O calor em Cuiabá era quase uma entidade. Envolvia o corpo, os pensamentos, e até os sentimentos com dedos invisíveis.
Letícia já se acostumara com ele. Aos 27, vinda do interior de São Paulo, se instalara havia seis meses em Mato Grosso para trabalhar como assistente no Instituto de Reabilitação para Cegos — um prédio
simples, mas cheio de histórias vivas.
Foi lá que ela conheceu Clara.
Clara tinha 30 anos, usava vestidos leves e falava com a tranquilidade de quem enxerga o mundo por dentro. Cega desde os oito, tinha uma voz doce, firme, e um riso que fazia o chão parecer mais macio.
A amizade começou aos poucos. Letícia a acompanhava nas oficinas de braille, depois na fisioterapia, e às vezes no café. Clara dizia que gostava da companhia dela porque Letícia "cheirava a terra molhada
e dúvida".
Letícia ria, mas no fundo se sentia mexida com cada frase dita com tanta precisão por alguém que nunca a viu.
Com o tempo, passaram a sair juntas. Clara adorava que Letícia descrevesse as coisas para ela com palavras cheias de textura. Uma tarde, no jardim do instituto, enquanto Letícia contava como era a flor
que havia desabrochado, Clara a interrompeu:
— Você sempre fala com tanto cuidado... como se tivesse medo de me ferir com a beleza.
Letícia engoliu seco. Sentiu algo no peito, como uma batida fora do ritmo.
Clara tocou o braço dela e continuou:
— E se eu dissesse que às vezes, quando você fala, parece que me toca por dentro?
Houve silêncio.
O calor da tarde parecia mais denso. As cigarras ao longe davam ritmo ao coração acelerado de Letícia.
— Eu... eu gosto de estar com você, Clara. É diferente. Você me faz sentir que sou vista de verdade. — Letícia falou baixo, como se confessasse um segredo a si mesma.
Clara sorriu.
E com a ponta dos dedos, subiu do braço de Letícia até o rosto.
Deslizou as mãos devagar, como se estivesse esculpindo a imagem dela na mente.
— Você tem a pele quente. A boca trêmula. E o cheiro... ainda é o mesmo. Terra molhada. Mas agora, com um pouco de medo. E desejo.
Letícia não respondeu.
Inclinou-se.
E foi Clara quem a beijou primeiro.
Um beijo calmo, úmido, cheio de curiosidade.
Não havia pressa. Só tato, só boca, só entrega.
Depois disso, foram para a casa de Clara.
Um apartamento simples, mas com tudo no lugar certo.
Lá, não havia luzes acesas — porque não era necessário.
Tudo seria feito com os dedos, com o cheiro, com a língua.
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A cama estava quente antes mesmo de deitarem. O calor vinha do vinho, do ar parado, dos corpos famintos.
Letícia deitou primeiro, os seios firmes arfando com a respiração acelerada, o ventre trêmulo.
Clara veio por cima, guiando-se pelo cheiro, pela pele, pela fome.
— Me descreve. Quero ouvir você dizendo como é — pediu Clara, com os dedos passeando no abdômen de Letícia.
— Pele clara, arrepiada... seios duros, bico rosado, pequenos, mas cheios — Letícia sussurrava, entre gemidos. — Coxas largas... e minha boceta... molhada, aberta, latejando pra você.
Clara sorriu de canto, mordeu os lábios e desceu.
Primeiro com a língua, depois com os dentes.
Chupou o mamilo direito com força, enquanto a mão esquerda descia pela barriga até encontrar o que Letícia tinha descrito: a boceta escorrendo, com os lábios inchados, colados de tanto tesão.
— Você é uma delícia... — Clara rosnou, abrindo os lábios da outra com dois dedos. — Toda babada pra mim.
Letícia gemeu alto, segurando os lençóis.
A língua de Clara era lenta, firme, certeira. Circundava o clitóris com malícia, depois mergulhava fundo, lambendo a fenda inteira, subindo o mel que escorria.
— Me chupa... isso, porra... lambe tudo, não para! — Letícia arfava, jogando a cabeça pra trás.
Clara gemia junto. Estava enfiando dois dedos enquanto chupava, e a boceta de Letícia engolia tudo, apertando, tremendo, contraindo ao redor deles.
— Que boceta gulosa, caralho... tá me sugando a mão. Vai gozar, safada?
— Tô quase... porra... vai! Enfia mais um! — gritou Letícia, rebolando com força na cara dela.
E Clara obedeceu.
Três dedos agora. E Letícia abriu ainda mais as pernas, esfregando o clitóris contra a língua de Clara, fodendo o próprio prazer até o gozo vir violento.
Ela gritou. Gozou tremendo, jorrando quente, melando tudo.
O lençol, os dedos de Clara, a boca.
— Ah, filha da puta... tua língua é um vício! — Letícia arfou, puxando-a de volta pra cima.
Elas se beijaram com gosto de gozo.
Letícia agora queria Clara. Empurrou-a de costas, tirando a blusa, a calça, tudo.
O corpo dela era moreno, firme, com curvas suaves e uma bunda cheia, macia, que pedia mãos, tapas, língua.
E a boceta? Linda. Com lábios carnudos, depilada rente, o clitóris saltado, duro, pedindo atenção.
Letícia se ajoelhou, segurou as coxas dela com firmeza, e enterrou a boca ali.
— Isso, me chupa, me lambe... — Clara gemeu, apertando os seios com força.
Letícia era cruel. Alternava lambidas rápidas e fortes com beijos molhados.
Mordia de leve, enfiava a língua fundo, e enfiava dois dedos junto, enquanto a outra gemia como uma vadia descontrolada.
— Me fode com esses dedos... mete fundo! Isso! Caralho... que boca gostosa! — Clara urrava, as pernas trêmulas, os quadris se erguendo do colchão.
O gozo veio como avalanche. Clara segurou a cabeça de Letícia com força e gozou com um grito rouco, tremendo inteira, suando, gemendo palavrão atrás de palavrão.
Elas ficaram ali, ofegantes, suadas, as bocetas latejando ainda, meladas, sensíveis, famintas e satisfeitas ao mesmo tempo.
Letícia se deitou ao lado, rindo, com a mão espalmada sobre o ventre de Clara.
— Cega é o caralho. Você enxerga cada detalhe do meu corpo melhor que qualquer uma.
Clara sorriu, virou o rosto em direção à voz dela, e respondeu:
— E eu nem comecei a explorar o resto.
A madrugada seguiu mansa, como se o tempo estivesse deitado com elas.
Letícia acariciava o braço de Clara com a ponta dos dedos, em silêncio.
Clara encostava o rosto no ombro dela, ouvindo o som do ventilador misturado à respiração satisfeita.
— Isso muda tudo? — Letícia perguntou, sem saber se queria mesmo a resposta.
Clara demorou a responder. Mas quando falou, a voz saiu baixa, firme:
— Não. Só muda o que já queria mudar. O resto... a gente sente com o tempo.
Letícia sorriu.
E pela primeira vez em muito tempo, sentiu que não precisava ver o que viria depois.
Ali, naquela escuridão compartilhada, ela estava inteira.
E desejada.
E enxergada por dentro.
Fosse o que fosse, aquela noite já tinha deixado sua marca.
E nada, nem o calor, nem o silêncio do quarto, apagaria aquilo das pontas dos dedos.