O turista ergueu o copo e viu que ele estava vazio. Pediu mais um. O copo de uísque (o terceiro — ou seria o quarto?) veio acompanhado de um conselho.
“Estrangeiro”, o velho barman dissera, “As mulheres daqui não são como as que você está acostumado. Elas são lobas famintas.”
Era uma noite quente em Altiora, país insular no mar Adriático e única ginarquia do mundo.
O turista agradeceu o conselho, dado num inglês rústico mas compreensível, e bebeu seu uísque.
Depois de devolver o copo ao balcão, e fazer uma leve careta — o uísque era bom, mas descia como pregos enferrujados —, ele percorreu o ambiente com os olhos. O ventilador de teto girava lentamente, produzindo um leve rangido a cada rotação. O bar era parcamente iluminado, e isso era aparentemente por design. A pouca luz, alaranjada, entrava com algum custo pelas persianas nas janelas. Um baixo ruído vinha da rua.
“Olá.”, ele ouviu. Virou-se e se deparou com uma jovem de não mais que 21 anos, cabelos ruivos levemente encaracolados. Os olhos verdes se sobressaiam mesmo naquele ambiente de pouca luz, mas, ainda assim, menos que seu sorriso. “Estrangeiro?”, ela perguntou.
Ele balançou a cabeça.
Sem esperar por convite, ela sentou-se ao lado dele.
"Eu me chamo Kaila.”, ela perguntou, direta. Seu inglês era perfeito, apenas um leve sotaque. “O que faz em Altiora?”, ela disse.
Ele disse seu nome. “Férias. Achei que seria divertido conhece uma cultura diferente.”
Ela suspirou, quase um ronronar. “Bom, quão divertido vai ser, depende de você…”, disse, sua mão deslizando pela coxa dele. “Eu sei uma coisa ou duas sobre diversão.”
“Tenho certeza que sim”, ele retrucou.
Ela se inclinou e o beijou. Seu beijo era doce. Firme. Durou quase até roubar-lhe todo o fôlego.
“Sabe, meu hotel fica aqui perto…”, o turista disse, suas intenções cristalinas.
Ele pagou a conta e saiu de mãos dadas com Kaila. Pôde sentir os olhos do barman sobre ele durante todo o trajeto até a porta.
No caminho até o hotel, ela foi segurando no braço ele. Conversavam efemeridades, a mente de ambos já focada de forma quase febril na aventura sexual que viria a seguir.
Chegaram no hotel como uma tempestade. Já se beijavam pelos corredores, e, quando a porta se fechou atrás deles, Kaila o empurrou para a cama, atirando-se logo depois sobre ele. Peças de roupa eram arrancadas e atiradas pra longe. Sacanagens eram proferidas em sussurros molhados entre beijos cálidos.
O sexo foi tudo o que ele esperava. Quente. Úmido. Selvagem.
Ele gozou com Kaila cavalgando-o com uma mistura perfeita de paixão e perícia. Ela desabou sobre ele, seus peitos colando, unidos pelo suor.
Quando ela ergueu a cabeça e seus olhares se encontraram, ele não viu nos olhos de Kaila o que esperava. Ainda havia fogo neles. Ela sorriu e foi escalando o corpo dele até chegar ao seu rosto. Não houve palavras ou pedidos. Ela encaixou a boceta em sua boca e ele soube o que fazer. Sua língua trabalhou árdua e furiosamente, os braços enroscados nas coxas dela. O gozo de Kaila, primal e ruidoso, veio pouco depois.
Após ir ao banheiro e tomar uma ducha, ele foi até a janela e a abriu. Acometido por uma breve tontura, reflexo do uísque e da intensidade da transa, ele sentou-se no chão, as costas molhadas grudando no papel de parede. Apanhou o maço de cigarros no bolso da calça e acendeu.
"Sabe", Kaila disse, a cabeça pendurada pra fora da cama, de ponta cabeça, os cabelos ruivos espalhados pelo chão. "Eu poderia reivindicá-lo para mim agora mesmo."
“Hein? Como assim?”
“Pela lei de Altiora, qualquer mulher pode reivindicar como companheiro permanente um homem com quem tenha mantido relações sexuais.” Ela sorriu, quase um gato de Cheshire de cabeça pra baixo. “Desde que ele já não tenha dona.”
“E como funciona isso?”, o homem perguntou, a curiosidade aflorada.
Kaila rolou pela cama como uma gata manhosa, antes de responder. “Ah… Bastaria eu ligar para alguma autoridade. Após a confirmação de que nós transamos, eu me tornaria sua guardiã. Até nosso ‘casamento’, ela respondeu, fazendo aspas com os dedos.
Ele a encarou, a expressão entre a surpresa e o incrédulo, quase esquecendo de soltar a fumaça do cigarro. “Isso é… Incomum.”, ele disse. “E você vai fazer isso? Me reivindicar?”, falou, com um sorriso calculado para não ofender.
Ela inclinou a cabeça, o sorriso dela se alargando de um jeito quase sinistro, os olhos cravados nos dele com intensidade. "Você gostaria que eu fizesse?"
Ele riu, um som curto e seco, enquanto o pensamento corria por sua mente.
"Eu me diverti bastante. De verdade." ele disse, um meio sorriso brincando nos lábios enquanto batia as cinzas do cigarro no copo vazio. "Você é boa na cama, e tal. Não me leve a mal, mas eu passo."
Ela atirou a cabeça pra trás e riu, uma risada rouca e genuína.
"Você é um homem sensato.”, murmurou.
Ela pediu um cigarro. Ele acendeu e passou pra ela, seus dedos se tocando levemente. Kaila tragou lentamente. Seus olhos fitavam o teto. Ela soprou a fumaça em direção do vazio.
"E como isso tudo começou? Essa coisa de ginarquia."
Ela sentou na cama. "Muito tempo atrás," começou, esticando-se preguiçosamente na cama. "Altiora era uma nação próspera. A sociedade era matriarcal, mas ainda eram os homens que detinham o poder político." Ela fez uma pausa, seus olhos se tornando mais sérios. "Então veio a guerra. Os políticos tomaram um lado, e muitos de nossos homens foram enviados para morrer lutando por impérios sem rosto, em batalhas que nem eram suas. Nossa sociedade quase colapsou. Por necessidade, as mulheres assumiram o controle. E tem sido assim desde então.”
O silêncio recaiu entre eles, pesado, cortado apenas pelo som abafado de passos no corredor lá fora. Ele ruminava sobre a história que ouvira.
Ela olhava pra ele, os olhos verdes quase faiscando.
"Eu poderia reivindicá-lo..." A voz dela quebrou o silêncio, desta vez sem o tom de brincadeira de antes.