**Capítulo** 11 – Degustação
O restaurante escolhido ficava em uma cobertura discreta no alto de um hotel boutique. Fachada de vidro, iluminação baixa e garçons treinados para não fazer perguntas. Era o tipo de lugar onde tudo podia acontecer — desde que acontecesse em silêncio e com elegância.
Henrique desceu do carro entre Laura e Vanessa. Bianca viera em um automóvel separado, como se representasse uma entidade distinta, uma força autônoma da qual ninguém escapava. Usava um vestido preto justo, saltos altíssimos e um sorriso enigmático que se completava com os olhos de aço.
Henrique usava o vestido rosa, as luvas e a coleira. Um sobretudo preto, fechado até o pescoço, escondia sua figura do mundo exterior. Mas por dentro, cada centímetro de sua pele queimava.
A mesa estava reservada no salão privado, com cortinas pesadas e trilha sonora clássica ao fundo. O garçom os conduziu sem comentários, apenas com um leve erguer de sobrancelhas ao ver o “convidado especial”. Henrique andava com passos pequenos, o som dos saltos abafado pelo tapete espesso.
Quando se sentaram, Laura retirou o casaco dele como quem desembrulha um presente. O vestido rosa surgiu sob a luz amarelada do lustre. Henrique sentou-se entre elas, com as pernas juntas e o olhar baixo. A coleira reluzia com a luz.
Bianca serviu o vinho.
— Hoje, vamos brindar à transformação — disse ela. — Porque há prazer na vergonha, e há poder na entrega. Henrique... olhe para nós.
Ele obedeceu. As três o encaravam com uma mistura de orgulho e desejo de controle.
— Aja normalmente — sussurrou Vanessa, passando a mão sobre a coxa dele por baixo da mesa. — Mas mantenha as pernas bem fechadas. Se abrir, todos saberão quem você é.
Henrique suava. O garçom se aproximou. Anotou os pedidos. Serviu as entradas. Ninguém comentava o traje dele. Mas os olhares eram inevitáveis. A tensão flutuava no ar como perfume.
Laura, então, retirou discretamente o controle do vibrador da bolsa. Apertou o botão de leve. Henrique tremeu. Bianca tomou um gole de vinho e, sem tirar os olhos dele, comentou:
— Há dois tipos de silêncio. O que sufoca... e o que revela. Você está começando a entender qual é qual, bonequinha?
Henrique assentiu, lutando contra os impulsos do corpo. As três sorriram.
A sobremesa chegou. Um petit gâteau, uma bola de sorvete sobre um pedaço quente de chocolate que derretia lentamente. Vanessa pegou a colher, mergulhou na calda e aproximou-se da boca dele.
— Abra. Sem morder. Apenas prove. E agradeça — disse ela, empurrando a colher entre os lábios dele.
Henrique obedeceu. A colher sumiu em sua boca. O calor, o gosto doce, o olhar das três. Ele murmurou:
— Obrigado, senhora.
Bianca tocou o botão novamente. O tremor foi visível. Mas ninguém disse uma palavra.
O garçom apareceu mais uma vez para recolher os pratos.
Laura ergueu sua taça.
— À nova forma de amor. A que exige mais que flores. Que pede coragem.
As taças se tocaram. Henrique permaneceu imóvel, ainda saboreando o chocolate, o medo, e a entrega.
Quando saíram, o sobretudo voltou a cobrir-lhe o corpo. Mas as três sabiam — e ele também — que o que fora revelado ali não se apagaria com tecido algum.
O mundo lá fora não mudou. Mas dentro dele, sim.
\[Continua no Capítulo 12...]