Largados e Pelados: A Viagem Escolar que Terminou em Uma Ilha Deserta! (Capítulo 12 - Carolina I)

Um conto erótico de Exhib
Categoria: Lésbicas
Contém 3589 palavras
Data: 29/06/2025 17:51:04

— Já te disse que, se você não fosse minha amiga e hetero, te pegaria de jeito? — Andressa perguntou com o rosto bem próximo ao meu, sorriso safado na boca coberta por batom vermelho vinho. Em sua boca, ela segurava dois pequenos alfinetes. Uma de suas mãos segurava uma fita métrica perto de minha cintura e a outra apalpava-me no seio esquerdo por cima do sutiã.

Eu estava em pé, braços bem abertos formando um T com o corpo e apenas de roupa íntima, calcinha e sutiã, em meu quarto bem organizado e perfumado, local em que, a alguns minutos atrás, tinha dado uma faxina. Eu olhei para minha amiga, com os olhos sérios e indiferentes que a mais ninguém tinha intimidade de mostrar.

— Sim. Na verdade, acho que você me diz isso todos os dias. — Respondi com calma e sem titubear. Já estava acostumada com aquele tipo de comentário desconfortavelmente elogioso que, com frequência, Andressa costumava lançar não somente a mim, mas a qualquer um que ela conseguisse deixar sem graça ou flertasse de volta.

— Seu vestido vai ficar divino Carol. — Ela disse animada. Já era a décima vez que me prometia tal façanha e eu acreditava sem questionar. Confiava nela para algo tão importante.

— Sim, eu sei. Só não faça nada muito ousado. — A alertei mais uma vez. Andressa me beliscou no bico do peito, assustando-me. Ela sorriu para mim de novo, como se me tranquilizasse com aquele seu típico olhar sedutor. Me recompus, voltando a olhá-la com indiferença.

Fiquei ali parada por mais alguns minutos enquanto ela tirava medidas precisas de meu corpo. Nas paredes do recinto, expunha troféus, medalhas e o papel de parede fofo típico do quarto de uma patricinha. No chão, carpete rosa e peludinho repousava sobre meus pés delicados ornamentados com unhas pintadas bem feitas. Sobre a cama king size logo ao meu lado no recinto espaçoso e cheiroso, repousavam diversas amostras de tecidos caros que Andressa exigiu que comprasse para confeccionar um vestido sob medida único para a ocasião igualmente importante.

Meu nome é Carolina, sou uma estudante brasileira do ensino médio em preparação para me apresentar na Orquestra de Wellington, na Nova Zelândia. O local era o maior polo de música clássica daquele país, o qual nunca antes tinha visitado e estava muito empolgada e apreensiva para aquele grande dia. Eu sou magra, loira, olhos azuis e, modéstia a parte, tinha o rosto bastante bonito e delicado. Com relação a atributos corporais, a puberdade tinha sido gentil comigo em relação a minha bunda farta, coxas grossas e cintura fina, mas não tanto ali em cima, uma vez que possuía um par de seios não muito grandes, o que, certamente, me causava alguma insegurança.

A ocasião para mostrar minhas habilidades como violinista a um outro continente tão distante se devia à viagem que faria junto de meus outros 29 colegas de classe. Nossa escola era bastante boa, a melhor do país e, embora não conhecesse exatamente que circunstâncias patrocinavam um evento como aquele, só tinha alegria em meu coração por ter acesso a tal oportunidade depois de tantos anos de dedicação.

A música era minha paixão desde muito nova. Crescendo em uma família abastada, como filha única de um pai músico, um dos maiores ícones do rock nacional dos anos 80 e uma mãe compositora, que trabalhava para as maiores gravadoras do Brasil, recebi o incentivo desde cedo. Meus genitores me tiveram bastante tarde e, segundo eles, se conheceram em uma sorveteria. Eu sabia que era mentira. Provavelmente se trombaram em um concerto, fazendo sexo ao ar livre e, certamente, muito chapados de álcool e drogas.

Meu pai se exilou do país durante boa parte de sua juventude, devido à repressão da ditadura militar e, com isso, demorou para constituir uma família, o fazendo quando bem estabilizado financeiramente e já com bastante idade. Consequentemente, tive acesso a todo tipo de boa influência cultural que o dinheiro podia pagar. Assim, fiz aulas de canto desde que comecei a aprender a falar, convivi com o som de discos desde o parto e, quando ainda criança, diziam-me que possuía o que se chama de ouvido absoluto. Aos 5 anos, tocava violão e, aos 7, piano. Hoje, possuo maestria em 26 instrumentos musicais diferentes, incluindo, meu preferido: o violino.

Outro característica peculiar em mim, embora fosse difícil acreditar se tratar de um defeito, era a gentileza. Eu acreditava piamente que deveria tratar todos a minha volta com simpatia e sensibilidade. O mundo, tinha essa crença, era um lugar harmonioso tal qual uma grande sinfonia. Se os acordes fossem tocados corretamente por cada um dos membros da orquestra que era a vida, sentia do fundo do meu coração, comporíamos um mundo melhor para todos. Como amante da música clássica, era evidente que, assim como a arte surgida na idade média, sofria de influências da liturgia bíblica muito presente em minhas composições favoritas. Assim, mesmo que fosse filha de pais ateus, embora não muito religiosa, acreditava em uma força superior capaz de tocar as cordas da vida. Em síntese, para mim, ser gentil era o caminho, seja para qualquer tipo de salvação, seja no sentido de colher o que se planta nesse mundo.

Como se espera de uma família de músicos, meus pais, embora tivessem um passado bem mais hardcore, hoje eram mais tranquilos e caseiros. Ainda assim, os achava excessivamente liberais às vezes, principalmente quando diziam que eu tinha de relaxar um pouco e parar de praticar tão incessantemente. Pais “porra louca” geram filhos comedidos e certinhos, só podia concluir. Na escola, eu era uma aluna exemplar, tirava boas notas, era bem educada, não bebia, não fumava e poucos olhos tinha para distrações, como garotos, mesmo depois que entrei na puberdade. As notas no meu boletim eram perfeitas, talvez fossem ainda melhores se minha paixão fosse a leitura e não a música. Eu era estudiosa e esforçada, seria a melhor aluna da classe se não fosse por Eric. A muito tempo, percebi que rivalizar com aquele garoto naquele quesito era impossível.

Ser gentil com todos à minha volta carregava seu ônus. Às vezes, apenas conversava com garotos demonstrando simpatia e eles acabavam por ter uma noção errada, achando que os estava cantando ou coisa do tipo. Nesses casos, era bem firme, mas sutil e os dispensava com educação sempre tentando ser elogiosa. Comumente, era interpretada erroneamente de novo, o que acabava por incentivar mais ainda meus admiradores. Consequentemente, sem querer, acabei por me tornar em uma garota popular na escola.

Certo dia, tentei até conversar com Eric, um rapaz estudioso e isolado de nossa sala. Não achava certo que todos o excluíssem e, praticando a gentileza comum de meu ser, me sentei ao seu lado e iniciei um diálogo. Eu disse que gostava de música clássica. Culto como sabia que ele era, esperava despertar um assunto em comum. Ele me disse que, embora Beethoven fosse considerado um gênio, suas principais obras eram cheias de inconsistências de métrica, ou, como ele chamou, “erros matemáticos”, além disso, me entregou uma petição com apenas sua assinatura que objetivava demolir a tradicional capela da escola, onde me apresentava todos os anos junto ao coral, para construir um planetário em seu lugar. Nunca foi tão difícil sorrir e desconversar com gentileza. Percebi quando o deixei em seu lugar com a impressão de que devia ter ouvido ao que todos diziam e não me aproximar dele mais.

Já minha amiga Andressa era bem diferente de mim. Ela era escandalosa, comumente se envolvia em brigas e tinha sua cota de problemas com professores. Parecia uma má influência quando comparada a mim, mas, ainda assim, meus pais a adoravam. Andressa era mais alta que eu. Minha amiga tinha cabelos pretos, compridos e com apenas uma mecha verde fluorescente em sua franja, isso no momento, pois ela costumava pintar as madeixas de várias cores diferentes sempre que dava na telha. Seu corpo era bem bonito, onde se destacavam o par de peitos grandes o suficiente para me provocar insegurança sempre que íamos à praia ou piscina e tínhamos de usar bikinis. Ela também era uma exímia artesã, agora eu sabia depois que nossa amizade se aprofundou tanto. Antes disso, quando a conheci, nos estranhamos um pouco.

Na escola, há infraestrutura para que os mais diversos tipos de talento floresçam. Depois das aulas que ocorriam de manhã, muitos dos alunos se engajavam em atividades extra-curriculares. É o meu caso que, mesmo com o soar do sinal, passava mais 4h todos os dias naquele lugar tentando aperfeiçoar minhas habilidades com o violino. No início, comecei fazendo aulas de música normais com os demais alunos do colégio, mas, uma vez que perceberam que eu já era uma profissional, acabei recebendo acesso ao que é hoje, meu local preferido na escola: O estúdio acústico.

Com cerca de 8 metros quadrados, o cubículo era simples e carecia de decoração. Nele, as paredes de madeira possuíam estofado supressor de ruído e alguns instrumentos musicais velhos pendurados. No teto, apenas uma lâmpada incandescente iluminava o lugar. O estúdio também contava com tomadas, algumas cadeiras avulsas e, é claro, uma pequena mesa onde colocava um pequeno metrônomo de madeira e os papeis da partitura. Ninguém visitava aquele local da escola além de mim, sabia, sendo ele o lugar perfeito para praticar a obra que procurava aperfeiçoar a um bom tempo: Caprice No. 24 em Lá menor, de Niccolò Paganini.

Certo dia, após duas horas de prática, terminava a sinfonia apesar de cometer nítidos erros, em partes, devido ao cansaço em meus braços e, em partes, devido ao desgaste do meu instrumento. O violino modelo Stradivarius velho que usava já a uns 8 anos era como uma extensão de meu corpo. Eu precisava trocá-lo a um tempo, mas dificilmente conseguiria me adaptar a um novo o que, portanto, tornava consideravelmente mais difícil executar os saltos de arcos e glissandos mais rápidos e complexos da complicada obra prima do século XIX. Ainda assim, com os olhos fechados e ouvidos atentos, terminei o último acorde e suspirei, esperando o silêncio como resposta naquela isolada sala do colégio.

Abri os olhos em espanto quando soaram as palmas de um único indivíduo. Ao lado da porta, encostada na parede, uma moça de cabelos escuros e longos me lançava um sorriso e olhar sedutor. Era Andressa. Na época, não nos conhecíamos ainda.

— Oi, tudo bem? — A comprimentei com um sorriso simpático, fui até o metrônomo e parei o tic tac do objeto. — Você se perdeu por aqui? — A questionei ligeiramente incomodada por sua presença.

— Não. — Ela respondeu sem muitas cerimônias. — Escutei a música no corredor e vim investigar. — Explicou e se sentou em uma das cadeiras. — Sabia que você era uma artista também, mas uau! — Elogiou, parecendo impressionada. A garota carregava um caderno de desenhos enorme, tamanho A3 e tinha as mãos manchadas por grafite preto.

— Obrigada! — Disse sorridentemente, ainda me perguntando o que aquela moça queria com aquilo.

— Como nunca nos falamos antes mesmo estudando na mesma sala? — Ela perguntou de forma seca e irreverente.

— Bem, na verdade, já trocamos algumas palavras. — A lembrei com um sorriso levemente desconfortável. Na ocasião, na verdade, parecia que Andressa tinha dado em cima de mim no refeitório. Ela tinha comentado aleatoriamente e do nada que meus olhos eram bonitos e inocentes e que ela tinha curiosidade para saber o que mais eles poderiam revelar. No dia, com embaraço e gentileza, a dispensei e sai andando para longe. Ouvindo algumas coisas de outras garotas e rapazes alguns dias depois, descobri que aquele comportamento dela era bem típico e conhecido na escola, não sendo algo com o qual deveria me preocupar. — Se não se importa, tenho que voltar a praticar. — Disse-lhe com um olhar caloroso, tentando ser o mais simpática possível.

— Eu também. Estava mesmo procurando algo para desenhar. — Andressa respondeu. — Acho que me lembro disso. Carolina, né? — Perguntou enquanto abria seu caderno. Quando bisbilhotei algumas de suas páginas, tomei um susto. Em preto e branco, desenhos ultra-realistas eram folheados rapidamente um a um. Vi algumas composições em grafite sobre papel de natureza morta e representações de pessoas em ambientes diversos que mais pareciam fotos de tão perfeitas. Em uma das páginas, Andressa desenhou Eric sentado na biblioteca enquanto lia um livro, em outro, em várias poses, Guilherme corria na pista da escola em seu típico traje esportivo. A riqueza de detalhes era tamanha que, em um dos desenhos, era possível ver o formato da coisa marcada do maratonista sobre os shorts curtos e reveladores. Desviei o olhar com um pouco de vergonha.

— Prazer! Andressa, né? — A comprimentei de volta, ainda impressionada por suas notáveis habilidades com artes visuais. Ela sequer olhou para mim, mas tirou do bolso um lápis velho que mais parecia um pedaço de carvão quebrado. Com ele, a estranha mulher riscava o papel com golpes violentos.

— Pode prosseguir. — Ela disse após levantar os olhos e me dar uma longa encarada. Ela estava me desenhando? Me questionei sem graça e atônita.

— Muito obrigada! — Reconheci sua gentileza. — Mas eu não posso posar agora. — A alertei em seguida. O que queria, na verdade, era que ela me deixasse em paz para que pudesse praticar.

— Não precisa. — Ela disse secamente, quase me interrompendo.

O que? Me questionei internamente. Eu a olhei novamente, vendo-à apenas extremamente concentrada no que fazia. Como percebi que ela não sairia dali, posicionei meu violino novamente no pescoço, liguei o metrônomo e comecei a tocar.

No início, devo admitir, era estranho e desconfortável ensaiar sob os olhos daquela doida enquanto ela me desenhava. Depois, acabei me acostumando, retomando meu foco para conseguir a perfeição naquela melodia difícil. Hoje não era o grande dia ainda assim.

Depois de mais 2h de incessante prática, tinha os dedos dormentes, suor escorrendo pela minha testa e respiração levemente ofegante. Alertei a Andressa que pararia por hoje e ela se levantou bruscamente, arrancou a enorme página de seu caderno e me entregou com um sorriso.

Quando olhei para o resultado, fiquei mesmerizada. O desenho extremamente realista e rico em detalhes me mostrava em meu melhor ângulo possível, tal qual uma foto tirada por um excelente fotógrafo. Em minhas mãos, tocava o violino apaixonadamente, cabelos esvoaçantes e rosto calmo e concentrado. Minhas roupas eram o exato uniforme escolar que utilizava no momento em que fui capturada para o papel, sendo que até o instrumento musical era representado com extrema fidedignidade em cada detalhe, até suas marcas de desgaste, ranhuras na madeira e arranhões que fiz com minhas unhas durante todo aquele tempo de uso.

Eu agradeci pelo presente, dizendo que não poderia aceitar um trabalho tão belo e carregado de habilidade. Andressa me disse, nessas exatas palavras, para “calar a boca e só ficar com o maldito desenho”. Conversamos mais um pouco, o que pareceram ser uns 40 minutos. Ela me falou, sem qualquer pudor, que eu parecia cansada e insatisfeita com meu próprio progresso. Era verdade e, diante disso, quando se despediu com um aceno, prometeu que me daria outra coisa para me ajudar.

Eu voltei bastante impactada para casa diante de um encontro tão estranho. No fundo, ainda tinha um pouco de receio de Andressa ser sapatão e só estar fazendo aquelas coisas para obter algo em troca. Quando pensava nela, percebia, invariavelmente, aquele não parecia ser o caso. A estranha moça, pelo que sabia, gostava de provocar esse tipo de dúvida em todos a sua volta. Ela na verdade era como eu em certo sentido, apaixonada por artes e com uma sede insaciável de buscar excelência. Todos os dias, depois da escola, sabia, ela tinha um canto do colégio só para si, assim como Eric e eu. O ateliê velho e bagunçado que a garota frequentava diariamente possuia inúmeros desenhos e rabiscos em suas paredes, grandes blocos de mármore para esculturas, argilas de cerâmica, muita tinta e quadros pendurados por toda a parte, até mesmo itens de marcenaria eram objetos presentes ali.

Apesar daquele contato peculiar, Andressa parecia agir normalmente no dia a dia. Nós sequer passamos a conversar e interagir durante o expediente escolar. Assim, só podia retomar a rotina normal, praticando as 4h diárias em minha sala durante todos os 2 meses que se seguiram.

Em uma quarta feira nublada, estava indignada e ansiosa por não conseguir mais acertar as notas daquela maldita composição de Niccolò Paganini. Parecia que eu tinha alcançado meu limite como violinista, atrasada pelo equipamento velho e desgastado e, de certa forma, sem mais saber o por que eu ainda me esforçava tanto apesar de nenhum progresso. A solitude já me afetava mentalmente há algum tempo. Eu só lembrava, no momento, sobre como meu melhor dia naquele longo mês foi quando ganhei o desenho de Andressa já emoldurado em minha casa. Ela nunca mais me visitou ali em meu lugar isolado do colégio. Na sala acústica, cheguei, com dificuldades ao último acorde que soou desafinado e desajeitado.

Me revoltei como nunca antes e perdi totalmente a compostura. Apanhei a partitura daquela maldita melodia impossível e amassei e rasguei o papel abrasivo em vários pedaços. No ato, machuquei minhas mãos delicadas com cortes de papel e, ainda não satisfeita, em minha raiva irracional, com um arremesso histriônico, sozinha naquele lugar, joguei o maldito instrumento musical em direção a parede. Dei um grito furioso ao ver o violino voando. Ele se espatifou todo e eu, com o imediato arrependimento, vi meu Stradivarius arruinado caindo ali no chão.

Ouvi palmas novamente. Quando olhei, Andressa tinha chegado no recinto, sorrindo como sempre e me olhando absolutamente chocada.

— Andressa! — Exclamei em espanto, com vergonha dela ter me flagrado em um momento raivoso em que estava tão vulnerável. Ao lado do corpo, ela portava uma grande bolsa pendurada.

— Incrível Carol! — Ela disse com os olhos a brilhar enquanto batia palmas euforicamente. — Essa foi sua melhor performance! — Exclamou parecendo emocionada.

Droga! Pensei cansada. Eu tinha estragado meu violino e agora estava sendo ridicularizada por aquela garota maldosa depois de um mico como aquele. Reconheci a situação horrível em que estava.

— Desculpe. — A recebi com um sorriso. — Não estou no meu melhor dia, como dá para perceber. — Me justifiquei timidamente em seguida. Eu era uma garota elegante e gentil. Não era certo que alguém me visse em um momento tão pouco majestoso como aquele.

Ela não me deu ouvidos, mas veio até mim e, parecendo totalmente alheia a minha tristeza, abriu sua bolsa grande e tirou de lá um objeto. Meu queixo caiu quando pus meus olhos nele. Parecia um Joannes Franciscus Pressenda q. Raphael fecit Taurini anno Domini de 1838, entretanto, com algumas modificações estruturais na madeira de abeto alemão cuidadosamente esculpida. O violino profissional roubava-me totalmente a atenção enquanto era tão descuidadamente segurado por Andressa que o pendurava com os dedos na frente do meu rosto.

— Como conseguiu comprar isso? — Perguntei assustada e sem pensar. Embora nunca tivesse visto um instrumento como aquele, sabia, ele devia estar incluído na categoria de violinos mais caros presentes no mercado por sua qualidade.

— Não comprei. Eu o fiz. — Respondeu e me jogou o instrumento repentinamente. Com esforço e um pulo de susto, o segurei no ar cuidadosamente, o tateando com esmero em seguida, temendo ter danificado a superfície daquele violino que parecia encarnar a delicadeza em cada detalhe. — Toque. — Ela ordenou, deu de costas e se sentou diante de mim em sua cadeira.

Após afinar delicadamente aquelas cordas, o posicionei e o toquei com o arco. Era tão macio e produzia um som tão perfeito que me emocionei por estar diante de algo daquela magnitude. Tal qualidade me permitia acertar a maioria das notas complicadas de Niccolò Paganini, sendo que errei algumas por, sabia, simplesmente uma questão de adaptação ao instrumento diferente que, a cada segundo, parecia se encaixar em meu corpo como se tivesse nascido comigo. Em certo momento, enquanto ressoava a melodia, olhei para Andressa. Ela me encarava pacientemente, mãos possuindo unhas sujas de poeira e serragem, pequenos cortes nos dedos e até alguns hematomas nas palmas que, de fato, deveriam estar totalmente cansadas por trabalhar na confecção do objeto que transformava pequenas deslizadas nas cordas no mais harmonico som.

Ao final da sinfonia, meu coração estava disparado, batendo com forte emoção e vontade de voltar a tocar mais. Eu sabia que aquele era um presente de Andressa para mim, deveria ser educada e recusá-lo como sempre, mas não consegui. Eu queria aquele violino! Ele era feito para mim. Se Andressa tentasse tirá-lo de mim, naquele momento, estava disposta a lutar por ele com todas as minhas forças.

— Incrível! — Disse a ela mesmerizada e séria. Andressa sorriu, me olhando dos pés a cabeça com um olhar satisfeito. Em seus olhos, vi que ela tinha entendido o recado. Pela primeira vez na vida, eu estava agindo com o egoísmo de quem luta para ter algo que quer muito, sem meias palavras e sem sorrisos gentis falsos para mascarar minhas verdadeiras intenções. Li em sua linguagem corporal o que mais queria: Aquele violino era 100% meu, em troca, eu já tinha lhe dado o que ela tanto queria ver e ouvir.

Um silêncio se fez presente, apenas interrompido pelo barulho do metrônomo marcando os segundos no ar. Andressa me olhou no fundo de minha alma e perdeu o sorriso safado que sempre jogava para mim. Com calma ela disse:

— Diga-me Carol, já ouviu falar em nú artístico?

*****

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Comentários

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gostei da história! estou acompanhando ansioso pela continuação! parabéns.

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