Meu nome é Luiz, tenho 32 anos, trabalho como designer freelancer e vivo em um apartamento pequeno, mas aconchegante, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Minha vida sempre foi muito controlada, meticulosamente organizada — da forma que sempre achei ser a melhor maneira de evitar o caos.
Até que conheci Priscila.
Era uma terça-feira qualquer, fim de tarde, céu de chumbo ameaçando chuva. Eu tinha saído para tomar um café e tentar destravar um projeto. Entrei num café que eu não costumava frequentar. Foi ali, na segunda mesa à esquerda, que ela estava. Sozinha. Pernas cruzadas. Um vestido vermelho escorrendo pelos contornos como se tivesse sido desenhado sobre o corpo dela. Os cabelos castanhos desciam em ondas até os ombros, e os olhos... os olhos eram de um âmbar difícil de esquecer.
Ela percebeu meu olhar, sorriu de leve, e voltou ao livro que lia como se soubesse o efeito que causava. Aquele sorriso não era apenas um gesto — era um convite velado, uma promessa de tempestade.
Tomei coragem e me aproximei, meio ridículo, com um capuccino na mão.
— Esse livro é bom? — perguntei.
Ela ergueu os olhos e respondeu sem hesitar:
— Não tanto quanto essa sua tentativa de puxar assunto.
Poderia ter sido o fim ali mesmo. Mas o jeito que ela disse... havia ironia, mas também havia provocação, jogo. E eu estava faminto por jogar.
Nos encontramos algumas vezes depois. Sem trocarmos mensagens. Sem promessas. Era como se a cidade nos empurrasse um para o outro por pura teimosia do destino. Em pouco tempo, ela já estava rindo no sofá da minha casa, pés descalços, criticando minhas escolhas musicais enquanto bebia vinho barato direto da garrafa.
Priscila era um furacão. Falava de tudo — política, arte, astrologia — com a mesma intensidade. Trabalhava como fotógrafa, mas fazia bicos como bartender porque dizia que odiava a previsibilidade de qualquer rotina. E eu, metódico, previsível, calculado... me via cada vez mais atraído por aquele caos bonito que ela carregava.
As primeiras vezes que transamos foram como tempestades de verão: intensas, inesperadas, barulhentas. Ela tomava o controle com uma naturalidade selvagem, gemia, gritava, arranhava, como se fosse dona do próprio universo, e me arrastava com ela.
Na cama, ela era como na vida: imprevisível, dominante, quente, sabia como deixar um homem maluco. Às vezes desaparecia por dias, e quando voltava não dava explicações. Eu odiava isso. Mas também me excitava de uma forma que eu não entendia. Algo nela me prendia — o mistério, o cheiro do risco, o olhar que parecia atravessar minhas certezas.
Certa noite, enquanto ela acendia um cigarro nua na varanda, me virei e perguntei:
— Você sempre some assim?
Ela deu uma tragada e respondeu:
— Você é bom. Mas não é o único.
E então sorriu. De novo, aquele sorriso — a promessa da próxima tempestade.