A FORÇA QUE ENCONTRO EM TI - CAPÍTULO BÔNUS 4: EMMETT E O AMOR

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1908 palavras
Data: 01/05/2025 05:05:30

Escrito por Emmett

A dor na cabeça veio antes da consciência. Um zumbido, depois um estalo como se algo dentro de mim voltasse a se alinhar. Abri os olhos devagar, e a luz fraca da estação de dejetos me cegou por um segundo. A primeira coisa que vi foi o rosto do George. Ele estava ali, ajoelhado ao meu lado, os olhos arregalados de alívio e preocupação.

— Emmett! Graças a Deus... — Ele sussurrou, me puxando com cuidado. Suas mãos estavam frias, trêmulas. A dele segurava a minha com tanta força que doía, mas eu não queria soltar.

Eu estava vivo. Ele também. Todos pareciam estar. A estação de dejetos era um abrigo improvisado, fedia como o inferno, mas era o nosso inferno seguro agora. O som do vento lá fora tinha diminuído, como se o mundo estivesse prendendo a respiração.

— Estou bem. — murmurei, tentando me sentar. Uma pontada me atravessou a cabeça e tive que respirar fundo pra não cair de novo.

George encostou a testa na minha, e por um momento eu esqueci de tudo: da tempestade, da dor, do mundo que parecia ter desabado. Ele estava aqui. Eu também.

Horas se passaram. Ou minutos. O tempo perdeu qualquer sentido ali dentro. A única coisa que dava pra ter certeza era que todos estávamos molhados, sujos e em silêncio. Até Jennifer começar a chorar.

Ela estava um desastre: cabelo todo pra cima, maquiagem escorrida, as roupas de grife ensopadas e encardidas. Mas naquele momento, ela parecia mais humana do que nunca. Vulnerável. Assustada. E... arrependida?

— George, Emmett... Desculpa por ser uma vadia com vocês. — A voz dela tremia. Não era como nas vezes em que ela tentava nos provocar com aquele tom de desprezo. Era sincero. Pela primeira vez, sincero. — Britney, você é a minha melhor amiga, eu também preciso te pedir desculpa. — Olhou pra garota ao lado, que só assentiu, visivelmente desconfortável com o choro. — E claro, Nathan e Sofia, eu sei que não fui muito fácil com vocês...

— Uma vaca. — Responderam os gêmeos em uníssono, sem sequer se olharem. Era como se tivessem ensaiado a vida inteira pra esse momento.

Jennifer balançou a cabeça, aceitando o que vinha.

— Enfim, eu lamento por tudo.

— Tudo bem. — falei, sem pensar muito. Eu realmente não guardava mágoas. Não depois de tudo o que passamos. Não depois de quase morrer de novo.

— Fica tranquila, Jennifer. — George também tentou sorrir, mas tinha algo de apagado nele. Ele estava mais calado que o normal desde que me recuperei.

Virei pra ele e segurei sua mão.

— Você está bem?

Ele hesitou. Olhou pro teto da estação como se procurasse uma resposta na ferrugem.

— Um pouco. Só espero que esteja tudo bem. Essa tormenta veio do nada. Acho que não é mais seguro ficar aqui, Emmett. — A voz dele era baixa, e ele tremia.

Eu o puxei pra mais perto, enlaçando nossos dedos.

— Bebê, acho que estamos bem. — Olhei ao redor. A estação era feia, suja, fedida, mas segura. Pelo menos por agora. — Ei, vamos ficar bem.

Depois de horas lá embaixo, no escuro, com a tensão grudada na pele como suor, a gente finalmente ouviu vozes. Vozes vindas de cima. George e eu trocamos um olhar rápido. Era isso. A gente precisava sair dali e ver o que estava acontecendo.

Quando abrimos a porta e sentimos o vento não mais urrando como um animal ferido, só consegui respirar aliviado. O céu ainda estava pesado, nublado, mas o pior já tinha passado.

O Sr. Mars estava lá, com um grupo de pessoas em volta, falando com alguém ao telefone — provavelmente alguém da prefeitura. Ele gesticulava, meio aflito, meio aliviado, e foi nesse momento que eu percebi que a escola estava começando a se transformar em algo que eu nunca tinha imaginado: um ponto de apoio.

Sem ninguém mandar, a gente foi se juntando às tarefas. Eu e o George ficamos responsáveis por distribuir água e comida. Era estranho ver a quadra da escola — onde ele já caiu de cara numa partida de vôlei e eu já fui ovacionado depois de um touchdown — agora servindo como abrigo para pessoas machucadas, cansadas, famintas.

Foi no meio disso tudo que ouvi um grito:

— Filho!

Virei e vi a Sra. Sanches correndo até o George. Ele, que tava ali ao meu lado firme e forte até então, desabou no abraço da mãe.

— Mãe! — Ele chorou. — Como estão as coisas? Cadê o pai e a Anne?

— Eles estão em casa e bem. Graças a Deus, que o estrago não foi tão grande. Peguei carona com um carro do exército. O Sr. Mars pediu ajuda dos pais e eu me ofereci.

Ver aquela cena me deu um aperto no peito. Um tipo de saudade que eu nem sabia que existia, talvez não de alguém específico, mas de uma sensação. De segurança, de colo, de casa.

— Emmett, meu querido. — Ela me puxou pra um abraço também. — Obrigado por cuidar do George.

— Não precisa agradecer. Ele que me salvou. — Respondi, passando a mão no cabelo dele e bagunçando de leve, só pra quebrar o clima.

— Mãe, a gente pode conversar? — ele pediu, com uma voz mais baixa.

— Claro, filho, eu vou ver o Sr. Mars e podemos falar. Pode ser?

— Tudo bem.

Fiquei olhando o George por uns segundos. Tinha alguma coisa ali, por trás daquele sorriso cansado. Algo que ia além do furacão, além da destruição. Talvez um tipo de dor que não dá pra ver de fora.

Mas não dava tempo pra pensar muito. A gente passou o dia inteiro ajudando como podia. Uma surpresa? Jennifer. Sim, a Jennifer. A garota que não larga o celular nem pra atravessar a rua estava com a mão suja de lama, ajudando a carregar caixas, entregando cobertores. Era quase surreal.

Outra cena inesperada: Nathan e Britney conversando, como se quisessem apagar tudo que aconteceu entre eles nos últimos meses. Um pedido de desculpas ali, um sorriso de canto aqui.

A Sofia, por outro lado, virou babá. Ela tava numa das tendas improvisadas cuidando de um monte de crianças. E não era só cuidando — ela fazia elas rirem, cantava, inventava histórias. Era meio mágico ver aquilo.

Cada um tentando ajudar como podia. Era como se, no meio do caos, a gente tivesse encontrado uma faísca de humanidade.

E mesmo com a dor, com as perdas, com tudo que a gente ainda nem teve tempo de processar... ali, naquele momento, eu comecei a entender o que era força. Não a do braço que eu perdi, mas a que vem de dentro. E que, às vezes, a gente só descobre que tem quando o mundo desaba ao nosso redor.

Tem dias que a gente acorda meio filósofo, né? Deve ser a combinação de pouco sono, muita água mineral empilhada e emoções que não cabem mais no peito. Entreguei mais um daqueles pacotes pesados pros enfermeiros e, no segundo seguinte, me peguei procurando por ele. George tinha sumido.

Na correria, o celular vibrou no bolso. Era meu pai. Atendi com o coração acelerado — sempre fico nervoso com ligações dele, principalmente em dias caóticos como esse. Graças a Deus, eles estavam bem. Presos em casa por causa da rua inundada, mas bem. Contei que eu estava na escola, ajudando no ponto de apoio, e ele pareceu até orgulhoso.

— Pai, eu posso falar com a mãe?

— Claro, filho. Um minuto. — Ele se afastou e, de fundo, escutei ele chamando: — O Emmett quer falar com você!

A voz da minha mãe veio como um sopro conhecido.

— Oi, filho. Estamos presos aqui em casa. Perdi duas reuniões por causa desse maldito furacão.

Típico. Sempre na defensiva, sempre ocupada demais. Mas, mesmo assim, não hesitei.

— Pois é. Estou bem sim. Ei, mãe... a senhora lembra do George Sanches?

— Sim. O rapaz que estava com você no Furacão Fernandes. Aconteceu algo com ele?

— Não. Ele está bem. Tá ótimo, inclusive. É que... ele não é só meu amigo. O George é meu namorado.

A palavra saiu como um sussurro, mas pra mim foi um grito. Um grito de verdade. Meus olhos se encheram de lágrimas antes mesmo de ouvir qualquer resposta. E o silêncio... o silêncio me cortou mais do que qualquer resposta poderia.

— Ele te faz feliz?

A pergunta veio serena.

— Demais, mãe. Eu o amo.

Houve uma pausa. Longa. Densa. Mas, então...

— Então eu estou feliz. Emmett, eu sei que não sou uma mãe perfeita, mas eu te amo muito e torço pela sua felicidade.

Um barulho do outro lado da linha. Alguma ligação chegando.

— Filho, agora eu preciso ir. O meu chefe está ligando. Te amo.

— Te amo também, mãe.

Desliguei com um sorriso tímido. Talvez eles nunca sejam como a família do George — cheia de abraços e palavras doces —, mas me amam. E isso, agora eu entendo, já é o suficiente.

Mas... e o George?

Continuei procurando. Entrei no prédio principal da escola e me surpreendi ao ver que as paredes de vidro ainda estavam firmes. Materiais especiais, talvez. Mas, sinceramente, eu só pensava nele.

Foi numa das salas que ouvi. A voz dele. Baixa, trêmula, conversando com alguém.

— Filho, essa é uma decisão muito importante. Já conversou com o Emmett? — Era a mãe dele.

— Eu não sei... mas eu não consigo mais ficar em Jacksonville. Esse lugar me apavora. — A voz do George quebrou como um vidro. — Eu não me sinto seguro. Um dia que era pra ser tão feliz...

Eu devia ter ido embora. Mas fiquei. Parado, ouvindo escondido.

— Filho. — A Sra. Sanches respondeu, compreensiva. — Tudo bem. Eu vou conversar com a tia Rita para ver as escolas de Salt Lake City.

Salt Lake City.

Ir embora.

O chão sumiu sob meus pés. Me afastei, sem saber onde pisar. Fui pra fora, pro meio do caos. Pessoas correndo, ajudando, salvando vidas. E eu, ali, parado, destruído.

Até que a voz dele me chamou.

— Emmett.

Demorei pra responder. Fingi não ouvir. Mas ele insistiu.

— Oi.

— Você não quer descansar? O Sr. Mars liberou as salas de aula para os voluntários. Podemos tomar um banho, a mamãe trouxe roupas...

— Hum...

Não conseguia olhar pra ele. A garganta doía com tudo que eu segurava.

— Hoje, quando os caras do time me abordaram... eu contei pra eles que a gente tava namorando.

George arregalou os olhos.

— Sério?

— Sim. — Assenti, ainda olhando pro chão. — Eles fizeram piadinhas, claro. Mas eu não me importo. E acabei de me assumir pra minha mãe também.

— Meu Deus! Ela surtou? Ela me odeia?

— Não. Ela disse que me ama. — Ele me abraçou e eu desabei. — Eu fui valente igual a você, George...

As lágrimas vieram com força. E ele só me segurou. Forte.

— Ei, tá tudo bem.

— Agora não tá. Mas vai ficar. — Enxuguei os olhos. — Eu entendo que você tá com medo, George. Eu entendo que esse lugar te assombra. E você sabe que eu só quero tua felicidade, né?

— Eu sei disso, amor.

— Eu ouvi... parte da conversa com a tua mãe. E... eu entendo se quiser ir. Eu não vou ser um impedimento.

Virei as costas e saí correndo. Porque se ficasse, eu ia implorar pra ele ficar. E amor... amor não é prisão. Amor é liberdade. Amor, às vezes, é deixar ir.

Será que amar é também se sacrificar? Será que sou forte o suficiente pra ver ele partir, mesmo que isso me destrua por dentro?

Se for pra ele ser feliz, mesmo longe de mim... talvez eu precise aprender a deixá-lo voar.

Mesmo que o meu mundo desabe no processo.

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Comentários

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entendo os dois mas não significa que concordo, são escolhas cruéis .

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A dor que ela está sentindo depois de ter passado por tudo isso!

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