Onde o Sol se Esconde (Capítulo 8)
A madrugada passou arrastada, entre cochilos inquietos e sobressaltos.
Samuel e Teo se revezavam vigiando a porta enquanto Guto dormia entre eles, ainda abalado.
Quando os primeiros raios pálidos do amanhecer surgiram por entre as nuvens pesadas, os sinos da capela começaram a soar.
Era hora da oração obrigatória — o pretexto diário para vigiar todos os internos.
Teo se inclinou e sacudiu Guto com cuidado.
— Guto? Vamos, a gente precisa ir pra oração... — chamou baixinho.
Mas ao puxar as cobertas, encontrou apenas o vazio.
Guto não estava mais ali.
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O pânico os atravessou como uma faca.
Samuel correu para a porta: ainda trancada com os móveis improvisados.
— Ele não passou por aqui... — murmurou, a voz rouca de medo.
Teo, já tremendo, procurava debaixo das camas, nos armários — como se o menino pudesse ter se escondido em algum buraco improvável.
Nada.
Guto havia simplesmente desaparecido.
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No salão principal, os internos já começavam a se reunir, cabeças baixas, passos arrastados.
Os inspetores — dois homens e uma mulher — estavam lá também, de braços cruzados, olhando friamente.
Padre Clemente, com seu sorriso untuoso, dava as boas-vindas, ignorando o fato de que a energia da noite anterior havia apagado misteriosamente.
Teo agarrou o braço de Samuel.
— E se eles pegaram ele? — sussurrou, o terror claro nos olhos.
Samuel engoliu em seco.
— A gente tem que encontrar ele. Agora.
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Discretamente, enquanto todos eram reunidos, Samuel e Teo escaparam por trás da cozinha.
Correram pelos corredores vazios, pelos fundos dos dormitórios, pela horta abandonada — chamando o nome de Guto em sussurros desesperados.
Nada.
O orfanato, enorme e sombrio, parecia engolir seus gritos silenciosos.
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Atrás do velho galpão, onde as ferramentas enferrujadas eram guardadas, Samuel parou de repente.
Uma mancha de algo escuro — parecia sangue — marcava o chão de terra batida.
Teo caiu de joelhos, passando a mão pela terra úmida, procurando algum sinal.
Foi então que ouviram:
Um gemido fraco.
Frágil.
Quase um suspiro.
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Seguindo o som, chegaram até a antiga adega subterrânea do orfanato — um lugar que há anos não era usado, exceto, talvez, para esconder segredos.
A porta estava encostada.
Um cheiro de mofo e medo escapava de dentro.
Samuel empurrou a porta com força.
E ali, deitado entre barris quebrados e velhas correntes, estava Guto.
Seus pulsos estavam amarrados, seu rosto machucado.
Mas estava vivo.
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Teo correu até ele, libertando-o com dedos trêmulos.
Guto mal conseguia falar.
Mas seus olhos — cheios de terror — diziam tudo.
Samuel passou o braço por baixo do menino e o ergueu.
— Vamos tirar você daqui. — prometeu, sua voz um fio de aço.
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Enquanto corriam de volta para o salão principal, uma certeza pesava em seus corações:
Padre Buzzi e Padre Maurício sabiam que os meninos estavam prestes a contar a verdade.
E fariam qualquer coisa para impedir.
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No salão, os internos estavam enfileirados.
Os inspetores olhavam em volta, impacientes.
Padre Buzzi viu Samuel, Teo e Guto entrando, sujos de terra, ofegantes — e seus olhos escureceram de fúria.
Mas antes que pudesse agir, Dona Clarice se colocou entre eles e os inspetores.
— Eu tenho algo a dizer — disse ela, sua voz alta e firme, ecoando nas paredes do salão.
O silêncio caiu pesado como uma sentença.
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O momento havia chegado.
Ou a liberdade.
Ou o fim.
E Samuel apertou a mão de Teo com força, sentindo o coração disparar.
Eles não estavam mais sozinhos.
E agora... agora a verdade teria que sair — custasse o que custasse.
Continua...