— O Amicalola Falls State Park! — Exclamou Zeek me assustando.
— O quê? — Questionei.
— Vamos subir o Amicalola Falls State Park. — Ele repetiu ficando em pé e deixando o controle de lado.
— Por que raios de motivos eu vou subir o Amicalola Falls State Park? Você está louco.
— Comemorar a sua saída do armário, meu amigo. Fora que a gente pode levar umas bebidinhas do armário da minha mãe. — Ele sugeriu me fazendo rir.
— E quando vamos fazer isso? — Perguntei, cruzando os braços.
— Nas férias. Podemos levar a Rachel também. Acho que dá para sequestrá-la. Aquele enjoado do Emmett não larga do pé dela. — Disse o meu amigo.
***
Em uma das últimas conversas que tive com o Zeek, fizemos uma promessa. Dissemos que um dia voltaríamos a Dawsonville , na Geórgia — aquele lugar especial onde vivemos tantos momentos bons durante uma das excursões da Freedom High School. E agora, cá estou eu... Só que não com o Zeek. Estou com meu namorado, o Emmett. Desculpa, Zeek... mas o Emmett veio comigo para o nosso lugar especial.
A estrada é longa, mas minha mente está ainda mais longe — voltando nos últimos dias de aula, como se cada lembrança tivesse deixado um eco dentro de mim.
Passei em matemática. Arrastado, confesso. O tipo de aprovação que vem mais como um suspiro de alívio do que como uma conquista. Ainda posso ouvir a voz da professora me entregando a nota final, com aquele olhar misto de decepção e piedade, como quem pensa: "você poderia ter feito melhor." E talvez pudesse mesmo, se minha cabeça não estivesse tão cheia nos últimos meses. Mas passou. E, naquele momento, isso era o suficiente.
Enquanto eu lutava com números que nunca fizeram sentido, Emmett fazia história. Medalha de prata na natação paraolímpica escolar — e eu lá, na arquibancada, gritando até perder a voz, sentindo o peito explodir de orgulho. Nunca vou esquecer o jeito que ele saiu da água, os olhos brilhando, os braços tremendo de esforço e emoção. Ele sorriu pra mim, e naquele instante eu soube que tudo valia a pena.
Depois veio o baile de Halloween. A gente precisava daquilo — uma noite leve, divertida, sem pressões. Eu fui de Snake Cobra, com direito a bandana, tapa-olho e até aquela cara de durão que ensaiei no espelho. Emmett apareceu com uma fantasia impecável de Capitão Gancho, com o gancho reluzente e um olhar sarcástico que me fez rir a noite inteira. Nathan foi de vampiro, com sangue falso escorrendo pelo queixo, e Sofia encarnou uma zumbi tão convincente que quase assustou a diretora. Dançamos, rimos, tiramos fotos idiotas. Pela primeira vez em muito tempo, senti que estávamos bem.
Essa foi, sem dúvida, a melhor forma de terminar o ano. Depois de tudo — os altos e baixos, as conversas difíceis, as incertezas sobre o futuro — a gente merecia um pouco de normalidade, mesmo que vestida de fantasia. Foi como se todos os sentimentos acumulados finalmente encontrassem um lugar pra descansar.
O latido animado da Cachorra me tira do devaneio nostálgico. Depois de cinco horas na estrada, finalmente chegamos. Dawsonville continua linda como me lembrava: aquela vibe de cidade pequena, com casas bem cuidadas, varandas largas, flores nas janelas e uma enorme caixa d'água com o nome da cidade pintado em azul desbotado no topo. Tudo do jeitinho que ficou guardado na memória.
É a nossa primeira viagem como casal. E depois de tudo o que vivemos na nossa cidade — todo aquele pesadelo que ainda insiste em rondar nossos pensamentos — não poderíamos ter escolhido um lugar melhor pra respirar. Nos hospedamos no White Columns Motel, um lugarzinho encantador com arquitetura clássica e um jeitinho campestre que remete ao aconchego das antigas fazendas. O tipo de lugar que te abraça assim que você entra.
Nosso quarto... ah, o quarto! Um espetáculo à parte. Janela grande com vista para um campo florido que parecia saído de um livro de história, cama de madeira antiga, lençóis brancos com cheiro de lavanda, e um silêncio tão pacífico que dava até pra ouvir o som do vento tocando as flores. A Cachorra estava em êxtase, abanando o rabo sem parar e latindo como se também reconhecesse aquele lugar.
— O que quer fazer, bebê? — Emmett perguntou, largando a mochila em cima da mesa.
— Comer e tomar um banho. — Respondi, enquanto tirava os potinhos dela da mochila e colocava no chão. Em seguida, abri uma garrafa de água e despejei pra ela. A felicidade nos olhos dela me fez sorrir.
— Gostei da ideia do banho. — disse ele, se aproximando e roçando em mim de um jeito bem safado. — Você é uma delícia, hein.
— Não me dê ideias, príncipe. — Falei, e senti minhas bochechas esquentarem. Que papo é esse de "príncipe"? Onde fui arrumar isso?
— Sou seu príncipe, é?
— Cala a boca. — Respondi rápido, rindo e tentando disfarçar a vergonha. Peguei o celular. — Vou avisar minha mãe que a gente chegou.
Liguei pra casa. Meus pais estavam meio receosos no começo com a gente dois, adolescentes, viajando para outra cidade. Mas por sorte, os pais do Emmett foram super compreensivos e ajudaram a acalmar os meus. Até rolou um jantar das famílias antes da viagem e, pra minha surpresa, tudo correu bem. Foi estranho no começo, mas no fim... foi bonito.
Essa viagem, no fundo, é uma homenagem. Uma forma de honrar a memória do Zeek. Sobreviver a três furacões — dois literais e outro emocional — me fez querer dar algum sentido a tudo isso. A Dra. Moore, minha psicóloga, achou a ideia ótima. Ela até me sugeriu escrever uma carta pra ele e queimar em uma fogueira, para que as palavras pudessem alcançar os céus.
***
Teríamos três dias para aproveitar a cidade. Depois de tudo o que passamos, eu achava mais do que justo. Três dias de calma, sem correrias, sem ameaças de furacão. Três dias para simplesmente estar com o Emmett, meu namorado — ainda soa estranho dizer isso, mas no melhor dos sentidos.
Após descansarmos um pouco, o Emmett tirou as roupas e ficou só de cueca, que visão meus amigos. Ele coçou a barriga e levou a Cachorra para o banheiro e a deixou lá. Antes de sair, olhou pra mim com aquele sorriso travesso e disse um "com licença" que me arrancou uma risada. Quando voltou, estava todo saltitante, o cabelo bagunçado e o corpo quente. Se jogou na cama como se ela fosse um trampolim. Cara... que cama confortável. E com ele ali, ainda mais.
— Porque deixou a Cachorra no banheiro? — Perguntei, mas como resposta recebi um beijo. — Não acredito, Em.
— Eu amo a cachorra, mas tem coisas que ela não precisa assistir. — Ele afirmou me beijando, mas dessa vez sem pressa.
A transa foi como tudo que temos vivido juntos: intensa, doce, confusa às vezes, mas com um carinho que não se explica só com palavras. O Emmett estava entregue. Já nem se importava mais com o braço amputado, e ver isso me deixava com o coração apertado de um jeito bom. Desde o início, eu percebi que ele ficava meio perdido com isso, como se não soubesse onde colocar o corpo ou o desejo. Mas, pra mim, isso nunca foi uma questão. Eu o amava — inteiro ou em pedaços — e, honestamente, o Emmett é o homem mais bonito que já vi. Bonito de um jeito que me desmonta.
— Você é incrível. — ele disse, ofegante, depois que terminamos, a cabeça encostada no meu peito.
— Você que é. Me conhece tão bem, príncipe. — saiu antes que eu pensasse demais. E no segundo seguinte, desejei ter ficado calado.
— Falando assim eu vou me acostumar. — ele riu, e beijou meu rosto com aquele carinho que só ele sabe dar.
— Você é meu príncipe. — me permiti ser piegas, porque às vezes a gente precisa. E o beijei como quem sela uma promessa.
Ficamos ali, rindo baixinho, trocando carícias e juras sussurradas. Mais tarde, saímos para jantar num restaurante da cidade, desses com música ambiente e cheiro de madeira antiga. No fim da noite, decidimos passear com a Cachorra. Ela, claro, adorou — farejou cada canto da calçada como se fosse a primeira vez no mundo. E nós, andando lado a lado, parecendo um casal saído de algum filme leve e bonito.
Era engraçado... andar com o Emmett assim. Eu, que nunca me imaginei namorando. Ainda mais com ele. Os sentimentos que tive por ele no início eram um caos — um turbilhão de medo, desejo, dúvida. Mas agora... agora estavam claros como água.
Voltamos para o hotel e nos deitamos. Dormir com quem a gente ama é uma experiência única. A gente se encaixa, literalmente. Ficamos abraçados, quentinhos, até o sono vir. Emmett foi o primeiro a dormir. Ele ronca baixinho, um som quase terno. Na penumbra do quarto, eu o acariciei devagar e prometi a mim mesmo, ali mesmo, que faria esse homem o cara mais feliz do universo.
Me perdi no som suave do aquecedor, e quando percebi, também tinha adormecido.
Acordei com uma lambida molhada no rosto. Abri os olhos e vi a Cachorra ali, toda faceira, me dando bom dia do jeito dela. Levantei com cuidado, deixando o Emmett dormindo, e levei a cadela pra fora.
O frio de Dawsonville me acertou em cheio, me deixando tremendo da cabeça aos pés. Mas a Cachorra? Parecia adorar. Cheirava tudo, lambia o que via pela frente. A felicidade dela era contagiante.
Passamos ao lado de um painel da cidade, e vi alguns panfletos com dicas de turismo. Peguei um. Achei uma boa ideia. Fazia anos que eu não pisava ali, e talvez redescobrir o lugar ao lado do Emmett tornasse tudo ainda mais especial.
***
Escrito por Emmett
Acordei com a luz suave da manhã atravessando a janela. O quarto ainda cheirava ao nosso perfume misturado — algo entre café, sabonete e o calor de dois corpos que se amam sem pressa. Me virei e o vi ali, sentado na beirada da cama, debruçado sobre aquela carta que escreveu para o Zeek.
A cena me acertou em cheio no peito.
Ver George assim, tão entregue à memória do melhor amigo, me fez engolir seco. Rachel e Zeek ainda eram nomes que me causavam uma pontada aguda no peito. Fui injusto, distante, duro demais com eles — com George e Zeek. Talvez porque, por tanto tempo, eu vivi com medo. Medo de me mostrar, de me deixar amar. E hoje, apesar de finalmente me sentir livre, essa liberdade veio com um custo que ainda me pesa.
— Bom dia, amor. — Desejei, aproximando-me devagar.
Ele virou com aquele sorriso que sempre me desmonta.
— Bom dia, príncipe. — disse, com a voz rouca e doce de quem acabou de sair de um sonho bom. — Faz tempo que você acordou?
— Sim. Levei a Cachorra pra passear e arrumei um guia da cidade. — respondeu, me mostrando um papel todo dobrado. A cadela dormia esparramada ao lado do aquecedor, numa paz invejável.
— Ótimo. — me espreguicei, totalmente pelado, sem me importar. Com ele, eu não tinha mais vergonha de ser quem eu era. — Quer tomar banho comigo? Sabe... só com uma mão não consigo lavar o corpo direito.
Ele riu e me puxou pra um abraço quente.
— Claro que eu ajudo, meu príncipe.
O beijei com gosto, mesmo sabendo que não tinha escovado os dentes.
— Ei, eu não escovei os dentes ainda... — protestei, por pura formalidade.
— Te amo até com bafo de onça. — brincou.
E fomos para o banheiro.
A água quente caiu sobre nós como uma benção. George, com a delicadeza de quem ama com o corpo inteiro, foi me ensaboando devagar. Cada toque dele era um cuidado, uma entrega, uma forma de dizer "estou aqui". Eu, do meu jeito mais estabanado, ensaboei o peito dele e comecei a cantar baixinho uma música boba que grudou na minha cabeça.
George entrou na dança — literalmente. Começamos a girar debaixo do chuveiro como dois idiotas apaixonados. Rimos, nos molhamos mais do que o necessário e dançamos como se ninguém estivesse olhando. Porque, no fundo, ninguém estava. Só nós dois e a nossa bolha de amor meio doida.
Por anos, eu fui o garoto que escondia os sentimentos, que construiu muros ao redor de si. Agora, dançar pelado no banho com o George era a coisa mais natural do mundo. E mais bonita também.
Depois de um banho reforçado — que nos deixou quase atrasados —, seguimos para o restaurante do hotel. O cheiro de pão fresco e café se espalhava pelo salão. Famílias riam, mães ajeitavam os cabelos dos filhos, pais derramavam suco no lugar errado. Aquela harmonia familiar me pegou de surpresa.
Eu pensei na minha mãe.
Ela nunca foi má. Só... distante. Fria, talvez. Cuidou de mim do jeito que sabia, do jeito que lhe ensinaram. Nunca faltou comida, roupa lavada, mas também nunca houve aquele tipo de abraço que aperta forte e diz "vai ficar tudo bem".
Mesmo assim, ela me amava. Do jeito dela. Percebi isso quando sugeriu um jantar com a família do George. E mais ainda quando apoiou a nossa viagem, como se, pela primeira vez, estivesse vendo o filho que eu realmente era.
Ali, sentado naquela mesa de hotel, eu entendi uma coisa que mudou tudo:
Eu sempre senti falta do amor, mas percebi que ele também existe em mim. Posso doá-lo.
Posso amar o George com tudo o que sou. E posso amar o Nathan, a Sofia, a Britney... até mesmo a Jennifer, que entrou de mansinho pro nosso grupo e, aos poucos, se fez presente.
Essa troca de afeto, esse dar e receber sincero, faz tudo valer a pena. O passado não muda, mas a forma como eu decido viver o presente, sim. E hoje eu escolho amar — com tudo o que eu tenho.
***
Escrito por George
Foram só três dias, mas parece que vivemos uma vida inteira neles. Helen foi a primeira parada, com sua arquitetura bávara e aquele clima de cidade de brinquedo — me senti num cenário de filme. Fizemos uma excursão cultural que eu jamais teria planejado sozinho, mas que no fim me fez rir, pensar e até comprar um souvenir idiota que agora guardo com carinho.
Depois veio o Amicalola Falls State Park. As trilhas pareciam não ter fim, mas a vista... a vista fazia tudo valer a pena. Ficamos hipnotizados pelas quedas d'água, pelas árvores altas como catedrais. Dava pra sentir a paz escorrendo pela pele, misturada com o suor da caminhada.
Burt's Farm foi um respiro doce, com cheiro de abóbora e infância. E claro, paramos no North Georgia Premium Outlets — porque, mesmo no meio da natureza, alguém sempre quer um par de tênis novo. Mas o que ficou marcado mesmo foi o camping. Não só pelas trilhas noturnas ou pelo céu absurdamente estrelado, mas por algo que não dá pra comprar nem esquecer.
Transar numa tenda tem seu charme, eu admito. Há algo de primal, urgente, e ao mesmo tempo íntimo. O som dos grilos, a respiração dele, a sensação de estar completamente presente. Foi sexy, claro. Mas foi mais do que isso. Foi real. Foi nosso.
Na última noite, o camping acendeu sua fogueira, como faziam todos os dias. Mas pra mim, aquela chama tinha outro significado. Eu soube que era o momento. Peguei a carta. Zeek merecia uma despedida.
Com Emmett ao meu lado, sentei perto da fogueira. A madeira estalava, soltando faíscas pro céu como se as estrelas estivessem caindo de volta pra terra. Respirei fundo. E comecei a ler.
***
Oi, Zeek.
Aqui é o Geodude. Ainda lembra de mim? Espero que sim. Porque não existe um momento em que eu não pense em você. Cara, que saudade. De verdade — se me perguntassem se eu sinto mais falta do meu olho ou de você... Você ganhava fácil, sem discussão.
Eu cresci contigo, Zeek. Desde que eu me entendo por rocha, era você ali, do meu lado, rindo das minhas piadas sem graça e me incentivando até quando eu só queria sumir. Sua partida me destruiu. Deixou um buraco em mim que nem terremoto tapa. Por meses, pensei que ir com você era a única solução. Mas depois percebi... você não ia gostar de me ver chegar no além com essa cara de derrota. Você sempre quis me ver vencendo.
Eu segui, Zeek. Acredita nisso? Tô namorando — o Emmett. Lembra dele? O cara que você chamava de "o babaca da terceira fileira". Pois é, ele não é mais um babaca. Virou meu alicerce. Meu melhor amigo. Não se preocupa, teu lugar continua intacto aqui dentro, mas aprendi que o coração da gente tem espaço pra mais gente boa. E apareceu gente boa, viu? Tem o Nathan e a Sofia — os gêmeos malucos que entraram de paraquedas na minha vida e conseguiram fazer uma coisa que eu achei impossível: me fazer acreditar de novo na amizade. É brega? É. Mas é a verdade.
Ainda tem dias em que eu olho pro céu e fico esperando uma resposta tua no vento. Às vezes acho que escuto teu riso entre as nuvens. Outras vezes, só escuto o silêncio. Mas mesmo assim, continuo falando contigo.
Eu não sei quanto tempo ainda me resta aqui, mas sei de uma coisa: você ainda me deve uma revanche no Mortal Kombat. Então vai treinando aí do outro lado, porque essa partida vai rolar — e não adianta usar hack celestial, não, que eu vou estar afiado.
Te amo, Zeek. Pra sempre. Obrigado por tanto.
Do seu irmão,
Geodude
***
3 meses depois
Tá aí uma coisa que eu realmente não esperava ver de novo: o quintal de casa cheio de rostos sorridentes. Pra comemorar meus 17 anos, meus pais decidiram fazer uma festinha simples com alguns amigos e, claro, com a família do Emmett. E sabe de uma coisa? Foi perfeito.
O clima estava leve, ameno, daqueles que dá vontade de deitar na grama e olhar o céu sem pressa. Meu pai se empolgou com a churrasqueira — virou praticamente o mestre do churrasco — enquanto minha mãe arrasou, como sempre, nos doces. Ela ainda encomendou um bolo temático de videogame, já que eu voltei a gravar vídeos jogando. Sim, voltei mesmo! E agora não jogo sozinho: Nathan e Jennifer são meus parceiros de tela. Isso mesmo, a Jennifer! Quem diria que ela manjava tanto de jogo de luta? A bicha dá show no Mortal Kombat. Zeek que se cuide, porque agora a concorrência tá pesada.
Estavam todos lá: Nathan e Britney, inseparáveis e aos beijos; Sofia, sempre com aquele jeito doce que conquista até quem não quer ser conquistado; e a Anne, minha irmã, fazendo sucesso com a Sofia e a Jennifer — sim, minha irmã é um fenômeno social. O Sr. e a Sra. Montgomery-Kerr também apareceram, super elegantes como sempre, mas muito simpáticos. A vibe era boa. Leve. Era como se, por algumas horas, tudo tivesse voltado ao lugar.
Eu? Bem... Aos poucos, fui voltando a ser o George de antigamente. Mas agora um George com mais cicatrizes e, também, com mais força. Não vou fingir que foi fácil — o processo foi cheio de altos e baixos, com muito acompanhamento psicológico, muito trabalho interno e muitas conversas difíceis comigo mesmo. Mas deu certo. E olha, ter um namorado gostoso também ajuda, viu? Mas ele não é a cura — ele é parte dela. Um dos motivos pelos quais sigo firme.
Ah, e tem outra coisa: eu amo a Cachorra. Isso mesmo. Eu, George Fletcher Sanches, estou completamente apaixonado por aquela bola de pelo. Ela é meu caos e meu conforto ao mesmo tempo.
Depois dos parabéns, entreguei a primeira fatia de bolo pros meus pais — eles merecem tudo. A segunda foi pro Emmett. E então, bolo vai, conversa vem, nossos pais começaram a falar sobre universidades, planos pro futuro... Aquela coisa de adulto que a gente começa a se acostumar. E, nesse meio tempo, Emmett se aproximou.
— E o meu príncipe? Um ano mais velho. — ele disse, me puxando pra um abraço apertado.
— Pois é. Daqui a pouco a gente tá na faculdade e tudo isso vai ser só memória. — respondi, meio pensativo, olhando pro horizonte.
— Ei, nada disso. Isso aqui é só o começo, amor. Sabe o que eu aprendi com tudo isso que a gente passou? — ele me virou de frente, com aquele sorriso que desarma qualquer medo — Que o amor se transforma. Você foi muito importante no meu amadurecimento.
— E você no meu. A força que encontrei em ti me fez superar tantos medos. — falei antes de puxá-lo pra um beijo.
Minha mãe, claro, nos obrigou a tirar uma foto em grupo. No meu último aniversário, só estavam o Zeek, a Rachel e eu. Agora? Agora o Emmett tinha razão... o amor se expandiu. E eu sou feito disso: amor.
Seguimos em frente, juntos, com cicatrizes que contam histórias e com sorrisos que anunciam futuros. Muita coisa mudou nos últimos anos, mas o nosso amor... ele só cresce.
E pensar que tudo começou numa tarde qualquer de escola, quando o Furacão Fernandes nos pegou de surpresa. Quem diria?
FIM