Capítulo 5 – Sob Meus Saltos
O dia amanheceu com cheiro de jasmim e poder. Laura havia deixado as janelas entreabertas e o lençol de cetim escorregava pelo corpo dela como uma segunda pele. Henrique, de joelhos, já estava pronto desde as seis da manhã. Vestia um avental rosa-bebê sobre uma camisola de seda branca. Os cabelos presos numa tiara perolada, os lábios tingidos de vermelho carmim. Os saltos altos, pretos e brilhantes, exigiam dele uma postura submissa a cada passo.
Ela o fez ensaiar por trinta minutos. Caminhar em linha reta, virar nos calcanhares, sentar com os joelhos juntos. Cada gesto corrigido com paciência e ironia.
— Hoje é dia de visita, boneca. Minhas amigas virão para o chá. E você vai servi-las. Com charme. Com recato. E com aquele seu sorriso idiota de quem nasceu pra me adorar.
Henrique assentiu, a voz presa na garganta. A coleira no pescoço, agora adornada com um pequeno sino.
— Elas sabem? — ele arriscou perguntar.
— Claro que sabem. Foram elas que sugeriram o avental.
Por volta das quatro da tarde, a campainha tocou. Henrique correu para a porta, sob o olhar vigilante de Laura. Abriu com um leve sorriso e um rebolado contido. Luciana entrou primeiro, usando um vestido justo, seguido de Bianca, de saia longa e blusa de renda. Ambas pararam, analisando a "anfitriã".
— Que gracinha! — exclamou Luciana. — Laura, você se superou.
— Ainda não. Espera ele trazer o chá.
Henrique serviu cada uma com delicadeza ensaiada. Curvava-se para oferecer a xícara, mantinha os olhos baixos, e agradecia com um leve meneio da cabeça cada vez que recebia um elogio.
— Dá uma voltinha, boneca — pediu Bianca.
Ele obedeceu. Os saltos batiam ritmados no piso. O sino da coleira tilintava levemente. As duas amigas aplaudiram.
Laura pegou uma pequena palmatória de couro que mantinha ao lado da poltrona.
— Agora vamos brincar um pouco. Você foi ótima boneca hoje, mas... deixou a bandeja cair mais cedo, lembra?
Henrique se ajoelhou. As amigas assistiam como se estivessem numa peça de teatro. Laura deu três tapas rápidos na parte superior da coxa dele, apenas o suficiente para deixá-la vermelha.
Bianca riu, cruzando as pernas:
— Queria fazer isso com o meu também. Mas ele acha que é o macho da casa.
Luciana:
— Não se trata de machismo. Se trata de eles aprenderem onde está o prazer real. No controle. No servir.
Henrique, corado, apenas ouvia.
Depois do chá, Laura mandou que ele limpasse tudo de joelhos. Luciana se levantou, foi até ele e disse:
— Sabe o que você é? Um espelho. Mostra pra gente o que falta nos nossos.
Ele respondeu com um sorriso sem voz.
Quando se despediram, Bianca beijou o rosto dele e disse:
— Semana que vem, quero que nos receba de batom novo. Vermelho vinho. E quero ver você dançando pra gente.
Laura completou:
— E talvez... quem sabe... te coloquemos no colo. Como a boneca que é.
Henrique fechou a porta quando elas saíram. Respirou fundo. A jaula apertava. Mas dentro dele havia uma chama.
Laura se aproximou e sussurrou:
— Amanhã você vai comigo ao clube. E vou te apresentar como minha pequena. Vai levar meu salto na bolsa. E vai andar atrás de mim. Cada passo. Cada ordem. Sob meus saltos.
Ele sorriu. Ajoelhou-se sem ser mandado.
Ela se afastou, deixando a camisola cair ao caminhar até o quarto.
— Me segue, boneca. Ainda não terminei com você hoje.
E ele foi. Com os olhos baixos. E o coração nas alturas.