Primeiro dia de aula, finalmente na faculdade. Era início de fevereiro e aquele frio na barriga me acompanhava desde que acordei. Uma nova vida estava prestes a começar, com novos desafios, novas pessoas e novas possibilidades. Olhei no espelho mais uma vez antes de sair, ajustei a camiseta e respirei fundo. Era hora.
O campus estava movimentado, cheio de calouros perdidos como eu, veteranos confiantes e professores apressados. Encontrei minha sala após alguns minutos de busca e escolhi um lugar no meio, nem muito na frente nem muito atrás. Perfeito para observar tudo e todos.
Foi quando meus olhos se fixaram em duas pessoas que chamariam minha atenção pelos próximos meses. Do meu lado esquerdo, um cara moreno de cabelos escuros mexia no celular com um sorriso no rosto. Tinha aquele jeito descontraído, camiseta de banda e tênis surrado. Algo nele me intrigou imediatamente. Mais tarde descobriria que se chamava Raul.
Na fileira da frente, um loiro alto organizava obsessivamente seus materiais sobre a mesa. Cadernos alinhados, canetas separadas por cor, agenda aberta na data exata. Parecia o tipo de pessoa que já tinha a vida toda planejada. Matias, como vim a saber depois.
O professor de Anatomia Humana entrou e começou a falar sobre músculos, ossos e articulações. Matéria pesada logo no primeiro dia, mas era isso que eu queria. Educação Física no primeiro período significava manhãs intensas, mas eu estava pronto.
No intervalo, o acaso fez com que os três acabássemos na mesma fila do café. Matias deixou cair algumas moedas, Raul as ajudou a juntar, e eu me ofereci para ajudar também.
— Obrigado, cara — disse Matias, um pouco sem jeito. — Sou o Matias, vocês também são da Educação Física?
— Raul — se apresentou o moreno, estendendo a mão. — E sim, acabei de descobrir que Anatomia não é brincadeira.
— Lucas — completei. — E olha, se o primeiro dia já está assim, imagina quando chegarem as práticas.
Raul riu, balançando a cabeça.
— Pelo menos não é só decoreba. Gosto dessas matérias que você vê aplicação na vida real, sabe?
— Eu já tenho tudo mapeado — disse Matias, puxando uma agenda do bolso. — Cronograma de estudos, horários das matérias, até os professores eu já pesquisei no Reclame Aqui acadêmico.
Raul e eu trocamos um olhar divertido.
— Cara, você é bem organizado mesmo — comentei.
— Tem que ser, né? Minha mãe sempre diz que organização é a chave do sucesso — Matias respondeu, meio sem graça.
— E você, Lucas? — perguntou Raul. — Já tinha decidido Educação Física há muito tempo?
— Na verdade, sempre gostei de esporte, de movimento. Acho que posso ajudar as pessoas a se sentirem bem com o próprio corpo, sabe? E vocês?
— Eu quero trabalhar com reabilitação — disse Matias. — Ajudar pessoas que tiveram lesões a voltarem à ativa.
— Eu ainda não sei direito — admitiu Raul. — Gosto da área, mas quero conhecer tudo antes de decidir. Talvez algo com esportes, ou quem sabe até mesmo professor.
A conversa fluiu naturalmente. Descobrimos que morávamos relativamente perto de Matias, e o Raul disse que morava longe mas não disse o bairro. A gente tinha gostos musicais parecidos e os três estavam igualmente nervosos e animados com essa nova fase. Quando as aulas terminaram, nos despedimos com a promessa de nos sentarmos juntos no dia seguinte. Parecia que tinha encontrado minha turma.
O caminho de volta para casa foi especial. Finalmente ao volante do meu HB20 branco, o presente do meu pai pela aprovação no vestibular e meu aniversário que havia sido em novembro. A sensação de liberdade era indescritível. Não precisava mais depender de ninguém para ir e vir, não precisava mais pedir carona ou esperar uber. Minha independência tinha rodas e motor.
Dirigi devagar pelas ruas do bairro, apreciando cada momento. O som estava baixo, um indie rock calmo de fundo enquanto eu processava tudo que tinha acontecido naquele dia. Novos amigos, novos desafios, nova rotina. Tudo parecia estar se encaixando perfeitamente, até chegar em casa.
Minha mãe estava na cozinha quando entrei, mexendo em uma panela com aquele jeito meio distraído que eu já conhecia bem. Ela sorriu quando me viu.
— E então, filho? Como foi o primeiro dia de aula? Nada de trote, né? — perguntou, se virando completamente para me dar atenção.
— Claro que não, mãe — respondi, jogando a mochila no sofá. — Foi ótimo, mas já tivemos trabalho hoje. Os professores não perderam tempo, e já fiz alguns amigos.
— Ótimo, estou feliz por você... — Ela pausou, e algo no tom dela mudou. Percebi a hesitação na voz, aquele jeito de quem está preparando terreno para uma conversa difícil. — Bom, tenho uma coisa para conversar com você. Seu pai vai vir morar aqui.
Senti meu estômago despencar. As palavras saíram antes que eu pudesse pensar.
— Vocês não vão voltar né? Como assim? — perguntei, assustado, tentando entender o que estava acontecendo.
— Não, não... — ela balançou a cabeça rapidamente. — Mas estamos conversando desde que ele comprou seu carro. Olha, eu estou com um namorado no interior, na casa da minha mãe. Um caso antigo, ele é fazendeiro, recém-separado. A gente está saindo juntos desde que me separei do seu pai, e eu vou morar lá na fazenda.
O mundo pareceu desabar. Primeiro dia de faculdade arruinado em questão de segundos.
— Mãe, meu pai me odeia! Eu não quero voltar a morar com ele — minha voz saiu mais alta que eu pretendia, carregada de desespero.
— Ele não te odeia, Lucas — ela se aproximou, tentando me acalmar. — A gente conversou sobre isso. Seu pai vai te respeitar.
— Mãe, não quero isso, por favor não faz isso comigo — supliquei, sentindo as lágrimas queimarem nos olhos.
— Filho, eu não posso deixar você morando aqui sozinho com seu irmão. Seu pai vai estar aqui, vai pagar as contas... Você não trabalha ainda. Ou é isso, ou você larga sua faculdade e vem morar comigo na fazenda.
— Claro que não! Você está maluca? Meu lugar é aqui! — gritei, sem conseguir me controlar.
— Seu pai vai te respeitar, ele está arrependido. E seu irmão é louco pelo seu pai, você sabe disso. Vai fazer bem para ele. E eu sempre estarei por aqui, ainda tenho alguns projetos. Vou ficar vindo pelo menos uma ou duas vezes por mês.
— Mãe, isso não é justo! Logo agora que estou na faculdade...
— Filho, você tem carro, seu pai vai te dar mesada, você tem liberdade. Se você quiser, nem precisa ver seu pai direito. Ele trabalha e você passa o dia fora, então não vejo a necessidade de todo esse drama.
A discussão com minha mãe se estendeu por mais uma hora, mas não teve volta. O jeito seria voltar a conviver com meu pai, apesar de ter plena certeza de que isso não seria nada bom. Mas não queria adiantar as coisas, pelo menos não naquele momento.
À noite, saí para encontrar Yan e Taty. Precisava distrair a cabeça, conversar com alguém que me entendesse. Fomos jantar em uma lanchonete próxima ao shopping e conversar sobre nossos primeiros dias de aula.
— Então, como foi hoje? — perguntou Taty, mordendo seu hambúrguer.
— Bem, na verdade. Fiz uns amigos legais, as matérias parecem interessantes... — omiti a parte sobre meu pai. Não estava pronto para falar sobre isso ainda.
— Que bom! Eu e o Carlos ficamos na mesma sala — disse Taty, animada. — Passamos para o mesmo turno e período, mas ainda não somos tão próximos assim.
Yan contou sobre seu curso de medicina, as pessoas que conheceu, os professores chatões. Estávamos trocando essas histórias quando Luke chegou. A atmosfera mudou instantaneamente.
Tentamos manter a conversa natural, mas era óbvio o clima estranho entre nós. Ou eu falava com Yan e Taty, ou ele falava. Nunca os dois ao mesmo tempo. Era como se houvesse um campo de força invisível nos separando.
Quando decidimos ir embora, me ofereci para levar todo mundo. Yan morava mais perto, depois Taty, e Luke ficou por último. Quando Taty desceu e ficamos apenas nós dois no carro, o silêncio foi ensurdecedor.
Até que não aguentei mais.
— E o Carlos? Como está seu namoro com ele? — perguntei, olhando para frente, fingindo naturalidade.
— Não estamos mais juntos. Foi só curtição — respondeu, também evitando me olhar.
— Curtição ou só para me atingir?
— Lucas, por favor, não vamos brigar — ele suspirou, cansado.
— Estou bem, Luke. Já estou acostumado com seus golpes baixos.
— Lucas, não tem nenhum golpe baixo! Apenas eu e o Carlos aconteceu simples... Agora você e meu irmão, hein? Isso não é golpe baixo?
— Eu fiquei com o Paul dessa última vez quando estava solteiro, não estava preso a ninguém — me defendi.
— E quando ficou com ele namorando comigo e com o Carlos? Não foi golpe baixo? — a voz dele subiu de tom.
— Foi um deslize...
— Deslize? Sério? Você é um canalha, Lucas. Isso que você é.
— Tá, tá, tá... Não vamos discutir. Paz — falei, levantando as mãos em rendição.
Luke respirou fundo, claramente tentando se controlar. Depois de um momento, perguntou em tom mais calmo:
— Como foi seu primeiro dia de aula?
— Foi bom, já fiz alguns amigos. E o seu?
— Bom também. Tem umas pessoas do LEI, mas não tenho intimidade ainda.
— Você será um belo dentista, tenho certeza disso — disse sinceramente.
— Obrigado. E você será um ótimo personal trainer — respondeu Luke, sorrindo pela primeira vez na noite e me olhando diretamente.
Chegamos na casa dele. Parei o carro e ficamos nos olhando por um tempo que pareceu eterno. Havia tanto não dito entre nós, tanta história, tanto sentimento confuso. Foi quando ele se inclinou e me puxou para um abraço.
Um abraço longo, apertado, cheio de significado.
— Amigos então? — perguntou, ainda me abraçando.
— Por mim, sim — respondi, e pela primeira vez naquele dia conturbado, senti uma pontinha de paz.
Talvez nem tudo estivesse perdido. Talvez algumas coisas pudessem ser consertadas, mesmo que devagar, mesmo que com cuidado. E talvez, só talvez, eu conseguisse lidar com todas as mudanças que estavam por vir.
A primeira semana de aula passou voando. Realmente parece que tudo que aprendi no ensino médio não vale nada na faculdade. Era como se fosse começar do zero novamente, só que dessa vez estudando algo direcionado para o nosso futuro profissional. A sensação era estranha e empolgante ao mesmo tempo.
Minha amizade com Raul e Matias foi acontecendo de forma natural. Matias tinha carro próprio, e de vez em quando eu dava carona para o Raul até a parada de ônibus. Ele falava que morava longe, eu disse que não tinha problema em deixá-lo em casa, mas ele insistia que não queria incomodar.
Bom, sei que não vai ser novidade para ninguém, mas me vi atraído pelo Raul. Não vou mentir - a pele morena dele, o jeito descontraído, aquele sorriso... tudo nele me atraía. Mas eu não sabia se ele era gay ou coisa do tipo, então não podia dar bandeira. Já o Matias, apesar de ser bem bonito, não me atraiu tanto assim. Devo admitir que existia uma diferença muito grande entre os dois. O Raul era pura sedução, mas eu não queria apressar as coisas.
Minha mãe finalmente se mudou e meu pai veio morar no nosso apartamento. A dinâmica da casa mudou completamente. Ele permanecia mais no quarto dele, conversava bastante com o Pedro, meu irmão, mas me dirigia pouca palavra. Eu já não me sentia com tanta liberdade de trazer alguém para o meu quarto. Preferia evitar qualquer briga ou situação constrangedora. Afinal, tudo era muito novo tanto para mim quanto para o meu pai. Eu não havia esquecido das palavras que ele disse no passado, mas como não era independente, teria que aturar certas coisas.
No final de semana, toda turma marcou um churrasco na casa de uma das nossas colegas, a Haíssa. Seria um churrasco para integrar a turma, e foi ótimo. Bebemos e nos divertimos bastante. Quando deu 21h, já estávamos bem alterados - eu, Matias e Raul.
— Vou pedir o Uber, querem ir lá para casa? — perguntou Matias, meio bamboleando.
— Tem cerveja lá? — perguntou Raul, com aquele sorriso maroto.
— Sim, mas não sei se tem suficiente para nós três. Mas tem uma conveniência perto — disse Matias.
— Fechou então! — falei animado, abraçando meus novos amigos.
Mandei mensagem para o meu pai dizendo que iria dormir na casa de um amigo. Quando chegamos no apartamento, descobri que Matias morava sozinho. Os pais dele eram do interior e, como ele passou no vestibular, alugaram esse apartamento que ficava perto da faculdade. Era simples, mas aconchegante.
Compramos mais bebidas na conveniência e ficamos conversando sobre diversas coisas. Falamos sobre os professores, sobre nossos sonhos, sobre a vida. A conversa fluía naturalmente, regada a cerveja e risadas.
Até que Matias disse que iria dormir. Isso já era quase meia-noite.
— Cara, estou acabado — ele bocejou. — Vocês se virem aí. Tem outro colchão e uma rede.
Me ajeitei na rede com o Raul. Ainda ficamos conversando baixinho, lado a lado, sobre coisas aleatórias. Quando Matias começou a roncar, a gente ficou rindo tentando abafar o som.
Foi então que nos olhamos em silêncio. Havia algo no ar, uma tensão diferente, uma eletricidade que eu não conseguia ignorar. Sem dizer nada, sem pensar duas vezes, puxei o Raul para um beijo.
E começamos a nos beijar perdidamente, com fúria, desejo e sedução. O beijo dele era bom, era diferente. Bom, na verdade todo beijo que eu relato é como se fosse único, não é mesmo? Mas faz parte da vida - cada amor e cada aventura que vivi foram únicos.
Eu e o Raul continuamos nos beijando, e aos poucos fomos tirando nossas roupas. Nós tocamos com uma urgência que vinha de uma semana de tensão não resolvida. Depois nos deitamos no colchão, segurei o pau dele com a mão e babei olhando, era um pau de respeito, devia ter uns 23cm, acho que um dos maiores paus que eu já tinha visto na vida, comecei a chupar como se não houvesse amanhã, o Raul gemia baixinho, empurrava sua pica na minha garganta me fazendo me engasgar, me puxava para um beijo, tocava no meu pau, lambia minha orelha, passava a língua no meu peito, no meu pau, não rolou penetração, mas foi algo diferente e gostoso, ele gozou na minha boca e eu gozei na dele, e trocamos um beijo quente, compartilhando o gozo um do outro, depois nos detemos juntos com os corpos entrelaçados, respirações ofegantes.
Ele apagou primeiro, e eu apaguei logo em seguida, com um sorriso no rosto e o coração ainda acelerado. Às vezes as melhores coisas acontecem quando a gente menos espera.