Capítulo 10 – Três Vozes, Um Coração
Henrique acordou com o toque de um salto fino no chão de mármore. Bianca já estava de pé, cabelos presos num coque milimetricamente construído, vestindo um conjunto de alfaiataria branca e óculos de armação dourada. A luz da manhã invadia a janela como uma sentença.
— Levante-se. Você tem visita. — disse ela, seca, enquanto colocava café em uma xícara de porcelana.
Henrique obedeceu com o corpo ainda dolorido da noite anterior. Estava de calcinha e camiseta fina, a jaula apertada marcando o tecido. Ao se erguer, viu Laura entrando na sala.
Laura vestia um vestido verde-escuro, decotado e elegante, e sorria como quem sabia de todos os segredos. Vanessa vinha logo atrás, com uma calça justa e uma blusa de couro vinho, carregando uma sacola com algo dentro.
— Bom dia, bonequinha — disse Vanessa, tirando da sacola uma caixinha preta. — Trouxemos presentes. Hoje é dia de rever o que você aprendeu.
Henrique recuou um passo, instintivamente.
— Sente-se no centro da sala. Reto. Quieto. — ordenou Laura.
Ele se posicionou, e as três se sentaram em semicírculo ao redor dele.
Bianca tirou o controle remoto da gaveta e o entregou a Laura.
— Vamos começar com um teste de foco — disse Laura. — Você ficará parado enquanto escuta o que cada uma de nós tem a dizer. Nada de se mexer. Nada de gemer. A jaula deve ficar intacta. E a mente... exposta.
Vanessa começou.
— Sabe, boneca... quando vi você de quatro pela primeira vez, me perguntei: "por que um homem aceitaria isso?". Mas agora eu entendo. Porque ninguém nunca te exigiu grandeza. E porque você só se sente inteiro quando alguém te desmonta. Me fez rir. E rir de você me fez lembrar que ainda tenho voz. Ainda tenho fúria. Ainda tenho fome.
Laura pegou a palavra.
— Eu não quero um homem que me traga flores. Quero um homem que chore por mim. Que goze pela minha ordem. Que aprenda que a vergonha é só o começo. Quando você se ajoelhou, acreditei que estava fingindo. Mas quando vi você aceitar o que vinha depois... soube que algo em você já era meu.
Bianca então se levantou. Seu tom era quase acadêmico.
— Um servo eficiente é aquele que entende o próprio lugar. Você, Henrique, entendeu isso em três estágios. Primeiro, a obediência física. Depois, a performance ridícula. Por fim, a introspecção silenciosa. Isso não é humilhação. É estrutura. É engenharia emocional. Você não é mais um homem. É uma função. Uma ferramenta. Um símbolo.
Henrique respirava com dificuldade. A jaula apertava cada vez mais.
Laura então apontou para o pequeno vibrador ainda em suas mãos.
— Abra as pernas. Agora você vai sentir. Não por prazer. Mas para aprender controle.
Henrique obedeceu. Laura inseriu o pequeno aparelho com luvas de cetim. Depois, ativou o controle.
Ele estremeceu. As três observaram.
Vanessa sorriu e cruzou as pernas.
— A cada pergunta que fizermos, você deve responder sem mudar sua respiração. Se falhar... mais um nível de intensidade.
Bianca começou:
— Como você se sentiu quando sua esposa te chamou de inútil?
—...Quebrado, senhora.
Laura:
— E quando você percebeu que preferia obedecer a tentar impressionar?
—...Aliviado, senhora.
Vanessa:
— E agora, bonequinha, sentindo esse brinquedo dentro de você, o que mais te excita: o toque... ou o fato de sermos nós que controlamos?
Henrique hesitou. As pernas tremiam. Então, com um fio de voz:
—...O controle, senhora.
Laura apertou o botão. Henrique arqueou o corpo, mas não gritou. As três aplaudiram lentamente.
— Muito bem. Agora vista isto — disse Vanessa, entregando um vestido longo, justo e inteiramente rosa com luvas combinando. — Vamos sair.
— Sair? — ele perguntou, assustado.
— Sim. Vamos a um jantar. Só nós quatro. Um restaurante discreto. Sala privada. Mas você irá assim, com salto. Com vestido. Com coleira.
Bianca completou:
— E sentará entre nós, como o mimo que compartilhamos. Um enfeite. Um lembrete de que, quando mulheres se unem, podem moldar qualquer coisa — até um marido quebrado.
Henrique sentiu o sangue sumir do rosto. Mas já não resistia. Já não lutava. Já não perguntava. Apenas vestiu-se.
Enquanto Laura ajeitava a gola e Vanessa retocava seu batom, Bianca disse:
— Hoje você não será humilhado. Será exibido.
E era verdade. Porque o que começou como castigo... agora era destino.