A brisa quente da Amazônia acariciava os rostos cansados da família Alencar enquanto eles se aproximavam da casa nova no bairro São José, também conhecido como "cidade" Garantido. Para Cauê, o jovem moreno de olhos vivos e sorriso gentil, essa jornada marcava o início de uma nova vida em Parintins, longe das ruas movimentadas de Manaus.
Sentado no banco traseiro do carro, Cauê observava pela janela sua nova realidade. Ao seu lado, Milena, sua mãe, irradiava uma mistura de excitação e nervosismo, ansiosa pelo novo capítulo que estava prestes a começar em sua vida como levantadora de bumbá no Boi Garantido, um dos principais itens do Festival Folclórico de Parintins.
Eron, o pai de Cauê, dirigia com o auxílio de um GPS, seu semblante refletindo uma mistura de emoções. Ele havia deixado para trás sua carreira como professor universitário para se dedicar à escrita e à poesia, uma decisão que, embora desafiadora, havia sido tomada em nome do amor pela esposa e pela busca de uma vida mais autêntica para sua família.
No banco da frente, estava César, o caçula da casa observava com olhos curiosos, absorvendo cada detalhe da nova paisagem que se desenrolava diante deles. E no colo de Milena, Repolho, o pinscher bravo e temperamental da família, espremia-se contra sua dona, parecendo tão ansioso quanto qualquer um deles para explorar seu novo lar.
À medida que o carro se aproximava da casa recém-alugada, uma mistura de expectativa e nostalgia se apoderou de Cauê. Ele se perguntava como seria a vida em Parintins, longe de amigos e familiares, entretanto sabia que esta mudança era importante para sua mãe realizar o sonho de ganhar destaque como levantadora no festival folclórico. Não havia espaço para arrependimentos, apenas esperança pelo que o futuro reservava.
Depois de algumas ruas erradas e muitos buracos, o carro se detinha diante da casa de paredes coloridas e telhado de zinco, a família Alencar compartilhou um olhar de cumplicidade, prontos para abraçar os desafios e as oportunidades que aguardavam no coração do Boi Vermelho.
— Essa é a casa? — Perguntou Cauê, baixando a janela do carro e sorrindo.
— Sim. De acordo com o GPS é a casa. — Respondeu meu pai, saindo do carro e espreguiçando o corpo.
— Ela é linda. — Destacou a mamãe, saindo do carro enquanto segurava um ansioso Repolho.
O pequeno muro que separava a casa da rua conferia uma sensação de intimidade, enquanto o jardim na entrada adicionava um toque de serenidade ao ambiente. Detalhes em branco e vermelho adornavam a fachada da casa, se harmonizando com as demais residências da região e a destacando como parte integrante do espírito festivo de Parintins.
Assim que Milena abriu o portão, Repolho saltou de suas mãos com um entusiasmo desenfreado, correndo pela entrada da casa e marcando território em vários cantos do jardim. Enquanto a mulher ria das travessuras do pequeno cachorro, Eron começou a descarregar algumas caixas do porta-malas, seguido por Cauê e César.
A família entrou na residência, sendo recebida pelo frescor do ambiente e pelo aroma suave de tinta recém-secada. Os móveis novos, alguns ainda embalados, conferiam um ar de expectativa e promessa ao espaço. Cauê não perdeu tempo e correu escada acima, assobiando enquanto escolhia o quarto mais ventilado para si. César, por sua vez, optou pelo quarto mais próximo ao banheiro, totalmente desanimado.
Enquanto os filhos se acomodavam em seus novos aposentos, Milena e Eron ficaram com a suíte principal, desfrutando da privacidade e tranquilidade que o espaço oferecia. Apesar do cansaço da viagem, o casal decidiu organizar seus pertences e pediram para os seus Cauê e César fazerem o mesmo.
— Será que decidimos a coisa certa? — Perguntou Milena, deixando algumas peças de roupa em cima da cama. — Eu não quero que os meninos sejam prejudicados.
— Eles não vão, meu amor. — Eron afirmou e pegou no ombro da esposa. — Eles também querem que você realize seus sonhos. Quando é a sua apresentação?
— A estreia é no Carnailha. Amanhã tenho uma reunião com o Presidente Ribeiro. — Contou Milena, que não parecia tão animada.
— Ei, você abdicou demais. — Eron tocou no rosto da mulher e sorriu. — Eu não me arrependo nem um pouco de ter pegado essa licença. — A abraçando.
A primeira coisa que Cauê fez? Ligar o ar-condicionado. Logo nas primeiras horas, o jovem percebeu que o calor de Parintins superava o de Manaus. Em seguida, ele tomou um banho e decidiu fazer uma chamada de vídeo com o melhor amigo, Henrique.
— E Parintins? — Perguntou Henrique, que estava usando a farda da escola.
— Acabei de chegar. Quase um dia dentro da balsa. Foi a pior viagem da vida. — Revelou Cauê, colocando o celular de lado e enxugando os cabelos com uma toalha.
— Puxa vida. É longe pra caramba. Tu vai trabalhar no Garantido? — Quis saber o rapaz, colocando os óculos de grau e olhando para a câmera de maneira engraçada.
— Não sei. — Cauê suspirou forte, pois estava nervoso com as possibilidades que Parintins tinha a oferecer. — Hoje, a minha mãe tem uma reunião com a direção. Mas mudando de assunto, Amanda já chegou?
— Sim. Eu preciso ir, Cauê. Qualquer coisa fala no grupo. Tchau. — Henrique se despediu e finalizou a chamada de vídeo.
Cauê não era tímido. Longe disso. Sua personalidade sempre o impulsionara a ocupar os espaços, a fazer-se presente. Mas havia algo de diferente em estar em Parintins — uma cidade onde tudo pulsava com cores, ritmos e paixões que ele ainda não compreendia por completo. Precisava sentir o ambiente, decifrar seus códigos não ditos. E como todo jovem do século digital, decidiu começar sua investigação pelas redes sociais.
Sentado na cama, o quarto já arrumado conforme o rigor de sua mãe, ele deslizou o dedo pela tela do celular e mergulhou na vastidão caótica do Twitter. Era ali, entre posts efêmeros e memes regionais, que se escondiam as verdades não ditas da ilha.
Foi então que, entre hashtags e threads longas demais para sua paciência, um tweet chamou sua atenção. Uma "fofoca baré", como diziam por ali: Jonas Benevides, filho do presidente do boi Caprichoso, estaria envolvido em um acidente de carro logo após o festival do ano anterior. Havia uma vítima fatal, segundo rumores. Mas não foi a gravidade do boato que prendeu Cauê à tela — e sim a imagem anexada à postagem.
Jonas.
Cauê deu zoom, ampliando os traços daquele rosto desconhecido. Havia algo de hipnótico ali. O rapaz do bumbá contrário não parecia só mais um filho de peixe. Tinha presença. Corpo atlético, rosto marcado por linhas firmes, o queixo levemente projetado. A expressão serena contrastava com o brilho inquieto dos olhos. Havia, naquele olhar, uma centelha que denunciava fervor — talvez por paixão, talvez por causa. Talvez pelas duas.
A camisa azul sem mangas colava ao peito com orgulho, trazendo ao centro o símbolo do Caprichoso. Os braços à mostra revelavam força, mas não a força bruta — era uma força moldada, intencional. Ele era, em suma, um personagem pronto para um palco, para um tablado, para o mundo.
Cauê piscou, ainda preso à imagem.
— Dançarino... — Murmurou, lendo o subtítulo da reportagem com curiosidade crescente.
— Quem é dançarino? — Perguntou César, surgindo abruptamente na porta, sem cerimônia.
Cauê bloqueou o celular com rapidez e se levantou, como se escondesse um segredo que nem ele ainda compreendia.
— Ei! — Reclamou. — Não bate mais na porta?
— O papai quer ajuda com umas caixas. — Disse o caçula, já virando de costas, alheio à reação do irmão.
Cauê respirou fundo e guardou o celular no bolso, mas a imagem do rapaz de azul ainda flutuava nítida em sua mente.
Jonas Benevides. Um nome que até então significava apenas rivalidade. Agora, era mais do que isso. Era uma incógnita envolta em tragédia, beleza e mistério.
O dia da família Alencar começara cedo e não demorou para se transformar em uma verdadeira maratona de organização. Caixas, móveis, livros e instrumentos estavam espalhados por todos os cômodos. Cada um assumiu uma função — carregar, limpar, arrumar — e, aos poucos, o cansaço foi tomando conta de todos.
Cauê subiu as escadas em busca de um momento de descanso. Encontrou Milena no quarto, sentada na beirada da cama, segurando uma bombinha de nebulização. Ela respirava com calma, olhos fechados, concentrada no tratamento. Sabia que precisava estar inteira para a apresentação que faria logo mais, naquela mesma noite.
A cena já era familiar para ele. Desde pequeno, se acostumara com as chamadas "loucuras de artista" da mãe: os exercícios vocais que pareciam mantras esquisitos, os treinos respiratórios, as dietas mirabolantes que surgiam sempre que um show importante se aproximava. Aquilo fazia parte da vida dela — e, de certa forma, da vida de toda a família.
Se apoiou no batente da porta, cruzando os braços, e deixou o olhar percorrer o quarto ainda desorganizado. Tinha 23 anos e carregava, junto do diploma recém-adquirido em Bacharelado em Música, uma dúvida que parecia pesar mais do que qualquer caixa da mudança: E agora?
Por muito tempo, acreditara que sair da formatura seria como atravessar um portal para o futuro. Que algo se acenderia em sua mente, apontando o caminho certo. Mas, na prática, tudo parecia mais nebuloso do que nunca.
Observava os pais e não podia evitar certa admiração — e, talvez, um pouco de frustração. Milena, aos dez anos, já cantava profissionalmente. Eron, prodígio acadêmico, ingressara na universidade aos quinze, colecionando méritos e elogios desde então. Até César, o irmão mais novo, já tinha planos bem traçados, decidido a estudar medicina. E ele? O músico da família? Estava simplesmente... perdido.
— Olha só, Cauê. — Chamou Milena, interrompendo seus pensamentos —, aqui é o nosso novo lar! — Disse, abrindo os braços, como se quisesse abraçar o ambiente.
Ela sorriu, olhando em volta com olhos brilhantes. A responsabilidade que carregava agora não era pequena: como nova Levantadora de Toadas do Garantido, seria a voz principal que conduziria milhares de corações durante o Festival de Parintins.
— A casa é linda. — Respondeu ele, sentando-se ao lado da mãe, compartilhando, ao menos por um instante, do entusiasmo dela.
Eron entrou logo em seguida, equilibrando uma pesada caixa de livros contra o peito. Depositou-a no chão com um suspiro e, ajeitando os óculos no rosto, virou-se para o filho.
— E aí, já pensou em um plano de ação, filho? — Perguntou, com aquele tom que misturava interesse e cobrança.
Cauê respirou fundo.
— Não, pai. Vou... vou dar uma olhada nas opções. — Disse, tentando soar tranquilo, embora soubesse que soava mais como alguém se agarrando a um bote salva-vidas.
— Pois é, filhão... — Eron cruzou os braços, se apoiando na beira da cômoda. — Você já deveria ter algo em mente. O paizão aqui, por exemplo, aos dezessete já estava no meu primeiro emprego formal. — Se gabou, sorrindo de canto. Não fazia por mal, mas queria algo grandioso para o primogênito.
Cauê tentou devolver o sorriso, mas sentiu o peito apertar. Conhecia bem aquele discurso, assim como conhecia o peso das expectativas do pai. Eron sempre acreditara que o filho tinha potencial de sobra. E fazia questão de lembrar disso em cada conversa.
— Você tem talento demais pra ficar parado, meu filho. — Aconselhou o pai, começando a esvaziar a caixa de livros. — Já pensou em dar aula? Continuar os estudos?
O jovem músico passou a mão nos cabelos, os bagunçando sem perceber.
— Pai, eu... — Começou, mas as palavras ficaram presas. Como dizer que não fazia a menor ideia de qual caminho seguir? Que, até aquele momento, a única certeza que tinha era a de estar completamente perdido?
Silêncio. Milena olhou de um para o outro, respirando fundo atrás da máscara da nebulização. Ao perceber a troca de olhares entre o marido e o filho — que quase sempre resultava em alguma discussão acalorada —, ela se adiantou, erguendo as mãos como quem aparta uma briga invisível.
— Bem, meus queridos. — Disse, com um sorriso tenso no rosto —, eu tenho uma reunião importante e, sinceramente, estou exausta. Então, façam um favor: vão tomar um banho, porque vocês estão cheirando a pitiu.
— Ei, mãe! — Exclamou Cauê, arregalando os olhos e, de maneira nada discreta, levando as axilas até o nariz. — Jura?
Entre risadas, ambos os dois se renderam à ordem materna. O banho foi demorado, gelado e até um pouco sofrido, já que a água vinha diretamente da caixa d'água — e, em dias assim, parecia saída de um igarapé.
Pouco depois, Cauê surgiu com uma camiseta branca e uma calça jeans básica. O detalhe vermelho ficou nos tênis, decorados com o símbolo do Bumbá Garantido. César, seu irmão, também escolheu um visual semelhante: todo de branco, mas com um tênis completamente vermelho, vibrante como as bandeiras do curral. Já o pai... bem, o pai não desapontou no quesito empolgação. Vestiu uma camisa personalizada, com o rosto de Milena estampado em grande estilo. Acima da imagem, se lia: "A nova voz do Garantido".
Milena apareceu por último, deslumbrante em um vestido vermelho que parecia feito sob medida para aquela ocasião. A maquiagem simples, também em tons de vermelho, dava o toque final. Ela estava pronta — e, se não estivesse, ninguém teria coragem de dizer o contrário.
Na sala, enquanto esperavam pela mãe, César se ajeitou no sofá e comentou, balançando a cabeça:
— Ainda bem que eu gosto de vermelho...
Cauê, cruzando as pernas, suspirou dramático.
— A pior parte foi me livrar de tudo que era azul. Você sabia que, quando eu era criança, queria ser o Power Ranger azul?
— Que morte horrível, cara. — Respondeu César, segurando o riso.
— Até minhas cuecas azuis a mamãe jogou fora. — Lamentou Cauê, balançando a cabeça, como quem revive um trauma recente.
— Minhas meias do Stitch também foram de base. — Completou César, arrancando uma gargalhada sincera do irmão.
Entre brincadeiras e memórias, o carro da família seguiu rumo ao Curral do Boi Garantido, em Parintins. O local era mais do que um simples espaço de ensaio — era praticamente um templo vermelho. Bandeirolas, faixas, pinturas nas paredes e cada detalhe refletia a paixão pelo boi da estrela na testa.
À porta, uma pequena comitiva aguardava. À frente deles, o presidente do Garantido, Ribeiro Fonseca, abriu os braços, sorrindo como se reencontrasse velhos amigos.
— Bem-vinda, Milena! Bem-vindos todos vocês! — exclamou, apertando as mãos de cada um.
Ribeiro vestia um conjunto inteiramente vermelho, da camisa até o sapato. César e Cauê trocaram olhares cúmplices, travando uma batalha interna para não rir. Mais do que carismático, Ribeiro era uma verdadeira metralhadora de histórias. Nos primeiros cinco minutos, já havia contado pelo menos trinta — cada uma mais mirabolante que a outra — sobre o curral, o festival e, claro, sua própria trajetória no boi.
Enquanto falava, a equipe do Garantido demonstrava o clima de entusiasmo com a chegada do Carnaboi, uma espécie de prévia carnavalesca que misturava samba, batuque e as toadas vibrantes do festival. Mas, como Ribeiro frisou diversas vezes, a partir de março começariam, de fato, os ensaios e a preparação para o evento mais esperado do ano: o Festival Folclórico de Parintins.
De fevereiro até junho, Milena viveria intensamente para a arena do Bumbódromo. Cada detalhe — desde as músicas até os arranjos — seria pensado para exaltar sua voz. O compromisso era grande, e a responsabilidade, maior ainda.
Enquanto um fotógrafo registrava o momento, uma repórter da assessoria do Garantido conduziu Milena até uma área reservada para uma rápida entrevista.
Livre dos olhares da mãe, Cauê aproveitou para se afastar um pouco, explorando o local com curiosidade. Observou atentamente o enorme palco central, pintado em todos os tons possíveis de vermelho. As laterais estavam tomadas por adereços, esculturas de figuras amazônicas, e uma imensa estrela do boi brilhava ao fundo.
Por ali, ouviu mais uma das informações curiosas de Ribeiro: só na percussão — os famosos batuqueiros —, o Garantido contava com 350 músicos. E aquilo era apenas uma parte de todo o time que fazia o espetáculo acontecer. A dimensão daquilo tudo começava, enfim, a se desenhar na cabeça de Cauê. E, pela primeira vez desde que chegaram, ele percebeu que estavam prestes a viver uma aventura muito maior do que imaginavam.
Cauê sentiu uma estranha leveza ao conhecer o Curral e a história do bumbá Garantido. Havia algo naquele lugar que lhe despertava curiosidade e encanto. Sua mãe fora convidada para um evento na casa do presidente do Boi, um ambiente de formalidades que pouco lhe atraía. Preferiu se aventurar sozinho, aproveitando a liberdade para conhecer a noite de Parintins. Pegou um dos famosos triciclos que ziguezagueavam pelas ruas da ilha — um hábito comum por ali, diferente de Manaus, onde o tráfego era dominado pelos carros, motos e a pressa.
Durante suas pesquisas, descobrira que os bares próximos à Catedral de Nossa Senhora do Carmo eram os melhores pontos para conhecer as pessoas, ouvir histórias e sentir o ritmo da cidade. No caminho, observava atento. O trânsito era intenso, mas não sufocante: triciclos por todos os lados, com motoristas habilidosos que se moviam como se dançassem entre os becos e avenidas. Tudo parecia parte de uma coreografia urbana que só fazia sentido ali.
Ao passar por um cemitério antigo, próximo à catedral, Cauê sentiu um calafrio breve — não de medo, mas de respeito. Aquela cidade parecia ter memórias demais guardadas em cada canto. Mas foi a visão da catedral que o fez diminuir o ritmo. A igreja, com sua imponência discreta, se erguia contra o céu escuro como um farol de fé e silêncio. Seus arcos altos, suas janelas arqueadas e o campanário com o velho relógio compunham uma imagem que parecia resistir ao tempo, como se guardasse os segredos da ilha.
A praça diante da catedral era viva, mas sem pressa. Crianças brincavam entre os bancos, casais trocavam palavras suaves sob as palmeiras balançadas pelo vento e senhoras riam entre si com a familiaridade de quem já vira muitas festas e tempestades. Um carrinho de pipoca, pintado com cores vivas, exalava o cheiro doce e quente do milho estourando. Acima dele, estava o letreiro: Pipoca do Alex.
Grupos de jovens se espalhavam em rodas, compartilhando músicas em caixas de som portáteis, enquanto alguns dançavam em passos despreocupados. Cauê atravessou a avenida com um sorriso discreto, curioso com aquela vibração tão própria de Parintins. Escolheu um bar com vista para a praça, pediu uma garrafa de cerveja e sentou em uma mesa na calçada.
Ali, ficou apenas observando — os rostos, os gestos, os risos. Havia beleza naquela simplicidade.
Foi então que tudo mudou num instante.
Um baque seco sobre sua mesa. Um corpo caído em meio às garrafas e copos. O susto o fez levantar de imediato, empurrando a cadeira para trás com um rangido. Por um momento, seu coração disparou — confuso, alarmado.
— Ei, tá tudo bem? — Perguntou, os olhos arregalados.
A pessoa diante dele se endireitou aos poucos, esfregando o braço com uma careta. Quando ergueu o rosto, os olhos de Cauê congelaram. Por um segundo, o tempo pareceu cessar.
Era Jonas Benevides.
A última pessoa que esperava encontrar ali — ou talvez, a única que esperava não encontrar.