Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 09

Um conto erótico de Carlos
Categoria: Heterossexual
Contém 8236 palavras
Data: 27/06/2025 14:55:45
Última revisão: 27/06/2025 22:34:30

ATENÇÃO: Este é um capítulo sem cenas de sexo. Sua utilidade é desenvolver alguns relacionamentos e, principalmente, fechar todos os subplots que estavam em aberto (Rebecca, Eliana, divórcio com Odete, reação da Jéssica sobre o divórcio) e permitir que os próximos capítulos fluam mais livremente e com mais cenas de sexo.

Olá, leitores. Eu me chamo Carlos. Sou um professor universitário cinquentão, meio barrigudinho e calvo. Nesta minha série de contos, narro as minhas aventuras tentando comer algumas vizinhas e, quem sabe, conquistar o coração de alguma(s) dela(s) para formar um harém com várias esposas (um objetivo de vida bem fácil, eu sei...). Quem puder ler os primeiros capítulos, só procurar a série.

No mesmo em que esta história se passa, eu ainda era casado com a Odete, uma das maiores pegadoras que conheci. Tínhamos um relacionamento liberal e aberto: cada um pode transar com quem quiser à vontade. Desde que o outro não flagre! Mas ele está preto de acabar.

No conto passado, a Eliana finalmente aceitou ser a minha namorada. Mas ainda precisava resolver os meus problemas com a Odete e, principalmente, com a Rebecca.

Quando abri a porta, precisei de um segundo para entender se estava vendo mesmo o que via. Era a Rebecca.

Vestida como uma verdadeira evangélica: saia longa azul-marinho, blusa branca de manga comprida fechada até o pescoço, cabelo solto, brinquinhos de pérola. Nada de maquiagem. Nada de pele à mostra. E mesmo assim, ou talvez justamente por isso, eu senti o sangue descer para o lugar errado. Aquela roupa não escondia nada. Pelo contrário. A saia marcava os quadris de um jeito sutil, mas firme. A blusa recatada estufava no peito, traindo o volume dos seios pequenos, mas empinados. Os olhos dela, castanhos claros, me fitaram com uma intensidade que não combinava com a pureza que tentava exibir.

Ela estava nervosa. E linda. Ainda mais linda do que na sexta anterior.

— A gente precisa conversar, Carlos.

Senti o estômago revirar por um segundo. Uma mistura estranha de antecipação e cautela.

Assenti com a cabeça.

— Claro. Entra.

Dei passagem e ela entrou devagar, olhando em volta como se estivesse visitando o apartamento pela primeira vez.

— Prefere conversar aqui no sofá ou na mesa?

Ela olhou para o sofá por um instante. Foi rápido, mas vi o olhar dela pousar sobre o lugar onde, dias antes, eu tinha esporrado dentro dela. Ela desviou o olhar e sorriu com um pouco de embaraço.

— Na mesa, por favor.

Concordei com um gesto e fomos sem pressa.

— Aceita um chá, um suco, café?

— Chá, se tiver. Por favor.

Fiz um chá de camomila. Ela sentou-se ereta à mesa enquanto eu pegava duas xícaras. O vapor subindo, o silêncio entre nós, e o coração acelerado que eu fingia ignorar.

Sentamos. Coloquei a xícara diante dela. Ela agradeceu com um sorriso curto. Em seguida, respirou fundo, os olhos fixos na borda da caneca.

— Eu... queria te contar algumas coisas. Não porque você me pediu, nem porque você precisa saber. Mas porque eu preciso dizer.

Assenti, sem falar. Deixei que o silêncio fosse um convite.

— Meu casamento com o Maurício... nunca foi perfeito. Nem bom, se eu for honesta. Ele foi meu primeiro namorado, o primeiro homem por quem me apaixonei. Aquele amor puro, jovem, cheio de idealizações. A gente se casou cedo. Porque era o que se fazia. E porque eu achava que ele era o homem que Deus tinha separado pra mim.

Ela olhou para mim como se testasse minha reação. Permaneci calado. Por dentro, eu pensava: quantos casamentos assim eu já não vi? Quantas vezes o amor é apenas o primeiro conforto?

— Mas com o tempo... eu fui percebendo que não o amava. Não de verdade. Eu gostava dele. Muito. Admirava. Era grata. Mas amar? Não. E quando percebi isso, já estava casada. Já era a 'irmã Rebecca e o irmão Maurício'. Se separar era algo impensável.

Ela deu de ombros, tentando sorrir, mas os olhos estavam marejados.

— Desde que ele viajou, a gente mal se falou. Só fazemos videochamada a cada três, quatro dias. E quando o pessoal do trabalho pergunta, eu minto. Digo que conversamos todas as noites. Faço parecer que o casamento está normal. Mas a verdade é que não está. Não está faz meses, anos.

Fez uma pausa. Tomou um gole do chá.

— Quando a gente... quando nós dois... aconteceu aquilo entre a gente, já fazia mais de um mês que eu e o Maurício não fazíamos amor. E eu gosto de fazer amor, Carlos. É verdade. Sempre gostei. E não era luxúria. A gente era casado. Era algo bom, natural.

Ela sorriu, meio envergonhada, meio libertadora. Eu sorri de volta. Falei com suavidade:

— Rebecca, gostar de fazer amor não é pecado. É humano. E você não precisa se desculpar por ser humana. Ainda mais comigo.

Ela baixou os olhos, mas eu vi que aquele sorriso havia ficado mais sincero. Não havia ali luxúria. Era apenas verdade.

— Eu passei anos achando que se eu orasse mais, se eu fosse mais firme, mais obediente... tudo se resolveria. Eu voltaria a sentir por ele o que sentia no começo. Mas talvez o problema nunca tenha sido a minha fé. Talvez tenha sido essa expectativa de que tudo tem que dar certo só porque a gente quer.

Essa frase bateu forte. Eu pensei na Odete. No meu casamento com ela. Quantas vezes nós dois tentamos resolver as coisas porque “queríamos que desse certo”, mesmo quando já sabíamos que o amor tinha virado amizade?

Não falei nada. Apenas a escutei. Rebecca precisava se ouvir em voz alta mais do que precisava dos meus conselhos.

— E eu nunca contei isso pra ninguém. Só pra você.

— Obrigado pela confiança. De verdade.

Ela assentiu. Respirou fundo outra vez. A conversa não tinha acabado. Mas alguma barreira já tinha sido atravessada. E agora eu precisava estar ali, inteiro, sem julgamentos. Porque Rebecca não queria ser salva. Ela só queria ser ouvida.

— Carlos... eu vim aqui hoje porque preciso entender o que vai ser de nós agora. A gente não pode fingir que nada aconteceu. Bem ou mal, nós fizemos sexo. E eu não consigo tratar isso como se a gente pudesse continuar a ser apenas bons amigos.

Senti um aperto no peito. Não era culpa, mas um senso de responsabilidade. Ela não estava errada. Eu havia cruzado uma linha. E mesmo que houvesse carinho, mesmo que tivesse havido respeito, aquilo não podia ser simplesmente apagado.

— O que você gostaria que a gente fosse, Rebecca? O que você quer?

Ela demorou alguns segundos para responder. Os olhos buscaram os meus, depois desviaram para a parede ao fundo, como se buscassem coragem em outro lugar.

— Eu... não sei. Parte de mim quer poder fingir que aquilo nunca aconteceu. Não porque me arrependo, mas porque minha vida já é suficientemente complicada. A outra parte quer mais daquilo. Mas eu também sei que não quero ser uma amante. Uma mulher que você procura só quando quer sexo. Eu... não quero isso pra mim.

— Esse outro lado que quer sexo... Ele quer sexo comigo ou eu apenas calhei de ser a pessoa com quem você já atravessou essa linha e que talvez tenha mais... digamos, “disponibilidade” que o Maurício?

— Por favor, não se sinta ofendido, mas é o segundo ponto.

Enquanto ela falava, cada palavra me fazia refletir. A Rebecca era sincera. Havia um medo real ali, mas também havia dignidade. Ela não estava buscando um conto de fadas. Estava tentando ser honesta com o que sentia e com o que suportava. E eu respeitava profundamente isso.

— Eu entendo. E agradeço por você ter vindo falar comigo. Sério. Se tem algo que eu não quero, é te machucar.

Ela assentiu devagar.

— Mas... — ela continuou, mais hesitante — eu preciso que isso fique em segredo absoluto. Ninguém pode saber. Eu ainda preciso conversar com o Maurício. Estou com medo de ficar falada. Entre os vizinhos. Na igreja. Na família.

— Rebecca, pode confiar em mim. Não vou contar a ninguém. É um compromisso. — Respirei fundo, mas era melhor soltar essa bomba logo. — A única pessoa que sabe é a Eliana.

Ela arregalou os olhos, surpresa.

— Eliana? Por que a Eliana?

Hora de contar tudo.

— Embora eu ainda esteja casado com a Odete, é com a Eliana com quem estou em um tipo de relacionamento. Eu chamo de namoro, ela coloca aspas no namoro e ainda não resolveu assumir. Mas é algo sério.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos. O rosto expressava mais curiosidade do que julgamento.

— E você contou pra ela o que aconteceu entre nós?

— Contei. Eu precisava ser totalmente sincero e aberto com ela. Por favor, não fique com raiva. Eu não falei por espalhar, mas porque eu tinha que ser 100% honesto com ela.

Rebecca franziu a testa.

— E ela... ficou com ciúmes?

— Um pouco, talvez. Mas ela entendeu. A Eliana tem uma sensibilidade que me surpreende. Não sei se ela gostou de saber, mas ela soube lidar.

A Rebecca se encostou na cadeira, processando.

— Então... você tem um relacionamento com a Eliana. E a Odete?

Suspirei.

— Eu e a Odete temos vivido mais como amigos do que como um casal há muito tempo. Ela tem as amizades dela, os amantes dela, o emprego dela. E eu tenho tentado seguir a minha vida para um novo rumo. Não teve uma briga, não rolou drama. As coisas só chegaram em um esgotamento.

— Pelo visto, eu e você estamos em situações mais parecidas do que eu imaginava, Carlos — comentou Rebecca.

Sorri com um pouco de ironia.

— Estamos mesmo.

Ela riu. Riu de verdade dessa vez, e foi bom ver aquele riso.

— Mesmo assim, acho que gostaria de conversar com a Odete —disse, mais devagar agora — Se ela aceitar, claro. Eu queria me explicar. Talvez pedir desculpas. Não sei.

— Tudo bem. Mas te adianto que a Odete não é como você. Ela tem uma leveza com essas coisas que você pode achar frivolidade e frieza. — Achei melhor não contar a parte de que a Odete é doida para comer a Rebecca. — Agora, se quer se acertar com a minha namorada real, você deveria falar com a Eliana.

Rebecca assentiu, pensativa.

— E você acha que... a Eliana toparia conversar comigo? Não sei. Sinto que devia esclarecer as coisas com ela também.

— Acho que seria bom. A Eliana gosta de você. Ela está preocupada contigo. E você vai se sentir mais tranquila. Posso chamá-la?

Rebecca hesitou, depois assentiu.

— Pode. Vamos conversar os três.

Liguei para a Eliana contando o que estava acontecendo. Ela avisou que chegaria rápido. Na mesa, a Rebecca me olhava com uma mistura de alívio e medo.

— Obrigada, Carlos.

— Por nada. Você não está sozinha nisso.

A campainha tocou e meu coração disparou. Sabia que era a Eliana. Levantei quase num salto e fui abrir.

Lá estava ela. Cabelos soltos, levemente bagunçados, camiseta velha do Iron Maiden, e um short de moletom. O sorrisinho dela, quando me viu, era só dela. Mas logo os olhos deslizaram para dentro do apartamento, buscando outra pessoa. Rebecca.

As duas se olharam. Eram amigas da academia, mas agora se olhavam com a consciência crua de que transavam com o mesmo homem.

A Rebecca se levantou.

— Oi, Eliana.

— Oi, Rebecca.

O beijo na bochecha foi leve, o toque das mãos demorado. As duas estavam coradas. Ou pela vergonha, ou pelo desejo disfarçado. Pelo menos era isso que minha imaginação insistia em enxergar. Um olhar a mais, um gesto sutil, e minha mente já tecia uma narrativa cheia de tensão erótica entre Eliana e Rebecca. Era claro que se respeitavam, que havia delicadeza. Mas eu via um subtexto que talvez estivesse apenas na minha cabeça. O jeito como Eliana sorria de lado, o modo como Rebecca ajeitava o cabelo... pequenos gestos que, para mim, insinuavam algo mais. Talvez fosse só luxúria projetada. Mas comecei a imaginar um ménage, um trisal. Beijos compartilhados, com corpos entrelaçados. E nós três vivendo algo entre o domínio da paixão e da cumplicidade.

Mas à medida que a fantasia ganhava forma, a realidade vinha corrigir a rota: a Rebecca, com sua rigidez moral, mesmo em crise, jamais se entregaria a algo assim com leveza. E a Eliana, por mais aberta que fosse, prezava pela autenticidade emocional. Nenhuma das duas combinava com esse tipo de arranjo fantasioso. Talvez esse desejo fosse mais sobre mim do que sobre elas. E no fundo, eu sabia disso.

Eliana veio direto para a mesa, os olhos gentis, e disse:

— Eu só soube hoje de manhã. Fiquei preocupada contigo, Rebecca. E, pra ser sincera, tava a uma desculpa esfarrapada de bater na sua porta. Queria muito ver como você tá.

Rebecca sorriu com gratidão, um pouco sem jeito.

— Eu tô bem. Melhor agora. E me desculpa. Eu não sabia que você e o Carlos eram... namorados. Se eu soubesse, não teria acontecido.

A Eliana olhou pra mim e depois voltou pra Rebecca, brincando:

— “Namorados”, com aspas, é a forma que o Carlos arranjou pra dizer que somos... amantes com romance. É uma longa história. Mas não se preocupa com isso. Sério.

As duas riram. O clima começava a se suavizar, ainda que sob a superfície houvesse camadas de insegurança, vaidade e verdade.

Eliana puxou uma cadeira ao lado da Rebecca e se sentou.

— Rebecca, a gente precisa conversar. Quer conversar comigo sozinha primeiro?

A Rebecca olhou pra mim em silêncio. Mas entendi.

— Eu vou pro quarto. Deixo vocês à vontade. Me chamem quando quiserem.

A Eliana assentiu, carinhosa. A Rebecca só agradeceu com um gesto de cabeça.

Fui para o quarto, sentindo a tensão ainda presa nas costas. Liguei a TV, coloquei numa sitcom qualquer da Netflix. Alguma coisa com risadas gravadas e gente bonita dizendo piadas. Mudei de episódio três vezes em menos de dez minutos. Meu foco não passava de uma cena.

Comecei a imaginar.

Melhor cenário possível? As duas rindo, trocando confissões, abraçadas. A Rebecca dizendo que entende, a Eliana dizendo que tudo bem. Talvez até um carinho a mais. Uma compreensão mútua. E, quem sabe, uma abertura para algo mais... coletivo.

Pior cenário? A Rebecca chorando, dizendo que se sentiu usada. A Eliana explodindo, me chamando de canalha. As duas me chutando da vida delas.

A sitcom seguiu rolando, mas nada fazia sentido. Mais de uma hora e meia, quase duas horas, se passou. O som abafado das vozes na sala não dava pista nenhuma.

Então ouvi a porta se abrir, com a cabeça da Eliana passando pelo espaço. O rosto era neutro, mas os olhos estavam suaves.

— Carlos. Pode voltar. A gente quer continuar juntas agora.

Levantei. Respirei fundo. Voltei para a sala tentando controlar a ansiedade, mas me sentia como quem atravessava um campo minado. As duas estavam sentadas lado a lado, xícaras nas mãos, e havia um ar de serenidade entre elas que me surpreendeu. Me sentei de frente, como se fosse convidado para uma mesa de negociação delicada.

Eliana foi a primeira a falar:

— A gente conversou bastante. Muito mais do que eu imaginava que conversaríamos um dia. Falamos de coisas pessoais, antigas, sonhos, frustrações. Algumas dessas coisas a gente não quer abrir agora, tudo bem?

Assenti.

Rebecca completou:

— Mas chegamos a um acordo. Vamos manter tudo que aconteceu e está acontecendo em sigilo. Não vamos sair comentando o que houve entre você e cada uma de nós. Mas você, Carlos, pode ser sincero conosco. Pode dizer o que sente ou pensa sobre cada uma. Isso a gente prefere.

— Isso é... muito mais do que eu esperava. Obrigado por serem assim. As duas.

Eliana sorriu, me olhando com aquele jeito leve que era só dela:

— E nós dois vamos continuar como estamos. Namorados, amantes, parceiros. Como você gosta de dizer. Combinado?

— Combinado.

Rebecca baixou um pouco os olhos antes de falar:

— Eu não estou pronta para um relacionamento assim, tão... liberal. Não agora. Talvez nunca. Admito que a ideia de te “dividir” com a Eliana só me foi possível porque no fundo, eu só aceitaria estar com você se você aceitasse me dividir com o Maurício. E a verdade é que eu preciso conversar com ele. Uma conversa que venho adiando há tempo demais. Eu não sei o que será da minha vida depois dela.

Ela suspirou.

— Então, não seremos namorados ou amantes ou parceiros. Tu que posso aceitar e te oferecer hoje é sermos bons amigos.

— Rebecca, eu me preocupo com você. Sinto carinho, sim. Mas também sinto que, neste momento, o que você mais precisa que eu seja é um amigo. Um confidente. Alguém com quem você possa contar sem cobranças. Um amante ou namorado não parece ser o que você quer agora. E um amigo de verdade eu posso ser.

Ela sorriu com ternura e alívio:

— A Eliana concorda contigo. Obrigada por entender.

Eliana me cutucou com o joelho de leve e disse, quase rindo:

— Mas, olha só, vai ser uma amiga um pouquinho colorida. A Rebecca está liberada para usar o teu corpinho sempre que ela quiser fazer amor. Por mim, tudo bem. Carta branca total. Desde que seja iniciativa da Rebecca e que você não saia enchendo o saco dela por sexo, nem precisa da minha autorização. Mas ela vai me contar se você encher o saco dela.

Arregalei os olhos, surpreso. Rebecca riu e respondeu, num tom divertido:

— A Eliana é uma amiga generosa e que entende que nenhum dos três está numa situação que possa reclamar por exclusividade.

As duas riram.

— Espero que você não se importe, Carlos, mas eu pretendo que demore bastante até eu precisar tomar essa iniciativa — disse Rebecca.

— Por mim, tudo bem. Serei o seu ombro amigo sempre que você quiser e serei o seu pau amigo apenas quando você precisar.

Seguimos conversando por mais uma meia hora, aparando arestas. Falamos sobre a relação da Rebecca com a família, sobre a igreja, sobre os dilemas que a Eliana vive no casamento dela com o Leandro, sobre as pequenas ironias da vida adulta. Em dado momento, perguntei:

— E você, Rebecca? Está bem?

Ela demorou um instante para responder:

— Tentando. Mas acho que vou me virar. Agora eu sei que tenho pessoas com quem posso ser eu mesma. Isso faz muita diferença.

Ficamos em silêncio mais um pouco.

Eliana, com aquele sorriso sacana no canto dos lábios, que eu conhecia bem, comentou:

— Mas agora os planos do Carlos de comer geral vão ter um freio. Sabia que ele tá de olho nas nossas amigas da academia? Lorena, Letícia, Carolina... ele quer trazer para o nosso clubinho.

Engasguei com a própria saliva e tentei protestar, mas a Rebecca já tinha arregalado os olhos:

— Lorena? Letícia? Sério mesmo, Carlos?

— Ei, calma. Eu não disse que... bom, talvez tenha pensado, mas... isso não significa que eu... ah, vocês entenderam.

A Eliana riu alto, se divertindo com meu embaraço:

— Só estamos dizendo que, se for pra comer as nossas amigas, só vamos deixar se mantiver o mesmo nível de responsabilidade afetiva que está tendo conosco.

Rebecca assentiu, séria:

— Isso mesmo. E vamos ter uma conversa séria. A Lorena e a Carolina são solteiras, mas são nossas amigas. E a Letícia tem namorado. Eu não quero vou permitir que você se torne um segundo Enéias espalhando devassidão e desrespeitando casamentos.

— Eu.. Eu... Vocês sabem.

Eliana arqueou uma sobrancelha, divertida:

— Eu sei que você pensa antes de agir. Mas pensa com a cabeça errada de vez em quando.

— Vocês estão fazendo parecer que eu sou um cafajeste!

— Vocês comeu duas mulheres casadas e, agora, fez um arranjo com ambas que, na prática, pode chamar quase de “amantes”.

— Eu chamaria isso de “cafajeste”. — disse Rebecca, com um sorriso que misturava humor e firmeza. — Só que é um cafajeste com um mínimo de escrúpulos.

— Exato. — completou Eliana. — Se for pra ficar com alguma delas, ou qualquer outra, que seja com o mesmo tipo de sinceridade e responsabilidade afetiva que teve com a gente. Nós estaremos de olho!

— Ok, entendi.

Algum tempo de conversa depois, elas decidiram ir embora.

Na porta, me aproximei da Rebecca primeiro. Olhei em seus olhos, toquei seu rosto com cuidado e a beijei. Lento, respeitoso, mas sem medo. Quando nos afastamos, ela disse:

— Lembre-se, meu amigo, que esses beijos são a exceção e não regra.

Rimos. Depois me virei para a Eliana e a beijei com mais desejo, sentindo a firmeza do corpo dela contra o meu. Quando nos afastamos, ela olhou para a Rebecca e disse:

— Viu só? Ele beija a gente diferente. Mas os dois são bons.

As duas riram e saíram. Depois, sozinho com meus pensamentos, imaginei o quão improvável tudo aquilo era. Em como, de um caos silencioso, surgiu uma espécie de acordo emocional. Mas ainda faltava definir o principal: o divórcio com a Odete.

O meu domingo foi ocupado com a mudança da Lorena, do apartamento do Rogério e Jéssica para o dela ao lado. Parecia simples. Claro que eles não comentaram que 90% das coisas dela estavam num quartinho no estacionamento onde o pessoal do depósito tinha deixado no dia anterior. Horas e horas subindo e descendo caixas, por elevador e escada e eu já suava em lugares que preferia manter em segredo.

Mas o verdadeiro problema nem era o calor ou o cansaço, eram aquelas duas molhadinhas de suor: Jéssica e Lorena.

A Jéssica, com sua pele amendoada brilhando de suor, usava um short jeans curto que deixava as coxas torneadas em evidência. A regata branca colada grudava em seus seios pequenos, mas perfeitamente proporcionais. Era a minha melhor amiga. Mas seu corpo parecia feito para desconcentrar santos.

E ainda tinha a Lorena. Usava um vestidinho de alça amarelo, solto no corpo, mas que dançava com cada passo, revelando as curvas pequenas e firmes, os seios pequenos livres por baixo do tecido leve e um perfume que me fazia pensar em safadeza. Quando ela ria, jogando o cabelo escuro para trás, era como se o tempo pausasse só para eu admirar.

Eu estava louco para comer a Loren. Quando a via, não conseguia pensar em outra coisa. E parte de mim já considerava isso inevitável. Só precisava da chance certa. E, com ela finalmente voltando para o apartamento dela, longe da sombra moral de Rogério e Jéssica, talvez essa chance estivesse se aproximando.

O síndico Alberto também estava ali. Um sujeito certinho, cabelo penteado com gel, camisa polo enfiada dentro da calça caqui. Carregava uma caixa pequena e olhava para Jéssica como se ela fosse a única mulher no mundo. O problema é que ele era tão discreto quanto um farol de milha em noite sem lua.

— Jéssica, você quer que eu leve essa caixa? — perguntou Alberto, com um sorriso idiota.

— Pode ser, seu Alberto. Mas cuidado, tem vidro aí. — Ela sorriu de volta, educada como sempre.

Eu rolei os olhos. A Lorena riu, com as mãos na cintura, o vestido colando nas laterais do corpo por causa do suor.

— Eu não recomendaria o Alberto para a Jéssica nem se ela fosse solteira. Ele é fofo, mas tem cara de virgem.

— Quatro horas com a Odete resolvem isso — insinuei.

A Lorena passou por mim com uma caixa e seu quadril roçou de leve no meu. Senti o perfume, o calor, e algo mais. Ela sorriu, sem malícia aparente.

— Obrigada por ajudar tanto hoje, Carlos. Não sei o que eu faria sem você.

— Eu sempre apareço quando uma dama precisa — respondi com um sorriso que forcei a parecer casual.

Ela deu uma risadinha abafada e seguiu em direção à sala.

Subimos com mais coisas, e em algum momento, a Jéssica resolveu organizar a cozinha da Lorena. O seu Alberto foi na cola dela. O Rogério foi buscar as plantas que estavam na sacada, e eu fiquei ali com Lorena, empilhando caixas na sala.

Ela se abaixou para abrir uma delas, o vestido subiu um pouco mais. Eu virei de lado, não por vergonha, mas para contemplar sem parecer.

— Esse apartamento até parece maior agora, né? — disse ela, sem me olhar.

— A sensação de liberdade sempre dá essa impressão.

Ela me olhou por cima do ombro, olhos escuros brilhando.

— Liberdade é tudo.

Antes que eu respondesse, o Rogério voltou com os vasos. Fui circulando e ajudando o meu casal de amigos favoritos para disfarçar o que tentava com a amiga deles.

Horas depois, a Lorena abriu outra caixa. O vestido amarelo agora estava amarrotado, colado em alguns pontos ao corpo pelo suor, e o sutiã ainda era inexistente. O contorno dos seios pequenos dançava por baixo do tecido leve, e cada vez que ela se esticava ou abaixava, minha mente ia direto para o pecado.

— Precisa de ajuda com essa? — perguntei, me aproximando.

— Ah, essa aqui tá tranquila, Carlos, obrigada. Só tem uns livros. — Ela sorriu, sem perceber o tom da minha pergunta.

— Livros podem ser pesados. Mas companhia certa faz tudo parecer mais leve.

— Hahaha! É verdade. Você sempre com essas tiradas.

Ela nem notava. Ou notava e fingia muito bem. Mas havia uma doçura sincera na Lorena, uma simpatia desarmada. Era fácil confundir aquilo com flerte. Ou talvez eu só estivesse desesperado o bastante para enxergar sinais onde não havia.

Na cozinha, ouvi a voz do síndico Alberto mais uma vez.

— Jéssica, quer que eu passe um pano ali? Ficou com um pouco de poeira.

— Imagina, Alberto, relaxa. Você já fez bastante. — disse ela, sempre gentil.

Eu rolei os olhos e fui até a porta da cozinha. Rogério já tinha percebido. Estava calado, mas atento. E então, como quem não quer nada, entrou na cozinha, se aproximou da esposa pelas costas, puxou-a suavemente pela cintura e cravou um beijo nela. Um beijo de marcar território. Um beijo de marido que não ia dividir. A Jéssica correspondeu, sorrindo com os lábios ainda colados nos dele. O seu Alberto fingiu olhar para outro lado, sem saber onde enfiar a cara.

As horas passaram. Subimos e descemos com mais caixas, estantes desmontadas, sacolas de roupas. O suor escorria pelas costas, pelo peito. O vestido da Lorena colava entre as pernas. Os cabelos presos de qualquer jeito, a pele brilhando de cansaço.

— Essa cômoda vai pra onde, Lorena? — perguntei, carregando a parte de cima com ela.

— Pro quarto, encostada do lado esquerdo da cama. Se couber, né... senão a gente troca depois.

— Tudo cabe, quando se tem jogo de cintura.

— Você é cheio de metáforas hoje! — Ela riu.

— Eu tô aqui pra deixar sua vida mais leve. Sempre que quiser.

Ela só sorriu de novo. Pura, doce, sem a menor ideia do que eu queria fazer com ela naquele quarto.

Os dias passaram e, na quarta, eu finalmente voltei à academia. Entrei no prédio ainda ajeitando a camiseta que estava começando a ficar folgada no peito. Já na recepção, a visão me arrancou um suspiro que tentei disfarçar: estavam lá Eliana, Rebecca, Jéssica, Carolina, Lorena e Letícia. Se o paraíso tivesse sede no térreo da academia, seria exatamente aquilo.

Primeiro avistei a Eliana, minha musa morena de olhos verdes. Corpo escultural, como sempre. Usava um top branco colado, sem bojo, deixando os mamilos meio marcados. A calça legging azul-marinho realçava os glúteos absurdamente empinados dela. Quase não consegui evitar sorrir ao lembrar do jeito que ela gemia no meu ouvido... Ela me lançou um sorriso sem pudor, mas nada que chamasse atenção.

A Rebecca, firme e contida, estava na bicicleta ergométrica. Ela usava uma legging azul-marinho e uma regata branca que deixava os seios pequenos marcados. A bunda dela era empinada e dura, surpreendentemente firme. Estava diferente desde nossa noite. Ainda havia doçura nos olhos dela, mas também algo mais — um fio de desejo contido. Nós estávamos resolvido como bons amigos, mas eu sabia que ainda iríamos ter algumas transas como amigos bons amigos coloridos.

A Jéssica levantava peso no canto. Séria, focada, sem maquiagem. Usava um top cinza-claro e calça legging vinho. Ela sorria para todos, a energia de uma mulher fiel e comprometida, mas com um corpo que gritava tentação. Magra, definida, coxas duras. A bunda dela era firme, torneada. Eu evitava olhar demais. Ela era casada com Rogério e, acima de tudo, minha amiga. Mas não era cego.

A Carolina, a engenheira encantada por Bergman e cafés, estava no aparelho de adutor. Perfeita. Aqueles seios fartos sacudiam levemente a cada movimento de abrir e fechar as pernas. O top era preto, decotado, e a calça cinza-claro parecia gritar pelo meu toque. Eu era obcecado por ela. Aquela mulher tinha um jeito de quem lia Nietzsche e fodia como uma atriz pornô. Mas nunca me deu moral.

A Lorena estava na esteira ao lado da Eliana, com seu top azul-turquesa e legging estampada com flores. Ágil, bronzeada. Sempre fazia piadinhas comigo e com o Rogério. A barriga sarada e os seios pequenos. Aquela leveza no jeito de andar, no balançar do quadril, nos sorrisos que duravam mais que o necessário. Eu queria comer ela. Queria muito. Mas ela não era do tipo que se deixava seduzir fácil.

Letícia, a mais nova do grupo, estava se alongando de um jeito que eu considerava desnecessariamente pornográfico. Ela vestia um top preto e legging lilás. Corpo jovem, firme, olhos cheios de vontade e ingenuidade fingida. Aquela aluna tinha algo perigosamente sedutor. Fingíamos não nos notar demais, mas havia ali uma tensão latente.

Me aproximei do grupo com um sorriso contido.

— Boa noite, minhas atletas preferidas.

— Boa noite, professor! — disse Letícia, sorrindo, esticando os braços para cima de propósito.

— Pode me chamar só de Carlos, que eu acho melhor, Letícia — retruquei com bom humor.

Ela riu, se virou e empinou ainda mais a bunda.

— Carlos! — chamou Jéssica, com um sorriso leve. — Tá melhor? Sem câimbra?

— Sim. Prometo que não vou cometer outra daquelas. Agora, tenho que correr atrás do prejuízo.

A Lorena riu.

— Daqui a pouco tá postando foto sem camisa no Instagram.

— Com o filtro certo, dá para postar até agora — brinquei.

A Carolina me lançou um olhar rápido e depois voltou a olhar pro espelho. Já a Eliana me olhou com um meio sorriso malicioso. Aquilo foi uma senha.

Fui até o aparelho de puxada alta e ela me seguiu.

— Deixa eu te ajudar aqui na postura — falei, tocando de leve nas costas dela e descendo as mãos até a cintura. — Relaxa os ombros... Isso... flexiona um pouco mais... — e empurrei de leve o quadril dela, colando meu corpo nas nádegas redondas da Eliana.

— Você tá querendo me matar — sussurrou ela, olhando pra frente, fingindo estar concentrada no exercício.

— Tô querendo te comer de novo — respondi baixo, meu quadril roçando no dela, discretamente, como se fosse parte da correção.

— Aqui? Agora?

— Por mim, sim. Mas alguém ia perceber o sumiço... — murmurei, apertando de leve sua cintura com os dedos.

Ela gemeu baixinho, disfarçando com uma respiração pesada.

— Você me enlouquece...

— Eu te enlouqueço? A minha vida nunca mais será a mesma graças a você.

— Eu tenho esse efeito nos homens.

Dei uma risada baixa e me afastei lentamente, como se nada tivesse acontecido. Nenhuma das outras percebeu. A Letícia estava agora conversando com a Rebecca, que estava muito melhor e com o ânimo totalmente recuperado depois da nossa conversa.

— Estou feliz que você tenha se recuperado daquela virose feia da semana passada — disse, me aproximando delas.

— Obrigada — respondeu Rebecca. — E obrigada por todas as palavras gentis que me mandou pelo WhatsApp.

Sorrimos um pro outro. A Letícia nos olhou curiosa, mas não disse nada. A Lorena se aproximou, com uma toalhinha nos ombros e o rosto suado.

— Ô, Carlos, vai rolar outro churrasco domingo? O Rogério tava comentando algo a respeito.

— Ele não me disse nada. Mas por mim, ótimo.

A Jéssica ouviu e comentou:

— Se alguém levar um violão, eu empurro na piscina.

— Mas quem tem um violão é você — brinquei.

Rimos. As outras seguiam conversando ou em seus afazeres.

— Letícia, vai na extensora comigo? — disse Carolina.

— Bora. Mas você sempre põe carga demais.

— Melhor treinar direito do que ficar tirando foto no espelho — comentou Rebecca.

— Olha a velha guarda reclamando da geração selfie — zoou Lorena.

Foi quando a porta da academia se abriu e o ambiente pareceu mudar de densidade. A Natália entrou. E tudo ficou em suspenso.

A ruiva usava um top branco cavado, que deixava um decote discreto mas maldoso, e uma legging vinho que grudava nas curvas como se tivesse sido desenhada direto sobre a pele. O corpo lembrava uma escultura de marfim quente: seios médios, cintura estreita e um quadril largo e provocante. Tinha aquele porte segura de si, com um brilho nos olhos.

A Natália foi minha aluna nove anos antes, na época em que eu arrastava tudo quanto era mulher para cama. Inteligente, sensual sem querer, daquelas que deixam qualquer professor inquieto. Nunca aconteceu nada, mesmo naquela época. Ela era bem certinha. Agora, ela era minha colega de trabalho e minha vizinha.

— Carlos? — disse ela, sorrindo ao me ver. O mesmo sorriso doce, só que agora com uma malícia sutil. — Não sabia que você treinava aqui.

— Só às vezes. Quando uma das nossas vizinhas conseguem me arrastar — brinquei.

Ela riu, ajeitando os cabelos ruivos no ombro.

A Letícia se aproximou com os olhos brilhando.

— Professora Natália! A senhora por aqui?

— Letícia! Que prazer te ver. E por favor, me chama de você, que aqui a gente só é vizinha.

— Você sabia que a Natália tinha se mudado para cá? — perguntou Letícia pra mim.

— Ela me contou faz uma semana, uma semana e pouco.

Antes que a conversa se aprofundasse, a Eliana e a Carolina se aproximaram e deram um abraço na antiga colega que talvez não vissem desde a formatura.

— Natália? — perguntou Carolina, estreitando os olhos.

— A própria. O Carlos tinha comentado por alto que tinha gente que eu conhecia no prédio, mas não sabia que eram vocês duas.

— Seja bem-vinda ao nosso caos — disse Eliana, feliz.

— Vocês conhecem a Natália? — estranhou Letícia. — Ela é muito nova para ter sido professora na época de vocês.

— Eu também era aluna na época delas — explicou Natália, brincando. — Eu era de uma turma um ano na frente delas.

As quatro começaram a conversar sobre como era a faculdade de engenharia elétrica na época da geração da Natália, Carolina, Eliana, Leandro e do ex-marido da Carolina.

Aos poucos, com a ruiva já entrosada com o trio, foi a vez da Lorena, Jéssica e Rebecca se aproximarem também. O grupinho agora estava quase completo.

— Essa é a nova vizinha? — perguntou Jéssica, sempre simpática.

— Natália. Professora na mesma faculdade que o Carlos — disse Carolina.

— Já deu aula pra você, Letícia? — perguntou Lorena.

— Sim! Em duas disciplinas — respondeu Letícia, com os olhos presos em Natália de um jeito que me fez arquivar aquele dado.

— Ah, o Maurício me falou de você — comentou Rebecca. — Passou no concurso ano passado. Seja muito bem-vinda.

A Natália encarou cada uma com aquele olhar afiado de quem está montando um mapa mental.

Estava tudo indo bem até o Enéias, com seu corpo de deidade grega, suado já antes de começar, entrar como se fosse dono do lugar, com aquele andar confiante, o sorriso escancarado e o abdômen de comercial de cueca. O olhar dele varreu o ambiente em meio segundo e pousou diretamente na Carolina. E depois, sem disfarço algum, na Natália.

— Carolina... — disse ele, arrastando o nome com aquele tom cafajeste e encantador que fazia metade das mulheres do prédio sorrirem e a outra metade o odiar por isso. — E quem é a nossa nova amiga?

A Natália olhou para o homem de cima para baixo, com uma tensão sexual que nunca teve comifo.

— Natália.

— Enéias. A sua academia nunca mais será a mesma, viu? — disse ele, estendendo a mão.

Ela apertou, firme, com um olhar desafiador.

— Veremos.

A presença do Enéias dispersou algumas mulheres. A Rebecca se afastou um pouco do grupo para fazer seu treino de pernas na cadeira extensora. Caminhei até ela, observando seus movimentos cuidadosos e a postura ereta. A calça legging azul-marinho marcava bem a bundinha empinada em formato de coração invertido.

— Quer ajuda com a postura? — perguntei, com voz baixa.

— Se for com as mãos nos lugares certos.

Sorrimos. Fiquei atrás dela, aproximando as mãos com cuidado. Corrigi o encosto, ajustei a posição dos ombros.

— Aí, assim está melhor — murmurei.

Ela suspirou leve, mas sem olhar pra trás.

— A Natália é muito bonita. Você também está de olho nela?

— Eu diria que o Enéias chegou primeiro.

— O Enéias vai enjoar e descartar depois da primeira vez. Aí, você teria sua chance.

— Está me incentivando a tentar algo com a Natália?

A Rebecca virou o rosto um pouco, olhos semicerrados.

— A Lorena é minha amiga e não sei se quero ela com você.

— Entendi.

— Você já conversou com a Odete sobre o divórcio ou vai dar para trás?

Nos dias que seguiram, eu e a Rebecca tínhamos conversado bastante sobre as crises em nossos casamentos. Eu falei sobre meu plano de divórcio e ela nada fez para ser contra. No entanto, por a Odete ainda ser minha esposa no papel, ela sentia uma obrigação moral de conversar com ela sobre o que tínhamos feito e resolvido. Eu só temia que a Odete tentasse usar o peso na consciência da Rebecca para tentar comer ela.

— Estou esperando ela voltar. Esse tipo de conversa tem que ser cara a cara.

Ela meu deu um sorrisinho discreto e voltou a se concentrar no exercício. O Maurício voltaria de viagem no dia seguinte e ela teria muito a conversar com ele também. Me afastei com calma e retornei ao grupo, onde o bate-papo estava pegando fogo.

— Natália, você já viu o grupo de corrida do prédio? — perguntou Jéssica, tentando incluir a nova vizinha.

— Não, mas se for de corrida e fofoca, já quero entrar.

— A única coisa que corre aqui é a fofoca mesmo — disse Lorena.

Nesse momento, Enéias voltou com uma garrafinha d'água, e jogou-se em cima de uma esteira ao lado de Carolina.

— Vou correr até ganhar um café com você, Carolina. Ou você vai me fazer correr até o inferno mesmo?

— Vai correr até aprender a não ser patético.

— Uma mulher sincera. Melhor ainda. Natália, você toma café?

— Sempre.

Pelo visto, o conquistador do prédio já tinha marcado quem seria sua próxima vítima.

A semana passou voando e logo chegamos no dia da volta da Odete. Ela tinha viajado para o Maranhão a trabalho, representando a empresa de importação com a qual gerenciava algumas operações regionais. Eu estava decidido: era hora de pedir o divórcio e nada me demoveria disso. A Odete e eu não éramos mais um casal há muito tempo. Amigos, sim. Cúmplices, sim.. Amantes, às vezes. Marido e mulher, não mais.

Ouvi o barulho das chaves girando na porta e a voz animada dela entrando com um sonoro:

— Meu Deus, Carlos, você não sabe o que foi essa viagem!

Ela me deu um beijo estalado na bochecha, largou as malas na sala e foi direto pro banheiro. Fiquei no sofá, esperando e mentalizando. Repetindo mentalmente as frases que tinha ensaiado. “Odete, precisamos conversar”. “Acho que chegou a hora de seguirmos caminhos diferentes”. Estava com muito medo da reação dela. Imagina que ela seria algo dez mais contrária que a Jéssica foi quando contei para ela.

A Odete demorou. Tomou banho, fez esfoliação, hidratou, passou perfume. Saiu do banheiro enrolada numa toalha e veio falar comigo.

— Você viu que vai chover em São Luís a semana toda agora? Sorte a minha que peguei o tempo bom. Nossa, o calor lá é bom demais... e os corpos então!

Ela se sentou no sofá ao meu lado, já vestida com um pijama. Parecia leve, feliz.

— Carlos... vou te contar, viu. São Luís me tratou como uma deusa. Você não imagina as orgias que participei.

— No plural?

— Orgias no plural, sim. Duas em casas de swing e uma no hotel. Teve de tudo. Turistas, executivos, gerente de vendas e até um casal de influencers de turismo.

Ela riu sozinha e comentou ter trazido muito doce de buriti que comprara na feira para nós.

Fiquei quieto por alguns segundos. Nós éramos abertos há muito tempo. Mas ouvir aquilo de forma tão casual, justo naquele momento, me pegou desprevenido. Uma parte de mim quis rir, outra apenas aceitou: essa era a Odete.

— Odete... A gente precisa conversar — comecei, finalmente, sentindo meu peito apertar.

Ela me olhou e fez um gesto teatral com a mão:

— Não se preocupe. Foi tudo protegido.

— Não. Não é isso. Eu... quero o divórcio.

Silêncio.

Ela me encarou por um momento. Eu prendi a respiração. E, pra minha surpresa, ela soltou:

— Você só pode estar de sacanagem, Carlos. Eu pensei que você fosse me pedir pra transarmos com um casal de veganos de São Paulo ou sei lá.

Eu quase ri. Quase. Mas a tensão ainda me travava.

— Eu tô falando sério. Acho que a gente precisa mesmo encerrar esse casamento de fachada. Ainda somos amigos, e por isso mesmo, precisamos ser honestos.

Ela ficou em silêncio por mais alguns segundos, e então apoiou o queixo na mão, olhando para o teto. Eu já esperava um discurso dramático. O que veio foi ainda mais Odete do que qualquer coisa:

— Quer dizer que finalmente chegou a nossa aposentadoria conjugal... — disse, quase poética. — Ok. Eu aceito.

A resposta dela me pegou como um soco de luva de pelica. Tão simples, tão direta... tão Odete. Eu tinha passado dias imaginando mil desdobramentos: choro, escândalo, acusações, talvez até uma tentativa de reconciliação. Mas ela apenas aceitou, como se estivéssemos decidindo qual série veríamos à noite. Parte de mim se sentiu aliviado, claro. Outra parte, quase ofendido — era só isso? E uma terceira, talvez a mais honesta, ficou comovido. Talvez ela também já tivesse se despedido de nós há muito tempo, só não tinha colocado em palavras.

— Com uma condição. O apartamento fica comigo.

— Não. Eu fico com o apartamento.

Ela arregalou os olhos.

— Como assim?! Carlos, eu amo esse lugar. Amo esse prédio. Meus amantes estão todos aqui.

Tive que conter um suspiro. Mas não era esse o ponto.

— Eu também amo esse lugar, Odete. Não é pelo imóvel, é pelo condomínio. Pelas pessoas. Meus amigos moram aqui. Jéssica, Rogério...

— Mas eu tenho minhas amigas aqui. Andréia, Jéssica... Eu não quero me mudar antes de chupar a buceta da Jéssica! Carlos, meu vibrador vibra diferente se não for carregado aqui. Esse lugar é parte de mim!

Ela disse isso como quem apresenta um argumento incontestável.

— E eu tenho memórias aqui também!

Ela bufou, cruzando os braços.

— Vamos simplificar isso, Carlos — disse, com aquela voz prática que usava quando queria encerrar discussões. — A gente continua morando aqui. Cada um no seu quarto, como colegas de apê. Pelo menos até vagar outro apartamento no prédio.

Suspirei com a proposta. Parecia simples, mas fazia sentido. Melhor do que ficar arrastando mala de um lado pro outro ou discutindo como dois mimados.

— E quando esse apartamento vagar? — perguntei, cauteloso.

— A gente decide na moeda quem vai para lá e os dois ajudam a pagar. Pode dividir o aluguel, ver como conseguimos rachar. Mas até lá, nada muda na nossa rotina básica. Só dormimos separados e assumimos a separação para todo mundo. Combinado?

— E se um de nós arrumar uma namorada?

— E daí? Todo mundo vai saber que estamos separados e divorciados. Se eu trouxer alguém aqui, você nunca encheu o saco. Se você trouxer, eu prometo não forçar a barra para rolar ménage. Simples.

Considerei aquilo por alguns segundos. Ela estava resolvendo o que eu achava um impasse em cinco frases. Claro que era a Odete. Sempre foi boa nisso. Senti meu rosto rachar num sorriso. Era estranho, mas genuíno. Ali estávamos, depois de trinta anos, negociando o fim do casamento.

— Carlos — ela disse, me encarando com carinho —, você tem certeza disso?

Aquela pergunta me atravessou. Mas não hesitei, porque logo pensei na Eliana. Pensei na solidão dos últimos anos ao lado de alguém que já vivia outras vidas, outras camas, outras paixões.

— Tenho, Odete. A gente merece ser feliz. Separados.

Ela sorriu. Um sorriso doce, mas zombeteiro.

— Então, vamos brindar à nossa separação. Mas só depois que você ouvir o que eu fiz com o motorista de aplicativo. Envolve tapioca e um extintor de incêndio.

E eu ri. Porque, claro, com a Odete sempre envolve.

Horas depois do nosso acordo esquisitamente funcional, Odete e eu organizamos um jantar para nossos primeiros amigos a quem anunciaríamos o divórcio: Rogério e Jéssica. Segundo Odete, “se é pra ter escândalo, que seja entre os íntimos”. Achei exagero. Mas também, conhecendo a Odete, ela provavelmente aproveitaria a situação para tentar uma troca de casais pela última vez.

Quando Rogério e Jéssica chegaram, estavam com aquele jeitão de casal que brilha em qualquer ambiente. O Rogério, de calça bege e camisa polo azul-marinho. Barba bem-feita, sorriso de quem tinha tudo sob controle. Já a Jéssica vestia um vestido floral solto, mas quase curto. Aquele tipo de tecido que balança com o vento e promete revelar demais com o menor movimento, sem nunca revelar. Os seios pequenos desenhavam discretamente a frente do vestido, e as coxas torneadas estavam bronzeadas, com aquele brilho de quem malhou de manhã e hidratou à tarde. As sandálias deixavam os dedos perfeitamente feitos à mostra. Reparei que a Odete lançou um olhar de apreciação disfarçada.

Nos sentamos à mesa. Vinho foi servido, a massa foi elogiada e a conversa fluiu entre amenidades. Foi então que Odete, do nada, largou os talheres e bateu palminhas leves:

— Agora sim! Chegou o momento da fofoca da noite!

Rogério arqueou uma sobrancelha, curioso. Jéssica sorriu largo.

— Lá vem, hein? — disse ela.

Odete olhou pra mim com aquele brilho debochado no olhar, como quem pede permissão para a travessura. Eu só suspirei e dei de ombros.

— Nós vamos nos divorciar! — anunciou, como quem diz que ganhou um sorteio da quermesse.

Rogério ficou em silêncio por alguns instantes. Observou a Odete, depois a mim. Seus olhos se demoraram mais do que o normal nos nossos rostos, como se estivesse lendo entrelinhas que ninguém estava dizendo em voz alta. E então ele assentiu levemente com a cabeça, com aquele jeito ponderado de quem já leu o ambiente perfeitamente.

— Bom... Se é algo em que vocês dois concordam, desejo sorte aos dois — disse, com voz calma e sincera.

— Obrigado, Rogério — respondi.

Odete sorriu de lado, visivelmente satisfeita com o elogio disfarçado.

No entanto, ao lado dele, a Jéssica arregalou os olhos, soltou um gritinho contido e se levantou abruptamente, indo até a Odete como se ela estivesse à beira do colapso. Puxou-a para um abraço exagerado, afagando os cabelos dela.

— Ai, meu Deus, Odete! Você não precisa passar por isso sozinha! Ele não vai te deixar, não vai te abandonar na rua! nessa cidade cruel! Nós vamos dar um jeito de você passar por essa!

— Jéssica... — tentei intervir.

— Não, Carlos! — ela me cortou com o dedo em riste. — Eu te admirava! Te achava um homem sensível, sério! Mas é isso mesmo? Vai largar a mulher da sua vida? Tá trocando ela por outra, é?

Odete riu e levantou a mão como quem pede a palavra no plenário.

— Jéssica, minha flor, na real, eu provavelmente transei mais nessa última viagem ao Maranhão do que o Carlos transou no ano inteiro. Inclusive, o motorista da van do aeroporto ainda me manda áudio querendo mais.

O Rogério quase engasgou.

— Isso não me ajuda muito, Odete — resmunguei.

— Mas ajuda a esclarecer — ela disse, voltando à mesa. — Eu tô ótima. Ganhando bem. E vou continuar morando aqui por alguns meses. No outro quarto. A gente já combinou. Quando vagar outro apê no prédio, eu me mudo. Pronto.

A Jéssica apertou os olhos, tentando entender.

— Mas e a solidão? E o luto do fim do casamento?

— Jéssica, eu tô cercada de gente. Meus amantes, minhas amigas, o seu Geraldo, o seu Zé Maria, o Luciano... A minha libido tá tinindo. Luto? Eu tô é celebrando.

— Espera um pouco... Você está bem com esse divórcio?

— Francamente? Até demorou.

O silêncio se instalou por dois segundos, tempo suficiente para a expressão da Jéssica congelar no ar como se tivesse levado um tapa com luva de pelica.

— Mas e o emocional de vocês?

— A gente já tá separado emocionalmente faz uns bons anos, Jéssica —explicou Odete. — Só estamos oficializando agora. E sem drama.

Jéssica olhou para Rogério, buscando apoio. Ele só deu de ombros com um meio sorriso.

— Acho que eles sabem o que estão fazendo. Desde que ninguém precise se mudar pro nosso apartamento desta vez... vocês têm meu apoio total.

— Um brinde à lucidez emocional — disse Odete, levantando a taça.

Jéssica se jogou na cadeira, derrotada.

— Vocês são doidos. Mas pelo menos são doidos em paz.

A Jéssica ainda parecia sem chão, como se o seu o mundo tivesse virado de cabeça pra baixo e, mesmo assim, estivesse equilibrado. O Rogério não sabia se a consolava ou se a deixava processar tudo ainda.

Pois bem, leitor. Nos próximos capítulos, as coisas vão ficar ainda mais loucas na academia e eu devo transar com mais uma mulher: Natália? Carolina? Letícia? Lorena? Enquanto isso, a Eliana vai conhecer as mulheres do meu antigo harém. E, claro, a Jéssica ainda não desistiu de impedir o meu divórcio. E isso nos levará para um fim de semana numa casa de praia.

Coloquem nos comentários para com quem vocês torcem que eu transe nos próximos capítulos e se vocês torcem para que o meu relacionamento com a Rebecca evolua após os dois se divorciarem ou se a amizade está de bom tamanho. Em breve, vamos ter a continuação.

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Comentários

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Torço pra que Carlos se dê bem com todas elas. É o personagem masculino mais legal das sagas junto com o Seu Geraldo.

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Cara muito bom, deve ser difícil conseguir desenvolver tantos personagens, pra mim a melhor parte de todas foi a festa de a fantasia, mas sinceramente gostaria de ver como a relação da Jessica e Lucrecio. Se o Rogério vai mudar de postura porque agora esta ficando meio chato e até meio banana, antes eu torcia pelo casal, mas agora depoisde saber que a Jessica quer uma outra pegada, seria legal que ela acabasse logo traindo o Rogério, mas não essa coisa Esdrúxulas de seu Geraldo por exemplo, mas alguém pareça mais crivel que conseguisse comer uma mulher como essa. Porque seria legal ver como você desenvolveria o lado emocional dela depois da traição e talvez a tentação de se entregar a alguém com mais pegado que o marido e convivência com o Rogério depois disso, e quem sabe ele também tivesse o direito depois de descobrir ou desconfiar acabar aprendendo a ser um homem mais ativo nos braços de outra mulher.

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Concordo. Faz sentido com o lucerio, por toda a condição emocional e estratégica dele.

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Acho que vc não leu os comentários dos outros contos senão vc saberia que o casal principal e intocável e fiel já existe muitos contos de traição nessa saga mesmo tem vários então deixa o casal fiel o site o que mais tem e contos de traição

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