Eu ainda estava ali, parada, com os olhos presos à tela do celular de Fujiwara. As imagens pareciam me consumir — foto após foto, cena após cena. Bruno deitado, com uma mulher nua ao lado. Eu não sei por que, eu sentia que já tinha visto essa mulher antes. Em outra imagem, eu pude ver o rosto dela: Era a tal modelo do primeiro dia, que eu percebi um certo nervosismo de Bruno ao reconhece-la. E ali, percebi que não era montagem.
— Mas essa mulher...
— É Miwa. — Disse Fujiwara. — É aquela modelo que te apresentei. Sim, foi com ela que ele trepou no Karaokê.
Meu estômago revirou. E minha insegurança falou mais alto. Ela era claramente mais gostosa que eu. Fujiwara se inclinava sutilmente por trás de mim, sua voz baixa e aveludada sussurrando perto do meu ouvido:
— Ele não teve sequer a hombridade de resistir… nem a decência de contar pra você depois.
Eu fechei os olhos com força, tentando não desabar. Era como se algo dentro de mim estivesse se quebrando — e eu não sabia como segurar os cacos.
— Isso não pode ser verdade — eu disse com a voz trêmula, me virando para encará-lo. — Deve ser montagem… Photoshop… qualquer coisa.
Fujiwara levou a mão ao meu rosto com gentileza, tocando minha bochecha com a ponta dos dedos. Seus olhos encontraram os meus, intensos, quase tristes.
— É real, Kaori. Essas fotos foram tiradas no dia da tal festa de karaokê. Enquanto você o esperava em casa… ele estava com outra.
Foi quando não aguentei mais. As lágrimas finalmente vieram, quentes, silenciosas, escorrendo pelo meu rosto sem que eu conseguisse contê-las.
— Por quê…? — sussurrei. — O que eu fiz de errado…? O que faltou em mim…?
Fujiwara ainda estava por trás de mim, sussurrando em meu ouvido, falando. Tentando me convencer de algo que eu estava relutando, mas dramaticamente perdendo.
— Você não tem nada de errado — ele disse, passando os dedos nos meus cabelos. — O problema não é você, nunca foi. Bruno cometeu um erro, um deslize… e está morrendo de culpa desde então.
Eu me afastei ligeiramente dele, olhando em seus olhos.
— Por que está defendendo ele? Pensei que fosse o primeiro a querer ver ele longe de mim.
Fujiwara respirou fundo.
— Não estou defendendo. Só entendo como essas coisas funcionam. Todo mundo escorrega… mas nem todo mundo tem a sorte de reparar.
Eu engoli em seco, as mãos trêmulas.
— Eu preciso tirar isso a limpo com ele. Eu vou perguntar, encarar.
— Kaori… — ele interrompeu. — Por que você deveria ser a única que foi fiel, a única que sofreu, a única que esperou deitada na cama enquanto ele estava nos braços de outra?
— Porque eu sou diferente! — rebati. — Eu não posso pagar uma traição com outra…
Ele se aproximou mais. Os olhos dele queimavam sobre os meus.
— Às vezes… a justiça precisa de equilíbrio. Você não quer apenas se vingar, Kaori. Eu vejo nos seus olhos. Você se reprime há tempo demais. Você sentiu o que sente aqui, comigo. Desde a primeira sessão. Desde o primeiro toque.
— Isso é errado… — sussurrei, mas minha voz saiu fraca.
— Mas é o que seu corpo deseja. — Ele sussurrava por trás. — Não precisa mentir pra si mesma. Não agora.
Minha respiração estava descompassada. A raiva, o desespero, o tesão reprimido. Era como se eu estivesse presa num redemoinho de emoções.
A minha visão estava turva. Na minha mente, apenas as fotos de Bruno com aquela sirigaita passavam ao meu redor. Por trás estava fujiwara, me pressionando. Me desejando.
— Vamos. Você merece muito mais do que você tem agora. Se renda a mim.
Na minha cabeça naquele momento, apenas passou as últimas palavras dele: enquanto você está preservando o seu casamento, seu marido aproveitou com outra.
E se por acaso o Bruno não me amar mais? Será que é por isso que ele brochava em todas as nossas tentativas de transar?
Foi então que chutei o balde. Avancei em Fujiwara, quis curtir o momento.
Começamos então a nos beijar. Segurei sua cintura enquanto passei a beijar, ele levou suas mãos pesadas até a minha cintura e assim começou a segurar e me puxar contra ele. Passamos então a beijar nossas bocas enquanto sinto minha bunda sendo agarrada.
As mãos dele começaram a massagear minha bunda, enquanto aproveitei para dar uma empinada. Podia sentir em minha coxa o volume do seu pau ainda na calça, não podia negar que comecei a ficar molhada.
— Que boca gostosa, senhora. Que tesão.
Ser elogiada me deixava molinha. Apaguei tudo na minha mente naquele momento. Apaguei Bruno, apaguei minha dor, apaguei aquele sentimento de traição. Eu só queria curtir, dar para o senhor Fujiwara.
Ele me virou por trás depois de me beijar, e me fez ir contra a parede. Ele levou suas mãos em minha bunda, abrindo ela. Por cima eu virei o rosto e pude ver ele se abaixar, ficando de joelhos. Aos poucos a calcinha do conjunto de lingerie começava a ser tirada, enquanto ele dizia.
— Que bucetinha cheirosa, senhora. Ela merece ser bem cuidada.
— Para. Eu fico com vergonha. Só faça isso logo...
Foi então que senti ele avançar com a língua, e começar a tocar minha xoxota. Comecei a molhar ali mesmo naquele momento estava tomada por uma luxúria que até eu mesma não sabia que tinha. Eu estava sendo chupada por outro homem, um homem que sabia muito bem o que estava fazendo.
Todas as vezes que me batia remorso por estar fazendo aquilo, todas as vezes em que eu pensava em parar, vinha em minha mente as fotos. As posições e que Bruno estava comendo aquela vagabunda.
E quando vinha esses pensamentos, mais vagabundo eu ficava também. Eu empinei a bunda enquanto estava sendo chupada, o senhor Fujiwara estava usando sua língua de cima a baixo, tomando todo o espaço da minha xoxota enquanto Eu segurava as paredes. Arranhava as paredes com as minhas unhas enquanto eu gemia de tesão.
A boca dele continuava explorando a minha bucetinha, me chupando e me deixando completamente molhada. Foi então que ele afastou seus lábios e se levantou, encostando o corpo dele no meu.
— Você é muito gostosa, senhora. Hoje você vai ser muito bem comida.
Foi então que ele começou a afrouxar o cinto. Eu aproveitei para me ajoelhar, afastando ele um pouco e assim eu mesmo comecei a tirar o cinto de sua calça. Joguei aquele cinto em qualquer canto ali do camarim, enquanto eu baixava sua calça e observava sua cueca, formando um grande volume.
Nada falava, apenas levei a minha boca até o volume daquela cueca e assim você e a ponta da minha língua para começar a passear pelo tecido daquela cueca. Lambia a pontinha do volume para em seguida baixar a cueca de vez, vendo saltar o pau dele.
Abocanhava a cabecinha e começava a sugar, ele levou as mãos em meu cabelo, pegou um maço e segurou, enquanto começou a movimentar seu quadril.
— Oh, porra...
Comecei um vai e vem, chupando aquele pau. Em vários momentos pensei em parar, mas aquele sentimento de traição, além de uma luxúria que tomava conta de mim, não me permitia deixar aquele pau.
Sugava o caralho do senhor Fujiwara, lambendo a cabecinha e envolvendo meus lábios sobre ela, começando assim a movimentar minha boca, chupando aquele homem bem gostoso.
Depois de dois minutos apenas brincando com aquele pau, ele abraçou a minha cabeça com as mãos e começou a empurrar, passando então a foder a minha boquinha. Eu arranhava as coxas dele enquanto aquele homem bombava na minha boca, fazendo aquele pau ultrapassar a minha língua, e começou a me usar como uma verdadeira puta. E de fato, naquele momento eu era mesmo.
Quando ele deixou escapar o pau na minha boca, um fio de saliva se formou entre seu caralho e meus lábios ponto final fio este que se rompeu quando me levantei, e este me conduziu enquanto retirava o resto de suas roupas.
Ele se sentava no sofá de couro enquanto me chamava com seu indicador.
— Senhora. Eu preciso te comer. Venha.
— Ok... — Eu disse.
Ele então levou as minhas mãos e minha cintura e me puxou. Eu coloquei as pernas por entre as deles e encostei minha bunda no pau daquele homem. Ele levou uma de suas mãos até aquele cacete, e começou a se esfregar em minha bucetinha.
— Fale para mim o que você quer, senhora.
— O seu pau. — Eu disse.
— Não escutei. — Ele dizia, enquanto ficava esfregando aquela cabeça inchada entre os meus lábios que já estavam todos melados, e quentes. Eu estava realmente precisando de uma pica naquele momento.
— Me fode, Fujiwara. — Eu disse. — Come a esposa do seu empregado. Eu quero aproveitar hoje igual aquele sem vergonha aproveitou no dia da sua festa.
Eu o vi sorrir, então ele baixou minha cintura de uma só vez, onde eu podia sentir seu pau entrando. Logo a minha bucetinha estava sendo violada, e assim aquele homem começou a me comer. Eu começava a pular em cima daquele pau, rebolando com a minha bunda enquanto ele levava sua boca em meu seio. Eu tinha meus seios sendo chupados por ele, abraçava seu rosto enquanto espremia meu seio em sua cara, o que ele adorava.
Ele agarrafa minha bunda com as mãos e massageava com os seus dedos, onde eu podia sentir as suas mãos fortes massageando meu rabo, enquanto ele socava forte em mim.
Passei a gemer naquele estúdio sendo socada por aquele pau enquanto ele mamava meus peitos. A língua dele se esfregava em meu mamilo, ele mordia e puxava contra ele enquanto me fazia pular em cima dele.
Logo mudamos de posição, ele me colocou de quatro naquele sofá enquanto começou a me foder. Logo veio o primeiro tapa na minha bunda.
— Não faça isso... — Eu disse. — Eu não quero ficar marcada.
— Mas eu quero te marcar. — Ele disse. — Mutou-Kun precisa ver como tratar a sua mulher. Você merece ser comida com uma puta.
Foi então que o segundo tapa veio, e mesmo com o meu protesto eu permiti aquilo. Cada vez que ele socava na minha bucetinha, mais um tapa vinha na minha bunda. E claro, eu empinava aquele rabo para receber mais tapas.
Logo me peguei cavalgando naquele pau enquanto ele estava deitado no chão. Minha bunda já estava toda vermelha, e a minha bucetinha também.
Meu corpo estava todo suado enquanto estava deitada sobre ele, com as nossas línguas se encontrando em completa luxúria enquanto cavalgava gostoso naquela pica. Ele me abraçava e me prendia contra o corpo dele, enquanto continuava me fodendo.
Olhava para trás, e vi que estava sendo observada. Seika-san, estava nos observando, esfregando sua mão naquela bucetinha.
O senhor Fujiwara então, me fez sair de cima dele. Ele me mandou engatinhar até ela e logo fiquei de quatro e segurei as coxas dela. Eu só queria curtir aquele momento.
Foi então que comecei a chupar a bucetinha dela, enquanto ele estava me comendo por trás. Ela puxava meu cabelo, enquanto ele me comia gostoso.
Depois de lamber a bucetinha dela, ele colocou ela de quatro e acabou comendo ela. Eu estava do lado, de joelhos beijando seus lábios, com as nossas línguas se enroscando enquanto levei meu dedo até suas bolas, que se chocavam contra a bucetinha dela.
Por fim, nos ajoelhamos. Ele passou a bater na nossa cara, e logo acabou gozando em nossos rostos. Eu recebi aquele jato de porra na cara, enquanto nós duas acabamos dividindo aquela pica, lambendo gostoso de um lado ao outro.
Ele ali por cima, sorrindo satisfeito.
Foi intenso, nu, suado. E no fundo, mesmo envolta no prazer que me fazia esquecer momentaneamente de tudo, eu sabia que nada mais seria igual.
Nem meu casamento.
Fujiwara acabou saindo antes de mim. Mas antes, ele disse.
— Você não precisa se envergonhar ou se julgar pelo que fez. Nós dois apenas liberamos nossa tensão sexual. Foi apenas sexo.
— Eu... Não devia ter feito isso. — Disse. — Pagar com a mesma moeda uma traição, como eu vou poder exigir algo dele agora?
— Não exija. — Disse o Senhor Fujiwara, tocando em meu rosto. — Apenas curta o momento. Você já o traiu, agora não tem mais volta. Eu vou te transformar em uma modelo internacional. E você vai continuar transando comigo.
— Olha... — Eu disse. — Eu não quero mais isso.
— Você vai mesmo abrir mão de tudo o que eu posso te oferecer por causa de um peso na consciência? Você não precisa disso, nem mesmo seu marido teve peso na consciência.
— Claro que ele teve. — Eu respondi. — Ele me evitava e via seu rosto sempre pálido, abatido. Agora entendo por quê. Ele tinha razão...
— No que?
— Nada... — Eu disse, enquanto passei a pensar nas palavras de Bruno, sobre se livrar do Fujiwara, como se ele tivesse já percebido que esse homem só nos trazia problemas. — Eu apenas não quero mais ser sua modelo. E não me procure mais.
— Senhora... — Ele disse, totalmente contrariado. — Se eu fosse você, não faria isso. Ou você quer que ele saiba que ele foi corno?
— Eu também fui corna. — Ela respondeu. — No fim, eu e ele estamos iguais. Eu vou perdoar meu marido. E vamos nos afastar de você. Por favor, não me procure mais.
Foi então que comecei a pegar as minhas roupas e ir até o banheiro para se trocar, mas não antes dele pegar a minha mão com força e olhar diretamente nos meus olhos, dizendo: Você vai se arrepender disso. Você e seu marido "não são iguais".
Eu dei de ombros e asssim tomei um banho, me limpando de tudo aquilo. No meio do chuveiro, eu percebi a cagada que fiz, e fiquei pensando no que a raiva me levou a fazer. Mas, não foi apenas a raiva, foi o vislumbre daquele lugar, o tesão de ser observada. Eu tinha me tornado uma vadia que dá pro chefe, e eu não queria isso pra mim.
Logo saí do estúdio, me despedindo de Seika, que confessou que adorou ficar comigo. Uma fofa. Mas isso não aconteceria mais. O som da porta do estúdio se fechando atrás de mim foi como um estalo na minha consciência. Um lembrete brutal de onde eu estava, do que eu tinha acabado de fazer.
A rua estava fria, mas eu mal sentia. Meus passos eram lentos, o corpo leve e pesado ao mesmo tempo. A lingerie ainda marcava minha pele por baixo do casaco. Meus lábios ainda ardiam. O cheiro dele ainda grudado em mim.
Eu tinha traído o Bruno. Fiz isso por vingança, o que era ainda pior. Eu não era assim.
Respirei fundo. Não podia chorar no meio da rua.
Não era como se eu tivesse planejado. Eu não fui ali para isso. Eu só queria trabalhar. Eu só queria… eu só queria esquecer que tinha sido traída.
Mas será que fui mesmo?
E se aquelas fotos forem falsas? E se Fujiwara estiver manipulando tudo desde o começo? E se eu fui só mais uma peça no jogo dele?
Aquela dúvida me corroía. Mas ao mesmo tempo… e se forem verdadeiras? E se tudo o que ele disse for real? Eu fiquei pensando em tudo isso no meio do caminho, as evidencias, o comportamento de Bruno.
A parte que mais doía não era o beijo, nem o toque, nem o sexo. Era ter cedido por raiva. Ter me entregado por impulso. Não por amor. Não por carinho.
Eu me sentia suja. E confusa. E ao mesmo tempo… viva.
E isso era o mais assustador.
Porque por alguns instantes, ali, no camarim, com as mãos dele no meu corpo, eu não estava pensando no Bruno. Eu só estava pensando em mim. No meu prazer, na minha raiva, numa forma de fazer ele pagar por ter me enganado, me traído. Mas não era só isso. Eu pensei no meu ego.
No meu corpo. No meu desejo. No meu momento.
E agora… eu não sabia mais quem eu era.
Caminhei mais alguns metros e parei em frente a uma loja de conveniência. Entrei, comprei uma água e um pacote de lenços. Lavei o rosto no banheiro e olhei meu reflexo.
"Você é uma traidora agora, Kaori?"
Olhei bem fundo nos meus próprios olhos. E pela primeira vez, não encontrei a resposta.
Voltei pra casa com um nó na garganta, ensaiando um sorriso falso, uma desculpa pronta, uma forma de não desmoronar. Bruno estaria ali. E eu… eu não sabia se conseguiria encará-lo.
Eu não queria entrar nesse assunto hoje. Estava cansada demais para tal. Tudo o que eu queria era apenas o jantar com meu marido e ficar em paz. Eu já havia decidido que iria perdoar Bruno, afinal de contas quem era eu para julgá-lo depois que eu mesmo num impulso e raiva acabei fazendo o mesmo? Talvez, eu só tenha feito isso no fim das contas para me equivaler a ele e assim perdoá-lo. Pelo menos era isso que eu tentava me enganar.
Quando entrei pela porta de casa, senti o ar um pouco mais pesado que o normal. Tudo estava em seu lugar — os chinelos dele junto da entrada, a luz da sala acesa, o som da televisão preenchendo o ambiente como uma cortina tênue de distração. Mas havia algo na atmosfera... algo silencioso, espesso, que me envolveu assim que girei a maçaneta.
Bruno veio até mim com aquele sorriso leve — o tipo de sorriso que ele tentava usar para quebrar a tensão quando não sabia o que estava acontecendo.
— Oi, amor — ele disse, se aproximando para me beijar.
Instintivamente, desviei. Não por frieza. Era o peso do que eu trazia comigo, ainda preso à pele como perfume de um erro. Meu corpo recuou antes mesmo que minha mente pensasse. Eu sentia culpa, eu sentia repulsa pelo Fujiwara, mesmo que no fundo eu soubesse que eu tinha gostado daquele "proibido".
— O que foi? — ele perguntou.
— Estou só... um pouco cansada. Vou tomar um banho, tá? — falei rápido, sem conseguir encará-lo. Minha voz saiu mansa, mas havia nela um tremor que tentei disfarçar.
Caminhei até o banheiro como se estivesse pisando em terreno minado. A água quente caiu sobre minha pele como um alívio, mas também como um castigo. Fechei os olhos e encostei a testa na parede fria, sentindo o contraste. Não sabia o que doía mais — o arrependimento, ou pensar que tudo isso começou com a traição dele.
Me vesti com o primeiro moletom que vi pela frente. Queria algo confortável, largo, que escondesse meu corpo, meus pecados, minhas dúvidas.
Voltei para a sala e me sentei no sofá, abraçando uma almofada como se ela pudesse me proteger de mim mesma. Bruno ainda estava lá, de pé, me olhando com um silêncio que parecia crescer a cada segundo.
Então ele veio até mim, com uma expressão que misturava preocupação e desconfiança. E falou, como se estivesse reunindo forças há muito tempo:
— O senhor Fujiwara me pediu para perguntar uma coisa... Ele disse: o que você responderia se eu perguntasse se você é uma pessoa decente?
Minha garganta secou. A pergunta entrou em mim como uma lâmina. Por que ele perguntaria isso agora? Como... como Fujiwara falou disso com ele? Por que ele me olhava assim?
Eu o encarei, sem saber exatamente que parte da minha alma estava sendo examinada naquele instante.
— Que tipo de pergunta é essa? — perguntei baixo, quase num sussurro.
Minha mente girava. Será que ele sabia? Será que Fujiwara contou algo? Ou será que era apenas um teste? Um truque para me fazer confessar?
Bruno insistiu, com a voz firme, mas ferida:
— Eu sei que parece estranha, mas... ele falou isso há dois dias. Como se quisesse provocar. Eu só... queria ouvir da sua boca.
Eu desviei o olhar, e não sabia o que responder. Eu sentia culpa, eu sentia raiva pela pergunta dele, e mais raiva ainda por ele não confessar. Eu pensei em contar logo de uma vez tudo, mas eu queria evitar ao menos naquela noite ser confrontada e confronta-lo sobre nossos pecados. Eu só queria paz. Eu fiquei pensando, será que o Fujiwara contou? Eu fiquei pensando se ele teve coragem de fazer isso.
Mas ele não disse. Ele só perguntou se eu me considerava decente. Uma pergunta ampla. Cruelmente ambígua.
— Eu... Eu diria que sou sim. Não sei... O que ele quis dizer com isso... Mas eu ao menos tento ser, eu acho...
Foi a única coisa que consegui dizer. E mesmo assim, me odiei pelas palavras mornas que saíram dos meus lábios. Ele merecia mais. Merecia verdade. Mas eu não consegui. Não naquela noite.
Me levantei.
— Vou preparar algo leve pro jantar. Quer comer? — perguntei, tentando mudar o rumo da conversa, tentando fugir de um abismo que se abria sob meus pés.
Ele balançou a cabeça. Negou em silêncio. E aquele silêncio me cortou mais do que qualquer acusação.
Fui para a cozinha, mexendo nos utensílios como se aquilo me trouxesse alguma paz. Mas a pergunta dele... e o olhar... não saíam da minha cabeça.
Será que ele sabia?
Será que ele sentia?
Ou será que... ainda dava tempo de voltar?
Resolvi fazer o jantar, mas possivelmente seria apenas pra mim. Estava ali na cozinha. O aroma suave do dashi misturado com o vapor do arroz subia da panela elétrica enquanto eu finalizava os ovos na frigideira. Movimentos mecânicos, quase automáticos. Era como se meu corpo soubesse exatamente o que fazer, enquanto minha mente se arrastava por um lamaçal de pensamentos desconfortáveis.
Senti meu peito afundar, como se algo dentro de mim tivesse se retraído. Continuei mexendo no arroz, mas as mãos estavam trêmulas. Eu sabia que ele estava estranho. Eu decidi que iria contar, só iria esperar ele sair de vez da empresa onde ele estava trabalhando.
Fiz o prato apenas para mim. Não porque queria jantar sozinha, mas porque já esperava que ele recusasse. Comi devagar, em silêncio, sentada à mesa onde costumávamos conversar e rir. Era quase doloroso encarar a cadeira vazia diante de mim.
Depois, tomei banho. Tentei deixar a água lavar não só meu corpo, mas também aquela sensação sufocante de culpa, incerteza e medo. Não funcionou. Quando me olhei no espelho, vi meus olhos vermelhos, não pelo choro, mas por cansaço emocional. Um tipo de desgaste que maquiagem nenhuma disfarça.
Coloquei meu moletom claro, largo, confortável. E fui até o quarto. Ele estava deitado, ainda vestido. Não disse nada. O silêncio dele pesava mais do que qualquer palavra dura.
— Eu... posso deitar? — perguntei baixinho, parada na porta.
Ele apenas assentiu, sem me olhar. Me deitei devagar, mantendo certa distância. Senti o colchão afundar levemente, mas mesmo assim, parecia que havia quilômetros entre nós. Fiquei ali, encarando o teto, abraçando meus próprios braços. O silêncio era incômodo. Eu precisava dizer algo... qualquer coisa.
— Está tudo bem com você?
Ele suspirou fundo. Ainda sem me encarar.
— Eu que devia perguntar isso. Por que você sempre desvia quando falo dos ensaios?
Meu corpo travou por um momento. A pergunta era simples, mas vinha carregada de intenção. Vinha com o peso do que ele imaginava — ou talvez até já soubesse.
— Porque... eu fico constrangida — respondi baixinho, tentando soar natural, mas o tremor na minha voz me traiu.
Ele se virou devagar, e pude sentir o olhar dele sobre mim.
— Constrangida? Que tipo de constrangimento você teria comigo, Kaori? Eu sou seu marido.
Engoli seco. A verdade estava ali, arranhando a garganta, querendo sair. Mas a vergonha, a culpa... e o medo do que poderia acontecer se eu falasse, me impediram. Então virei para o outro lado da cama, fugindo dos olhos dele.
— É só... complicado, tá bom?
Senti ele me observar por mais um tempo. Seu silêncio me dizia tudo que ele não estava dizendo em voz alta. Eu sabia que ele suspeitava. Eu sabia que, mesmo que não tivesse todas as peças do quebra-cabeça, ele estava começando a ver o desenho completo.
Mas ele não insistiu. Não pressionou. Talvez porque também tivesse seus próprios segredos. Ou porque... talvez, ele ainda não estivesse pronto para a resposta.
Acabei adormecendo, apesar dos pensamentos fervendo na cabeça.
Na manhã seguinte, me levantei cedo. Preparei o café com carinho. Não como uma desculpa, mas como um gesto. Um gesto pequeno, talvez inútil, mas sincero.
Fiz arroz fresquinho, fritei os ovos com cuidado, grelhei um pedaço de frango como ele gostava. Coloquei tudo na mesa, ajeitei os hashis sobre o descanso de madeira. Acordar cedo e cuidar da casa sempre foi parte da minha rotina — mas naquele dia, mais do que rotina, era uma tentativa de reconectar.
Ele saiu do quarto já vestido, como se estivesse com pressa, ou como se quisesse sair antes de me ouvir.
— Preparei o café. Está quentinho — falei, com um meio sorriso, tentando soar leve.
Ele olhou para a mesa posta. Meus olhos buscaram os dele, mas ele desviou.
— Não estou com fome — murmurou, sem emoção.
Senti algo quebrar dentro de mim naquele instante. Como se ele tivesse recusado não só a comida, mas tudo o que eu estava tentando oferecer — carinho, diálogo, um pouco de normalidade.
Sem dizer mais nada, ele pegou a maleta e saiu. A porta se fechou, e eu fiquei ali, parada, diante de uma mesa cheia e um coração vazio.
No meio do dia, eu estava ali, limpando a casa. Tentando me distrair. Recebi uma mensagem de Fujiwara, falando sobre um novo ensaio. Eu apenas respondi.
" Eu já disse que não quero mais. Até rasguei o contrato, já que não assinei!"
Joguei o celular no sofá. Eu me sentei, e coloquei-me a chorar mais uma vez. De repente, a porta toca. Eu me levantei para atender. E naquele momento, eu tomei o maior susto da minha vida.
— Bom dia, Kaori-san. Eu preciso falar com você. Mas não aqui. Podemos ir a algum lugar?
Naquele momento, estava diante de mim o principal pivô de tudo que estava acontecendo de ruim, e eu não sabia mais o que fazer.