Quem Vai Comer a Advogada Evangélica? - Capítulo 04

Um conto erótico de Jonas
Categoria: Heterossexual
Contém 6790 palavras
Data: 27/06/2025 11:22:08
Última revisão: 27/06/2025 14:56:50

ATENÇÃO AOS LEITORES: Só para contextualizar/relembrar os leitores dos acontecimentos passados. A Rebecca transou com o Carlos em “Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 06” e o seu Raimundo transou com a Lorena em “Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 09”. A leitura de ambos não é essencial para o entendimento deste conto, mas ajuda a contextualizar as peças que o Jonas não sabe. No capítulo anterior desta série, o Jonas os viu chegar em casa quase ao mesmo tempo, ele acredita de pé junto que os dois já transaram.

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Olá. Me chamo Jonas. Sou um professor universitário comum de 46 anos. Mas essa história não é sobre mim. É sobre quem vai comer minha vizinha evangélica, Rebecca.

A Rebecca era a minha vizinha do apartamento do lado, uma advogada evangélica batista. Tinha por volta de uns 28-30 anos, não me lembro exatamente. Altura mediana, pele clara, feições suaves, olhos castanhos claros que pareciam sempre analisar tudo ao redor. Os cabelos, castanhos claros longos e ondulados. Seu corpo era proporcional. Seios médios, mas firmes, cintura marcada, quadril levemente acentuado. Uma bunda empinada que se destacava em qualquer vestido justo ou calça colada ao corpo. Pernas torneadas, resultado das aulas de pilates e musculação que ela praticava religiosamente.

Ele é casada com meu colega professor da mesma faculdade, Maurício. Ele também é evangélico, daqueles bem rígidos e conservadores. Eles são crentes tão fervorosos, de irem ao culto toda a semana, vestidos daquela forma estereotipada, que parecem nem fazer sexo.

Mas na privacidade das quatro paredes, eles gostavam de uma putaria das boas, botar ela de quatro e socar até as pessoas do quarto ao lado ouvirem os choques da virilha dele com a bunda dela. Sei disso porque testemunhei uma dessas fodas e tenho uns registros dela. Vai que elas se provem úteis algum dia para algo além de homenagens.

Nos capítulos anteriores, a Rebecca veio se hospedar no meu apartamento enquanto o dela estava em reformas e o Maurício estava viajando na Itália. Quem se aproveitou disso foi o meu sogro, seu Raimundo, que usou toda a sua lábia nela.

O nosso capítulo começa depois que alguém conseguiu finalmente comer a advogada evangélica.

Tudo começou dois dias depois àquela transa com Letícia e Antônio. Naquela manhã de domingo, eu estava estirado no meu velho sofá de couro descascado, fingindo assistir televisão, mas com os olhos atentos à cozinha.

A Rebecca estava sentada, tomando seu café com uma lentidão quase litúrgica. A cara dela era a mesma desde sábado: ressaca emocional. Aquela expressão vazia, de quem acordou no meio de um terremoto existencial. Vestia um short velho de algodão e uma camiseta larga demais com uma estampa desbotada de uma conferência evangélica de 2022. Ainda assim, por debaixo daquele visual cristão descuidado, dava pra ver o corpo magro e firme que ela escondia do mundo com a culpa dos justos. Os bicos dos seios despontavam sob o tecido fino da camiseta. Tão casta que não usava sutiã.

Ao lado dela, seu Raimundo tinha aquele sorrisinho safado de quem dormiu com o diabo e ainda acordou rezando. Mexia no seu pão com manteiga como se fosse um troféu. Ainda comemorando ter comido a crente na sexta.

— Minha querida, a gente vai se atrasar pro culto. — disse ele, com uma alegria irritante.

Rebecca respondeu sem olhar pra ele:

— Não sei se eu vou hoje. Tô... estranha.

“Estranha”. Claro. Transou com o seu Raimundo, esse canalha com vocação pra messias de buceta, e agora tá se sentindo suja. Mas se arrependimento queimasse caloria, a Rebecca estaria virando fumaça ali na cozinha. Tinha certeza de que o velho Raimundo comeu. Os dois chegaram quase juntos na sexta de noite, os dois com essa cara de quem se deu bem e quem se deu mal.

O velho Raimundo, com aquela delicadeza calculada de quem já seduziu freira em festa de quermesse, encostou a xícara com cuidado e falou com ares de pastor:

— Justamente por isso, minha querida... é que você tem que ir. O culto limpa a alma. Restaura. A gente não vai à igreja porque é forte. Vai porque é fraco.

A Rebecca suspirou.

— Eu não sei, seu Raimundo. Sinto que... que não devia nem estar aqui. Às vezes acho que Deus se decepciona comigo.

— Se Ele se decepcionasse com a gente, minha querida, não tinha mais ninguém vivo nesse planeta. — Ele riu, um riso baixo, mas reconheci ali o tom de um homem que tem memórias frescas demais. — Todo mundo carrega suas cruzes. O importante é não largar elas no meio da estrada. E você... você é forte, Rebecca. Muito mais do que pensa.

— Forte? Eu me sinto um lixo. — Ela abaixou a cabeça, envergonhada. — Às vezes, eu queria sumir.

— Pois é nessas horas que a gente precisa da palavra. Não pra se esconder, mas pra lembrar que a gente pode recomeçar. Deus não desiste da gente, mesmo quando a gente desiste da gente mesmo.

A mulher parecia emocionada. Abaixou os olhos, apertou a caneca com as duas mãos e assentiu com um leve aceno.

— Talvez você tenha razão — disse, se levantando devagar. — Vou tomar um banho.

Ela saiu da cozinha com os cabelos desgrenhados e a bunda pequena, mas empinada, balançando sob o short frouxo. Acompanhei com os olhos, saboreando a ironia do momento. O velho Raimundo tinha enfiado nela a noite toda e agora ainda bancava o guia espiritual.

E continuou assim pelo resto do dia. Seu Raimundo, com a sutileza de um urubu cheirando carniça fresca, passou o dia todo cercando a Rebecca. Primeiro, puxou conversa sobre versículos bíblicos. Sim, ele tem esse dom teatral de saber qual céu paira sobre a cabeça das mulheres. Veio com aquela voz mansa:

— Você lembra daquele salmo, Rebecca? Aquele que diz que o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã?

Ela assentiu, claro. As crentelhas sempre assentem quando ouvem versículo fora de contexto. São programadas pra isso. E ele seguiu, como quem não quer nada:

— Pois é, minha querida... Tem horas que a gente precisa se permitir um pouco de leveza. Deus não quer o peso o tempo todo, não. Às vezes, ele só quer ver a gente sorrir.

Incrivelmente, funcionou.

Ao longo do dia, vi aquela pose tristonha da Rebecca amolecer. Primeiro, um sorrisinho ao ouvir uma das histórias de juventude do velho (na qual, aliás, ele convenientemente omitia o final com três mulheres peladas no guarda-roupa). Depois, ela já estava ajudando a lavar a louça com ele, trocando risadinhas idiotas. E, no fim da tarde, ela passou pela sala com um vestido de algodão leve, sem sutiã, e sem perceber (ou fingindo que não percebeu) que o decote mostrava um detalhe que o pai da Cinthia não precisaria de lupa pra notar.

A noite caiu. Eu e Cinthia ficamos no quarto assistindo televisão. Quando saí pra pegar uma cerveja, passei pela sala. Estavam os dois no sofá, Rebecca e seu Raimundo, assistindo alguma sitcom genérica na Netflix, daquelas com trilha de risadas gravadas e gente branca gritando por nada. O detalhe era que a Rebecca estava sorrindo. Gargalhando, mesmo. Uma risada solta, sem culpa.

Mas o que me chamou atenção não foi a risada. Foi a mão do meu sogro, pousada casualmente sobre a coxa da crentelha. Uma mão que estava ali como quem diz "não repare, eu só estou apoiando". E ela não reagia. Não afastava. Continuava rindo. E a coxa dela continuava ali, quentinha, sob a mão do velho.

Mais tarde, quando Cinthia foi tomar banho, resolvi voltar pra cozinha. Passei de novo pela sala. A Rebecca agora estava meio de lado no sofá, com as pernas recolhidas, e o seu Raimundo tinha virado o tronco pra ela. O riso continuava. A mão na coxa também. E eu ouvi:

— O senhor tem um jeito tão leve de ver a vida...

— A vida é curta, Rebecca. Se a gente não rir, a gente morre mais rápido.

Ela riu, claro. Aquela risada de moça que quer parecer inocente mas já se entregou faz tempo. Riu com o rosto virado para ele, os olhos brilhando daquele jeito que denuncia mais do que qualquer palavra. E então, por um instante, os dois se olharam nos olhos.

O tempo parou ali.

A risada dela foi morrendo devagar, os lábios entreabrindo aos poucos, e a respiração dela ficou presa no peito. O rosto do seu Raimundo se inclinou levemente, quase imperceptível. E ela não recuou. Mas não se beijaram. No último instante, o velho hesitou e não finalizou o serviço no timing correto. E ela afastou o rosto.

E eu pensei: talvez o Raimundo esteja fazendo um serviço que nem Freud explica. Talvez ele esteja, com aqueles dedos tortos e aquela voz baixa, desfazendo décadas de repressão e culpa. Talvez esteja limpando a ferrugem da alma daquela mulher com toques sutis e piadas bestas.

Ou talvez ele só esteja querendo comer a crente mesmo. O que é bem mais provável. No fim das contas, eu só queria saber se ela vai resistir a mais uma semana.

A segunda chegou, calma. No final da tarde, eu estava saindo do prédio, indo em direção ao meu carro, quando vi a Natália. Como sempre, um colírio.

Ela vinha do supermercado, duas sacolas grandes nas mãos. Vestia uma calça jeans justa que marcava cada curva das suas coxas torneadas. A blusa branca simples, levemente colada ao corpo, deixava adivinhar o contorno firme dos seios — não grandes, mas perfeitamente proporcionais ao seu porte atlético. Os cabelos ruivos desleixados, alguns fios soltos caindo na lateral do rosto, davam um ar de naturalidade sensual que poucas mulheres conseguiam carregar. A pele alva, como sempre, parecia pedir por mãos ousadas. Havia algo na Natália que misturava inocência e perigo — exatamente o tipo de mulher que me divertia.

Aproximei-me, como quem não quer nada.

— Boa tarde, Natália. Deixa eu te ajudar com isso — ofereci, com meu sorriso mais simpático.

Ela sorriu de volta. Educada, como sempre.

— Ah, obrigada, Jonas. Mas não precisa, eu consigo levar.

— Faço questão — insisti, já pegando uma das sacolas antes que ela pudesse recusar de novo.

Ela cedeu com um riso leve.

Começamos a caminhar em direção ao elevador. Cada passo atrás dela me dava uma visão privilegiada de seu quadril balançando suavemente sob o jeans. O diabo mora nesses detalhes.

“Essa aqui não será difícil de comer. Só precisa de paciência. E estratégia.”

— Sempre admirei sua dedicação. Poucos jovens professores têm seu comprometimento — elogiei, jogando um pouco de charme.

Ela riu.

— Jovem? Nem tanto assim.

— Jovem e experiente. Uma combinação rara — acrescentei, deixando minha voz levemente mais baixa.

Ela não respondeu de imediato, mas o sorriso permaneceu no rosto. Bom sinal.

O elevador chegou. Entramos. Só nós dois. Oportunidade.

Apertei o botão do seu andar e, enquanto o elevador subia, mantive o olhar sobre ela de soslaio. A Natália ajeitou o cabelo, expondo mais o pescoço longo e alvo. "O tipo de pescoço que implora por mordidas", pensei.

— E as pesquisas? Está conseguindo tocar o projeto que você tinha me contado mês passado? — continuei.

— Sim, estou, aos poucos. Acho que vou conseguir publicar algo até o final do ano.

— Publicar cedo é essencial. Abre portas... e dá visibilidade. Muita gente não entende o quanto isso é... vantajoso — disse, deixando a palavra no ar com um duplo sentido sutil.

Ela olhou de lado, como tentando decifrar se havia algo mais na minha fala. Havia, claro, mas ela ainda não sabia como interpretar.

O elevador parou. Saímos e seguimos pelo corredor.

— Ah, lembrei de uma coisa — disse Natália, subitamente. — Você conhece algum Érico? Acho que tem um cara neste prédio com este nome.

Mantive o sorriso, mas me perguntei o que ela queria saber sobre aquele bocó magricela. Érico, marido de uma peituda chamada Sarah. Ele era tão certinho e ingênuo quanto o Rogério. Devia ser corno e não sabia.

— Érico? — fiz uma expressão de dúvida convincente. — Não me lembro agora, não.

— Entendo. — Ela parece decepcionada.

Curioso. O que ela teria a ver com o Érico. Será que em vez de otário, ele era um comedor? Não. Não tinha nem de longe as atitudes necessárias. O certo era continuar conduzindo a Natália a evitar conhecer o Enéias ou Pedro.

Chegamos à porta do apartamento dela. Entreguei a sacola.

— Muito obrigada pela ajuda, Jonas. Foi bem gentil da sua parte.

— Sempre à disposição, Natália. Quando precisar, é só chamar. Não hesite.

“Vai ser um jogo longo... mas esses são os melhores.”

Falando em jogos longos, aquela noite me preparou uma surpresa engraçada.

Madrugada, quase uma da manhã. Acordei com a bexiga gritando e uma vontade desgraçada de urinar. Levantei do meu quarto, fui até o corredor e notei um brilho azul vindo da sala. A luz da televisão acesa, de novo. Parecia que a Rebecca e o velho Raimundo nunca dormiam.

Aproximei-me pé ante pé. Uma mulher arrependida e um velho viúvo soavam como dois espectros prestes a se devorarem ou a se dissolverem em lágrimas. Encostei-me à parede, rente à quina da porta, onde dava para escutar sem ser notado. O sofá estava posicionado de lado; o velho na ponta, com aquele ar de quem estava sempre prestes a dizer algo profundo.

A Rebecca usava um short de moletom cinza-claro e uma regata branca fina, daquelas que grudam no corpo quando a mulher sua de leve. Sem sutiã. Os peitos — pequenos, firmes — marcavam sob a luz azulada da TV. O cabelo solto, levemente embaraçado. Um ar vulnerável, trêmulo. O seu Raimundo usava calção de flanela e uma camiseta daquelas de campanha política de 2012, toda esgarçada. O velho tinha mesmo se aposentado de tudo, até do bom gosto.

— ... E essa é toda a história, seu Raimundo... — a voz dela veio baixa, cortada. — Eu traí o Maurício. Eu fiz sexo com outro homem.

Quase soltei uma risada alta. Aquilo era ouro. Então a santinha e puritana da Rebecca tinha escorregado a calcinha pra algum sortudo. E o velho Raimundo... coitado, passou semanas fazendo campanha, jogando charme geriátrico, falando de Deus e da Bíblia e da beleza da juventude dela. Veio algum mané aleatório, e pá. Comeu. A expressão “quem planta colhe” devia ser atualizada pra: “quem enrola perde pra quem chega com fome”.

— E agora eu tô aqui... me odiando — disse ela, os olhos cheios d’água, abraçando uma almofada como se fosse um colete salva-vidas.

Seu Raimundo não se moveu. Ficou olhando pra frente, como um profeta em silêncio. O velho adorava um suspense.

— Sabe, Rebecca... — começou, voz firme, sem pressa — Eu traí minha esposa também. Muitas vezes. Mais do que posso contar. Mulher nenhuma me resistia. Era um tempo diferente, tudo era mais escondido. Eu achava que era invencível.

Ele revelar seu passado pecaminoso era algo que não esperava. A Rebecca ficou em silêncio. E eu também, porque agora queria ver onde essa palhaçada ia dar.

— Mas um dia, Rebecca... um dia as coisas deram errado. Muito errado. — Ele fez uma pausa dramática. — Pegaram a gente no flagra. Uma mulher casada. O marido dela era um sujeito ruim. Violento. Eu achei que ia perder tudo.

A Rebecca fungou. Eu revirei os olhos. Cena de novela das seis.

— Fui perseguido. Na igreja, eu ajoelhei. Ajoelhei de verdade. Fiz uma promessa a Deus e a ela. Nunca mais. Enquanto ela estivesse viva, nunca mais tocaria outra mulher, nunca mais mentiria, nunca mais buscaria o que não era meu. E, Rebecca, eu cumpri. Até o dia em que ela morreu, eu cumpri. Nunca mais encostei em ninguém.

— E depois? — perguntou Rebecca.

— Depois que ela morreu, eu tive um ou dois casos de uma vez só. — Ele respirou fundo. — O que eu quero dizer é: ninguém é perfeito. Todo mundo erra alguma vez. O que importa mesmo é saber o que fazer depois disso.

Nesse ponto, se a Rebecca tivesse se derretido em cima do velho, não teria me surpreendido. Esperei o velho terminar a ladainha antes de me esgueirar de volta. Mas aí, ele recomeçou. O sermão 2.0 estava no ar.

— Rebecca, você ainda é jovem. Tem o direito de errar. Não é o erro que define a gente, é o que a gente faz com ele.

Ah, claro. Filosofia de almanaque.

— Você tem que se perdoar, minha querida. Deus já perdoou. Ele vê o coração. E seu coração é bom.

Mentira. O coração dela tava era desesperado por pinto e atenção. Não que eu a culpe. O Maurício deve ser uma negação na cama. Bíblia na mão, libido no porão.

— Talvez... — Rebecca limpou os olhos — talvez eu só queira alguém que olhe pra mim como se eu fosse desejável... como se eu fosse viva.

— E você é. Você é uma mulher maravilhosa. Linda, inteligente, cheia de luz. Não deixe que um tropeço apague tudo isso.

Puta que pariu, agora virou sessão de coaching. Faltou um power point e uma xícara de chá.

A Rebecca suspirou fundo. Como se tivesse tirado um peso de cima dos ombros. Depois se aproximou do velho e o abraçou. Um abraço apertado, demorado. Tipo os de filme de superação. A cabeça dela no ombro dele. Os olhos fechados.

E eu, de canto, pensando: “Essa crente gostosa vai acabar dormindo com esse velho broxa em nome da redenção espiritual.”

Quando ela se afastou do abraço, parecia mais leve. Um brilho diferente no olhar. O tipo de brilho que vem depois de um bom consolo — ou de uma boa trepada. Mas o seu Raimundo era só consolo. A trepada quem comeu foi algum outro sortudo aqui do prédio.

Voltei pro meu quarto com um meio sorriso. E a mente fervilhando com uma pergunta deliciosa:

“Quem será que comeu a Rebecca, hein?”

Prometi que iria descobrir.

A noite virou dia e já era quarta de tarde. Na sala de reuniões do departamento de engenharia elétrica, nós tínhamos mais uma reunião inútil do colegiado. Era sempre o mesmo teatro: mesa comprida, café morno, papelada empilhada e o ar-condicionado no talo. E todo mundo escolhendo suas disciplinas favoritas para o próximo semestre letivo e tratando as piores como batatas quentes.

Estava recostado na cadeira, pernas cruzadas, ao lado do Carlos. O velho lobo de guerra. Cabelos curtos, grisalhos nas laterais, camisa social azul clara com as mangas dobradas até o cotovelo, e aquele olhar de quem já participou de mais reuniões assim do que o saudável. Tranquilo. Sempre foi. Carlos era daqueles que já sabia o fim da novela antes do primeiro capítulo. E, claro, tinha certeza de que ele também queria comer a Natália. Ele só fazia isso com mais sutileza.

Do outro lado, Natália. Uma joia bruta. E que corpo. Vestia uma camisa branca de botão, certinha, de algodão engomado, os seios dela forçando o tecido com aquela ousadia silenciosa. A calça era preta, justa, de tecido grosso, mas nem isso escondia o volume absurdo da sua bunda. A novata era nervosinha, mas não era burra.

O notebook do Carlos estava aberto, e ele digitava algo enquanto Natália, do lado dele, olhava a pauta como se fosse um enigma. Ele sorriu e falou baixo:

— Quer apostar que o Everaldo vai pedir para trocar Eletrônica III com Álgebra Computacional? Ele odeia aula prática na sexta.

— Jura? — respondeu Natália, rindo meio sem graça.

— E a Camila vai reclamar da carga horária de Sistemas de Controle II. Pode marcar aí — disse ele, e apontou com a caneta como se fosse bingo.

Eu tive que segurar o riso. Carlos era bom. Velho, mas bom. E Natália... tadinha. Tão insegura ainda. Eu podia ver na maneira como ela ficava arrumando a gola da blusa ou como franzia o cenho lendo a distribuição de disciplinas. Dava vontade de jogar nela as quatro eletivas mais pedregosas e ver o que acontecia. Só de sacanagem. Mas Carlos, sempre o cavalheiro (ou melhor, o comedor paciente) trocou com ela duas iniciais. Tirou "Circuitos I" e "Fundamentos de Eletromagnetismo" do próprio colo e entregou a ela.

— Se quiser, eu fico com Sinais e Sistemas. Você deve preferir começar com os calouros, né? — ofereceu.

— Ah, nossa, Carlos, muito obrigada. Isso me ajuda demais. Eu estava meio nervosa com Sinais... — disse Natália, com aquele sorriso de quem quer se provar sem parecer ansiosa.

— A gente aprende apanhando mesmo — respondeu Carlos, tomando um gole do café.

Claro. Só faltava ele oferecer uma cama num motel e uma meditação guiada. Tudo parte do plano. Eu via com clareza.

Eu? Eu não troco nada com ninguém. Não por generosidade. Eu distribuo as matérias pensando em quanto tempo livre vou ter e quem vou torturar com TCC. Esse semestre, peguei Máquinas Elétricas, Eletrônica de Potência, e Projeto Integrador. Tudo no esquema.

A voz do Maurício surgiu na tela. Participava por videochamada. A câmera dele tremia e a conexão estava horrível.

— Gente... boa tarde... desculpa a conexão... está um pouco instável aqui. É... enfim... eu tive um pequeno contratempo com... com os trâmites da bolsa, e... vou precisar ficar mais uma semana em Roma. Estou tentando resolver com a coordenação daqui... — disse ele, olhando pros lados como se estivesse com medo de ser pego fazendo coisa errada.

— Que sorte a sua, hein? Mais uma semana de carbonara — murmurei, com o volume certo pra Natália ouvir. Ela riu de canto de boca. Carlos fingiu que não escutou.

Eu não acreditava em uma palavra do Maurício. Aquele contratempo aí era nome-código pra “turistar mais um pouco antes de voltar pra vida cinza de edital e aula às sete da manhã”.

— Vai poder assumir Sistemas Embarcados mesmo assim? — perguntou Camila, a coordenadora.

— Sim, sim... — respondeu Maurício, tentando parecer proativo, mas parecia mais um mochileiro culpado.

A reunião seguiu com os mesmos de sempre falando demais. O Everaldo realmente pediu para trocar Eletrônica III. A Camila reclamou da carga de Sistemas de Controle II. Carlos sorriu pra Natália quando acertou as previsões.

A Natália fazia pequenas anotações e cruzava as pernas de tempos em tempos. Ela era tão polida que me dava ainda mais vontade de arrancar aquela pose com umas três sessões de “orientação intensiva” no meu apartamento. Seria uma questão de tempo. Já estava ficando confortável entre nós. Já não pulava quando eu elogiava o cabelo. Já me mandava e-mail com emojis. É o começo. Sempre é assim.

Quando terminou a discussão sobre a grade, restavam os estágios supervisionados e os TCCs. Carlos sugeriu que a Natália pegasse os alunos que ela já conhecia de disciplinas anteriores.

— Assim, você tem mais tempo de preparar as aulas iniciais sem pressão — falei. — E se precisar, a gente marca uns cafés pedagógicos.

Ela corou um pouco. Olhou os papéis. Agradeceu.

A reunião estava quase acabando. O Carlos falou mais uma ou duas previsões certeiras, a Natália agradeceu pela milésima vez, a Camila quis rever a distribuição dos horários de laboratório (como sempre), e o Maurício travou no meio de uma frase sobre supervisão de estágio e voltou mais depois de dez minutos.

Na saída, Carlos e Natália foram juntos até o corredor. Eu fiquei pra trás, observando.

A Natália só precisa de um empurrãozinho. E eu vou comê-la cedo ou tarde. Não tem como não acontecer. Aquela pose séria, aquele jeito... tudo grita por alguém que saiba conduzir. E eu sei. Eu sou exatamente o tipo de homem que ela vai fingir resistir antes de se entregar inteira. E quando acontecer, vai ser inesquecível. Pra ela, principalmente.

Cheguei quase 19h em casa naquela noite. A Rebecca tinha acabado de jantar, e eu a observava, da poltrona da sala. Devia estar a dois goles de reclamar do calor, e, como se fosse script, ela o fez:

— Ai, gente... que calor insuportável.

O seu Raimundo, que estava sentado ao lado, nem deu tempo para o lamento se esvair no ar.

— Por que você não vai dar um mergulho na piscina, Rebecca? Refresca e dá uma nova vida.

Ela riu com uma pontinha de vergonha.

— À noite, seu Raimundo? Nem é fim de semana. E eu tô cansada, acabei de comer.

— A melhor hora é essa, minha querida. A água morna, sem gente gritando, sem sol pra te assar. E cansaço sai na primeira braçada.

— Ai, mas eu morro de vergonha…

— Vergonha de quê? Ah, me respeite! É só você, eu e a água.

Seu Raimundo tinha a habilidade de desfazer desculpas com o talento de um vendedor de enciclopédia. E a Rebecca, como sempre, caía nessa ladainha como um cordeirinho surdo.

— Você vai, Jonas? — ela me perguntou, talvez na esperança de um aliado para recusar.

— Claro que vou. Adoro ver gente se debatendo dentro d'água.

Rebecca revirou os olhos, mas já tinha aceitado. Fomos todos nos trocar. Eu, naturalmente, vesti minha bermuda e uma regata, peguei uma cerveja e fui me sentar à beira da piscina, onde podia observar o circo.

A Rebecca saiu primeiro. Usava seu próprio maiô, um modelo azul-marinho, de corte clássico e recatado. Nada de decotes profundos, nada de fendas ousadas. Era um maiô de mulher evangélica, daqueles que parecem feitos pra cobrir mais do que mostrar. Mas no corpo da Rebecca, qualquer tecido virava provocação involuntária. O tecido se moldava aos contornos dela como se tivesse sido desenhado por um escultor tarado: os seios ficavam perfeitamente arredondados, bem definidos, e a cintura estreita contrastava com os quadris largos, como se o maiô quisesse contar um segredo. A parte de baixo, embora discreta no corte, revelava coxas fortes e macias demais pra passar despercebidas.

Ela ainda tentou disfarçar com uma risada constrangida:

— Esse maiô aqui já tá velhinho, mas quebra o galho...

— Velhinho? Que nada. Ele quebrou foi minha concentração — comentei, tomando mais um gole da cerveja. Ela fingiu que não ouviu, mas se ajeitou desconfortável.

O seu Raimundo, quando a viu, sorriu como se tivesse ganhado na loteria. Pulou na água antes dela, como um golfinho velho empolgado. A Rebecca entrou com delicadeza, tentando esconder o corpo sob a superfície.

— Ai, que delícia... — ela disse, sorrindo.

— Eu falei! Agora me diz se eu tô errado. — Raimundo nadava com energia suspeita para os seus 73 anos. — Você tem que aprender a se soltar, aproveitar mais a vida.

— Eu tô tentando, seu Raimundo. Às vezes é difícil, sabe?

— O corpo é um templo, sim. Mas até templo precisa de festa. Água benta e batucada.

Ela riu. Eu quis vomitar.

— Não sei como você consegue ser tão leve.

— A vida me bateu tanto que ou eu virava pedra ou virava vento. Escolhi ser vento. — ele respondeu, fazendo uma onda na água com o braço. Poético, cafona e estrategicamente manipulador.

Enquanto eles brincavam na piscina, Rebecca parecia leve, feliz. Como se o Raimundo tivesse mesmo lhe tirado um peso.

A Cinthia apareceu, sentou ao meu lado, me deu um tapa leve na perna e sentou ao meu lado.

Por um momento, pensei que eu estivesse testemunhando um capítulo ao vivo de uma novela bíblica reescrita por um roteirista pornô. O seu Raimundo e a Rebecca nadavam perto um do outro, entre risadinhas e salpicos, quando pararam. Os dois estavam cara a cara. Literalmente. A água escorria do rosto dela como em comercial de xampu, e o velho safado a fitava com aqueles olhos de gato faminto. O nariz dele a poucos centímetros do dela. Um segundo a mais e eu juraria que ia sair beijo. Daqueles lentos, molhados, cheios de culpa e cloro.

Mas a salvação divina veio em forma de alvoroço e perfume forte:

— Posso participar também? — disse Andréia, aparecendo súbita.

Ela caminhou até a borda da piscina como quem desfila. O roupão escorregou dos ombros e revelou um biquíni vermelho minúsculo que parecia mais decorativo que funcional. Os seios, empinados e médios, ocupavam cada centímetro da parte de cima como se desafiassem a gravidade e a decência. A parte de baixo, bem... Aquilo não cobria, sugeria. O quadril largo, a bunda capaz de competir com a Paolla Oliveira, o bronzeado sem marcas e o andar seguro. Andréia sabia que era o tipo de mulher que não entra num ambiente. Ela ocupa.

O seu Raimundo soltou um assobio baixinho. Rebecca, vermelha de vergonha, recuou um pouco na água.

— Boa noite, meus queridos. Rebecca, você está uma gracinha nesse maiô. Parece uma professora de nado sincronizado dos anos 60 — disse Andréia, entrando na piscina com um mergulho suave que fez mais ondas do que um tsunami.

— Andréia... — Rebecca sorriu, mas com ar contido.

— Você que devia vir mais, Rebecca. Tá se soltando, hein? — Andréia deu uma olhada maliciosa pro velho Raimundo.

— Ela tá se superando, minha querida — disse Raimundo, rindo.

— E você, Jonas? Vai ficar aí parado feito salva-vidas de churrasco? — ela gritou pra mim.

— Não tenho roupa de banho — respondi, sem tirar os olhos da cena.

Nesse momento, a Cinthia tirou o roupão, revelando seu maiô preto, decote discreto, mas a elegância de quem sabe exatamente onde está se metendo. Mergulhou sem alarde e se juntou aos três.

Agora, a santinha do pau oco estava trocando risadinhas com a notória adúltera Andréia e minha esposa conivente.

— Eu não via você sorrindo assim há muito tempo, Rebecca. — disse Cinthia, sincera.

— Eu tava precisando disso...

— Diversão faz bem pro corpo e melhor ainda pra alma — disse Andréia, encostando a cabeça no ombro da Rebecca, como se fossem irmãs de convento libertino.

O seu Raimundo continuava perto, sorrindo com a tranquilidade de quem tinha acabado de plantar uma semente no solo fértil da dúvida moral.

E lá estavam eles, nadando, rindo, conversando. Rebecca, cada vez menos constrangida. Seu Raimundo, cada vez mais no controle. Andréia, à vontade como se a piscina fosse dela. E a Cinthia na dela, sem saber do plano oculto do pai.

Na noite seguinte, quinta-feira, tudo estava conforme o roteiro já manjado que vinha se repetindo nos últimos dias. Eu estava no sofá da sala assistindo televisão. Mas meu verdadeiro passatempo era assistir ao espetáculo doméstico mais bizarro — e deliciosamente constrangedor — que se apresentava na minha sala de jantar: a Rebecca sendo massageada pelo meu sogro.

Ela tinha voltado do escritório fazia pouco tempo. Jantara conosco, se trocara, e agora estava ali, à mesa, como sempre: concentradíssima em planilhas, documentos e alguma reunião marcada para o dia seguinte. A Rebecca, como boa evangélica de aparência ilibada, vestia-se com o que ela provavelmente achava que era o ápice da modéstia doméstica: uma camiseta de algodão que colava nos seios pequenos, mas firmes, deixando os mamilos discretamente desenhados sob o tecido fino, e um short curto de malha que mais parecia uma calcinha glorificada. Azul claro. Um mimo. As coxas à mostra, torneadas pela academia e pela graça divina.

Então, como todas as noites, vinha ele. O velho Raimundo, setentão, calvo, de pijama listrado e chinelo de couro, caminhando lentamente até ela.

— Rebecca, tá tensa de novo, minha querida? — disse ele, já posicionando as mãos nodosas sobre os ombros da crentelha.

— Ai, tô mesmo, seu Raimundo. Hoje foi puxado — respondeu ela, com uma voz doce e distraída, sem nem tirar os olhos da tela do notebook.

Eu quase gargalhei. Era o mesmo teatrinho de sempre. O velho metia essa desculpa de massagem todo santo dia, e ela aceitava toda vez. E o mais doido? Parecia gostar. Eu via no rosto dela aquela expressão difusa, ambígua, como quem não sabe se suspira ou geme. Às vezes, ela até fechava os olhos, mordia o lábio inferior e inclinava o pescoço para o lado, como uma cadelinha pedindo mais.

Fiquei observando em silêncio, fingindo que me interessava pela série passando na televisão. Mas, por dentro, minha mente estava longe dali. Me perguntava se a Rebecca e o Maurício ainda transavam. Não me parecia. Ele tinha cara de quem reza antes de tirar a cueca. E ela estava ali se derretendo sob os dedos de um velho de 73 anos. Sabe-se lá quando foi a última vez que levou uma surra de pica de verdade, antes dada pelo nosso vizinho sortudo.

Mas qual vizinho? Não era difícil adivinhar. Provavelmente o Enéias. Bonitão, médico, todo sarado, sorriso branco e aquele jeitinho canalha disfarçado de charme. Eu já tinha visto ele e Rebecca voltando da academia suados, rindo de alguma piada idiota. E não era difícil imaginar o que mais tinham feito juntos, suando.

“Deve ter dado gostoso pra ele”, pensei, balançando a cabeça com um meio sorriso. “Talvez seja por isso que anda até mais calminha. Um bom enrabamento faz milagres.”

E o velho Raimundo ali, se achando. Os dedos deslizavam pelo trapézio da moça como quem lida com porcelana. Ela deixou escapar um gemidinho fraco.

— Hmmm… aí, seu Raimundo… mais um pouquinho pra esquerda…

— Aqui? — disse ele, aproximando-se tanto que quase roçava o peito enrugado nas costas dela.

— Aí mesmo… Ai, isso…

Olhei aquilo e só pensei: “Patético. Se ela tiver meia dúzia de neurônios funcionando, sabe muito bem o que ele quer dela.” Mas Rebecca não recuava. Pelo contrário. Relaxava cada vez mais, os olhos quase fechados.

O seu Raimundo, na maior cara de pau, continuava ali, firme, os dedos agora escorregando perigosamente para a borda do sutiã sob a camiseta dela.

Eu me recostei no sofá e apenas assisti. Não era meu papel interromper aquela novela. Ela não era tão crente assim. Ele não era tão fraco assim.

Até o Maurício voltar para casa, ela teria um orgasmo só com essas massagens.

Mais um dia passou e era o fim de tarde da sexta. Estava voltando de mais um dia de reuniões na universidade. O elevador parou no estacionamento, e quando a porta se abriu, me vi diante de uma cena deliciosa. Letícia e Antônio. Aqueles dois. Meus alunos. Por um breve segundo, nenhum de nós disse nada. Apenas trocamos olhares. E eu me deliciei.

A Letícia estava ainda mais provocante do que na noite no motel. Shortinho jeans colado. A blusinha era um cropped branco, justo, com os seios jovens e firmes empinando sob o tecido fino. O cabelo castanho, liso, descia pelos ombros com um certo desleixo calculado. Um batom claro, mas os olhos entregavam algo mais: uma mistura de vergonha e excitação.

O Antônio, por sua vez, parecia ter saído de um ensaio de modelo universitário. Regata preta, deixando os braços malhados à mostra, bermuda de tactel e chinelo. O volume no meio das pernas denunciava o tamanho do cacete. Ele evitava meu olhar, mas vi o arrepio subir no pescoço dele quando nossos olhos se cruzaram.

Entrei no elevador. A porta se fechou. E o ar ficou mais denso.

— Quanto tempo, hein?

A Letícia sorriu, sem mostrar os dentes. Sem jeito, mas não arrependida.

— A gente voltou quarta de uma viagem.

Antônio pigarreou.

— Passamos uns dias na praia. Bem tranquilo.

— Deu para curtir? — perguntei, fingindo leveza.

— Mais ou menos — respondeu Letícia. — Curtimos, mas era pouco tempo. Três semanas de férias é muito pouco tempo.

Ela ergueu os olhos pra mim com o mesmo olhar da primeira vez que ela abriu as pernas no motel, enquanto o namorado assistia.

— Imagine para gente que mal acabou o semestre e já está discutindo as disciplinas do próximo semestre.

Antônio tentou soar casual:

— Vai dar alguma disciplina do nono período?

Assenti.

— Mas não se preocupem. Vocês já estão passados. Os dois têm crédito comigo... bastante crédito.

Os dois soltaram uma leve risadinha.

— Não pense que esquecemos daquela nossa conversa sobre algo a quatro. — Letícia passou a mão pelo cabelo, ajeitando uma mecha que não precisava ser ajeitada. Um gesto sensual involuntário. Ou não tão involuntário assim. — Mas você precisa resolver com a sua esposa primeiro.

O Antônio olhou para o lado naquela hora. Provavelmente, tinha recebido muitas gozações da Letícia, talvez até de si mesmo, por ter passado tantos anos pagando de machão comedor para, no final, ter dado o cu para mim. Mas não queria parecer fraco na frente da Letícia.

Observando a troca de olhares entre os dois, sorri internamente. Passei as mãos pelos cabelos da Letícia e da Antônio, como se estivesse acariciando um bem precioso.

— Vou falar com ela e mando uma mensagem para vocês — disse, olhos fixados nos de ambos.

— Sim — respondeu Letícia. — Quanto antes conseguirmos coincidir os horários ainda dentro das férias, melhor para todo mundo.

Chegamos no anda deles. Quando a porta se abriu, a Letícia saiu primeiro, e por um breve instante ela olhou por cima do ombro, como se esperasse algo mais. O Antônio a seguiu, mas não sem antes me lançar um último olhar rápido, misto de receio e desejo.

A porta se fechou. Eu fiquei ali, saboreando. Aqueles dois ainda estavam no meu bolso.

Pouco depois, entrei em silêncio no meu apartamento. A casa estava quieta. Dei dois passos e ouvi o rangido leve da porta do banheiro se fechando. Um vulto atravessou o corredor.

Ah... Rebecca. Enrolada apenas numa toalha branca, que ela mal se deu ao trabalho de prender direito. Estava ainda úmida, e a toalha deixava umedecer a pele dos ombros e da coxa. O cabelo, molhado, escorria pelas costas até o limite do tecido, que tremia a cada passo. Seios médios, firmes, um deles ameaçando escapar a cada movimento brusco. A curva da bunda perfeitamente moldada por baixo do tecido úmido, como se a toalha tivesse sido projetada para provocar.

Ela seguiu até a cozinha, distraída, nem me viu parado ali. E foi quando, vindo do quarto apareceu o seu Raimundo. Ainda com o cabelo espetado de quem dormiu até agora, olhos semicerrados, cueca samba-canção e camisa aberta.

Fiquei parado, só observando.

— Cheguei mais cedo hoje — disse Rebecca, sorrindo enquanto pegava uma banana da fruteira.

— Deu tempo até pra tomar banho antes de me acordar. Você é silenciosa mesmo — respondeu seu Raimundo.

Ela riu. Aquela risadinha dela, tão educada que parecia disfarçar tudo.

E então, sem nenhum aviso, seu Raimundo se aproximou. Com aquele andar mole e vagaroso, como quem vai pegar um copo d’água ou cometer um crime leve. Esticou a mão, levantou a toalha dela e ficou olhando a buceta dela.

— Nossa. É mais peludinha do que pensava.

Ela se virou bruscamente, os olhos arregalados por um instante. Mas, surpreendentemente, não gritou, não deu um tapa, não saiu correndo como uma boa esposa batista escandalizada faria.

A Rebecca apenas riu, abaixou a barra da toalha de volta no lugar e disse:

— Seu danado...

Ah, claro. “Seu danado.” A mulher quase nua, o velho safado levantando a toalha para ver sua buceta no meio da casa e a palavra que ela encontra pra isso é “danado”. Aquilo me fez rir por dentro. Porque a Rebecca, minha querida hóspede temporária, tinha esse dom: o de colocar moral em potes de vidro, rotular como “doce de abacaxi” e fingir que ninguém ia abrir.

Seu Raimundo sorriu, impune, como sempre. Eu me encostei mais à parede, cruzando os braços. Agora queria ver até onde ia o teatro.

— Você pensou no que te falei? — perguntou, tocando em algum assunto que ela parecia tratar como importante.

— Pensei, sim. Muito. Amanhã... Amanhã, eu vou conversar com ele. Por tudo em panos limpos. — Ela disse isso olhando pro chão, ainda com a banana na mão, sem morder.

“Ele”. Maravilha. Quem seria? Maurício? Eu? Enéias? Tanto faz. Mas eu queria saber.

— Faz bem, minha querida. Faz bem. Melhor tirar as sombras do caminho. Você tem um brilho que não devia ser ofuscado por dúvidas.

Poético, o velho. Se o diabo tivesse um coach pessoal, seria seu Raimundo. E a Rebecca? Ela acreditava. Acreditava mesmo. O olhar dela suavizou, como se estivesse ouvindo um conselho de mãe. De avó. E não de um velho safado que tinha acabado de levantar sua toalha e fazer comentários sobre seus pelos pubianos.

Os dois ficaram ali mais alguns minutos trocando ideias sobre nada e coisa alguma. Eu já nem prestava tanta atenção nas palavras, mas nos tons, nos olhares, nos espaços entre as frases. Tudo muito íntimo, muito confortável. Muito errado.

Quando ela finalmente se virou para sair da cozinha, disse:

— Ah, e da próxima vez, seu danadinho, eu vou brigar contigo, viu?

Ele riu. Aquela risada de velho que ainda acha que está no controle da festa.

Eu, claro, me escafedi. Recuo estratégico até a sala. Não queria que ela me visse. E enquanto me afastava, conjecturei sobre quem era esse “ele” com quem a Rebecca vai conversar amanhã? Será o marido? O amante?

Eu precisava descobrir.

Pois bem, leitor. No próximo capítulo, as coisas vão se complicar para o seu Raimundo com a volta do Maurício e, antes de comer novamente a Letícia e Antônio, vou me dar bem com colegas professores da universidade. O que o futuro nos aguarda?

Coloquem nos comentários o que vocês torcem que aconteça:

1) Vocês torcem que o seu Raimundo consiga comer a Rebecca ou que ele se dê mal?

2) Vocês torcem que eu consiga a Natália ou que eu me dê mal?

Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Em breve, vamos ter a continuação.

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Comentários

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Desconfio que o Maurício esteja dando um ripa na chulipa em Roma.

Gostaria que rolasse algo mais quente entre os dois.

Jonas espero que se foda kkkkkk

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A Rebeca é safadinha,seria interessante o Raimundo pegando ela

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Tomara que seu Raimundo se de mal e que ela conte ao esposo e se acerte ou termine e va seguir a vida dele e horrível quem.nao respeita um casamento

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