26 (Bruno)
Eu acho que comecei a me amar.
Não sei, desconfio. Muita coisa mudou. Não ao meu redor, dentro de mim, acho que houve muitas revoluções cá dentro em pouco tempo.
Mas a história acontece há vinte anos na Irlanda, num pub onde eu era faxineiro, trabalhava no estoque e frequentemente colocando bêbados para casa. Sem falar mais que vinte palavras em inglês, as pessoas no bar falavam comigo apontando para coisas, um dia um sujeito que gargalhava alto e falava fluente e reunia tudo mundo ao redor falou comigo, havia falado com Otávio estava fazendo mestrado em antropologia e o trabalho era sobre as formas como trabalhadores estrangeiros são tratados na Europa Irlanda e Espanha), ele falava com os empregados, os empregadores e os colegas nativos no emprego. Aprendi muito com Otávio, depois nos tornamos amigos, ele colou um doutorado sobre trabalhadores sul-americanos do sexo no continente europeu, claro que ele falava sobre gênero, etnia, racismo fenotípico e nacionalismo, era incrível e dessa vez a gente era correspondente um do outro, eu aprendia a ler e escrever em português, mas falar que é bom, nada. Aprendi inglês, e arranho uma bobagem em italiano, porque ele fez campo na Itália, depois não conseguiu emprego e ficou se prostituindo na Itália, a gente é muito amigo, mas ele sendo gay, eu sendo hétero e esse assunto nunca foi assunto, quer dizer meus outros amigos não acreditavam que eu não ganhava nem boquetinho, ele falava que os amigos dele pensavam o mesmo que os meus amigos, mas do lado de lá e de cá era o mesmo pensamento e a mesma limitação. Ele escreveu sobre isso e publicou, “Estivadores e garotos de programa não conversam”, o livro não saiu em papel, só ebook, e foi um fracasso de vendas, mas está dedicado à nossa amizade, depois ele foi trabalhar em construção cívil, me ajudava em alguns momentos e eu também já dei a mão a ele outras vezes, a gente é muito unido, quando eu penso em irmão... os meus não contam, a gente teve a mesma origem, a mesma infância, mas cada um só por si depois da morte de meus pais, Otávio me escuta, ele me olha e me lê sem eu dizer nada, a gente é irmão.
Conheci um cara que me empregou em um barco, muito mais pra dar segurança emocional ao dono do barco que tinha medo de água e só tinha o iate pra pagar de poderoso para os amigos e levar as amigas da filha dele pra comer no barco, ele era nojentinho, mas pagava bem, empregou Gabriel e a gente ficou bem amigos também, não como Otávio, eles se conheceram e até foram pra cama juntos, Gabriel pegava o que surgisse pela frente, sem nois, são amigos também, mas é diferente, entre Otávio e eu é diferente.
Brasil e ele trampando para mandar grana para o pai doente, voltou a fazer programa, a vida tava uma merda pra ele no período em que eu estava no Brasil, quando eu voltei com Érica, porra, ele tava mal, sem grana, sem pai, sem mãe e a família sem dar aquela força pra chamar ele pra casa, dormindo em abrigo público, tava foda.
Érica foi uma merda, eu sabia que ia dar errado, mas eu me iludia, sei lá a cama era boa demais com ela, era sexo e era mais, era uma coisa de cheiro, a pele tinha memória, era foda, mas ela era uma vaca, não porque a boceta dela pedia pica nova, pica nova e mais pica nova, ela me traia deixando a coisa pública, o desejo dela era me fazer de corno, eu dei uns tapas nela pra ver se a puta se emendava, se fez de vítima pra fora de casa, paguei de abusador, queimei meu filme e ela admitiu que adorou apanhar, deu um tesão nela, ela me procurou depois disso e eu disse não, sei lá de repente no fundo do poço eu peguei nojo, não de mulher, dela, só dela, ela se esforçando para atrair minha atenção, eu via os caras saindo da minha casa, ela me perguntou se eu estava cobrando aos caras com quem ela podia, claro que sim, toda a grana passei pra Otávio, ele não sabia, isso era baixo, mas era o que me salvava também, estava acabado, disse que ela tinha uma dúvida, eu estava querendo vender aquela mercearia, e ela não queria sair, ia assumir a dívida.
Saí de casa e foi quando Noah veio me ver, ele tinha umas coisas pra resolver mas veio, pegou um avião no mesmo dia, eu podia ter ligado pra Daniel ou Gabriel, mas não sei porque eu confiei que esse ia me falar algo e ele ia resolver com uma ideia, um conselho.
“Estou indo agora te ver, vou te mandar um endereço, vá você e seu amigo, eu vou resolver tua vida.”
Ele colocou advogado no calcanhar de Érica e pediu um monte de coisa ou a desocupação do imóvel, acredita que ela não há ia juntado um centavo? Dava para os caras que a fodiam, como pode ser tão burra? Otávio diz que tem gente que gosta de velocidade, e o corpo acelera na queda.
Noah nos vestiu com ternos elegantes e fomos a algumas reuniões, a gente parecia segurança desse armário que ele é, mas eu ainda sou maior que ele, malhamos muito e saíamos em boates a procura de sexo fácil e diversificado, um carinha estava se jogando em Otávio que ria e dizia que era muito, muito diferente ser o pagante na relação, Otávio é sempre esse curioso, sempre usando o mundo como campo de pesquisa, o rapaz sai do colo de Otávio e senta no meu, coloco a mão na perna dele, do absoluto nada ele me beija.
A reação de Otávio foi enorme, arrancou o rapaz de meu colo disse que eu não era gay, pegou uma grana empurrou no colo do sujeito e mandou ele desaparecer, Noah suavizou a história, os seguranças estavam perguntando se tudo estava bem, nunca vi Otávio perder o bom humor por nada, claro que já o vi chorar, ficar triste, depressivo, mas raivoso e violento nunca foram palavras para descrevê-lo em situação alguma, dessa vez...
Otávio se desculpa e foi embora até o banheiro, volta se desculpando, diz que foi um idiota com o moleque que tava fazendo o serviço dele, ficou mal, Noah mantinha o sorrisinho no rosto, eles estavam fodendo, Jarbas e Otto tinham conhecido Otávio por vídeo e eu me escondendo. Enquanto ele estava no banheiro Noah me disse que Otávio era louco por mim, completamente apaixonado, e ficou transformado com um beijo que outro homem me deu, e ele não pode dar, era uma reação adequada, duvidei, mas quando ele voltou do banheiro e eu perguntei se ele estava melhor ele disse que sim, só se sentindo culpado em relação ao garoto, Noah pergunta na bucha se ele sentia ciúme de mim, e ouve um sonoro não, e imediatamente Noah me beija, Otávio fica puto e se segura, ele não consegue segurar a lágrima, eu e Noah o seguramos ele estava pra sair correndo, eu que me desculpo, digo que nunca havia notado, “e não era pra notar, agora, você vai mudar, vai se afastar, e a nossa amizade vai morrer, e eu não terei absolutamente ninguém que goste de mim”.
O beijo que dei nele apagou todos os barulhos ao redor, os lábios dele eram macios e firmes e perfeitos e foi um beijo curto demais, e ele disse que não queria que nada acontecesse, queria manter nós dois, eu não tinha medo que algo acontecesse, algo estava acontecendo, Noah pergunta se a gente podia ir para o hotel e escolher a hora de voltar ao Brasil, sim era exatamente isso o que eu queria fazer, eu queria dormir na mesma cama que Otávio, eu queria que Noah me visse transar com Otávio, nunca fui exibicionista nem voyeur, mas era necessário, eu queria uma testemunha que enquanto Otávio entendia tudo, percebia tudo por vários ângulos, eu não sabia nada de mim, eu não suspeitava que aquela boca era tão maravilhosa quando não saiam palavras dela, quando minha língua entrava dentro daquela boca, porra, que boca, era como se eu estivesse começando a beijar pela primeira vez.
Claro que eu queria mais, queria ver o corpo dele com minhas mãos a gente foi “dançar”, o tanto de gente se tocando, uns caras e umas meninas e eu ali no meio daquilo com ele, a bunda dele, a risada dele, o gosto do suor no pescoço dele em meu beijo e aquela mão dele na minha bunda também, Noah foi chegado devagar, perguntou se podia brincar com a gente só um pouquinho, óbvio, ele me beijou novamente, e depois beijou Otávio e dessa vez eu não senti ciúme, Noah encostou o pau duro na minha bunda e mandou eu fazer o mesmo com Otávio, caralho, que coisa gostosa, eu sentindo o corpo de um homem meu, eu disse que ele era meu namorado, que a gente ia continuar sendo amigos pra sempre mas eu era o namorado dele, Noah disse que a gente tinha hora pra voltar para o hotel, podia dar mais um tempo mas ele estava indo, a gente também foi, encontrei com o carinha que se deu mal com Otávio, fui falar com ele, ele não entendeu nada do que falamos, Noah pega o celular e coloca no tradutor, depois mostra uma foto do mapa mundi, o rapaz abre até chegar na Polônia, [Czy zostałeś tu porwany? Potrzebujesz pomocy w ucieczce?] o garoto diz que sim, [Czy ufasz nam, że zabierzemy Cię gdzie indziej? Żadnej prostytucji, żadnej legalnej pracy, zgodnej z prawem, w ambasadzie i wszystkim innym?], o rapaz olha pra Otávio e diz não, depois segura o pulso de Noah e concorda, Noah falou que o rapaz estava sequestrado, era um corpo que ia ser descartado rapidinho, pobre, de país pobre e bem machista, ele não tinha pra onde voltar e as marcas no braço dele eram... complicadas.
A gente saiu da boate num clima diferente de quando entramos, ele deixou o lugar avisando qual o hotel para onde iria. Eu não sabia de nada do que aconteceu aquela noite a Januzs, ele foi para outro quarto com Noah.
Mas quando chegamos no nosso quarto eu coloquei uma música no celular, Otávio desligou, não queria um climinha, disse que quando amanhecesse eu estaria arrependido, que ia falar que foi um erro, então queria que eu prometesse que ia me esforçar para fingir que eu tive um sonho, um pesadelo, nada, eu não falei sobre isso, eu disse que ele iria ficar decepcionado com meu pau pequeno e ele tinha de me prometer quando o dia amanhecesse que a gente ia fingir que foi apenas um sonho, um pesadelo, ele riu, disse que meu pau não era pequeno, já viu, era maior que o dele, e o dele faz sucesso, eu disse que tinha medo dessa propaganda, ele falou que eu não precisava ver o dele, eu não queria ver, eu queria sentir em minha boca com os olhos fechados, ele ficou sem acreditar no que falei, a gente estava lado a lado sentado na cama do hotel, tímidos depois de vinte anos de intimidade. Eu me ajoelho na frente dele e começo tirando os meus sapatos e os dele, ele imóvel, peço pra ele tirar a camiseta, gordito, muy poco pero gordito, enfiei minha língua no buraco de seu umbigo profundo, ele ria de cócegas e de tesão era meu jeito de dizer que o fim eu estaria com o pau no cu dele, a voz dele é bem mais grossa que a minha, abria a calça dele e ele se ergueu um pouco, a cueca babada não dava conta de segurar o meninão, eu segurei depois de rasgar aquela cueca meio esculhambada e ele revirou os olhos ainda tímido, eu recebi muito boquete, não podia ser tão difícil, “cuidado com os dentes, amor”, era frase do passado dele, um amor que era o homem que estivesse diante dele, mas eu queria que fosse diferente, pedi para ele me chamar de amor olhando no meu olho, e ele sorriu e chamou e eu fiquei apaixonado, e a gente se beijou, e eu voltei a lamber o pau dele como se fosse um sorvete, um picolé que precisava de uma chupadinha na ponta do pau, então com a boca cheia de saliva eu fiz aquilo desaparecer em minha boca até onde pude e eu não era muito ousado, não cheguei nem na metade, ele riu, disse que não ia ficar metendo em minha boca como os héteros fazem com uma boceta, que pena...
Chupei e chupei e ele mandou eu tirar a minha roupa também e me deitou na cama, deixou minhas pernas pra fora, então ele fez do jeito dele, caralho, meu pau é grosso como o dele, grandão, maior que o dele, ele beijou meus pés, chupou os dedos de um deles, disse que fez o que precisava ser feito quando fez o que eu não faria, mas não ia se desculpar por isso, foi divertido, foi bom, ele gozou de verdade em mais da metade das vezes, e algumas vezes alguém o reconhece, talvez eu não saiba lidar com isso no futuro, ele não sabe, mas o estranhamento para ele é fundamental, não saber o que fazer... Eu pergunto se alguém já disse que o amava de verdade, amava profundamente por ele ser quem ele é conhecê-lo mais que qualquer outra pessoa? Ele balançou a cabeça dizendo que não, “lide com o fato de ser amado, eu nunca me envergonhei de você, espero que você sinta orgulho de nós dois”, ele respondeu engolindo meu pau, sem soltar, deixando a garganta sofrer e se remexer abrindo e fechado enquanto se engasgava comigo.
Fizemos um meia nove, eu estava decidido a treinar muito esse negócio de chupar rola, caramba a quanto tempo ele e eu poderíamos estar juntos? Otávio ficou de quatro e rebolou, adorei ver o cuzinho dele, um botãozinho enrugado que eu quero e vou deixar liso, chupar cu eu sei, eu adoro, eu fiz meu melhor, e arranquei muito gemido de meu namorado, bati na bunda dele pra deixar marcado, ele me chamando de gostoso, amor, desgraçado, pediu pra eu comer ele, foi atrás de uma camisinha, obrigado pelo PrEP, disse para ele confiar em mim, eu sabia que Érica não valia nada, nunca me descuidei, eu ia encher o cu dele de porra e ele ia ser meu marido, eu ia encher o rabo de meu marido de gala, muita gala, e meu marido ia depois limpar meu pau, porque eu sou um fodedor e estou apaixonado. O puto me sorriu, pergunta se era real.
Tava na hora de sentir a realidade.
Fui entrando devagar, porra, era diferente, ele me queria, ele me amava, certamente muito mais que o contrário, eu estava entendendo, cacete, até esse momento, até ele me amar eu precisava muito da validação dos outros, eu sou um homem bom, ninguém precisa confirmar isso, eu sei, e eu sei que ele sabe.
Agora eu acho que gosto de mim.
Tava uma delícia, eu sei que estou exagerando, mas era muita coisa, era emocional, “Me come como macho, porra, vai, mete com vontade, eu sou exatamente como você, e eu gosto forte, e você também vai gostar”, caramba, eu sou burro, quando ele disse que eu também ia gostar, era naquela hora que pegando mais forte eu também ia gostar ou era pra dizer que eu vou ficar de quatro ele vai meter e eu vou gostar? Travei.
Otávio parou também deitou e bateu do lado da cama, deitei, ele disse que tudo bem, estava assustado também, que esquece que esse tamanho, esses músculos e essa pele coberta de tatuagens, a cara de mau, o cabelo raspadinho, eu ainda sou o cara mais romântico, inocente, descente e mais bonito por dentro que esse gostoso pauzudo que sou por fora. Eu tive de sorrir. A gente se beijou novamente, dessa vez minha mão desceu até o peito dele, e desci mais, e eu senti o saco dele, o pau dele tava mole, eu fui chupar novamente, dessa vez porque ele é meu companheiro, porque o amo, porque gostei, falei que se ele estivesse gostando o pau dele não teria desanimado, eu chupei como se eu fosse ele e soubesse o que estava fazendo, ele colocava o braço na frente da boca pra não gritar, chupei os ovos e cuspi no cuzinho, fui colocando novamente, mas dessa vez olhando a cara dele, ele estava apreensivo, mandei pegar o lubrificante e voltar pra mesma posição, eu não queria fazer bem feito, nem fazer pra me agradar, eu só queria ver a cara dele quando eu enchesse seu rabo de porra.
Quando eu entrei ele mostrou a garganta e eu fingi morder, me debrucei sobre meu marido, estava decidido, eu não queria me separar dele, eu queria o contrário entrar nele e viver dentro dele, cada martelada na sua bunda era uma tentativa de me colar nele e a próxima era mais forte se eu pudesse, meu coração em disparada, ele... parei me joguei de lado, ele conseguiu voltar a respirar, me beijou sorrindo, “porra, Bruno, o que é isso?”
Se pediu, aguenta.
Empurrei ele de lado e empurrei dentro, eu percorria o corpo dele de meu jeito, sem pressa, fora de ordem, ele agora estava com o cacete animado, a mão dele não dava sossego à pica dele, não medi tempo, mas fiz o que disse que ia fazer, deixei o cu dele cheio de gala, bastante, nem de longe foi o meu melhor, mas foi o melhor que eu já ganhei de alguém. Eu dei uns beijinhos no ombro dele e caí de barriga pra cima no colchão, ele ficou quase sentado em minhas costelas, suas mãos em sua pica e saco, as minhas em suas coxas e bunda, sentindo meu esperma escorrer, em coisa de um minuto é ele quem explode, quatro jatos e só o primeiro em meu rosto. Eu quero beijá-lo, o peito liso dele deslizando em minha pele coberta pelo sabor azedo e salgado de quando sua rola soltou esperma em minha cara, “a próxima se você jogar essa... essa porra em minha cara vou te cobrir de porrada,” eu falei e ele ficou mudo, perplexo, “você tem que ter a boa educação de gozar dentro de meu cuzinho como eu fiz com você”, ele me deu uma porrada de tapas, ficou realmente assustado e depois quis se levantar, mas eu segurava suas coxas.
Me virei e ficamos bem na borda da cama, a gente se beijou, “Que bonitinho! Nunca vi uma foda tão meiguinha!”, a presença de Noah no quarto assustou nós dois e a gente quase caiu, para causar uma gargalhada no grandão, ele mandou a gente ir para o banheiro e começou a ficar nu, eu já o vi no desde o segundo dia de trabalho com ele, Érica veio me chupar e ele nu observando o que eu fazia com ela, Gabriel e Daniel de joelhos chupando a rola dele, contudo havia algo diferente em vê-lo nu agora, agora eu não tinha constrangimento, nem indiferença como quando o vi de quatro dando para Otávio, dessa vez eu o vi e eu estava com interesse.
Tomamos banho, Otávio fala pra cacete depois de foder, não era coisa do nervosismo da primeira vez, ele é estranho depois de foder fica falando sobre às vezes que ficou imaginando como seria o próximo movimento, que queria ter sentado no meu pau, que gostou quando o chupei da segunda vez, que algum dia ia querer fazer com alguém nos vendo, mas sabendo que tal pessoa estava ali. Fala. E fala demais. Aí eu digo, eu te amo, pergunto se ele imagina isso e ele se cala, e não falamos sobre esse hábito estranho dele. Naquela noite eu não sabia, eu só o beijei depois que desliguei o chuveiro, ele parou, “eu falo demais...”, “eu falo de menos”, ele ficou vermelho, a gente é bem diferente em muita coisa, a gente se completa bem certinho.
Claro que se num quarto tem uma cama de casal e uma de solteiro o casa fica na cama maior e o solteiro na menor, mas depois do banho de Noah ele pergunta se ia deixar Otávio ou eu no meio da cama. “Não, Bruno, eu não durmo só em uma cama nunca, se eu estiver viajando, eu chamo um garoto e pago só pela necessidade de dormir ao lado de alguém, mesmo que eu não encoste nele, absurdo fazer diferente, ainda mais quando eu trepei com seu noivinho antes de você, porra somos amigos e em respeito a você eu vou tentar dormir de cueca.”
Foi uma guerra que eu tinha de batalhar, ele se divertia, eles se divertiam, “claro que vocês vão lá pra casa, mas somos doze, vocês vão abrir mão não só do sexo com esse harém como da possibilidade de deitar em uma rede agarrado a Gabriel, por exemplo?”, ele falava de tamanhos e espessuras e cores, e de bocas e do volume de bundas, e de peitos peludos, e da pele lisa, e tons de pele, o peso do saco de um e de outro e quando me vejo estou de braços abertos acolhendo meu companheiro de um lado e esse “cafetão” do outro.
Amanheci curioso com a história do polonês. Noah foi com ele para um quarto menor, mandou que ele ficasse nu e verificou a roupa do rapaz, drogas, armas, escutas, tudo, ele tinha tudo, escreveu que ele ficasse sem falar nada e o que ia fazer, levou a escuta consigo e a deixou em uma lixeira no corredor, mandou o rapaz se vestir e ligou para a polícia e para o consulado do Brasil, quer dizer, para o consulado, pediu abrigo provisório para o rapaz e um visto de permanência para mim.
E depois disso explicou para o rapaz que um afilhado seu colocou uma dupla de irmãos em sua casa, agora estão no iate, e se antes fizeram da sorveteria um ponto de venda de drogas, agora estavam fazendo do iate esse ponto de vendas, mas quando Gabriel soube e contou a Daniel e a ele, eles resolveram só não usar o iate por um belo tempo, e deixar a Federal se inteirar do caso, produzir bastante provas para pegar o máximo de gente possível e para evitar que houvesse qualquer possibilidade de alguém ser arrolado no fato, mas Gabriel estava praticamente desmontando o motor para evitar qualquer possibilidade de alguém usar o barco para passeio, tráfico ou fuga. Portanto era prudente saber quem era o polaco antes de oferecer pra ele o emprego de zelador.
Caramba, caramba, o iate sendo palco pra um crime, isso era revoltante, e a quebra de confiança, de toda forma a polícia “recebeu uma denuncia anônima” há quinze dias e nesse período vem fazendo uma busca de provas para toda a narrativa que eles já tem, e os caras vão ser presos, e Daniel vai ser indiciado e logo em seguida será afastado. Não sei como, mas tem problema que nem tem nada a ver com a gente e cai no nosso colo. Por isso ele olhou sério para Otávio e perguntou sério que tipo de problema ele o trará, porque sabe que ele não tem absolutamente ninguém no mundo além de mim, e que estou na mesma condição, que gosta imensamente de mim, mas se nós colocarmos a segurança e tranquilidade de Jarbas, Otto e dos outros em risco, seria o último parágrafo de nossa história, no caso dos garotos a história era que precisavam alertar os filhos de Uchôa sobre selecionar bem as pessoas ao seu redor, de outra forma, se não fosse por esse alerta, levariam a dupla para uma milha ou duas em alto-mar, depois deixá-los lá a quilômetros da costa, nadando enquanto veriam o barco se afastar. Porra, morte lenta e dolorosa, desesperada e sem saber se morreriam de sede, exaustão ou frio, “Pois é, mas e um estrangeiro pego por tráfico perto dos cinquenta anos, o que seria de Gabriel? Eu não tenho pena de quem fizer meu capitão correr risco por algo que não fez, Daniel, Gabriel e eu estamos colaborando com a justiça para não termos de fazer ela com nossas próprias mãos. Vamos para o aeroporto?”
Noah voltou a ter o mesmo tom. Falei com Otávio sobre essas duas personalidades, Otávio disse que toda humanidade tem dois perfis, no mínimo, Noah ter colocado as cartas sobre a mesa só lhe dá vontade de fazer tudo o que fosse possível para manter a amizade com ele, “Lealdade e companheirismo é coisa da Disney, não tem na vida real”, é dizer muito obrigado e manter-se dentro dessa matilha.
A nossa chegada foi um caos, um transtorno, aeroporto lotado, vôos cancelados, pistas sendo fechadas, depois de nosso pouso só mais um e porque estavam quase sem combustível. Sem táxi, alugamos um carro, foi aventura, a chuva não estava tão forte, mas o céu estava inteiramente fechado, a luz do sol era baça. Enfrentamos congestionamento, o caos, mas chegamos em paz.
Quando entramos em casa, encharcados, que felicidade, Gabriel e Daniel vieram correndo me abraçar, eu me senti a vontade e confiante de lhes dar um beijo na boca, rápido e quente, ao menos era assim que eu podia descrever os beijos de Noah em mim, então esse era o beijo que eu deveria beijar, apresentei Otávio, “esse é meu homem, Daniel, ele se chama Otávio.” Gabriel não se surpreendeu com minha relação com Otávio, mas com o beijo sim, aliás eu acho que causei alguma agitação, subimos para uma ducha, vestimos short e camiseta, estava frio lá fora, mas a casa estava fechada com muita gente, o vento era forte, mas havia um relativo mormaço e um cheiro do que sobrou do almoço e de homem.
Ao que tudo indicava iríamos ficar num quarto só nosso, descemos, comemos, não nos deixaram lavar os pratos, Noah ainda com os machos dele, desceu bem depois, já pra jantar, com um sorriso de orelha a orelha, disse que havia uns dez contratos para assinar, e eu fui testemunha disso, mas disse que o motivo mesmo de viajar assim sem nada programado era eu, todos olharam pra mim com uma cara benevolente e eu fiquei muito feliz.
Iríamos jogar depois de ouvir a história de Sérgio, mas a luz caiu e a gente teve mesmo foi de ir para cama, Sérgio foi ver um colchão extra no quarto de funcionários, o pior é que ainda levou Otávio, mas ele não sabia, peguei os dois e expliquei que ou Sérgio dormia no sofá, ou fazia um ninho de edredons no tapete, outra solução era tomar um banho gelado e dormir, mas eu disse que ia fazer o maior gelo a noite, ele podia fazer o ninho dele no nosso quarto, a gente estava chegando cansado de viagem, e ele era inteligente o suficiente para não pedir para a gente se comportar.
Ele disse que ia tomar banho e descer, ok, depois do banho ele sentiu a temperatura amena do quarto e o frio do corredor, constrangido, tentou desfazer o arranjo e eu mandei ele entrar, foi procurar fazer seu ninho, Otávio estava indo pra ducha sozinho, ele me pergunta a quanto tempo estamos juntos, a um dia e também há mais de vinte anos, conto em três minutos nossa história, escondi alguns detalhes da vida de Otávio, que volta de roupão e diz que infelizmente teve de lavar o cabelo, as vantagens de ser careca, lá vou eu para o banho, a gente se beija, Sérgio fica encostado na porta de costas para a gente, eu digo que tudo bem, ninguém naquela casa era muito exposto, mas dentro da casa não havia muito esse conceito de parede e privacidade, ele vira tentando manter o olhar acima de meus ombros, “você era hétero mesmo?”, “sei lá... e isso importa?”, quando estou me enxugando ele me observa, eu bem queria me exibir mais fico contido, ele não era nem sequer um amigo, há limites inclusive na putaria.
Ele estende um edredom dobrado e joga uns travesseiros por cima, ele fala que pode sair e se demorar lá fora uma hora antes de voltar, Otávio diz que fez um monte de pesquisas sobre sexo, que era antropólogo e já trabalhou num book rosa, ou azul, e ri, diz que não sabe de tudo, mas pergunta o que ele quer saber de verdade, eu bato na borda da cama e mando ele se aproximar, ele estava com uma camiseta que eu acho que podia ser de Otto ou de Noah, ele pergunta como nós notamos que havia algo de errado conosco, me veio a vontade de responder com a pergunta de o que ele acha que está errado nele. Otávio disse que de errado nada, mas havia algo que estava diferente do que havia no pai dele, mas como ele sempre foi amado e aceito nunca se sentiu errado, só especial, mais ou menos adequado a cada cenário, em alguns estava mais encaixado e noutros não, e quando morou na Europa era como, por ser estrangeiro, era logo descoberto como o outro, o estranho, como homem gay, sempre se soube igual a todo mundo por ser homem e às vezes diferente por ser gay, mas era isso homem antes de gay, homem branco, homem pobre, homem intelectualizado, homem latino americano, nunca deixou de ser homem, até quando era feto era homem, imagina sendo meu marido...
Segurei a mão de Sérgio e perguntei se ele era um homem diferente, “Diferente de você? Não. Só me assusta esse absurdo de aqui o mundo funcionar diferente do lá fora.” Otávio perguntou se ele já falou sobre isso com alguém, e se ele estava bem, Sergio disse que talvez já tivessem desobstruído a estrada, eu falei que ele deveria tentar dormir, tudo sempre claro de manhã, ele levantou da cama e perguntou porque beijei dois outros homens quando tenho um companheiro, eu não quis parecer obsceno, mas ele era observador e sugeri que havia poucos quartos para o número de casais.
Ele sentou novamente e perguntou a Otávio se por ele estava tudo bem, Otávio o observou um homem preto de meia idade, musculoso, com a cabeça quase raspada e barba desenhada com esmero, me beijou e depois colocou um dos pulsos na cama, colocou a outra no ombro dele, o aproximando, dando um tempo para que Sérgio pudesse entender o que estava para acontecer e por não fazer nada, e isso foi o suficiente para Sérgio não terceirizar responsabilidade, ‘a culpa foi de vocês’ não era uma coisa que Otávio ou eu precisássemos ouvir. Beijei Otávio, escorreguei pela cama e me ajoelhei diante de Sérgio beijei o pau dele por cima da calça, Otávio forçava minha cabeça de leve, me afastei um pouco e puxei o short de Sérgio pelas pernas, ele se ergueu, foi ele quem se fez ficar nu, eu disse a ele que ele poderia dizer pra si mesmo que foi um delírio, que não aconteceu que foi algo imaginado no sonho. Sonho é papai dele, uma coisa preta grande e grossa com uma selva enorme de pentelhos na outra ponta, pelos que fazem a barriga cabeluda e sobem quase nada pelo meio do peito.
Eu sei que não sabia tanto como fazer, mas sabia o que devia evitar e fiz o melhor que pude, dei uns beijinhos na ponta antes de abrir a boca o máximo que pude e empurrar até sentir desconforto, ele gemeu e quando parei a luz acendeu, ele me beijou em retribuição e disse que as coisas estavam claras agora. Ele tirou a camiseta dele e a minha, juntos mordemos os mamilos de meu marido, e eu estava feliz em não sentir ciúmes, Sérgio perguntou se cada tatuagem tinha um motivo, eu disse que sim (claro, o motivo é eu estar a fim de fazer elas, o que ele quer saber se eram um diário de minha história e é não, mas eu queria seduzir), mostrei meu bíceps de halterofilista e disse que gostava daquela, era uma sereia nadando ao lado de um tubarão martelo, “um de vocês dois é o tubarão”, ambos riram, a luz cortou o clima e a gente teve de recomeçar.
Apaguei a lâmpada do quarto deixando a do banheiro nos banhar à meia-luz, Sérgio queria sentir tudo numa noite só, uma para não ter outra, para saber porque ele gostava tanto de ver no celular um cara foder uma mulher e depois ser fodido por outro cara, ele queria provar tudo.
Acabo deitado no meio da cama mãos na nuca, nu; cada um de um lado decorando meus desenhos, usando dedos e língua na minha geografia, Sérgio estava nervoso, como quem pratica um crime pela primeira vez, eu pego o rosto dele, digo que ele vai fazer somente o que quer fazer, e vai fazer tudo o que quiser, e temos tempo, e ninguém vai saber, e se souber, nada vai acontecer, porque nada o que estamos fazendo é errado, não somos pessoas erradas, e eu o beijei, “por essa noite, Serginho, você é amado, por essa noite você é nosso na mesma medida que somos de você.” Otávio se aproximou e me beijou, depois a ele, e eu tive meu primeiro beijo triplo e procurei a bunda de cada um deles e dei um tapa nelas, e fiz isso com sorriso de moleque, chupei o novato enquanto meu marido me chupou, Otávio depois veio junto com sua pica e eu tive de alternar, Sérgio foi com ele para ambos mamarem minha pica, cada um chupando um ovo, fodi a garganta de ambos, “amor, fode nosso preto”, Sérgio ficou sem ação, fui colocando ele de quatro e disse que ia brincar bastante, mas foder só quando ele pedisse, chupei o cu dele, passei um lubrificante com gosto de morango (caramba, esses sabores de chiclete são horríveis, um dia vão pensar em cebola caramelizada e por um nome como trapaça, chupar um cu com gosto doce de trapaça, deve ser foda), mas enfim, se mamar pica eu não sei, comer cu já me deu diploma, passei gel, pus só a pontinha e dei pra Otávio chupar, claro que ele elogiou aquele gosto de morango de farmácia, mas faz parte. Sérgio abriu mais relaxou um pouco mais, Otávio veio ver a olhota e ficamos alternando entre quem passava a língua mais dentro dele, Sérgio estava entregue ao cunete.
Agora é hora de dedinho, caramba, eu nasci pra isso, para esse negócio com macho, ele com cabeça e peito no colchão, recebendo tapas na bunda, enfiei o dedo, ele gemeu, ele gemeu e piscou o anel no meu dedo, ele gemeu, piscou o anel no meu dedo e disse vai, eu estava louco de meter rasgando, mas ia querer esse puto implorando, apontei pra Otávio e disse que o cabaço que ele ia comer era o meu, me beijou, eu disse ao moreno que um dedo era bom, mais que isso ia doer e ele não ia gostar, ele piscou sem dizer nada pedi para ele abrir o bumbum para facilitar por dois dedos, o safado abriu bem a regada e empinou bem o traseiro, esse porra o já deu essa porra antes ou era o maior enrustido do planeta, dois dedos entrou com dificuldade monstra, esse porra deda o rabo sozinho, mas é virgem, uma porra que não era a segunda dobra dos dedos nem chegaram perto, “tira, tira, por favor, tira”, obedecer a gente obedece, mas a vontade é de empurrar até o fundo, beijei o cu dele novamente e pergunto se ele queria que eu o comesse ou se... “quero”, “você quer que ele te foda, ou você quer controlar tudo e sentar na pica dele?”, essa ideia de Otávio era maravilhosa, sem problemas para mim, Sérgio disse que queria ser dominado, forçado, eu me enchi de ar e vaidade, dois homens lindos só pra mim, meu marido segurou meu pau e me fez entrar no cu de Sérgio, porra, porra, a cara dele de alegria, de satisfação, nunca vi tanto prazer em comer um cu dentro de mim, se meu pau não estivesse sentindo nada, só aquela cara...
Senti uma passada de dedos no rego de minha bunda, “Sérgio fica bem quietinho, eu vou comer meu marido do mesmo modo que ele tá te comendo”, achei uma filha da putice esse vagabundo usar desse momento para me foder sem me dar qualquer chance de dizer ‘depois’, achei, Otávio é um filho da puta, mas esse tipo de malandragem que eu não tenho, eu morro de orgulho nele.
A presença de Otávio dentro de meu corpo foi algo sem dor, sem algo transformador, ele entrou onde era o lugar dele, quando ele terminou eu comecei a me mover trabalhando na foda da frente e na de trás, e eu estava delirando, eu claro, precisei me segurar para não gozar quase imediatamente, Sérgio se ergueu do colchão e encostou suas costas em meu peito, foi gostoso, mas fez a gente desencaixar, era o que ele queria, ele me beijou e se deitou com a barriga pra cima, Otávio, sai de dentro de mim e foi comer Sérgio de frango assado, eu fui direto colocar meus dedos no espaço que ele deixou, ele me sorrindo, eu o preenchendo, a gente se alternando entre quem dava ao outro e fodia o bancário. Foi incrível, chegou um momento e eu não segurei mais, foi dentro de Sérgio, o rabo dele estava arregaçado, cheio de porra, uma boceta bem molhadinha de um homem pauzudo, a gente o levou para o box e chupou ele até ele gozar, deve ter levado um minuto.
Adorei a conversa que tivemos durante o banho: “você vai dormir em nossa cama, né?”, “é”, “foi bom?”, uma onda de beijos uma pegação, mas a noite anterior, a mudança de fuso horário, voo, o percurso do aeroporto até aqui... Ok. Sono.
Dormi entre ambos. Meu marido e meu namorado, Sérgio disse que não era namoro, ok. Pela manhã, oito e meia ou nove, acordei, ele estava alvoroçado para ir trabalhar, desaparecer, Noah abre a porta, deseja bom dia e diz que vai passar uma conta bancária sua para a gerência dele, mas ia falar sobre isso na mesa do café. “Treparam com ele?”, “não, imagina”, “mandaram bem, ele é bom de cama?”, “hipoteticamente, não, mas tem muito potencial, potencial material impressionante, eu diria hipoteticamente”, “espero você no café, Sérgio”, o diálogo entre Otávio e Noah é hilário até pra mim que entendo mais ou menos o português falado rápido, e junto com a vergonha de Sérgio, “se você disser que está nos conhecendo, essa vergonhazinha vai desaparecer, ou quando quiser aparecer novamente vai dar um trabalhão pra arrumar desculpas, melhor vir tomar banho e aproveitar, hoje parece que vai ser de sol”, disse Otávio abrindo a persiana blackout.
Porra, eu amo meu marido.