27 (Sérgio)
Eu estou amando.
Estou sentado na mesa de jantar pela terceira vez para o café da manhã, Felipe estava falando de Dr. Mauro e Dr. Chico, são os controladores principais de um banco de investimentos recente, mas com uma proposta bem disruptiva, Felipe olhava pra mim e diz que tem uma proposta pra mim, era não um amigo pessoal, mas em relação a dinheiro podia dizer que eles eram amigos, pediu um favor a eles, sempre houve um interesse de levar as contas do hospital para lá, o problema é que não era um tipo de agência que eles fazem, não tinham experiência, porém estavam querendo me empregar para poder levar o hospital como único correntista de pessoa jurídica, e estavam me perguntando se eu queria esse emprego, esse desafio e esse risco.
É claro que eu queria, mas era uma coisa muito arriscada, era uma coisa que ia levar bastante tempo e investimento de tempo é investimento de capital e eu queria, mas era uma responsabilidade maior do que eu podia gerir, Noah diz que era mesmo, por isso ia estar nas mãos do banco e não nas minhas, o risco que eu ia correr era me demitir de um emprego conhecido para essa aventura, riscos calculados ainda são riscos. Eu queria, queria poder fazer isso, eu talvez precisasse de apoio de uma micro equipe, e eu não sei o que tem nessa outra empresa, mas eu queria, então eles me levaram até o escritório, Diogo e Noah me acompanhavam.
“Sérgio, houve três coisas ontem que precisamos deixar bem resolvidas. A primeira, você desceu até a garagem ontem para... [disse que para ver se tinha um colchão sobrando], pegar um colchão, sabíamos. Os funcionários se demitiram, fanatismo religioso, ok, isso não era uma coisa que você pudesse controlar, a cabeça de outra pessoa, ok. A segunda coisa é que eu conheço Bruno há uns oito ou nove anos, isso deve dar uns sete anos que eu sei das histórias e batalhas de Otávio, são homens feitos, mas por dentro são quase garotos, eu sei que são apenas isso, quase garotos, mas não sabemos quem você é, e espero que você não se sinta ofendido em iniciarmos uma investigação sobre quem é você que talvez venha mexer com parte importante de nossas finanças, eu não tenho nada com o hospital, mas o pão de hoje que você e eu comemos vem de lá, riscos calculados ainda são riscos. E é diferente avisar a você do que sair perguntando a seus funcionários como é a nossa rotina e intimidade, não é? A terceira coisa é que eu gostaria que você dissesse qual a natureza do relacionamento entre meus dois amigos e você, porque eu sei que eles estão falando que você é namorado deles, mas não ouvi nada disso vindo de você, então...”
“Então eu passei uma noite muito diferente da que eu imaginei passar quando saí ontem de casa. Acordei abraçando um homem, ele me beijou hoje de manhã, e o marido dele, me abraçou por trás enquanto eu escovava os dentes com uma escova que eles tiraram da gaveta e eu desembalei, disseram que era a minha, para eu decorar a cor. Eu não sei como você chama, estou assustado, não era o que eu queria, não tem nada a ver com o que eu planejo para mim, mas aquela escova está no lugar certo, eu sei que tenho de ir para meu trabalho, tenho de ir até o novo trabalho e começar uma conversa que pode dar em nada ou mudar minha vida, tenho de sentar no meu sofá e gritar muito, tem muita ansiedade no meu juízo, mas eu tenho uma escova de dente roxa, e eu não vejo a hora de usar ela novamente, eu tenho dois namorados, eu tenho uma vida de histórias para compartilhar, eu sou um homem negro e sinto todas as formas de racismo ao longo da semana, eles me chamam de Serginho aqui, mas lá em cima é de preto, você não faz ideia o que é ser o preto de alguém, eles estão começando a história deles juntos agora, e eu fui arrastado para uma história tão linda, e eu agora sou um homem negro e gay, e eu estou com medo de mais um estigma de dor, mas foda-se, eu não sentia dor, alegria, felicidade e prazer há muito tempo e eu estou falando de hoje pela manhã e não de ontem a noite. Por enquanto eu sou o namorado deles, pode ser só uma brincadeira deles, e meu medo agora é só esse, de passar, de passar...”
Eu ganhei dois abraços. Noah chama Bruno de retardado, Daniel também, e são os únicos humanos que fazem isso e não morreram ainda, Noah chamou Bruno de retardado e perguntou o que ele planejava pra mim, se eu ia ficar em meu apartamento, se eu ia me mudar para cá, “essa noite ele volta e depois ele decide, o que posso fazer é beijar Serginho, a vida dele ainda é dele, ele decide, eu torço”, Otávio restava lavando os pratos, havia agira coisas a fazer, eu respirei fundo e tomei coragem de realizar minha primeira ação não provocada por outra pessoa, eu o abracei por trás e chorei seu pescoço, disse que estava apaixonado, e ele sorriu e disse que Bruno era assim mesmo, mordi ele no pescoço, orelha e na ponta do queixo quando ele voltou, não era só pelo Bruno, pedi para ele ver se tinha banana ou goiaba para eu fazer lanches durante o dia, eu tinha de trabalhar, ele me olhou triste, tempo demais sem trabalhar formalmente, “sabe que eu tô indo por você e pelo Bruno também, que enquanto eu estiver com vocês não tem esse negócio do meu e do teu, eu estou disposto a levar a brincadeira a sério e adiante, fala com o ogro, a gente precisa conversar sobre o que está acontecendo”.
Otávio me beijou, eu queria subir com ele, Leonardo passou por nós e deu bom dia, disse que era melhor a gente aproveitar o dia, estamos ilhados e só estava passando veículos essenciais, serviços de saúde, segurança, e a defesa civil para retirar as árvores do caminho, mandou carregar os eletrônicos, ia ficar faltando luz e voltando naquele e no dia seguinte. Liguei para o trabalho e avisei, muita gente havia faltado também. Fiz uma ligação de vídeo com Noah e Conrado para o banco novo, falei com uma dupla de irmãos, Vitor e Artur, havia muito, muito, muito a ser discutido, a ser feito. Mas estava acontecendo, desligamos a ligação e Conrado me beija, do nada, não tive como dizer não, foi rápido, quando saí do escritório a casa era a mesma, Noah viu meu desconforto e me levou até Bruno, nos colocou lado a lado e chamou Danilo que saiu do estudo um instante, “Danilo, vamos dar uma relaxada aproveitando uma mamada bem gostosa nesses dois?”
Bruno não respondeu nada, sorriu, beijou Danilo e baixou a calça de pijama que não usou para dormir, Noah estava a meus pés, e eu já conheci algumas poucas pessoas realmente ricas, e sabia que se juntasse todo o dinheiro delas talvez chegasse ao saldo dele.
De um momento para o outro eu estava segurando os cabelos loiros dele para garantir meu pau não saísse de sua boca, “Mas você não está traindo seu namorado, está?”, a pergunta maledicente dele e o seu sorriso malicioso... Bruno passa a mão ao redor de minha cintura e diz mordendo meu pescoço que Noah só estava enchendo o saco, foi estranho de um jeito bom e gostoso de um jeito quase errado, como se fosse uma violação, Bruno estava a meus lado e sorria, depois ele trocou de lugar com Danilo, Danilo me olhou e eu quis beijá-lo porque ele é lindo, e beijei e ele também gostou, e acabou que nós quatro fizemos sexo entre o console e a mesa da sala de jantar, e os caras estavam passando pela cozinha, pelo lounge da área externa e nada aconteceu, e era estranho, e eu gozei e saímos nus para o deck tomamos banho no chuveiro externo e mergulhamos na piscina como se nada demais houvesse acontecido, e a piscina é cercada por um muro e cerca viva de plantas, ouvimos um som de drone, corremos para uma área coberta, possivelmente era algum corretor fazendo imagens de uma casa para venda, o uso desse aparelho só pode acontecer quando o síndico autoriza isso, ainda assim me vi pensando em a mão do estado e da igreja me perseguindo por ter feito sexo não ortodoxo e não autorizado. Loucura de minha cabeça.
Ia levar um tempo para eu me acostumar com a liberdade, essa que está na mão de todos ali, que o dinheiro de Noah lhe garante, que a falta de dinheiro de Otávio lhe dá, só a classe média e o proletariado tem esses limites morais, era complicado ir contra esse pensamento.
Comi sentado na mesa completamente nu, outros também, mas nem todos, ao acabar de comor Uchôa tirou a roupa e se deitou no chão, Gaspar o seguiu meio tímido, o ruivo abraçou o grisalho por trás, outro casal se formou, Gabriel e Bruno, outros se estenderam sozinhos, eu era um deles, dormi, acordei mais cansado ainda, Noah estava com um jeans e uma camiseta contou de como foi a viagem, distribuiu seus kindles, eu já estava esperando não receber, mas faço parte agora, alguém bate a porta e ele vai atender, um oficial de justiça quer intimar Daniel e Gabriel, um alvoroço, acredito que o homem nunca viu tanto homem junto, tanto homem nu junto, ele deve ter se sentido acuado, quase gritei que não era civilizado ser hostil com um representante da lei. Ele agradeceu, recolheu as assinaturas e saiu.
Gabriel explica o fato, era só uma questão burocrática, havia um escritório de advocacia no caso e ele já havia sido alertado previamente sobre isso. Fomos tomar banho e nos preparar para uma noite de pizza, especialidade de Felipe, vinho de supermercado, riram da mania de colecionador dele.
Eu me senti abraçado por uma família, eu resolvi baixar minhas defesas e começar a aceitar a ideia de fazer parte dela.
A noite foi diferente, eu não tinha roupas aqui, vesti o que Daniel me emprestou, eu havia preparado nuns papéis organogramas de rotina do banco, estava arrependido de jogar fora aquele material institucional que eu recebia, mas iria mandar para meus arquivos pessoais as normativas, as diretrizes, era melhor desenhar os novos organogramas a partir de um fluxo pré-existente, pareceu uns minutos mas Otávio disse que eu trabalhei durante quase três horas, eu escrevi demais, eu acho que as linhas estavam se formando e eu faria uma bela apresentação na próxima semana. Otávio foi me puxar do escritório, dez e meia, tomei banho e capotei ao lado de Bruno. Acordei para uma faxina no nosso quarto, depois eu iria ao meu apartamento pegar boa parte das roupas, objetos pessoais, meu computador, documentos, os livros que estou lendo no momento. Fui com Leonardo (que estava fazendo a mesma coisa que eu, Uchôa e Gaspar (que passaria no apartamento do filho para pegar suas coisas depois) foram ajudar, fomos na caminhonete de Daniel que caberia muita coisa e no meu carro. Primeira parada era a casa de Leonardo, as coisas dele eram muito poucas, ele era aquele tipo minimalista, guarda-roupa cápsula, e as coisas dele estavam de um jeito que parecia que ele tinha de se desculpar com as visitas que chegavam pela organização, foi isso o que Gaspar falou e eu não queria gargalhar, mas me atrevi a abraçar Leonardo de lado e ri, gargalhei e ele ficou vermelho demais, e abriu um sorrisão.
Ser careta era uma coisa que Leonardo não era definitivamente, metal pesado era a música favorita dele, ecologista militante, mas tinha uma Harley-Davidson, ele era uma pessoa peculiar e tinha senso de humor refinado, silencioso, era bem diferente de uma grosseria juvenil, coisa de pirralho implicante que Gaspar tem, esse é bem louco, o humor dele é sempre bom, mas parece que ele estava alternando entre os muitos personagens do mesmo comediante, e eu gostava deles.
Depois do apartamento de Leonardo veio o meu, bem... estava tudo limpo, mas estava realmente um caos completo, todas as coisas em um canto aleatório, mas perfeitamente habitável, ou quase, dizem que a casa é a continuidade da pessoa, e eu sou difícil de entender. “Amigo, nós temos um passatempo novo por aqui, tentar saber quantas pessoas vasculharam sua casa, caramba, aquilo é um sofá ou seu guarda-roupa?”, Uchôa deu um tapa nas costas de Gaspar para ele ficar calado, mas eu disse que estava tudo bem, eu não recebia ninguém naquela casa havia seis anos ou mais, usava os feriados para dar uma geral, mas nunca mais tive tempo, era assim, as coisas refletem o espírito do dono. Gaspar disse que isso era uma meia verdade, eu era muito melhor que essa bagunça, talvez aleatório “... como uma selva, mas com uma beleza na coisa toda, essa porra aqui não tem porra nenhuma a ver contigo”. Por ser a coisa mais gentil que ouvi há um bom tempo a respeito de mim, por talvez eu querer testar meus limites, eu o beijei, na frente de Uchôa, e foi um beijo com retribuição, senti a língua de Gaspar brincando com a minha, “Porra, negão, se esse beijo tivesse acontecido na semana passada eu ia quebrar tua cara, mas... vai ter mais”.
Busquei o que eu mais precisava para os próximos três ou quatro dias, fui só banheiro, joguei minha escova de dente no lixo, estava desgastada, mas eu não ia precisar de uma escova para mim nesse lugar, espero que nunca mais eu possa chamar esse lugar de casa, é meu apartamento, mas quero fazer minha casa noutra casa.
Próxima parada, casa dos garotos, os filhos de Uchôa, ele simplesmente falava desses rapazes como se fossem uma mistura entre super-heróis de algum filme ou game e um gênio prestes a revelar a cura do câncer. Ou talvez eu estivesse com ciúmes por a alienação parental que sofri tenha efetivamente me separado de minha filha, e tudo bem... Lá estavam Murilo, Roger e Bryce, e os outros na faculdade. Murilo se jogou nos braços do pai e lhe cobriu de beijinhos, no final um beijo romântico entre eles, Uchôa beijou os três, na frente de todos inclusive do pai de Bryce, (é minha tentativa de chocar Uchôa foi ridícula). O ruivo disse que estava tentando manter um relacionamento com Gaspar, que Danilo é inseguro demais para um relacionamento a quatro, mas deu certo, contou das mudanças que aconteceram na última semana, a principal era que estava animado com essa estória de Gaspar, era bom de cama, engraçado e ainda tinha um filho de coração imenso, Gaspar ia pedir desculpas a Bryce.
Bryce pergunta quem era eu, me apresentei formalmente, engraçado que eu acreditei que ia encontrar uma antipatia entre Gaspar e seu filho, mas Bryce foi gentil com o pai e em muito pouco tempo tudo estava resolvido e poderíamos ir, entretanto, sentamos, Uchôa falou que estávamos montando uma festinha, íamos chamar uns caras de fora, perguntou se os garotos queriam ir, “Claro que sim, quem não sonha encher de porra o cu do sogro?”, depois que Murilo disse isso, Bryce chamou o pai e ambos se abraçaram, Bryce disse que ele era um péssimo pai, mas que era um cara legal, estendeu a mão para o médico grisalho e pergunta se podiam ser amigos, Bryce o puxa e lhe dá um beijo, eu não sei...
Me senti desconfortável, quase como uma agressão, não é de minha natureza. Toda essa permissividade entre eles não tinha nada a ver comigo.
De repente Uchôa atende o telefone e o rosto dele muda, ele pergunta para onde devia ir, ele manda o filho ligar para seu irmão e mandar que fossem direto para a casa deles. Em cinco minutos estamos juntando coisas nesse apartamento para que os garotos viessem conosco o mais rápido possível.
Uchôa diz que vai precisar de nossa ajuda, lamenta eu estar sendo solicitado para uma demanda que... “a polícia estava entregando o barco, tinham revirado o iate para pegar celulares, drogas, indícios, mas estavam entregando agora depois do almoço a Bruno e Gabriel, mas era uma emboscada, uma retaliação, mataram dois policiais na hora, um terceiro no caminho do hospital não resistiu, um policial teve uns tiros de raspão e outro se jogou na água e machucou-se sem grandes problemas.” Gaspar pergunta como estavam Gabriel e Bruno.
Era contra eles. Tudo era contra os donos do barco, “eles não sofreram”, isso não interessa, Bruno estava feliz, como não haverá sofrimento para Otávio? Como alguém pode sobreviver a isso?
Estavam todos em casa, fomos os últimos. A polícia estava lá, perguntava coisas, “do nada” Otávio grita, pergunta quem era o responsável pela segurança daquele lugar, quem ia ser responsável, ninguém ia falar nada, explicar nada, eram eles que deveriam explicar, eram eles que deveriam explicar o que aconteceu. Ele tremia, as bochechas dele tremiam, ele estava nervoso, em grande medida o pé direito de sete metros daquela sala lhe assegurou falar com aquelas pessoas naquele tom. Conrado me sugeriu subir com Otávio, quando chegamos no quarto ele começa a fazer suas malas, não era isso o que a gente devia fazer, mas eu o ajudei, disse que eu não o abandonaria jamais, eu estava ali, por ele, e a gente ficaria se ele quisesse, ele ficaria em meu apartamento, nosso apartamento se ele quisesse, mas ele não estaria só.
Eu o levei para cama e nós dois choramos, na verdade eu estava chorando por Bruno, mas de verdade, eu estava chorando principalmente chorando por Otávio, eu queria protegê-lo e dizer que ia ficar tudo bem, mas não ia, era um amor puro esse que ele devota a a Bruno, eu me dei conta que estava apaixonado por Otávio, que eu queria que ele voltasse a amar algum dia, que ele sobrevivesse a isso.
Passamos um dia inteiro no quarto, eu o levava para tomar banho, eu o acompanhava com tristeza, penteava seu cabelo e o forçava a comer, “pelo menos uma fruta”, Bryce veio me dar uns comprimidos, Otávio precisava comer, dormir e respirar sem riscos a si mesmo, concordei.
No domingo Otávio e eu descemos, almoçamos com todo mundo, já estava meio implícito que dois estranhos não estavam se sentindo pertencentes ao grupo, sim, fomos acolhidos muito bem, mas... sem Bruno não fazia mais sentido, e de verdade... Tudo parece agora como uma louca aventura ter conhecido essas pessoas, mas somos de outra tribo, mais para relacionamentos fechados entre duas pessoas. Isso não, surpreendeu ninguém, Conrado pergunta se a gente não queria esperar mais um pouco, não, era chegada a hora. Eu esperava algo parecido, Leonardo e Diogo também estavam partindo, cada canto da casa tinha lembranças muito fortes de Gabriel, e Diogo disse que ia ficar bem, talvez voltasse, era muito cedo, ainda não havia terminado de chorar.
A tarde a gente saiu, mais um pouco a gente estava chegando ao nosso apartamento, “seu apar...”, “nosso”, foi o primeiro sorriso de Otávio depois do crime, e então enchi meus olhos emocionado, abri a porta e ele desejou saber quantos sem teto estavam abrigados no momento.
Não havia nada na geladeira, e as poucas bobagens que havia nos armários deveriam estar vencidos, pedi sanduíche e fui mostrar o enorme apartamento de dois quartos com uma varandinha cheio de plantas mortas, ele pergunta se caberiam duas cadeiras de praia, eu falei que coloquei ganchos mas nunca comprei uma rede. Mostrei o meu quarto, ele me perguntou onde era o dele, eu devo ter mudado de cor, disse que achei que... nós, ele e eu...
Então ele me beijou, agradeceu eu ter pensado em ficar com ele, eu não podia acreditar, virei aquele cara contra a parede, eu queria estar dentro dele, ele esfregava aquela raba cheia contra meu pau, eu perguntei se ele estava querendo me dar essa bunda linda, sei lá, esse papo furado cheio de palavrão que a gente ouve e fala na hora da foda. Mas ele travou, tudo bem, o interfone tocou e eu desci para pagar pelo lanche. Felipe me telefona, pergunta se estamos bem, o que estamos precisando, tudo bem na medida do impossível.
Levou quatro dias para meu namorado terminar a faxina, no terceiro ele já não chorava assim sem mais porque, foi no quinto dia que eu cheguei e joguei o paletó sobre o sofá e ele ralhou comigo, me empurrou para o chuveiro, havia feito um porco no forno (meu forno funciona?), ele tirou minha roupa como uma dona de casa do início do século passado, de joelhos deixou minha cueca por último, de joelhos agradeceu por minha paciência, minha espera, por eu ter escolhido acolher um sujeito derrotado no pior momento de sua vida, “Eu não tinha nenhuma escolha, Otávio, vocês dois deram sentido à minha vida, mas agora só tenho você, eu estou apaixonado e não posso viver sem você”, ele baixou minha cueca.
trabal não entrou na boca dele, desceu garganta abaixo. Ele comeu meu caralho inteiro. Entendi que nasci com pau grande para satisfazer meu guloso, quando ele solta minha pica ela estava lambuzada de baba, ele se encosta na bancada do banheiro pequeno, se debruça sobre o balcão e põe o pé sobre a privada, eu já chego metendo, era a minha primeira vez dentro dele, e foi gostoso demais, meu deus, o que é esse homem, eu não queria parecer infantil ou leviano, escolhia bem as palavras, mas quando ele me chamou de “meu preto” pedindo para eu foder um buraquinho que é todo meu... eu não consegui me segurar, “Eu te amo, Otávio, eu te amo, não precisa dizer nada, nem tentar corresponder, só aceita isso. Deixa eu cuidar de você.”
Ele, felizmente, não disse nada. Só gemia quando eu socava mais forte, eu gozei rápido. Ele mandou eu sentar na privada, eu chupei ele, ele me beijou, bati uma pra ele e engoli sua gala, ele sentou no meu colo, senti meu sêmen escorrer de dentro dele para fora na minha coxa, ele agradeceu por eu falar sobre o que estou sentindo, pediu para eu ter paciência, um homem derrotado deixando o pior momento de sua vida passar, mas de luto ainda. A gente se beijou, “Bruno estaria completamos entregue a você.”
Tomamos banho e fomos para cama, Leonardo fez uma chamada de vídeo, estava chamando nós dois para assistir um filme com ele e Diogo, eu disse que topava, mas se eles viessem pra cá, eu estava pronto pra dormir, aquele foi meu último dia de trabalho no banco.
Vieram com uma garrafa de vinho para comemorar, acho que de todas as pessoas do mundo, esses dois são os únicos a conseguir avaliar como estamos. Depois do funeral, depois de decidirmos lutar contra o luto, depois de chorar... Abraçar Diogo era maravilhoso, ele me abraçou e começou a chorar, agora eu tenho um melhor amigo, Otávio foi para cozinha com Léo. Diogo disse que depois de seu primeiro casamento jurou nunca mais amar, mas Gabriel acabou com tudo isso, disse que se não fosse por Leonardo e eu... tinha os caras e o trabalho, estava doendo muito mais essa segunda perca que a primeira, mas essa segunda também mostra saídas, a anterior não. Eu o beijei, não sei se podia, mas beijei, ele estava sorrindo depois disso, me pergunta se eu estava nervoso para assumir essa nova fase da minha vida profissional, a gente falava sobre isso, Leonardo elogiou a transformação na minha casa, “a casa reflete o espírito dos donos, mas isso é tudo culpa, do meu lindo.”
Otávio tava bem sério, pede para Leonardo mostrar a tatuagem, chega a explicação da dominação que ainda são adeptos, Leonardo falava que as práticas de dominação, sujeição e masoquismo eram tão fundamentais para ele quanto o sexo cheio de amor de e que aquela tatuagem era mais que um desenho, mais que uma aliança, era o símbolo de seu destino, o cara se ajoelha aos pés de Diogo e roça o rosto no jeans de meu amigo, Diogo se desculpa e pega Leonardo pelo cabelo, lhe dá um tapa na cara e coloca três dedos no fundo da boca do cara, Leonardo tosse e dá uns pulinhos, por fim Diogo espalha a baba na cara dele e cospe na cara dele, Leonardo tinha um cavanhaque baixinho e seu sorriso era quase imperceptível, Diogo o beija e diz que ele era uma cadela bonita, pergunta a Otávio se tinha cura para esse amor que sente por esse retardado, Leonardo estava fora de si, sentia tesão em ser humilhado na frente de nós, “Quando eu quiser um macho me comendo eu venho atrás de você, Sérgio, esse daí voltou a usar uma gaiola no pau, mostra pra teu amigo, mostra, Léo, ainda sente orgulho disso...”, Leonardo agora sentia vergonha, Otávio estava orgulhoso de ver tudo aquilo.
“Amor, quero isso. Quero uma tatuagem, quero que você namore Diogo, quero que você me trate como Diogo trata Leonardo, eu quero sentir que eu não estou contigo, eu quero pertencer a você. Sérgio, me ame desse jeito!”
Diogo me beijou imediatamente e eu gostei, meu mundo estava novamente se transformando em outro universo, mas desse eu não estava tão certo que eu iria gostar. Diogo me deu a chave de Leonardo, disse que enquanto seu namorado eu tinha o direito de usar Léo como quisesse, mandou eu lhe dar uns tapas na cara, lhe cuspir, não me senti a vontade, Otávio estava de pau duro só de olhar a cena, o primeiro tapa foi horrível, me desculpei, Léo me disse que se ele e o marido não confiassem inteiramente em mim, eu estaria morto por aquilo, pediu para eu fazer isso porque todo mundo na sala ia sentir prazer nisso, eu fiz e ele gostou, eu gostei Diogo tirou os cadarços dos tênis e mandou Léo prender os braços de Otávio nas costas, fez uma bola com suas meias e a colocou na boca de meu marido, eu comecei um boquete nele e parei, Otávio tava puto tesão.
Diogo me beijou, disse que a gente podia tentar, olhei para Otávio e ele chorava de desejo esfregava uma coxa na outra, “vai colocar meu nome em sua pele, vai ser meu escravo, Otávio?”, arranquei a meia da boca dele e ele dizia sim, Diogo me abraçou por trás e disse que iria ficar comigo, que gosta do bom e do melhor, e eu sou exatamente isso, iria privá-lo de mim, e então toca no pau de Otávio e ele goza uma quantidade absurda. Leonardo imediatamente vem lamber a mão e o braço de seu mestre, Diogo e eu começamos a namorar, a nós despir sem pressa.
Sinto a barba e os cabelos de Diogo. Ele é suave e intenso ao mesmo tempo como o cheiro de fumaça de cigarro no carro, a língua dele dentro de minha boca, eu olhava para meu marido, mando que ele se aproxime e se ajoelhe diante de mim, lhe cuspo e pergunto se ele realmente quer isso, ele diz que é meu direito e seu dever, dou três tapas em cada lado de sua cara e ele agradece, chamo Léo, retiro a gaiola de seu pau, deixo ele livre, quero a prisão para Otávio, digo a Léo para ele colocar o pau liberto na bunda de Otávio mas sem encostar no cuzinho. Diogo e eu rimos da agonia daqueles dois, Diogo diz que Leonardo é a melhor coisa feita por Deus. Leonardo para e o encara sorrindo por dois minutos, deixo a chave comigo, mas deixo que os dois se divirtam juntos.
Levo meu namorado para o quarto, regras, não encosto em Leonardo, ele não encosta em meu marido, gosto dessa brincadeira, mas cada qual em sua casa, Diogo diz que sim, mas o segundo quarto de meu apartamento é para eles, e vice versa. Ele tira a roupa e eu também. Diogo é macho como Bruno, Gabriel e eu, não essas mariquinhas da sala, mas eu sou o marido da mariquinha e muito por ele ser como é.
Diogo e eu estamos num meia nove selvagem. Não sinto vontade de ser carinhoso, de proteger, de ser legal, é um caralho, é um macho, é um cu, é meu amigo. Ele percebe que estou ainda tateando, descobrindo quem sou, destruindo meus valores caducos, eu o como de quatro, ele depois me come, mas primeiro sou eu, sou eu que início isso, o começo é cheio de negociações.
Dormiram no outro quarto depois que fodemos. Mas antes sujos de suor e sexo sentamos numa mesinha redonda de quatro lugares com uns pedacinhos de queijo e aquele vinho que trouxeram, meu marido tinha os braços marcados pelos cadarços de Diogo, mas estava feliz, risonho, gargalhava algumas vezes, mega carinhoso comigo e eu com ele. Fomos tomar banho e dormir.
Otávio se agarrou a mim e até rezamos aquela noite, pedindo misericórdia e tranquilidade, cedo de manhã os hóspedes foram antes do café, dia de trabalho comum, Otávio começou a falar em buscar um emprego, talvez professor, falava em fazer alguma licenciatura, ou algum trabalho como garçom (não os horários são terríveis), sugeri que ele falasse com Conrado que parece tão criativo, talvez ele servisse como recepcionista.
A noite eu mostrei meu contrato de trabalho, ele disse que iria substituir Daniel como secretário de Felipe e Jarbas, disse quanto iria ganhar, o plano de saúde, “agora eu posso falar que te amo, sem parecer que é um pedido de ajuda, sem parecer interesseiro, Bruno disse que eu ia me apaixonar por você se eu não criasse obstáculo. Bruno estava apaixonado por você, eu sentia ciúmes, como não? Agora eu posso dizer que você vai ter plano de saúde se em seus planos estiver em algum futuro me pedir em casamento.”
Beijei muito, beijei demais.
Porra, eu amo meu marido.