Onde o Sol se Esconde (Capítulo 11)
A chuva não dava trégua.
Dentro do quarto apertado, Teo e Samuel dividiam seus silêncios e toques tímidos — como se cada gesto fosse um fio de esperança contra a escuridão que ameaçava engoli-los.
Era naquelas horas silenciosas, enquanto o vento uivava pelas janelas quebradas, que Teo se permitia sonhar.
Sonhar com um lugar onde pudesse deitar-se ao lado de Samuel sem medo.
Sonhar com um mundo onde o amor não fosse uma culpa, mas um abrigo.
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Três noites depois da saída forçada de Dona Clarice, Pedro finalmente se aproximou.
Foi Guto quem o viu primeiro, na horta abandonada, enquanto carregava um balde de água.
Um assobio rápido, um gesto — e Guto reconheceu o rosto do filho da cozinheira.
Correu de volta para o dormitório, o coração disparado.
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Quando Teo e Samuel souberam, decidiram agir com cautela.
À noite, enquanto fingiam dormir, ouviram o sinal combinado: três batidas leves na janela.
Samuel levantou primeiro, ajudando Teo a afastar a madeira podre.
Pedro estava lá, encharcado, os olhos queimando sob a luz fraca da lua.
— Eu vim buscar vocês — murmurou. — Vim terminar o que a minha mãe começou.
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Teo hesitou.
— Não podemos deixar o Guto — disse, firme.
Pedro assentiu.
— Ninguém vai ficar pra trás.
Ele entrou rapidamente no quarto, e, debaixo do colchão de Guto, escondeu uma pequena faca e uma lanterna velha.
— Se alguma coisa acontecer... se eles tentarem de novo... — seus olhos brilharam sombrios — usem sem medo.
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Naquela noite, Samuel abraçou Teo com força antes de dormir.
Não disseram nada.
Apenas se prometeram — de novo — que iriam proteger um ao outro.
A qualquer custo.
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Mas o orfanato, como uma criatura ferida e perigosa, parecia sentir que algo se movia nas sombras.
No dia seguinte, novas ordens vieram de cima:
- Os internos ficariam confinados nos dormitórios.
- Inspeções de surpresa seriam feitas.
- "Castigos exemplares" seriam aplicados para quem desobedecesse.
Padre Maurício havia voltado — e parecia ainda mais cruel.
Padre Buzzi, embora afastado "oficialmente", rondava os corredores como um fantasma, sorrindo com seus olhos doentios.
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Pedro, escondido nos arredores, começou a agir.
À noite, deixava bilhetes escondidos para Samuel e Teo.
"Observem tudo."
"Não confiem em ninguém."
"Quando for a hora, vou avisar."
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Entre esse mundo de medo e conspiração, o amor de Teo e Samuel florescia em pequenos momentos roubados:
- Um bilhete escondido dentro de um livro velho.
- Um toque rápido no escuro.
- Um sorriso partilhado entre tarefas pesadas.
Era um amor clandestino — nascido no horror, mas puro como a chuva que batia nas janelas quebradas.
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Mas eles sabiam: o tempo estava se esgotando.
O orfanato sabia que eles sabiam.
E logo, uma nova tragédia iria acontecer... ou uma revolução.
Dependeria de suas escolhas.
E do quanto estariam dispostos a sacrificar — por amor, por justiça... por liberdade.