Eu abracei Gustavo e os meninos deitaram nas minhas pernas
_ MAS VOCÊ VAI QUANDO???
🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈🏳️🌈
Aquele era o momento que, secretamente, eu estava evitando, mas ele tinha chegado.
Gustavo acordou cedo, pós a mesa de café para os quatro e nos chamou, Jorge e Mateus foram rápidos, pois eu ouvi o barulho da porta do quarto deles se fechando, mas eu fui tomar um banho, enquanto a água percorria meu corpo, não consegui me segurar e as lágrimas saltaram se misturando a água do banho, me lembrei de tudo o que vivemos até ali. O dia que vi Gustavo a primeira vez no auditório, meu trote, eu vindo tomar banho, bêbado por sinal, na casa dele, o short que me emprestou, ele me pedindo em namoro, eu conhecendo os meninos naquele almoço, a surpresa que Gustavo fez pra mim, os anos de namoro, o dia que eu decidi que iríamos no casar, o mês de desespero, a cerimônia, a lua de mel, a noite passada e cheguei de volta àquele banho, as lágrimas não paravam, então acabei de tomar banho e me secava com a toalha quando Gustavo chegou na porta do quarto, sem abrir, e falou:
_ HYAGGO, EU SEI QUE VOCÊ TA ENROLANDO, MAS TODOS ESTÃO TE ESPERANDO PRO CAFÉ.
Eu, que já tinha saído do banho, agora assistia às lágrimas caírem em frente ao espelho, sem som. Respondi firme, sem transparecer que estive chorando:
_ JÁ VOU!
Fui até o armário e me deparei com aquele primeiro short que ele me emprestou e eu nem sabia que ele tinha guardado, mas agora estava na beirada do armário como quem diz _"EI ESTOU AQUI"_. Eu peguei ele mesmo, com a visão embaçada pelas lágrimas, coloquei, fique sem camisa e saí. Quando abri a porta, Gustavo me deu um abraço, não falou nada, me pegou pela mão e me levou para a mesa. nos sentamos e Mateus nos serviu, nada era dito até Jorge quebrar o silencio:
_ É O ÚLTIMO DIA DOS QUATRO NESSA CASA E VAMOS PASSAR O CAFÉ EM SILÊNCIO?
Realmente, todos estávamos enrolando, mas não teríamos como adiar a situação.
_ ELE TEM RAZÃO MACHINHO, JAJÁ EU ME VOU E TEMOS QUE CONVERSAR PQ VOCÊS VÃO FICAR AQUI SÓS.
_ FALAR O QUE GUSTAVO VOCÊ ESTÁ ABANDONANDO A GENTE!
_ EU NÃO ESTOU ABANDONANDO E NÓS JÁ FALAMOS SOBRE ISSO.
_ SIM PRIMO, MAS O QUE O MACHINHO QUER DIZER É QUE SEM VOCÊ AQUI, NÃO SERÁ A MESMA COISA.
_EU ENTENDI MATEUS. VAI LA DENTRO E PEGA A CAIXA QUE MANDEI VC GUARDAR.
Mateus foi até o quanto e voltou rápido trazendo uma caixinha na mão eu logo perguntei:
_ O QUE É ISSO?
_NOSSAS MEMORIAS.
_ MAS VOCÊ NÃO ESTÁ MORRENDO.
_ VIRA ESSA BOCA PRA LÁ JORGE!
_ ISSO MESMO JORGE, EU SÓ FIZ ISSO PRA GUARDAR ALGUMAS COISAS - ele abriu a caixa - ENTÃO AQUI ESTÃO MEU CINTO DE CASTIDADE COM O CADEADO - a chave ficava comigo - NOSSA FOTOS JUNTOS, INCLUSIVE ÁS DO NOSSO CASAMENTO, QUE EU DESEJO QUE O SENHOR NÃO ESQUEÇA QUE É CASADO...
_ ISTO EU JAMAIS ESQUECERIA. FUI EU QUE TE PEDI EM CASAMENTO.
_ É POR ISSO QUE QUERO QUE GUARDE A SUA ALIANÇA AQUI E VIVA. NÃO TO FALANDO QUE VAI DEIXAR DE ESTAR CASADO, SÓ NÃO VOU DEIXAR UMA ALIANÇA TE IMPEDIR DE PEGAR NINGUÉM.
_ MAS EU SEMPRE FALO.
_ E EU QUERO MESMO QUE FALE, MAS ESSA ALIANÇA NEM VAI TE PERMITIR FALAR E FIQUE TRANQUILO, QUANDO EU VOLTAR EU TIRO ELA DA CAIXA E CONTINUAMOS TUDO IGUAL.
Gustavo brincava, mas eu sentia que ele TBM estava triste.
_ MATEUS EU SEI QUE VOCÊ NÃO GOSTA DE DIRIGIR, MAS VOU DEIXAR O CARRO COM VOCÊS PARA QUALQUER EMERGÊNCIA.
_ EU GOSTO!
_ POR ISSO TO DEIXANDO A CHAVE COM O MATEUS, JORGE, VOCÊ VAI USAR O CARRO ALÉM DO QUE NECESSÁRIO.
Todos olhamos para o Jorge e concordamos com Gustavo.
_ A MINHA CHAVE DA CASA VOU LEVAR, MAS VOCÊS TEM E, SE MAMÃE PERGUNTAR, DIGAM QUE AINDA ESTÃO PAGANDO O ALUGUEL, AFINAL VÃO CONTINUAR CUIDANDO DO MEU MARIDO E EU NÃO PODIA DEIXAR É MELHORES MÃOS.
_ PODE DEIXAR QUE, PELO MENOS, DO PRIMO EU CUIDO.
_ JORGE, OBRIGADO, MAS EU SEI ME CUIDAR.
_ SERÁ QUE NÃO POSSO NEM FAZER ISSO?
_ PODE SIM, ALIÁS, TOMA AQUI HYAGGO, GUARDA ESSA CAIXA COM VOCÊ ATÉ EU VOLTAR, E EU VOU. JORGE ME LEVA NA MAMÃE?
_ MAS VOCÊ JÁ VAI?
_ JÁ ESTOU EM CIMA DA HORA MARIDO.
Gustavo me deu um beijo e saiu com Jorge.
Eu até tentei, mas depois de seis meses, também recebi um convite para trabalhar em um consultório com outros psicólogos, mas era em outra cidade, então só juntei a minha roupa, meus documentos, a caixa, pedi a Mateus que ficasse com a minha cópia da chave e me mudei em uma sexta feira. E lá se foram dez anos, sem ver ninguém, até o velório da irmã do Otávio...
