
Quando chegaram em casa, Ricardo foi direto à cozinha. Preparou um copo de água com açúcar e entregou para Tonny, que ainda chorava e soluçava. Ele bebeu aos poucos, tentando se recompor.
— Eu sei que a gente mal se conhece — disse Ricardo, sentando-se ao lado dele no sofá — Sei como é difícil morar numa cidade nova, longe de tudo e todos, sem amigos... Mas eu tô aqui. E quero ser seu amigo. Pode me contar o que aconteceu pra você querer fazer aquilo.
Tonny enxugou o rosto com as costas da mão.
— Cara... eu não posso te contar tudo. Mas... tudo bem.
Ricardo assentiu.
— Eu entendo. Tô aqui pra te ajudar. Fala o que você puder, o que quiser.
— Eu tinha uma vida em São Paulo — começou Tonny, a voz embargada. — Tinha pessoas que eu amava lá. E... fui forçado a vir pra cá. Eu não queria. Só que...
— Só que...? — incentivou Ricardo.
Tonny hesitou.
— Não posso falar mais. Ninguém pode saber sobre isso.
— Eu entendo — respondeu Ricardo. — Eu também tenho segredos. Coisas que não posso contar a ninguém. Por isso escrevo tudo num diário. É minha forma de não me afundar nos problemas... e olha que são muitos.
Tonny deu um meio sorriso, pela primeira vez naquela tarde.
— Você parece ser um cara legal. E eu... nem sei seu nome ainda. Desculpa.
— Tudo bem — respondeu Ricardo, rindo com leveza. — Meu nome é Ricardo.
— Heh... — Tonny sorriu mais abertamente. — Prazer, amigo.
A conversa fluiu leve depois disso. Falaram por horas, sobre tudo e nada. Até que a irmã de Ricardo chegou em casa.
— Oi, maninho! — disse Amanda, entrando animada na sala.
— Oi, mana — respondeu Ricardo. — Esse aqui é o Tonny, meu mais novo amigo.
— Oi, tudo bem? — disse Amanda, estendendo os braços para abraçar Tonny.
— Tudo bem — respondeu ele, um pouco envergonhado.
— Tô indo me arrumar pra festa do Léo. Vocês não vão?
Ricardo arregalou os olhos.
— A festa do Léo! Verdade! Valeu, mana.
Tonny pareceu hesitar.
— Bem... acho que vou pra casa. Moro meio longe, e assim não vai dar tempo de ir pra festa.
— Que isso, cara — disse Ricardo com firmeza — Fica aqui. Veste uma roupa minha mesmo.
— Não, imagina... Eu estaria incomodando.
— Nada disso. Você não tá incomodando. Vem, vamos pro meu quarto.
Tonny aceitou, ainda relutante. Subiram juntos. Ricardo começou a separar algumas roupas, tirou as suas e deixou que Tonny escolhesse. Ele optou por uma calça jeans escura e uma camisa preta com listras cinza. Ricardo escolheu uma camisa branca com detalhes dourados.
Tomaram banho, um depois do outro, e começaram a se arrumar. No quarto, enquanto se penteavam diante do espelho, as mãos dos dois se encontraram ao mesmo tempo no pente.
Por um momento, ficaram imóveis, se encarando. Os olhos de Ricardo encontraram os de Tonny, e ali havia algo não dito, algo que queimava no ar. Ricardo sentiu o calor da proximidade, o coração disparado no peito. Lentamente, foi se aproximando da boca de Tonny...
Continua...