A estrada subia pela serra em curvas preguiçosas, e o carro parecia respirar junto com a paisagem molhada. A garoa batia ritmada no para-brisa, como se o tempo soubesse que o momento pedia silêncio.
Mas, dentro do carro, Lady Gaga tocava alto.
"Love me even when I fall apart..."
Mateus tirou um fone do ouvido, fazendo uma careta forçada.
— Pai... sério? Essa música parece trilha de velório elegante. Bota um Dennis DJ aí, vai. Pelo menos a gente chega com estilo.
Gael soltou uma risadinha, aquela que escapava só quando ele se sentia menos carregado.
— Você não entende nada. Essa aqui é nova. E é um hino. Gaga voltou sombria e perfeita.
— Gótica suave.
— Gótica sobrevivente.
Mateus riu de verdade dessa vez, e ficou escutando. Aos poucos, começou a cantarolar, tímido:
"He had a heart made out of ashes
and a soul carved in bone..."
Gael entrou junto, sorrindo com o canto da boca:
"He was lost in every mirror,
but I loved him like my own..."
E então, juntos, desafinados e de coração inteiro:
"Zombieboy, Zombieboy,
kiss me where it hurts the most.
I don’t care if you’re broken,
you’re the ghost I chose."
O carro seguiu pelas curvas como se flutuasse. Pela primeira vez em dias, talvez semanas, eles estavam rindo, cantando. Respirando. Juntos.
Mateus recostou a cabeça no vidro.
— Eu odeio admitir, mas... é boa.
— Obrigado. Vou tatuar essa frase.
— Sem exagero, pai. Eu só deixei porque hoje é um dia simbólico.
Gael olhou de relance para o filho. O olhar dele tinha aquele brilho de quem sabe que o luto ainda mora ali, mas que o amor ainda tem força.
— É um dia simbólico mesmo. A gente tá voltando pro lugar onde tudo começou. E onde tudo pode recomeçar. Eu sei que Rancho da Serra não é São Paulo. Mas aqui tem espaço pra respirar. Pra cuidar da sua avó. Pra cuidar da gente.
Mateus hesitou.
— Ela tá muito mal, né?
Gael assentiu devagar.
— Tá. Mas ela vai sorrir, comer biscoito, assistir novela, reclamar da vida. E a gente vai estar com ela. Até o último dia. E depois... a gente vai lembrar com carinho.
Mateus puxou o cobertor no colo e suspirou.
— Então canta comigo de novo. Desde o começo.
Gael deu play, e a voz de Gaga ecoou outra vez pelo carro.
"Love me even though I'm not right..."
E eles cantaram. Cantaram como quem acende uma vela no meio do nevoeiro. Como quem segura a mão do outro quando o chão some. Como quem sabe que, por mais que tudo mude, ainda há música — e amor — no caminho.
A rua de terra estava úmida, os pneus do carro derrapando discretamente antes de parar diante da antiga casa de número 88. A fachada era simples, com tinta desbotada e janelas de madeira. Mas havia vasos com flores bem cuidadas na varanda, e um pano de crochê na janela da cozinha. Era uma casa viva.
Mateus saiu do carro primeiro, puxando o capuz por causa da garoa. Gael veio atrás, com os olhos fixos na porta.
Antes que ele batesse, a porta se abriu.
Dona Cacilda, setenta e cinco anos, corpo franzino e olhar afiado, estava de pé com um avental florido e um sorriso que parecia conter todas as dores e alegrias do mundo.
— Meu menino... — disse, abrindo os braços finos.
Gael desmanchou. Foi até ela e se deixou abraçar como se fosse uma criança. Mateus ficou parado, sem saber se ia ou ficava. Cacilda o chamou com os olhos.
— E você... tá enorme. Tá um rapaz bonito, igual o pai — disse, apertando seu rosto com as mãos trêmulas. — Mas tem os olhos de Caíque. Claros e teimosos.
Mateus corou, mas não recuou.
— É. Todo mundo diz isso — respondeu, tentando soar desinteressado, mas a voz saiu baixa.
Gael segurou a mão da mãe com carinho.
— Você tá bem?
— Bem é uma palavra grande pra um corpo cansado. Mas tô viva, e com pão de queijo no forno. E isso, meu filho, é quase o mesmo que milagre.
Eles entraram. A casa tinha o mesmo cheiro de antes: lavanda, alecrim e café coado. O tempo não apagava certas coisas. Sobre a estante, um porta-retrato com a foto de Gael criança, no colo de Cacilda. Ao lado, um espaço vazio onde um porta-retrato já esteve.
Cacilda notou o olhar do filho.
— Joguei fora a foto do seu pai. Aquilo era mais peso do que lembrança.
Gael não disse nada. Só assentiu.
Mateus caminhava pela casa como quem visita um lugar sagrado.
— Aqui é pequeno — comentou. — Mas tem cara de lar.
Cacilda sorriu.
— E vai ser. Por pouco tempo ou muito, vocês são minha casa também.
Eles jantaram sopa quente com pão de alho, riram de histórias antigas, e até viram um pedaço da novela juntos. À noite, Gael cobriu Mateus no colchão improvisado da sala e voltou para a varanda, onde Cacilda o esperava sentada numa cadeira de palha.
— Ele tá triste — disse ela, olhando para a serra escura. — Mas não tá perdido. Tem você.
Gael respirou fundo.
— E eu tenho você. Mesmo por pouco tempo.
Ela segurou a mão do filho, os olhos brilhando de ternura.
— Tempo não mede nada, Gael. O que importa é o que a gente faz com ele.
A noite em Rancho da Serra tinha cheiro de terra molhada e grama recém-cortada. A pracinha do bairro era simples: dois bancos de cimento, um escorregador torto, areia batida e luz amarela de poste antigo. Depois do jantar com Cacilda, Mateus resolveu dar uma volta. Disse ao pai que precisava “sentir o ar”, e Gael apenas assentiu com um meio sorriso — ele sabia que o luto também pedia distância, às vezes.
Na praça, um garotinho brincava com um carrinho na areia, fazendo barulhos de motor com a boca. Um pouco mais afastado, encostado num banco e rolando o dedo no celular, estava Pepe — corpo esguio, camiseta larga, chinelo gasto e um charme que não se pedia permissão pra existir.
Ele ergueu os olhos e reconheceu Mateus.
— Você é o neto da Dona Cacilda, né?
Mateus parou, cauteloso.
— Sou. E você?
— Pepe. Felipe Ramos. Mas só minha mãe me chama assim quando tá brava. E esse aí — disse apontando para o menino — é o Lucas. Meu irmão. Por parte de mãe.
Lucas ergueu os olhos, com a cara lambuzada de chocolate.
— Oi! Você é bonito.
Mateus riu, surpreso.
— Valeu, chefe. Você também. E esse carrinho é veloz, hein?
Pepe se aproximou e sentou no encosto do banco, sem cerimônia.
— A gente mora ali atrás da padaria. Minha mãe é a Verônica. Casou com o Camargo, pai do Lucas, há uns anos.
— E o seu pai?
Pepe deu de ombros, com um sorrisinho de quem já cansou da resposta.
— Meu pai é o Reginaldo. O padeiro da esquina. Tá vivo, tá na cidade, tá ali todo dia. Só não tá... aqui. Nunca esteve, pra falar a real.
Mateus o encarou com atenção. Não era drama, era constatação. Silenciosa e amarga.
— Complicado — respondeu Mateus.
— É. Mas ele faz um pão francês incrível. Serve pros outros. Pra mim, nem bom dia.
O silêncio durou o tempo certo, até que risadas cortaram o ar da praça. Elisa e suas duas fiéis seguidoras apareceram pela esquina. Vestido justo, rabo de cavalo de vilã e um andar que parecia ensaiado. Ao ver Mateus, ela estancou.
— Ah, que catástrofe. Um estranho e o Ramos. Ninguém me avisou que hoje era o ar ficou tóxico.
Mateus cruzou os braços.
— Engraçado, toda vez que abre a sua boca sai uma radiação de Chernobyl !
— Moleque abusado. Saiba que transformar a sua vida num inferno.
— Você quer mesmo começar isso?
Ela sorriu, ácida.
— Já começou. Você é que chegou atrasado.
— Relaxa, Elisa — disse Pepe, se colocando entre eles, num tom leve. — Ainda não se recuperou do fora que dei. Dá um tempo. Sua briga é comigo e não com Mateus que acabou de chegar.
— Você se acha muito.
Mateus revirou os olhos.
— Tá, já entendi. Você é a recalcada da escola ?
— E você é o novo garoto que vai tentar parecer descolado mas vou fazer você chorar antes da segunda aula. Acontece sempre.
— Vai sonhando, princesa.
As amigas de Elisa riram. Ela não.
— Esse sotaque paulista não engana ninguém. Você não dura um mês.
Pepe deu um passo à frente, rindo.
— Tô começando a gostar de vocês dois juntos. Vai render briga ou beijo?
— Cala a boca, Pepe — disseram os dois ao mesmo tempo.
Foi então que Gael apareceu na outra ponta da praça, cabelo úmido, camiseta justa e andar calmo. Pepe ficou mudo. O olhar colado nele como se o tempo tivesse parado.
— Esse é seu pai? — perguntou, sem desviar os olhos.
— É.
Pepe mordeu o lábio com sutileza, como quem acaba de ver algo precioso e proibido.
— Interessante...
— Nem começa — retrucou Mateus.
— Não tô começando nada. Só admirando... a genética.
Gael se aproximou e cumprimentou todos com educação. Até Elisa pareceu sem fala por um segundo.
— Tudo bem, Mat?
— Tudo certo, pai. Só conhecendo o bairro.
— Boa noite, pessoal. Me chamo Gael e sou pai do Mateus, e vim buscá-lo. — disse Gael, gentil.
— Boa noite, pai do Mateus— respondeu Pepe, quase em reverência.
Elisa observava a cena com olhos apertados, farejando alguma coisa que não sabia o que era ainda.
— A gente se vê por aí — disse Pepe, pegando Lucas pela mão.
E foi embora sem olhar pra trás. Mas o pensamento dele, esse, ficou parado ali.
O fim de julho trazia ao ar um frescor que o verão da cidade não conhecia. Os corredores da escola municipal ainda estavam em silêncio. A faxina de retorno havia começado, mas os alunos só voltariam na próxima semana. Gael caminhava devagar, absorvendo o espaço onde havia sido aluno — e agora seria professor.
Não teve tempo de apreciar muito. Úrsula Cabalero surgiu na porta da sala da direção como se já o estivesse esperando, braços cruzados, batom impecável, expressão de desdém.
— Nunca pensei que você teria a cara de pau de voltar a essa cidade depois de tudo que aconteceu entre nós — disparou, sem rodeios.
Gael parou, ereto, o rosto inexpressivo.
— Estou aqui por minha mãe e meu filho. Não estou interessado em ressuscitar fantasmas.
Ela soltou uma risada breve, seca.
— Fantasmas? Você acha que é assim que as coisas funcionam? Que pode voltar, entrar numa sala de aula e fingir que não jogou tudo no lixo?
— Não joguei nada, Úrsula. Fui expulso. Pela cidade, pelas fofocas, por você — disse Gael, sem mudar o tom.
— Eu? — Ela deu um passo à frente. — Eu defendi essa escola quando você saiu batendo portas. Você fugiu, Gael. Fugiu porque não aguentava ser olhado de frente, porque não suportava ser visto de verdade.
Gael manteve a calma, mas seus olhos endureceram.
— Eu fugi porque não havia mais espaço para mim aqui. E você se certificou disso. Com olhares tortos, conselhos disfarçados, e seu venenoso jeitinho de manipular tudo ao redor.
Úrsula ergueu o queixo, implacável.
— Eu fiz o que era necessário para proteger minha escola. A mesma escola que agora você quer envenenar com seu passado mal resolvido.
— Meu passado está bem resolvido, obrigado. E meu filho vai estudar aqui. Então se você tem alguma implicância pessoal, sugiro que trate comigo — e só comigo. Não envolva alunos nisso.
— Você se acha tão nobre, né, Gael? Mas todo mundo sabe que você voltou porque não tem mais pra onde ir. A cidade grande te engoliu? Ou foi o luto que te empurrou de volta pra essa roça?
Gael respirou fundo, mas não cedeu.
— Você pode me detestar, Úrsula. Pode continuar odiando tudo que eu represento. Mas enquanto eu estiver nesta escola, vou cumprir meu papel com profissionalismo. E espero que você faça o mesmo.
Antes que ela pudesse responder, Pedro Krazinsk surgiu, elegante como sempre, embora o suor na nuca denunciasse tensão.
— Úrsula... podemos conversar? — disse ele, tentando soá calmo.
Ela lançou um último olhar de veneno para Gael.
— Vai ver que não mudou nada. Vai ser só questão de tempo.
E saiu, batendo o salto no chão com força.
Pedro observou a esposa se afastar e, em seguida, voltou-se para Gael. O sorriso ensaiado morreu assim que os dois ficaram a sós.
— Ela ainda está ferida. O que aconteceu... foi difícil pra todos nós.
Gael cruzou os braços.
— Não venha justificar os erros dela — ou os seus. Vocês escolheram os caminhos de vocês. Eu só voltei pra dar aula. E cuidar da minha mãe.
Pedro deu um passo à frente, a voz mais baixa, mais íntima:
— Gael... eu sei que errei. Fui fraco. Mas ver você aqui de novo me faz pensar que ainda temos algo. Algo inacabado.
— Você está casado com ela. É prefeito. Tem sua vida montada em cima do que destruiu da minha. Isso é tudo o que temos.
— Mas não é tudo o que eu sinto.
Gael sorriu, amargo.
— Você sente quando convém, Pedro. No fundo, você só quer que eu dependa de você de novo. E não. Nunca mais.
Pedro o olhou, ferido e ainda desejoso.
— Você ainda me odeia?
Gael deu meia-volta, firme:
— Seria necessário te respeitar, primeiro.
E saiu, deixando Pedro sozinho no corredor vazio — cercado por lembranças que, para ele, ainda ardiam em forma de desejo.
O corredor da escola estava vazio, exceto por uma ou outra porta entreaberta. Os cartazes do projeto de leitura estavam meio desbotados e o cheiro de giz e produto de limpeza misturava-se ao calor abafado de fim de tarde.
Gael já tinha saído da sala da direção — e de um reencontro indigesto com Pedro e Úrsula — quando uma voz familiar soou atrás dele:
— Se eu te abraçar agora, você desmancha ou desmaia?
Ele se virou com um sorriso cansado.
— Depende da força do impacto.
Stefani já vinha de braços abertos, largando a prancheta na cadeira mais próxima.
O abraço demorou mais que o socialmente aceitável. E nenhum dos dois se importou com isso.
— Que saudade da sua cara, Gae. Mesmo com essas olheiras de viúvo cansado.
— Você também tá igualzinha... só que com uns dez watts a mais de energia.
— A vida com adolescentes me mantém ativa. E com hérnia de disco.
Ela o puxou para um banco ao lado da secretaria.
— Não vou perguntar como você tá. Eu sei. Eu vi tudo, até quando você parou de postar foto e só escrevia umas frases tristes no story.
Gael deu um riso sem graça, passando a mão no rosto.
— Eu achei que estava protegendo o Mateus. Mas na real eu só queria desaparecer um pouco.
— E foi justo por isso que eu te enchi o saco no WhatsApp até você responder.
Ela levantou e fez sinal para que ele a acompanhasse.
— Vem, vou te mostrar onde estão as coisas da Marília. A antiga professora. Você vai herdar a sala, o armário — e a desgraça de lidar com a Úrsula também.
Entraram na pequena sala dos professores. Stefani foi até uma estante lateral e pegou uma pasta grossa, rabiscada com caneta vermelha: “3º ano - Literatura | Profª Marília Alves”.
— Ela surtou? — perguntou Gael, folheando rapidamente o caderno de registros.
— Mais ou menos. Marília era boa professora, mas não engolia desaforo. Úrsula mandava bilhete atrás de bilhete, cobrava planilha como se isso educasse alguém. Um dia a Marília bateu a porta e disse: “me respeita que eu sou da época da lousa com cuspe e giz”. Demissão voluntária.
— E você pensou em mim.
— Pensei na pessoa mais talentosa que eu conheço — e mais teimosa também. Achei que você e a cidade tinham pendências mal resolvidas.
— Você achou certo.
Ela entregou o plano de aula impresso, já com anotações da professora anterior e observações da coordenação.
— Vai precisar adaptar tudo, claro. A Úrsula quer que a gente ensine interpretação com notícia de jornal. Marília usava Guimarães Rosa. E adivinha quem ela chamava de ultrapassada?
— A Rosa. Claro.
— Úrsula acha que literatura é perda de tempo. Que adolescente tem que ler CPF e boleto.
Gael deu um risinho.
— Talvez eu goste da ideia de provocar um pouco.
Stefani cruzou os braços, sorrindo de lado.
— Eu não trouxe você só pra trabalhar. Trouxe pra lembrar quem você é.
Ela segurou a mão dele com leveza.
— Você perdeu muito, Gael. Mas ainda tem gente que te vê inteiro.
Ele engoliu a emoção, disfarçando com um pigarro.
— Obrigado. Por não me deixar me esquecer disso.
— E ah — disse ela, já caminhando para a porta — amanhã tem café de boas-vindas. Não chega atrasado ou a Úrsula vai te escalar pra dar reforço sábado de manhã.
— E ela já me odeia o suficiente.
— Então deixa que eu te protejo. Como sempre.
O céu de Rancho da Serra estava carregado naquela noite. O breu das montanhas engolia os últimos vestígios de claridade, e os postes da entrada da cidade tremeluziam como se hesitassem em iluminar o que estava por vir.
De longe, o som de um motor rasgava o silêncio como trovão contido.
Uma moto negra, antiga, de farol único, surgiu na estrada de terra batida, devorando quilômetros como uma fera solta.
O homem que a pilotava tinha o corpo coberto por couro envelhecido, as botas sujas de barro, o capacete opaco escondendo o rosto. Quando atravessou o velho portal de madeira que dizia “Bem-vindo a Rancho da Serra”, diminuiu a velocidade, como quem pisava em solo amaldiçoado.
Parou a moto ao lado do antigo galpão abandonado que margeava o campo de rodeio. O lugar estava deserto, exceto por uns cachorros de rua que se afastaram ao sentir o cheiro de gasolina e ferro.
O homem tirou o capacete com lentidão. Os cabelos grisalhos caíram desordenados sobre a testa. A pele era dura, marcada pelo tempo — ou por coisas mais cruéis que o tempo.
Sentou-se no banco da moto por um instante, imóvel.
Do bolso interno da jaqueta, retirou um envelope amassado. Abriu. Dentro, uma fotografia antiga. Três figuras. Um sorriso forçado. Um olhar que não se esquecia.
Ele não disse nada.
Acendeu um cigarro com isqueiro de metal e permaneceu ali, encarando a cidade como quem desafia um inimigo antigo. O vento soprou forte, levantando poeira e folhas secas.
Jogou a bituca longe e caminhou para dentro da noite.
Sem pressa.
Sem presságio.
Só o silêncio atrás dele — e uma cidade inteira pela frente.