Amar Você Até a Morte

Da série ERO-SHOTS
Um conto erótico de Sativo
Categoria: Heterossexual
Contém 3840 palavras
Data: 18/05/2025 08:13:48
Última revisão: 18/05/2025 08:15:17

Lázaro emergia de sua morada como uma figura espectral, dissolvendo-se entre a penumbra sobre as ruas desertas, enquanto a noite, como um véu de veludo negro, cobria a cidade engolindo as cores suaves do crepúsculo.

As luzes das ruas cintilavam como olhos famintos, atentos às sombras que habitavam por aqueles becos estreitos. Era lá, entre as construções frias e a névoa espessa, que ele sempre a esperava. Quando o som oco das botas quebrava o silêncio, Lázaro sabia que Rosália, seu amor noturno, se aproximava.

Ela, com seus lisos cabelos negros como cetim ao toque da noite e pele alva que desafiava a própria lua. Ele, uma figura alta e silenciosa, com olhos tão escuros quanto as sombras de um lago profundo. Os ouvidos dele atentos aos passos de Rosália. Sentia-se atraído pela promessa de devoção eterna que emanava dela, uma chama que queimava sem luz, que devorava sem piedade.

Quando Rosália o encontrou, encostado contra a parede úmida de tijolos antigos, ela o saudou com um sorriso que era mais lâmina do que gentileza. O ar entre eles vibrava, pesado como as notas profundas de um órgão dentro de uma catedral vazia. Lázaro se aproximou, sem quebrar o silêncio, e a puxou para si com uma força que beirava a violência, mas que ela aceitava como uma oferenda.

— Sabias que por teu nome eu me entregaria à morte? — as palavras escaparam dos lábios dele como uma devoção profana, enquanto seus dedos deslizavam pela curva de seu pescoço, sentindo o pulso acelerar sob a pele fria. Ela não respondeu, apenas inclinou a cabeça expondo a garganta, em um sinal de rendição quase completa. Tomado pelo ímpeto daquela cena, ele traçou uma trilha de beijos e mordidas úmidas ao longo do pescoço dela, enquanto seguia sussurrando segredos proibidos ao seu ouvido.

— Digo com a mais intensa sinceridade, Rosália. Julgas que Ele se entregaria por ti? — Aquela frase escapara das profundezas da alma de Lázaro, feroz como uma besta contida. Havia resquícios de rancor no modo como pronunciava 'Ele'.

— Definitivamente ele não o faria. — Havia algo na voz de Rosália, como se as palavras carregassem o peso de um assunto que preferia deixar nas profundezas do silêncio naquele momento.

Apesar da devoção ardente a Lázaro, Rosália vivia presa a uma existência dupla. Em seu refúgio iluminado pelo frio do alvorecer, um marido distante rasgava a noite com seu labor incessante, como um vulto ausente na sua vida, mas que ainda mantinha seus dedos entrelaçados na rotina de Rosália. Ela o mantinha no limiar do desconhecimento, enquanto seus desejos verdadeiros se desenrolavam nas trevas com Lázaro.

Era somente com Lázaro que Rosália se entregava aos sussurros da noite, dançando entre as penumbras, seus passos furtivos apressando-se para que o sol jamais encontrasse sua pele marcada pela luxúria secreta.

— Deixemos Evandro para as horas mortas. Agora somos apenas nós dois! — murmurou Rosália, sua voz cortando o ar como uma lâmina afiada.

— Como em todas as noites. — respondeu Lázaro, o vulto de um sorriso tocando seus lábios.

Suas bocas se encontraram em um beijo que era ao mesmo tempo instinto e abandono, onde dentes se chocavam e línguas se entrelaçavam, explorando a escuridão interior um do outro. Lázaro a prensou contra a parede, sentindo a aspereza contra sua pele pálida, marcando-a como um símbolo de posse, como um altar recém-consagrado ao desejo.

Lázaro a tomou nos braços, guiado pelo fervor que queimava em suas veias, e a conduziu aos beijos até a entrada de seu refúgio sombrio, a poucos metros dali. A saia de Rosália, como um véu de escuridão púrpura, dançava ao vento, serpenteando ao redor deles enquanto se afastavam das trevas daquele beco, compondo uma cena de luxúria velada e paixão feroz.

Dentro do santuário profano de Lázaro, entregaram-se ao fogo daquela paixão furtiva. Como em noites passadas, ele a deitou sobre o rústico sofá da sala, surpreendentemente acolhedor, as mãos de ambos delinearam o corpo um do outro com a urgência de quem dança à beira do abismo. Línguas se entrelaçaram, lábios se chocaram, como um jogo voraz de prazer, um duelo de desejos bravios.

— Ainda guardas aquele vinho tinto da noite passada? — perguntou Rosália, suas palavras abafadas entre beijos e carícias selvagens.

— Sim, ainda o conservo. Lembraste bem, minha deusa da noite — respondeu Lázaro, direcionando-se à cozinha. Rosália o seguiu, seus passos ecoando pelo carpete antigo.

Era o vinho predileto de Rosália, um néctar rubro que guardava como uma parte dela. Nas noites em que ela não vinha, Lázaro se via sorvendo aquele líquido escarlate em solitária devoção, como se cada gole fosse uma comunhão com sua amante. Ao servi-la, estendeu uma taça de cristal, propondo um brinde à noite que os envolvia, cúmplice muda daquele romance proibido.

— Minha gratidão, Lázaro. — A voz de Rosália escapou em tom suave apaixonante, abafado pelo vinho que tomava um trago. Ao levar a taça à boca, seu batom escarlate selou o cristal com sua marca.

— Servir-te é minha lei. — ele a observava como uma fera domesticada, seus olhos escurecendo como o próprio vinho que sorvia, profundo e misterioso.

— Seus lábios suaves... posso sentir que estão dizendo, suplicando... — a voz dele emergiu como um trovão.

— Então me diga, meu amado, que mistério se oculta por detrás deles! — seus olhos ardiam com um fervor vívido.

Em um movimento hábil e firme, Lázaro a envolveu pela cintura, atraindo-a para si até que seus corpos se fundissem. Rosália percebeu a rigidez pulsante do sexo dele colidindo contra o seu, numa comunhão desregrada. Lázaro a olhou nos olhos e respondeu:

— Eles dizem que a fera dentro de mim vai pegar você! — como um predador despertado do sono, Lázaro conduziu Rosália para o quarto com passos apressados. Ela, impaciente, arrancou o cropped, enquanto ele, já sem camisa, deslizava o zíper da calça. Em poucos instantes, suas roupas jaziam dispersas pelo chão frio. Ele se entregava aos seios dela, lambendo e chupando com uma fome quase reverente, enquanto ela se contorcia, entregue aos braços vigorosos que a envolviam.

— Sabes bem como me umedecer toda em instantes, meu amado! — a voz dela escapava trêmula, entre gemidos, enquanto o fazia deslizar delicadamente as pontas dos dedos sobre a umidade do tecido suave da sua calcinha, que já revelava a fenda de seu sexo.

Os lábios de Lázaro desciam com uma lentidão provocante, mas com carícias que faziam Rosália arder em tesão. Seu corpo tremia, tomado pelo fervor que crescia a cada centímetro que ele explorava.

— Apenas fecha teus olhos e deixa-me amar-te até o fim! — Sua voz, profunda e envolvente, sussurrava junto ao ouvido de Rosália.

Desceu pelo ventre dela, seus lábios desenhando caminhos de desejo até encontrar a maciez de suas coxas. Ele a provocava com beijos e lambidas, dançando ao redor do ponto mais sensível, sem jamais tocá-lo diretamente, como um predador que prolonga a caçada para intensificar o prazer da captura. Rosália arqueava o quadril, quase como em súplica, até que a língua dele finalmente se lançou contra os lábios molhados de seu sexo, arrancando-lhe um gemido que ecoou pela escuridão quarto.

Rosália sentia a língua de Lázaro deslizando com ardor, traçando círculos lentos e súbitos em seu clitóris, alternando entre movimentos firmes e provocantes. Seu corpo tremia em ondas involuntárias, dedos entrelaçados nos longos cabelos dele, puxando-o cada vez mais forte contra os lábios da sua boceta. Até que, enfim, ela se desfizesse em júbilo. Ela gemia com uma intensidade animalesca, enquanto ele bebia seu mel como um condenado sedento.

Lázaro a envolvia por trás em um abraço fervoroso, quando algo despertou-lhe a atenção para a janela entreaberta. Com um gesto silencioso, pediu que Rosália aguardasse, então avançou até a vidraça, onde o vento gelado da madrugada lhe afagou o rosto, fazendo seus longos cabelos dançarem no ar. Inclinou-se para olhar a calçada, e uma figura familiar cortou a penumbra.

— Ah, eras tu... quase me assustaste, Vlad — comentou Lázaro, dirigindo-se ao enorme felino de olhos brilhantes e pelos negros cumpridos, que certamente havia se esgueirado para a rua quando seu dono saiu ao encontro de Rosália.

Com um chamado suave, o felino de olhos cintilantes, da cor de esmeralda, saltou pela janela, aterrissando com a graça de uma sombra viva nos braços de seu devoto tutor. Lázaro, com Vlad aninhado em seu peito nu, caminhou até a porta do quarto, enquanto os olhos de Rosália o seguiam, brilhando com uma admiração quase sacra.

— Pobre criatura, certamente estavas a perecer de frio. Ainda bem que nos chamaste — disse Rosália em tom amável, aproximando-se dos dois, seus dedos deslizando carinhosamente pelo focinho do felino.

Lázaro soltou o felino na entrada do quarto, onde ele se esgueirou para a sala, aninhando-se sobre a almofada ao lado do sofá.

Então, os olhos de Lázaro se voltaram para Rosália, queimando em desejo como as brasas de uma lareira, indicando que desejava retomar o prazer interrompido. Rosália retornou ao leito de prazer, deitou-se sugestivamente em uma pose sensual, os músculos ainda trêmulos do êxtase. Seus olhos, entreabertos, capturavam cada movimento de Lázaro, que avançava como um predador, suas mãos envolvendo o próprio sexo rígido, como lâminas que se preparam para o corte final, afiando-se no desejo que os consumia.

— Vem, Lázaro, deixa-me te amar também! — a voz dela escapando em um murmúrio ofegante, como uma súplica.

Rosália, sedenta de desejo, lançou-se com a boca sobre o sexo dele, entregando-se ao ímpeto primitivo que consumia seus sentidos. Lázaro deixava escapar gemidos roucos, enquanto Rosália, entregue à lascívia do momento, envolvia o falo pulsante dele em carícias orais molhadas.

Era como um ritual sagrado de devoção e luxúria. Rosália prosseguia com a felação, quando Lázaro deslizou a língua pelas pontas de seus dois dedos maiores, adentrando-os lentamente no sexo dela.

Por alguns minutos, permaneceram entregues àquela troca profana, onde ela envolvia-o com sua boca úmida e faminta, enquanto ele a penetrava com dedos longos e precisos, explorando-a com a mesma devoção. Lázaro se sentia duplamente dentro de Rosália, seu domínio sobre ela parecia tão profundo quanto a noite que os assistia.

Entre lambidas, sucções e engasgos, Rosália o devorava com uma fome incontrolável, fazendo com que o falo de Lázaro pulsasse intensamente em sua boca. Não suportando mais o tormento delicioso daquela entrega, ele a deitou de costas no colchão, afastando-a com uma firmeza cuidadosa, arrancando dela um leve arquejo quando seus lábios se separaram bruscamente do membro rígido. Fios de saliva cintilaram, enquanto o sexo dele tremulava no ar, no auge da rigidez, erguendo-se como uma estátua profana.

Rosália sentiu as mãos firmes de Lázaro a puxarem pela cintura, aproximando seus corpos até que suas pernas o enlaçassem, selando-os em uma fusão febril. A mão esquerda dele subiu ao pescoço dela, os dedos apertando levemente enquanto a penetrava, uma linha tênue entre prazer e submissão, enquanto a outra mão a mantinha firmemente contra si, aprofundando cada movimento. Seus corpos se moldavam no ritmo de uma sinfonia macabra, onde cada toque era uma nota, cada suspiro, uma frase.

A cada estocada de Lázaro, Rosália arquejava em súplicas, seu corpo curvando-se como uma oferenda viva ao prazer que a consumia, implorando por mais, sempre mais, em uma ferocidade profana que se renovava a cada investida. Quando ele se afastou por um momento, seus olhos capturaram o brilho escuro dos dela — uma promessa que apenas os amantes das sombras poderiam compreender. Ele traçou o desenho de sua mandíbula com os lábios, sussurrando contra sua pele fria:

— Sou bom o suficiente para você? — e a única resposta dela foi o arranhar de suas unhas contra as costas dele.

Seus lábios se chocaram em um beijo voraz, onde línguas se enroscavam como serpentes, enquanto seus corpos se moviam em um ritmo brutal, cada estocada ressoando como o eco de trovões em meio à tempestade de prazer. A energia que ardia entre os dois era tamanha que Rosália, embora menor e mais delicada, encontrou força para lançar o corpo vigoroso de Lázaro para o lado, fazendo-o tombar no leito, caindo no exato ângulo que permitia a ela montá-lo, como uma rainha reclamando seu trono.

Os quadris dela ondulavam em um ritmo hipnótico, enquanto as mãos grandes de Lázaro acompanhavam cada movimento como um servo fiel. Seus corpos brilhavam sob a luz pálida, envoltos em suor, e as gotas escorriam pelos seios de Rosália, saltando de seus mamilos rígidos, desaguando no torso dele, como rastros ardentes de seu prazer.

Cada fibra do corpo dele vibrava com uma intensidade crescente, seus músculos tensionando-se a cada galope de Rosália, que o envolvia com seu calor úmido, moldando-se perfeitamente a ele. As pulsações do membro dele se intensificavam, reverberando em seu ventre, enquanto o calor que os consumia ameaçava transbordar, prestes a se derramar em uma explosão de prazer desvairado.

O êxtase os atingiu quase simultaneamente, como um raio rasgando a escuridão. Rosália se desfazia em prazer pela segunda vez, seu corpo estremecendo em espasmos sagrados e pecaminosos, enquanto os dois urravam e se apertavam como feras enlouquecidas, seus corpos marcando-se com unhas e dentes, como amantes que selam seu pacto com sangue.

Silenciosa, a lua cheia era testemunha daquele rito profano que se desenrolava nas entranhas da cidade. Porém, não era a única.

[ * * * ]

Lá fora, uma figura se movia entre as sombras, uma silhueta solitária, próximo à janela do quarto de Lázaro. Escutara cada som — o atrito febril das carnes, os gemidos roucos dos amantes noturnos — mas não com o deleite de um pervertido, e sim com o amargor de um espírito condenado à própria miséria. Este homem, consumido pela angústia e traído pelo próprio destino, era Evandro, o marido de Rosália, um fantasma de carne e osso que se arrastava pelos caminhos da vingança.

Pela segunda vez, ouviu Lázaro proclamar, com a intensidade de um mártir, que se entregaria à morte no lugar de Rosália, tão profundo era o amor que por ela nutria, tão ardente a devoção que o consumia. Evandro, por um breve instante, permitiu-se acreditar que também fosse capaz de semelhante sacrifício por sua esposa. No entanto, agora, enquanto o rancor queimava em seu peito, só desejava pôr à prova as palavras daquele que ousara roubar o coração de sua mulher.

[ * * * ]

No interior da casa, os amantes se encontravam na cozinha, onde exalava o aroma terroso dos legumes recém-cortados. Lázaro, partindo os vegetais, sugeriu que Rosália servisse a tigela de Vlad, o gato. No entanto, ao despejar a ração, Rosália estranhou a ausência do felino, que normalmente aparecia ao menor ruído do alimento seco caindo na tigela. Curiosa, seguiu até a sala, onde encontrou Vlad com os pelos eriçados, o olhar fixo na fresta sob a porta, como se enxergasse algo além do visível, algo que a própria noite temesse revelar.

Da cozinha, Lázaro ouviu o som seco e brutal da porta da sala sendo arremessada contra a parede, seguido pelo uivo agudo do felino e o brado sufocado de Rosália. Ele correu em disparada para lá, seu coração martelando no peito como tambores de uma marcha fúnebre.

A porta da sala, violentamente rompida, permitia que o ar gélido da noite se derramasse pelo cômodo, como o hálito frio da morte. Vlad, encolhido sob o móvel da televisão, assistia à cena com olhos verdes dilatados pelo terror, enquanto, atrás do sofá, Rosália, tomada pelo desespero, debatia-se nos braços de um homem que a segurava com força implacável, a fria boca de uma arma de fogo pressionada contra sua têmpora pálida.

— Traidora! — vociferava o homem..

— Evandro, não! Por tudo quanto é sacro nesta terra e além! — implorava a mulher, sua voz trêmula.

— Onde se oculta o infame? Hei de entregar ambos à morte ainda esta noite! — Evandro bradava com ódio, cada palavra cuspida como um açoite no ar. Tamanha fúria obscurecia-lhe a razão, cegando-o ao ponto de não perceber a aproximação frenética de Lázaro por suas costas.

Lázaro lançou-se sobre Evandro com a fúria de um animal ameaçado, derrubando-o ao chão com um golpe firme e preciso, acreditando, por um breve instante, que havia subjugado o invasor. Quando se inclinou para desarmá-lo, Evandro, ainda caído e atordoado, ergueu o braço com rapidez desesperada, apontando a arma diretamente para Rosália. Num movimento instintivo, Lázaro se atirou sobre o braço do homem no exato momento em que o disparo ecoou, cortando o silêncio da noite. O estalo do tiro reverberou pelas ruas, misturando-se ao grito seco de Lázaro, cuja carne foi rasgada pouco abaixo do ombro esquerdo. Rosália, em pranto, caiu de joelhos, as mãos trêmulas estendidas em súplica, implorando ao marido que cessasse aquele delírio mortal.

Evandro, ensandecido por vingança, pareceu imune às súplicas de Rosália. Avançou em sua direção, deixando o seu amante ferido para trás, enquanto seus passos ecoavam pesados no chão frio. Seus olhos, duas órbitas vazias de compaixão, encontraram os dela, e, após um breve silêncio, sussurrou com a voz de alguém que já não teme o próprio destino:

— Terás algo mais cruel que a própria morte, Rosália — o marido traído vociferava e após uma breve pausa, prosseguiu — Verás teu amado ser enlaçado pelos braços dela, como eu vi teus juramentos se dissiparem nos dele!

Aos pés de Evandro, Lázaro se encontrava em agonia, seu corpo arrastando-se sobre o rastro do próprio sangue que marcava o piso frio. A sala, outrora cenário de seus prazeres noturnos, agora se estendia como um caminho sem fim, onde cada movimento o levava à morte iminente. Seus olhos, injetados de ódio e desespero, ergueram-se para encontrar os de Evandro, que, mesmo com a vantagem da posição, intimidou-se por um momento ante aquele olhar que parecia amaldiçoá-lo. Mas a hesitação foi breve, e com a frieza de um assassino, Evandro apontou a arma e, sem piedade, puxou o gatilho pela última vez.

Desta vez, quando o eco do último disparo de Evandro rasgou o silêncio, foi o grito de Rosália que se sobrepôs ao estampido, atravessando a noite com uma força descomunal.

— Perdoai-me, Senhor, pois apressei a viagem de uma alma ao Inferno. — murmurou o marido, traçando sobre o próprio peito o símbolo da cruz, desejando purificar a própria alma.

Rosália se derretia em lágrimas e soluços, sufocada pelo peso do horror, não conseguia articular nenhum protesto ou súplica. Mas seu corpo, tomado por um ímpeto fulminante, reagiu com a ferocidade de uma besta diabólica.

Quando Evandro, ainda trôpego e alheio, dirigia-se em silêncio para a saída, Rosália se lançou pelas suas costas sem hesitação. O homem vacilou, seus pés deslizaram pelo rastro úmido do sangue de Lázaro e ele tombou, batendo a cabeça no chão com brutalidade. A arma, manchada pelo mesmo sangue, deslizou até os pés de Rosália, como se se oferecesse para mais um ato mórbido de vingança. Com mãos trêmulas e olhos arregalados, ela a ergueu, contemplando por um breve instante o rosto atordoado do marido caído.

— Eis aqui tua redenção, Evandro! — então, sem hesitar, ela apertou o gatilho, disparando uma, duas, três vezes… até que o silêncio, enfim, se fizesse absoluto.

Ao som dos primeiros disparos que dilaceraram a vida de Lázaro, os ecos do caos rapidamente se espalharam pela vizinhança, atraindo olhares inquietos para a casa agora marcada pela tragédia. Quando Rosália se vingou do marido, em questão de minutos as sombras azuladas do carro de polícia se projetaram contra as paredes da velha casa, e quatro oficiais adentraram o local com passos cautelosos, os olhos já preparados para o horror que os aguardava. Ali, no centro daquele banho de sangue grotesco, encontraram dois homens entregues à eternidade: um estirado ao chão, o rosto e o peito perfurados pelas marcas das balas, os olhos vítreos voltados para o nada; o outro, repousando nos braços trêmulos de uma mulher em desespero, que, derretendo-se em lágrimas, ainda segurava a arma com dedos manchados de pólvora e sangue.

Rosália foi presa em flagrante, arrastada das sombras para a frieza das celas. Jamais soube do cortejo que acompanhou o corpo do marido, nem das preces murmuradas pelos que o velaram. Quanto a Lázaro, seu destino foi menos piedoso — sepultado às pressas no cemitério dos esquecidos, a poucas ruas de sua morada, sem lágrimas, sem hinos, apenas seu fiel Vlad, imóvel no topo de um muro enegrecido, observando seu tutor ser tragado pela terra fria, como uma semente que jamais veria a luz.

[ * * * ]

Nas celas insalubres da prisão, Rosália logo se viu escrava de comprimidos que prometiam bons sonos e um alívio do peso que a esmagava. Entregou seu corpo à proteção de Meredith, a soberana implacável daquela ala, trocando sexo por segurança em um mundo hostil. Na noite em que a morte de Lázaro completava sete dias, nem mesmo seus remédios poderiam acalmar as perturbações da sua mente. As imagens do amante caindo, os miolos tingindo o ar com a cor do desespero, não lhe davam paz. Desesperada por esquecimento, Rosália dobrou a dose, afundando, enfim, no abraço frio do adormecimento profundo.

Naquela noite, Rosália reencontrou Lázaro em seus sonhos, mas ali, a morte não os separava. O ambiente ao redor era a sala de paredes sombrias da casa dele. Ao contrário da cena grotesca que ela revivia antes de dormir, o sonho era tão perfeito quanto todas as noites que passou com o amante, uma memória envolta em júbilos de luxúria e promessas eternas. Ele sorria, os olhos escuros cintilando na escuridão, e repetia as palavras que um dia aqueceram seu coração: “Vou te amar pra sempre, Rosália. Até o dia de minha morte.” Suas palavras pesavam no ar. Como de costume, os dois se trataram com devoção, devoraram-se com a ferocidade de amantes condenados, seus corpos entrelaçados em uma dança de desejo e desespero, e depois, naquela sala, brincaram com Vlad, seu gato, que sempre os aguardava. Ali, naquela sala que parecia intocada pelo sangue e vingança, o tempo parecia se dissolver, como se os próprios espíritos tivessem se curvado diante do poder daquele seu amor profano.

Naquele noite, Rosália dormiu o seu melhor sono desde o fatídico dia, entregando-se às sombras acolhedoras que se estendiam ao seu redor. Naquela noite, Rosália dormiu tão profundamente que nunca mais acordou. Permaneceu presa ao seu sonho encantado, onde Lázaro a esperava, eterno e perfeito, em um salão onde o tempo se curvava à vontade dos amantes.

A família de Evandro, rígida em seus costumes e ainda mais endurecida pelo escândalo, não permitiu que sua esposa repousasse ao lado dele, seus ossos orgulhosos recusando a presença de uma traidora, mesmo na morte. Assim, as autoridades decidiram sepultar Rosália junto a Lázaro, unindo-os finalmente em um abraço eterno sob a terra fria.

Dizem pela cidade que, nas noites em que a névoa cobre os túmulos como um véu espectral, é possível ouvir sussurros apaixonados se misturando ao vento, e que uma tumba esquecida, marcada apenas por musgo e pedras gastas, é visitada apenas por um felino negro de olhos verdes da cor de esmeralda, cuja silhueta sombria parece guardar os segredos de um amor que se eternizou pela morte.

[ FIM! ]

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