O sol ainda mal havia atravessado as frestas da cortina quando Lucas acordou. O quarto tinha um leve cheiro de madeira antiga, um traço do interior que agora se misturava com o aroma que grudara nele na noite anterior — o cheiro dos pés de Antonio ainda presente em sua pele, sua respiração, seus pensamentos.
Ele se espreguiçou devagar, o corpo ainda leve e arrepiado pelo que haviam vivido.
Na cozinha, sua avó já estava de saída, com uma bolsinha de tecido no ombro e o sorriso típico de quem tem o dia planejado.
— Bom dia, Lucas! Preparei café pra vocês. Pão, bolo, frutas, café coado. Vou dar um passeio com as meninas do grupo da igreja. Fico fora o dia todo.
— Ah... que bom, vó. Obrigado.
— Deixei dinheiro no balcão pra vocês pedirem almoço. Se cuidem, viu? E nada de bagunça!
Lucas sorriu, escondendo o rubor.
— Pode deixar, vó.
Assim que ela saiu, o silêncio se instalou na casa. Um silêncio doce, carregado de possibilidades. Lucas preparou uma bandeja com café preto, duas fatias de bolo, pão de queijo e um copo de suco. Havia algo quase cerimonial no gesto. Caminhou até o quarto e empurrou a porta com o ombro.
Antonio ainda estava deitado, uma perna descoberta, o corpo parcialmente virado de lado, e o short marcando uma ereção discreta.
Lucas se aproximou devagar.
— Bom dia... Senhor.
Antonio abriu os olhos com um sorriso lento.
— Isso é pra mim?
— Café na cama — Lucas disse, colocando a bandeja sobre a cômoda ao lado. — Quis servir você.
Antonio se espreguiçou, coçou o peito e se sentou, apoiando as costas na parede. Os pés logo se esticaram para fora da cama, e Lucas nem esperou ordem — ajoelhou-se naturalmente, como se aquele lugar fosse seu desde sempre.
— Isso sim é despertar com classe. Um bom escravo sabe como agradar — disse Antonio, pegando a xícara de café e levando-a aos lábios. — Enquanto eu tomo, você sabe o que fazer.
Lucas baixou a cabeça e começou a beijar lentamente os pés do primo. Um de cada vez, primeiro com toques suaves, depois com mais devoção. As solas ainda estavam mornas do sono. O hálito quente do café misturado ao cheiro dos pés criava uma mistura absurda de sensações.
— Fica aí. Quietinho. Beijando sem parar até eu terminar.
Antonio bebia devagar. Entre goles, mordia o pão de queijo, enquanto Lucas adorava os pés como se fossem sua única religião.
Após o café, o dia correu num ritmo calmo, mas nunca neutro.
Antonio passou a comandar Lucas com pequenas frases, gestos, e até olhares. No almoço, quando pediram comida e foram buscar o pedido no portão, Antonio fez questão de ir junto — mas antes, ordenou em tom baixo:
— Não me encara. Fica sempre um passo atrás. E agradece quando eu pegar a sacola. Entendeu?
— Sim, Senhor.
Para qualquer vizinho ou entregador, parecia que Lucas era apenas um primo tímido e educado. Mas ele sabia que cada gesto seu estava sendo observado. E julgado.
Durante a tarde, enquanto assistiam a um filme na sala, Antonio esticou os pés no colo de Lucas sem dizer uma palavra. Ele entendeu o recado. Começou a acariciá-los com discrição, como se fosse um hábito inocente. Os dedos deslizando sobre as solas, as almofadas dos pés, os tornozelos.
— Isso. Disfarça bem — murmurou Antonio, sem olhar para ele. — E não para. Quero saber que posso te usar assim, até mesmo no sofá da sala.
Lucas sentiu o coração acelerar.
Mais tarde, Antonio passou a testar os limites com sutileza. Sentou-se no sofá com o short levemente erguido, os pés descalços à mostra, e pediu para Lucas buscar algo da cozinha. Quando ele voltou, Antonio estendeu um dos pés e bloqueou sua passagem.
— Pra passar, tem que pagar pedágio — disse, sorrindo.
Lucas sabia o que isso significava. Ajoelhou-se ali mesmo e beijou o peito do pé direito, depois o esquerdo, sentindo o calor da humilhação voluntária e o prazer perverso que isso lhe dava.
À noite, antes de dormir, Antonio se aproximou de Lucas no quarto. O silêncio pesava, mas havia desejo ali. Muito.
— Amanhã a gente eleva o jogo. Quero ver até onde vai sua lealdade.
Ele encostou a planta do pé no rosto de Lucas.
— Dorme com meu cheiro de novo. É seu alimento.
Lucas fechou os olhos, sorrindo por dentro.
Ele já não sabia mais onde terminava o jogo... e onde começava a devoção real.